segunda-feira, julho 28, 2008

Assinala a sina,
Sob o signo sem ver.
Solene atina,
O hábito de sofrer.

Igual fruta caída,
Hesita em amadurecer.
Queda, distante,
Qualquer sonho a ter.

Insone, sente a manhã.
Incólume, insípido amanhã.
Descompasso, todos compromissos.
A sua vista outros iludidos.
Como homem que é.

Transeunte ou altaneiro.
Altíssono compadece.
Mítica simbiose
De ser e desespero.

sábado, julho 26, 2008

Silêncio ou a Tentação do Não-Falar

Eis que ponderou-se o silêncio em tredo instante,
Pensar fugiente como jamais visto antes;
"Por que falar?" dizia, "Para que dialogar?"
Não faz mais sentido o ato de conversar.

Incomunicável, é o que o fato parece
"Comunicação não! Falar não me apetece!"
Fome por dizeres, o anseio, a expressão...
Não complementam mais minha alma da razão.

Resta para todos apenas o silêncio,
Silêncio que amarga os tão controversos versos
De significados paradoxais, dispersos.

Resta para todos apenas o silêncio,
Não silêncio surdo, que é apenas ignorado,
Mas silêncio mudo, dum agora calado...

Pensamentos sobre a Filosofia do Jornalismo #2

Quando todos tiveram culpa (e presença) no passado e no futuro,
O terror mais sincero e duro
É ser o momento.

Tormento puro.

Pensamentos sobre a Filosofia do Jornalismo

Quando o periódico deixa de ser papel,
Quando a notícia abandona o formato digitado,
Eletrônico,
A informação passa a trafegar em pé,
Separar-se de forma, ser um além
Dos formatos, passa a ser contato.

Eis que surge o indivíduo jornalístico. Ele não é uma colagem de revistas, nem jornais. Ele não é um chip de informática, nem é notícia que respira e sobrevive. O jornal, o diário, o cotidiano, o ordinário é o imediato, o sensato, o esclarecedor. Ele carrega e não carrega as incoerências do cotidiano. Nenhum cristianismo, nenhum mito e nenhum cientificismo encostou no homem-jornal. Nem mesmo o super-homem do bigodinho.

O jornal
Carrega as incoerências



Sem apelar para a demência,



Sem cair na dependência,



Ele não é Deus,



Ele não é homem,



A atualidade é a metamorfose,



Aquela não podemos deter, a simbiose



Da osmose que é não poder se controlar,



Não poder se tocar.


Indivíduo jornalístico irá compreender o panorama.
Irá investigar as minúncias,
Desmontando o programa.

Indivíduo olhará para a história,
Perdoando os assassinos,
Julgando apenas os erros
Disciplinares, as linhagens
Dos traidores.

O culpado pedirá pela morte,
Pedirá pela tortura, um forte
Sentimento masoquista,
E o indivíduo jornalístico
Corromperá com sua palavra.

O jornal penetrará no ser humano,
Não mais com número limitado de espaço,
Nem com gênero categorizável,
Será comunicação pura e mudança madura,
E todas as palavras terão sentido,
Ungido pelo terror que é a esquizofrenia.

O homem-informação,
A desinformação declarada,
Será um arauto a ser temido,
Por seu olhar, que é um cupido.

Apaixonado,
O ordinário homem compreenderá que
Diante do indivíduo jornalístico,
Não há basilisco
Da criação humana como arma.

Verás, por esse indivíduo,
O fim da imaginação,
Fim da sua personalização.

Pois o presente como verdade,
O duelo da ascensão,
Revelará todo resto como simulação.

quinta-feira, julho 24, 2008

Estudos Poéticos 2

três haicaizinhos tradicionais, 7,5,7

espero que gostem :)

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Adágio

Dor. Por ela, o violão chora.
e seu braço deita
Lenta e dolorosamente

Verruga

Ò verruga, serei capaz
Passar uma dura
à saliência tão desnuda

Canora

O cantador no peitoril
Cita arpejos, preso:
Liberdade, que já voou.

quarta-feira, julho 23, 2008

Tempo-Ilusão

Tempo entediante
Falso abundante, traidor,
Falta angustiante.

