quinta-feira, fevereiro 28, 2008

pré-carta de amor engasgada

Sempre que desligo o telefone, me vem a melancolia, aquela que me estampa na cabeça que você não está aqui e me faz inventar diálogos e declarações de amor que eu deveria ter dito mas não disse e nunca digo.
Só, vou fumar na janela, sugando a fumaça como se sua língua, confundindo a vertigem do fumo com a que você me traz. Depois passo a boca pelo meu braço direito, quase na altura do ombro, até acabar mordendo-o, de fúria de ser só braço.
Por que não digo e me acabo na invençao?
Talvez o medo da realidade, perdível, me faça inventar um você indelével.
Desculpe, eu não sei ser romântica a não ser pra mim. Certas palavras não existem para ser ditas. Guardo-as, com medo de quebrar essa regra autoimposta. Certas palavras são como nossas duas pernas juntas: sem anúncios, sem saber como, existem na sensação, debaixo de um lençol.

domingo, fevereiro 24, 2008

Procura-se um Coração


Estou em busca.
Meu coração dourado, onde o perdi?
está camuflado entre vincos na testa,
ou como lêndea grudada num fio de cabelo branco?
(que insistem em aparecer aqui e ali)

Desde aquela meia-noite,
foi-se, para não voltar mais
foi-se, distanciando dos propósitos mesquinhos
que entupiam seus áureos ventrículos
e átrios.

a preciosidade que pulsava sob o crepúsculo
deixei largada no jardim, em meio aos brinquedos
que minha mãe pediu para eu guardar
antes do anoitecer (e que até então esqueci)

vejo o tempo passar
e tudo o que deixo acontecer
é o silêncio ecoar nesta pedra
engastada em meu peito

(mãe, já vou guardar os brinquedos)

sábado, fevereiro 23, 2008

Pedaço d'um conto

A moça bonita, dona dotada, foi logo exclamar sua indignação perante à rudeza do funcionário supra-humano, dirigindo-se ao porteiro-mor. Procurou. “Vire à direita, no final do corredor.”

Uma porta imensa!... linda!... Feita da mais ébana madeira, quase-nuncamente tocada por nada; adornos na forma de anjinhos, asas par-a-par, se rindo e caçando...

... E era alta, mais-que-alta; também pesada, pensou ela. Observou mais um tempo, hipnotizada, esquecida... D’onde saiu tal impedimento?... quando um anjo, este magro, quatrolhos, desimponente, empurrou-a, abrindo a porta.

---o---


Era um parágrafo, viraram três, achei melhor. Esse conto estou escrevendo há um tempo, bem tempinho mesmo. Tenho idéias: é uma moça que deixou de entrar no céu por não possuir senha e fez um fuzuê para conseguir entrar. O resto, que eu acho ser parte-boa, deixo para após o término.


O que acham? Alguma idéia?

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Professor: leitor ou não-leitor

Ana Maria Machado, em artigo presente no livro Balaio: livros e leituras (2007), apresenta a importância fundamental da leitura na formação do professor, destacando o agravante de que há um medo por parte do professor de entrar em contato com os livros, “Um objeto estranho e com tal carga simbólica que o ameaça”, conseqüência de sua má-formação, cada vez mais longe da leitura livresca.
Esta afirmativa abre caminho para uma reflexão sobre o professor enquanto um sujeito-leitor, ou não-leitor.
Relevando o contato diário com diferentes materiais de leitura (livros didáticos, trabalhos dos alunos, comunicados escolares), pode-se classificar o professor como um leitor. No entanto, se o professor não sentir a leitura como uma necessidade para si – e não só como uma exigência burocrático-profissional – ele não passará de um leitor-por-obrigação, e pouco conseguirá contribuir para a formação de novos sujeitos-leitores. Logo, a caracterização do professor como leitor ou não-leitor está relacionada à significância que o próprio professor concerne às atividades que realiza como docente.
Segundo Batista (1998), antes de simplesmente inquirir ao professor um julgamento de leitura, há necessidade de descrevê-lo e compreendê-lo em suas práticas, analisando em que situações ele se forma como um sujeito-leitor. O mesmo defendido por Brito (1998), que traz a impossibilidade de se afirmar que o professor é um leitor, muito menos, pela sua atividade intelectual, que ele é um não-leitor. Segundo ele, “mais que ser leitor ou não-leitor, o professor é um leitor interditado”.
É também importante ressaltar as questões que envolvem as condições de acesso e de produção de leitura dos professores. A formação de um sujeito leitor é tão determinada pelas condições sociais nas quais ele se encontra, quanto pela própria tomada de iniciativa do mesmo em prol de tal formação. Daí sendo muito relevante analisar o que é que o professor lê, quantos livros ele tem condições de adquirir para seu aperfeiçoamento pessoal e profissional, e que tempo sobra para que ele busque a leitura de textos variados.Vale ressaltar ainda que a definição de um professor leitor ou não-leitor passa, primeiramente, por outra definição: o que é ler ou não-ler? E, levando em conta que o ato de ler engloba diversas outras práticas e modos além de somente a leitura livresca (caracterização burguesa do que é ler), o professor, é, sim, um sujeito-leitor. A variedade aqui está no como o professor lê, ou seja, que sentido ele dá/constrói à própria prática da leitura.

