sexta-feira, março 18, 2011

Conceitos

Duas meninas, uma de frente para a outra,
Duas de cabelos longos, uma tingida de ruivo,
A outra morena pura, mesma altura, rostos simétricos,
Colados, trocando selinhos, na estação Sé
De metrô, os apegos se aqueceram
E viraram beijos, e os rostos horrorizados,
Mas discretos, se avolumaram ao redor.

"Gosto muito de você" - beijo -
"Não vou parar de gostar de você - beijo,
Beijo - "Você teve um dia tenso, não teve?" -
Beijo - "Meu mundo anda fora do eixo".

O trem chega na estação, as pessoas de São Paulo se empurram
E o casal de meninas é separado - não sem antes mais um beijo -
E um homem com uma Bíblia na mão resmunga para a esposa:
"Feh, beijos, assim, ao ar livre. Tsc tsc".

A mulher concorda com o marido,
A sociedade julga a menina e seu beijo
Autêntico, o homem vai embora,
A esposa libera a cadeira para uma criança
Portadora de Down, sem mal algum.

Baseado no meu ouvido bisbilhoteiro e sem MP3 pra distrair.

quarta-feira, março 16, 2011

Samurai ferido

Japão sob escombros
Do terremoto, coberto
Sob ondas do tsunami,
Céu anil, dia tranquilo
Em uma São Paulo hostil.

Em luto pelos desastres naturais no Japão, dia 11 de março de 2011.

domingo, fevereiro 27, 2011

Caiu a árvore

E desabaram os cabos
Do poste, cacos
De vidro do lustre,
Ficamos sem luz, no escuro,
Ficamos sem água, imundos.

Em homenagem às chuvas fortes de fevereiro de 2011 em São Paulo, na Zona Norte.

terça-feira, fevereiro 22, 2011

Nas Cinzas de Pompéia

Nas Cinzas de Pompéia
Soterrado por pedra-pomes
Nos labirintos da lava
Está engastado, de certa forma;
um passado vivo

O lupanar calcificado
de vívidas posições eróticas
demonstram a pureza
do quotidianum

Nas Cinzas de Pompéia
Eu vi o Templo de Vênus
A Afrodite dos Romanos
de beleza imortal

Hoje podemos contemplar
a bela Pompéia
E caminhar por entre os mortos
No jardim de fugitivos
E suas posições, talvez um pouco obscenas
Como se acometidos de vergonha
Debaixo das Cinzas de Pompéia.

sábado, fevereiro 12, 2011

Moça feliz da ponte orca

É baixinha, um pouco rechonchuda, sorriso de aparelho,
Indica aos passageiros o local da fila, mantém a felicidade
Mesmo no sol de trinta e cinco graus, mesmo com a fila de cento e
Quarenta e quatro pessoa, permanece feliz mesmo trabalhando
Embaixo da ponte.

Baixinha, rechonchuda, funcionária feliz.

Comercial excessivo

Repete à exaustão seus slogans e frases-chave para produtos randômicos
Na televisão à cabo, que você paga para se livrar dos comerciais convencionais
E comprar os repetitivos.

domingo, fevereiro 06, 2011

Redação inexistente

Reuniões de pauta no Google Docs,
Não vejo o rosto dos editores, compro drops,
Chupo bala de menta, fico sentado com a bunda
Gorda, a digitar.

sábado, fevereiro 05, 2011

Rock progressivo e punk

Lento e rápido, curto e extenso, remendo improvisado.

terça-feira, fevereiro 01, 2011

Poesia é um rascunho

De pintura renascentista,
É um rabiscar de anatomia simetricamente
Imperfeita,
É uma rasura rarefeita.

Poesia é uma arte extinta

Mas viva nas entrelinhas,
Viva no vazio artístico,
Viva no espaço e no vácuo
Do querer representar e no objeto,
Fluída entre a semiótica e a ontologia.

sexta-feira, janeiro 14, 2011

Leia poesia

Leia poesia

Você talvez irá descobrir que...



a poesia não fala só de obras,
de espaço cotidiano
da vida que cruza a rua.

- A poesia é mutante.
- ardilosa, indefinível.
- prosaica, indecifrável.
- maleável serenata.

a poesia é do ego,
que procura um abraço
sem precisar arrancar um braço.

a poesia tem estrofes
versos e compassos
ritmo sem embaraço.

a professora nos disse que pode ser heróica, decassílaba ou alexandrina -
tanto faz.
a mim importa o que a atualidade me diz
e que os versos livres dão mais espaço do que uma estrutura iâmbica.