terça-feira, julho 22, 2008

sobre a poesia

"A POESIA AO ALCANCE DE TODOS
1ª lição

Rosa daninha:
Você quer que eu te ensine poesia e se confessa envergonhada da própria ignorância. Mea Culpa, Rosante! Não te ofendo por ruindade, mas de leviano que sou. Teus versos são maus, mas puros – o que é uma qualidade. Falta informação, cultura a você – sensibilidade você tem de sobra. Ler O Estrangeiro do Camus e gostar, na tua idade e com a tua formação, é algo admirável por si só. Entretanto, você acha Drummond um chato, o que é um crime de lesa-pátria. Certas coisas são sagradas, Rosinha. Não existisse Drummond e hoje eu seria um próspero vendedor de ações. O mal dele é que encalacra na gente, como certa menininha, princesa de castelo, que eu conheço. Às vezes escrevo versos e percebo que há mais alguém participando da tarefa – esses malditos fantasmas, grandes demais para caberem no túmulo. Vivem se metendo na obra alheia.
Mas vamos à aula de poesia.
Artigo único: poesia não se ensina.
Está encerrada a lição. Mas, para não decepcioná-la por completo, falarei da poesia em geral, já que não posso ensiná-la. Antes de mais nada, dê uma folheada em algum manual de literatura (serve enciclopédias, daquelas que o teu pai compra em metro) para familiarizar-se ligeiramente com a História. Itens de pesquisa: Homero – Classicismo – Barroco-Arcadismo (ou neo-classicismo) – Romantismo – Parnasianismos – Simbolismo – Modernismo – Concretismo.
Pronto? Ótimo. Se não entender alguma coisa, não faz mal: esse pessoal todo já morreu, e em geral eram muito chatos. Conclusão primeira destes três mil anos:

- a poesia não é rima
não é forma
não é metro
não é papel cuchê de primeira
não é assunto
não é necessariamente música

não é estrofe
não é profundo mergulho na individualidade humana
não é uma borboleta voando
a poesia não é nada.
ou seja
que porra é a poesia?

Conclusão segunda da revisão histórica (preste atenção, Rosânida!):
- como não há mais nenhum discípulo de Homero e a Grécia virou uma bosta, como os clássicos da Renascença eram muito posudos, como os barrocos faziam piruetas, como os árcades só cuidavam de ovelhas, como os românticos morreram todos tuberculosos, como os parnasianos eram a última raspa do tacho da boçalidade acadêmica, como os simbolistas compensavam a falta de assunto com Iniciais Maiúsculas, como os modernistas envelheceram, como os concretistas, práxis, poetas-processo e suas cinco milhões de dissidências cooptaram todos pelas agências de publicidade:

ESTAMOS LIVRES!
HIP! HIP! HURRA

Não é um alívio, Rosaflor?
Isto facilita as coisas. Por que buscar um fio de meada que talvez tenha se perdido para sempre? Ora, a solução é cristalina. Não existe a meta-poesia?
Pois acabo de inventar a mata-poesia.
A mata-poesia (nada a ver com ecologia!) propõe o assassínio da Poesia. O Esquadrão Matapô não terá piedade: matará, estraçalhará, estrangulará tudo o que aparecer por aí sob o codinome de Poesia. O filho da puta do poeta que aparecer com textinhos mimeografados, com vanguardas obsoletas, com tiradas de cinco estrofes, com rimas ou sem rimas, com vaguezas sonambúlicas, comícios e aquilhos, saudades, dores, fragmentação do ser, trocadalhos e poemas em geral, estes comerá o pão que o diabo amassou. Para se filiar ao Matapô basta ser poeta e colocar seus préstimos a favor da destruição final da poesia. Vamos extirpar de vez esta vergonha nacional, esta horda de mendigos bem nutridos. Ofereçamo-nos em holocausto. Ave!
Rosance, essas cartas me estimulam! Refaço agora o título da aula: onde se lê A POESIA AO ALCANCE DE TODOS, leia-se A POESIA AO ALCANCE DO BRAÇO DE TODOS.

Porrada nela!".

Livro: Trapo
Autor: Cristovão Tezza
Editora: Brasiliense
Ano: 1988
pp: 113, 114, 115.

terça-feira, julho 15, 2008

Como matar Deus (e se matar)

Negar,
Refutar a garra que me agarra
Na masmorra que é vida, armadura.

Primeiro veio o homem,
Ou o homem veio a si, primeiramente,
A existência veio do sêmen
Nadador e penetrador do óvulo, somente.

Humanos olhos que enxergam,
A mente que fala, a esquizofrenia
Que trepa com nossos genitais,
Resvala nos pensamentos difusos,
Nasce uma imaginação.