artigo publicado no jornal ANotícia de 21-02-08 (circulação estadual), p. 3 (http://www.an.com.br/2008/fev/21/0opi.jsp)

Í.ta**

terça-feira, fevereiro 19, 2008

Tédio

A vida é composta de um pseudo-equilíbrio dentre destruição e criação: às vezes estamos sob efeito d'um, às vezes do outra. O problema vem quando ficamos tempo demais sendo vitimados por apenas uma delas... resulta no nojo e na desaprovação; no gosto amargo da mesmisse.

Torture sua mente já! evitando usá-la. Esqueça seus livros embaixo da cama, mostrados às traças e baratas; designe sua criatividade ao nada e, quando estiver desesperado por viver, sua raison d'etre será tentar recuperar o que jogou fora, que nunca voltará completamente, pois foi uma oportunidade; uma velha e gasta oportunidade.

--o--

O Monólogo de uma Sombra
DeviantART

Coleção Folha Grandes Escritores Brasileiros

A nova coleção da Folha, pelo que li a respeito no jornal e no respectivo site, começará no próximo final de semana, continuando por mais dezenove. Trará 20 livros, dois na primeira entrega e um semanalmente após; há outros pacotes, comprá-los avulsos, ou at once, mas não embrenharei por este caminho.

São bons livros, bons nomes e, excetuando-se Machado de Assis, não tenho nenhum dos livros selecionados. Atenção para Manuel Bandeira, Drummond, João Cabral de Melo Neto, Graciliano Ramos, Mário de Andrade, Machado e Cecília Meireles, que são os que conheço melhor.

A página oficial é esta, e não tenho outra missão com este post além de informá-los; e, antes que perguntem, não larguei a labuta da escrita, estou me dedicando mais à leitura, apenas.