- a poesia pode ser comparada a metáfora-
- sem a metáfora,
- é como um rei sem bispos --
- torres, peões e cavalos-
- sobra somente a Dama pra falar do amor--

ela muitas vezes fala de amor - e canta a dor,-
das moças de fino trato - passa as sendas proibidas--
de aconchego e calor - finta com desejos frágeis-
também trata a poesia - orgulha-se. mesmo desapontada--

a poesia , . , . @!5?:%
é vírgula traço pontuação reticências...
pode conter aliteração vulgarização repetenciação neologismação
até mesmo metalinguagens e compassos absurdos e erros "esdrúchulos"
e todas as hipérboles da elíptica portuguesa
a mãe gramática que ensinou Camões a navegar os Lusíadas

.a poesia já esteve presente
...com Adão e Eva
.....desde a gênese quando Deus
..........disse "fiat lux"

A poesia sempre fala do poeta
Por que nas poucas linhas que a compõem
Quem diz "Faça se a Luz!"
É o poeta.

~~~~a poesia diz tanto quanto mímica
porque os traços leves~~~~
~~~~são os mesmos dos braços que se elevam
ao gesticular emoções~~~~

- a poesia dá margem
para o mais rude dito
ser bela passagem



- você pode lê-la
- do jeito que quiser
- ninguém dá ordens ao leitor.

Ass: Rotiel Repus O.

terça-feira, janeiro 11, 2011

Auto-ajuda é uma mentira

Porque você precisa ficar bem pelo bem ser a única coisa que você possui
Em um mundo infestado pelo absurdo, corroído pela verdade,
Saturado de poucas razões.

sábado, janeiro 08, 2011

Prédio da editora Abril

Um cilindro de vidros, com jardins nos arredores, uma marginal (Pinheiros) fedida,
Trânsito de carros esporádicos, uns narizes empinados, uns sorrisos inesperados,
Um lugar bonito, um lugar grande, um lugar pequeno pra tanta gente,
Um prédio ereto, um labirinto de concreto, frio no miolo,
Abafado fora pelo sol do aquecimento, estorvo.

Almoço de trabalho

Chego, abro o computador,
Trabalho, olho no relógio,
11h, está perto do almoço,
A rua está um alvoroço,
O texto empacou, chamei os amigos pra comer,
Engasguei com um caroço, comi chocolate saboroso,
Voltei ao computador, olho no relógio, 14h,
As horas parecem que não passam - até o almoço,
É um tempo estranho, penoso e leve, trabalho,
Saio, Chego, abro o computador,
Trabalho, olho no relógio, 11h,
Ou seriam 14h? Empaco no texto,
Chamo pro almoço, engasgo com caroço,
Voltei ao computador, olho no relógio, 14h,
Ou seriam 11h?

Textos não óbvios

Como tiro de pistola
Acidental, bomba caseira
Que corrói os arredores,
Como sorte de roleta de cassino,
Como sorte de roleta russa
Com revólver no meio da fuça.

Textos óbvios

Barco de papel
Na banheira do meu banheiro,
Castelo no canteiro de areia,
Torre de cartas, trilha de dominó,
Estruturas frágeis.






E essenciais.

Sinto uma culpa

Da conversa não ocorrida,
Mas sinto que tentei,
Então se trata de uma corrida
Desonesta.

O passado

O passado não existe,
O passado existe no passado,
O passado existe no futuro,
E no presente,
Mas o passado não existe, é abstrato,
É fuga, é encontro, é volta
Até o rabo do cachorro.

Gullar diz

"Fazer uma poesia em que a linguagem nascesse com o poema",
Mas me sinto incapaz de criar algo do que fiz
Do nada, que refiz.

O pedinte com guitarra

... elétrica mostra seus dotes no cruzamento
Da Rua Augusta com a Avenida Paulista,
Na frente do Shopping Center Três,
Toca com aplificador na cintura, carregado
Com pilhas de dois As, cabelos crespos
Presos, sem feições apelativas, sem parar.

Usava uma guitarra branca,
Marca Tagima, ofuscada
Por poucas manchas e sujeira.