--o--

Tentativa: Akira I

_____A noite caía. No subúrbio de Londres, aquela boate em breve encher-se-ia de pecados. Todas as noites, seu néon vermelho atraía os mais devassos perfis humanos. Porém, antes que o estabelecimento abrisse, o quarto 205 já testemunhava seus momentos de depravação.
_____Sobre a cama circular, posta debaixo de um enorme espelho e ricamente rendada, via-se uma mulher. Deitada, ainda gemia. Espalhados pelo quarto, partes de uma lingerie preta e vermelha, sugerindo o modo como ela estaria vestida há algum tempo. Seus cabelos ligeiramente ruivos ondulavam delicadamente.
_____Contrastando com a sensualidade diabólica da figura feminina, um homem sentava-se ao seu lado. Seu rosto era um tanto infantil - seria erro chamá-lo de homem? Não trajava roupas, mas a calça militar estirada adiante da cama - atirada por alguma mão excitada - seguramente lhe pertencia, tal qual o coturno negro jogado displicentemente ao seu lado.
_____Desafiador, observava os resultados de suas habilidades e truques nas expressões da mulher. Seu semblante era se satisfação. Desviou momentaneamente o olhar para o lado de seu travesseiro: lá havia um maço de cigarros. Pegou um e acendeu. A mulher levantou-se, ainda imersa em êxtase, e beijou-o. Após aceitar o afago, mudou de idéia e virou o rosto.
_____-Acabou, Sharon. Vá embora.
_____Grosseiro e insensível. Era assim que ele gostava de ser visto. Capricho? Talvez. O fato é que não pretendia envolver seu coração com sentimentos como o amor. Nada sentia por aquela pessoa com a qual compartilhava a noite. Nenhum frio na espinha. Respiração mais rápida por motivos meramente biológicos. A mulher não parecia abalar-se.
_____-Fala como se tivesse pago um programa comigo! Enfia nessa cabecinha oca que eu te amo!
_____-Não mesmo. Vai embora, Sharon.
_____-Me tratando como objeto... Akira, assim fico com mais vontade de não ir...
_____-Não enche.
_____Akira levantou-se e jogou fora o cigarro. Pegou a calça e vestiu-a. Ouviu um suspiro. Virou-se. Sharon deixou escapar uma lágrima. O homem viu-a deslizando por sua face. Sharon nunca chorara.
_____-Desculpe. - ela começou a chorar mais. - Sharon, não chora!
_____Estragara tudo então? Ela nunca havia chegado a tal ponto. Seria o sofrimento dela pela sua falta de tato tão grande assim? Ele não suportava ver mulher alguma chorando. Subiu novamente na cama e abraçou-a.
_____-Não chora... por favor...
_____Abraçou-a mais forte. Após segundos, ela correspondeu. Se encararam. Ela estava frágil, fraca, desamparada, mas absolutamente divina. Delicada como as pétalas de rosas brancas. Seu coração bateu mais forte. Não queria amá-la. Mas seria amor confortá-la numa só noite? Suas mãos deslizaram pela cintura dela. Passou-as por lugares proibidos. Ela parou de chorar. Entregara-se àquele amor, tão brilhante e verdadeiro em sua mente, tão obscuro e falso pelos olhos verdes de Akira.
_____A noite ainda não acabara. A rosa branca acabara de tornar-se vermelha.

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Primeiro texto depois de algum tempo sem escrever. Akira é meu personagem preferido, acho que escreverei mais coisas sobre ele... e acho que arrumei uma forma de colocar parágrafos aqui xD~

Até o/

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Acontecimento enquadrado

Falam mal do cristão porque o tesão incumbido dos homens é aplicado em um sermão que não é nada, senão um discurso diversificado, decodificado e inserido contextualmente.

Em suma, a repressão de um padre é compartilhada pelo cientista louco, pelo garoto maroto, pelo homem matemático e o jovem ajuizado, além dos drogados. Não somos nós, mas nossos tipos, esculpidos e emoldurados.

Obras fotografadas, autografadas e enquadradas.
Obras simbólicas, preconceituosas e pragmáticas.
Dorian Grey, 18/02/2008.
(Percebam que todo o texto com a palavra "acontecimento" está sendo registrado de maneiras diferentes. Quaisquer dúvidas, falem com o senhor azul)

domingo, fevereiro 17, 2008

Chesil's Favourite Poetry

Leia.

O que acham? É um site bem interessante. Pensei em criarmos um, vinculando-o ao TBW, com o intuito de: a) aumentar a leitura de poesia em português, b) facilitar o acesso à mesma, disponibilizando vários autores, c) chamar a atenção para cá, atraindo maior número de leitores.

Eu tenho um espaço considerável da minha biblioteca recheado com poesia, e sei que outros aqui também. Podemos colocar conteúdo aos poucos, dividindo tarefas, facilitando para todos. E, claro, não tem porque deixarmos de colocar autores que escrevam em francês, espanhol (Pablo Neruda!), alemão, italiano, latim (algumas Odes de Horacio merecem...) e todas as outras línguas.

O site pode falar sobre os encontros literários organizados ou não por nós, dar uma pequena "cobertura" dos ocorridos - e para isso conto com a ajuda do Pedro, o jornalista daqui. Gostaria de também deixar um local no site para enviarem-nos seus poemas e afins, sempre tem alguém que escreve e não sabe com quem falar. Mas esse último parágrafo não é necessário, a estrutura principal tem por carácter ser um banco de dados poético, como o site do Chesil.

E eu não entendo praticamente NADA de montagem de sites, layouts (tome como exemplo o 'belíssimo' layout pré-montado que uso no meu blog) e afins. Precisaria de alguém mais capacitado para isso.

Idéias, sugestões, opiniões?

sábado, fevereiro 16, 2008

Expanda-se

Treina teu poeta interior
Na intensidade que o tempo
Trás transcorridas todas
As tuas tentativas

Escreva se sabe pensar
Se sabe escutar tua voz
Se sabe suspender
O saber sem sentido

Mas toma a meditação
Uma componente de teu poema
E recomponha teu pensamento

E então escreva, concerte
Soe, desespere-se,
Versifique, poemize

domingo, fevereiro 10, 2008

Poeta, Ourives.

retifico versos
que rimam com quero-quero,
que semeiam raízes de olvido,
Que não desabrocham;
encolhem-se com a falta de esmero.

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

Quinta-feira fui à livraria Cultura em meu ritual. Pego livros, vários, e me sento nas almofadas. Feito isso, começo a ler, viajar, ouvir os outros, escrever. Ouço muito. Reclamações ao celular, casais, amigos, tudo mergulhado em um mar de livros. Cálculo, auto-ajuda, maresia de aventuras.

Lia um conto de Sagarana quando uma menina sentou-se: portava um livrinho destes que fazem sons ao abrir; lia em voz alta, com dificuldade, cada frase. Formava parágrafos devagarinho. Vi e revi a pequena. Em volta, uma roda de adolescentes reclamava, as pessoas reclamavam, eu não: estava maravilhado com a garota lendo um livro com gosto, paixão.

Meu primeiro livro veio à cabeça: uma coletânea de contos infantis. Desde La Fontaine até autores desconhecidos. Muitas, muitas histórias... magia, ladrões, valores, gigantes, princesas. Li-os todos, diversas vezes. Primeira obra! Dormi tarde várias vezes graças à leitura. Adorava ler uma história duas vezes, sempre mudava um pouquinho – o mesmo efeito da poesia hoje.

Era bom: não havia mal que me atingisse. Briga com minha mãe se remediava lendo. Devo muito a este livro: sem ele, não sei como seria meu gosto pela leitura; com ele, criei interesse em adentrar a bibilioteca de meu pai e lá me instalar sempre que possível. Meu melhor presente, sem dúvida.

A menina se foi, continuei lendo Sagarana e seus contos nas almofadas da livraria, mas não sem a boa lembrança dos dias antigos na cabeça. Obrigado, menina! Obrigado, meu livro!

03/11/2007

Escrevi isso há um bom tempo. Verídico.

original

Encontro Positrônico

Às vezes, a prosa é mais interessante que o verso. Isso acontece justamente quando temos de retratar coisas de forma concisa e fidedigna.

Bem, este é um dos casos... Suponho.

Data-se de um encontro, realizado num certo dia da semana. Presenciavam o encontro alguns escritores e outros entusiastas das palavras.

Lá, o assunto não era diretamente direcionado, como algo premeditado, mas fluía mais livremente. Quiçá isso tenha feito mal a algumas pessoas que tinham como motivo principal a discussão literária, mas isso é apenas uma mera conjetura.

Rumou-se assim por duas horas, mas a terceira pessoa do autor o impede de dar maiores detalhes acerca das duas horas iniciais, já que este chegara com um 'pequeno' atraso de um sexto de relógio.

Foi muito interessante no tópico de se conhecer pessoas novas. Pessoas que já escreviam há tempos, todavia nunca se encontraram pessoalmente - convém salientar que algumas pessoas acabaram por não ir, porém são desconhecidos seus motivos e não vem ao caso do autor comentá-las.

Chegou. Cumprimentou o pessoal. Tomara nota do que já fora comentado.

Estava chovendo, a chuva impedia o chão de manter-se seco. As vidas não são tão secas assim, ou seriam?

É, não foi um encontro de literatos, até porque nem todos os eram. Foi mais um encontro de amigos... Amigos? A gravidade faz seu papel, sempre fez.

Em suma: uma colisão pósitron-elétron que liberara muita energia, esta foi convertida em forma de calor até causar queimaduras.

OBS: Texto antigo.

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

Inesperado

Foi na caminhada
Que sentiu a vida
Passar pelo ouvido
Na voz do destino

Virou numa escolha
Que disse o futuro
Entregue à tentativa
Do olhar mais adiante

Uma ação que ditou
Os passos do coração
Sem nenhuma razão

Foi um desejo
De todo inesperado
Mas de todo escutado

Antologia?

A Mar de Idéias Editora nasceu em 2003 e tem como objetivo levar ao máximo possível de pessoas informação e cultura. E como todos sabemos, o livro foi, é, e continuará sendo uma das mais importantes fontes de saber.

Pensando nisso, a Mar de Idéias lançou em 2006 a Antologia Poética “Novos Poetas, Novos Talentos”, seu primeiro concurso de literatura para auxiliar aos escritores, principalmente aos que não costumam ter acesso fácil a grandes editoras, que publiquem seus livros, sem que precisem gastar quantias muitas das vezes inatingíveis para a maioria da população de nosso país.

Fruto desta seletiva, o autor Pedro Jorge publicou pela Mar de Idéias Editora o livro “A vida em Poesia”, em setembro de 2007.

No mesmo ano a Mar de idéias publicou a I Antologia Internacional de Poesia “Mares Diversos, Mar de Versos”, uma coletânea que também contou com a participação de autores de Portugal e Estados Unidos.

Agora, o próximo passo segue na direção da II Antologia Nacional de Poesia “Novos Poetas, Novos Talentos”.

Muitos grandes talentos podem se perder se não tiverem a oportunidade de mostrar o que sabem, e quantos grandes artistas, escritores, cientistas e gênios podemos estar perdendo todos os dias porque não tiveram uma oportunidade de divulgar seus trabalhos? Por isso mesmo, a Mar de Idéias Editora busca juntar talentos que poderão sair do anonimato e se tornarem conhecidos, proporcionando aos leitores novas obras, e à literatura novos caminhos, novos horizontes, nova idéias.

Original.

Pretendo tentar participar, as despesas não são altas, ainda mais porque você só paga caso seja chamado. Gostaria de convidar a todos daqui para tentarem também, vamos comemorar caso pelo menos um de nós seja chamado!

Opinem.

domingo, fevereiro 03, 2008

Não precisam nos valorizar (tanto)

Sente-se.

Convido-te para uma reflexão. Nada muito profundo, talvez algo mais bobo que o normal.

O alfabeto latino ocidental tem cerca de 24 letras.

Há inúmeras combinações compartimentadas em palavras em diversas línguas.

Poderia colocar a quantidade de palavras que podem ser formadas aqui, em todos os idiomas.

Seria alguma estatística para dizer "uau". Mas não provocaria outros efeitos.

Agora, reflita.

Como o escritor pode ser exaltado por, simplesmente, digitar ou escrever o que deve ser feito?

Como se pode glorificar uma pessoa que faz algo que já está previsto nas combinações de palavras, nas combinações de expressão e no número de letras?

Há médicos heróis, que salvam vidas. Há advogados que salvam pessoas inocentes, além dos engenheiros que se esforçam pelo meio ambiente, em criações mirabolantes.

Não puxe tanto o saco do escritor, pois ele é um ser vaidoso por natureza.

Assim como todas as profissões, claro. Mas é vaidoso por fazer algo que já é previsto.

A única coisa que não se prevê nos livros e textos é uma, uma só.

O leitor.

O leitor pode fazer revoluções embalado por livros. Pode renovar a si mesmo.

Pode se questionar, pode se contradizer, pode se tornar tão vaidoso quanto seu autor predileto.

O leitor deve ser o real objetivo de um escritor. É delicioso e praticamente eterna a situação de criar um texto, mas ele é submetido em uma medida e em um código com limites.

O mundo sem fronteiras só existe em dois casos: na cabeça do leitor e no tamanho do texto.

Mas texto enorme por ser enorme é chato demais (...).

Ela*

Teresa tinha fome. Fome de fruta, de manga doce e quente que deixasse fiapo pra lamber entre os dentes e fizesse escorrer pelo queixo até o umbigo suco melado, caminhos de lesma ardendo na pele. Tinha a ânsia dos que querem muito sem ter, e andava de pernas abertas esperando. Essas espera e fome doíam. Teresa sangrando de dor espereva a fome passar.
Mas a fome não passava, a dor prosseguia, e Teresa aprendeu a colher com a mão sua fruta desejada.
Saciada sempre, ela agora tinha sempre as mãos doces e as punha na boca para deixar o fiapo nos dentes e fazer escorrer suco pelo umbigo.
Mas Teresa tinha ânsia de ter fome novamente, só que não mais podia desaprender.

*Também no blog.

Ensaio egocentrista.

Além de pai e filho,
Sou amante também.
De mim, apenas.
Preso no centro do ser(eu).

Importância tua, do que falas ou sente.
Não há.
Suas teorias
Embalam meu sono.
Sua realidade não tem valor.
Ao meu paradigma, o verdadeiro.

Preso, em cárcere amável.
Confinado, no devaneio do absorto.
Sigo, por caminho que não se vê.
Por descuido: não preciso vê-lo.
Maior interesse em uma mente perdida.

Egoísta e despreocupado.
Fingindo inspiração ou dor.
Isolo-me com gosto e desprezo.
De tudo que não é fogo ou flor.


(Poesia escritas nas brumas do sono, depois de lembrar um pouco de Artaud. Apenas para não enferrujar e para afirmar minha participação no blog.)

sábado, fevereiro 02, 2008

Ligue a luz, suba ao palco e atue

Novo blog meu, pessoal.

Aqui

Nem preciso fazer exibições. Entrem e tirem suas conclusões.

"Non, je ne regrette rien" - O Presente Absurdo e o Passado Surdo ou Os Relacionamentos

"Non!
Rien de rien...
Non !
Je ne regrette rien
Ni le bien
Qu’on m’a fait,
Ni le mal,
Tout ça m’est bien égal !
Non!
Rien de rien...
Non !

Car ma vie,
Car mes joies,
Aujourd’hui,
Ça commence avec toi !"

Non, je ne regrette rien, música de Édith Piaf.


Não, não me arrependo de nada,
Nem do epígrafe da poesia, nem da asa
Descoordenada dos meus sonhos,
Do meu pé amargo na terra movediça,
Nas minhas palavras que cortam a caça.

Não, não me arrependo de nada,
E, mesmo quando tenho ressentimento,
Algum tipo de arrependimento,
Faço para não ser fracassado,
Faço para não orgulhar os outros,
Faço para orgulhar meu rosto, meus atos.

Não, não me arrependo de nada,
Nem da falta de diálogo, nem do texto
Mal-entendido, sempre há um amanhã
Com esperanças, que vai além da vã
Crença no destino, no otimismo doente.

Não me arrependo de te ver, sentir você,
Sentir o doce correndo nos fluídos diversos,
Não me arrependo de ver o que pude, ajude
À si mesmo em seus lamentos, ressentimentos,
Relacionamentos não são termináveis, nem maleáveis,
Mas transformados, o tempo todo, todo mudado.

Caeirismo

Somos um grupo de escritores,
Que interpretam, relê o que se trabalha,
Deixa o papel entulhado para roedores
Decompositores, compositores de obras
Mortas, mortalha artística.

Somos um grupo de escritores,
Rastreadores de assuntos,
Criadores de ligamentos
De significados, dos personagens
Que devoram nossos miolos,
Que impedem as passagens.

Queremos achar significados
Em nós, em sua declaração e voz,
Queremos dar sentidos
Aos mares descomedidos,
Às tempestades terminais,
Aos contatos viscerais.

Somos o que não somos,
Buscamos o ser onde não há ter,
Será e terá conseguido um querer?
Nós, vós, eles?

Nossa geração não acabou,
Somos filhos bastardos do que se renovou,
Sem revoluções ou constituições,
Temos um linguajar incomum das continuações,
Um começo numa história indeterminada,
Inerente, totalmente inseparada.

Nossa geração não vive de pseudônimos,
Ou personagens fixos, heróis sem prefixos,
Temos personagens de várias linhagens,
De várias origens, de um fim em vertigem.

Alberto Caeiro ficaria um pouco feliz
Com a natureza humana que aqui se diz,
Que meus companheiros, meus parceiros,
Insistem em chegar, sem hesitar.

Alberto Caeiro ficaria um pouco feliz
Pelas poucas vozes, pelas mudanças menos ferozes,
Ficaria impressionado com nossa capacidade lenta, nossa
Vida por triz, nossa melodia de atriz.

Estamos próximos da verdade,
O que não quer dizer vaidade,
Tampouco sensibilidade.

Estamos próximos da verdade,
E da diversidade.

Ficamos absortos. Somos um aborto.

--

Inspirado em conversas com Sir Varios (William Gnann).