Imaginação é senso,
Senso em conjunto vira consenso,
Imaginar é ser tenso,
É deixar de ter um olhar tenro.

Surge o superior,
O que fica abaixo e o interior,
Pode ser um homem de barba branca,
Ou uma pomba retardada, também manca.

Deus dialoga com o homem
E este apenas fala consigo,
Não porque é pecador,
Mas porque é amador.

(de si próprio, iniciante e penitente)

Dentro de tantas mitologias,
Transpassando as igrejas e as mesquitas,
A herança final do rito é o grito da razão,
E a esquizofrenia duplica, é a cisão
Dos saberes, a desapropriação
Desproporcional, idéias em suspensão.

Veio o sangue pelo nome divino,
Veio o equívoco científico,
(Cruzados e Bombas Nucleares, qual é o pior?)
Dormem os meninos entorpecidos,
Vieram todos os símbolos e todos os fantasmas,
A humanidade se revelou no miasma.

Surgiu um bigodinho maroto
E disse que Deus estava morto,
Surgiu um turbilhão de fragmentos,
O homem voltou a viver o momento.

Da apneia dos conflitos,
Surgiu a mais atéia das composições,
E a mais religiosas das confusões.

Ateu, tua religião é um Deus
Da negação, uma afirmação,
Uma admiração inimiga.

Negar o superior virou desculpa
Para selar a catapulta
Do assassinato,
Para quebrar a crença
Com o tesão cético.

Não se desacredita em Deus por vontade,
Mas deixa-se de acreditar por maldade.

Vingança é o credo do ceticismo,
Matança de seus órgãos internos,
Cínicos.

(onde foi parar o fim da Igreja?
vocês fundaram um ritual da suspeita,
um terrorismo de nascença,
não é um Deus tão temido
quanto o mais antigo?)

(homem sempre cria ´Deus´
nem sempre com um nome, nem sempre como um dos seus,
mas imaginar, enlouquecer e admirar são o crer e o cegar)

(somos estrangeiros, somos extraterrestres,
crentes ou desordeiros,
estamos sempre a pensar, ser.)

"Sade irá negar portanto o homem e sua moral, já que Deus os nega. Mas negará ao mesmo tempo Deus, que lhe servia de caução e de cúmplice até então. Em nome de quê? Em nome do mais forte instinto daquele que o ódio dos homens condena a viver entre os muros de uma prisão: o instinto sexual. Que instinto é esse?
--
Sade irá negar Deus em nome da natureza - o material ideológico de seu tempo fornece-lhe discursos mecanicistas - e fará da natureza um poder de destruição. Para ele, a natureza é o sexo; sua lógica o conduz a um universo sem lei, onde o único senhor será a energia desmedida do desejo.
--
Se Deus mata e nega o homem, nada pode proibir que se neguem e matem os semelhantes."

Albert Camus, O Homem Revoltado.

Estudos Poéticos


Ouça

É tão doce

Que o vento soprou

É assim que sei

O som


Sabe

A saudade me seca

Suspiro e silêncio


Ouça

Esta solidão

Será serenata?

É só sensação...



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Música para ser ouvida:

Revèrie - Claude Debussy


Enjoy!

domingo, julho 13, 2008

A Floresta


há silêncio
nas folhas que ouvem

paz e beleza
no escuro residem

há medo
a quietude diz

fascina. reflete.

pra quem já ouviu Forest Temple Theme, do Legend of Zelda - Ocarina of Time - N64, recomendo que ouça o tema ao ler este poema. Pra quem não ouviu, recomendo que faça o mesmo.

Fadiga

Adaga de dardos
Dos retardos constantes
Em mi, fá, sol, lá, lá em casa,
Na morada dos párias,
A fadiga diária.

Casa do violão, da guitarra,
Imprecisão da garra, cãibra,
Barba ralada, casa com o nada.

Pouca poesia

Manca ventania
Que assopra no teu peito,
Que proseia no anseio
De te ver sem meio termo.

Lança a enzima
Da palavra, a esgrima
Da frase, da oração, do verbo,
De tudo o que for concreto e curto,
De tudo o que for ação no escuro.

E me anima.

O Templo das Pedras

dentro do círculo de pedra
o sábio
cria astuto enigma
é ilusão má
Ecoa o tempo e as tênebras
e roda
força os eixos e pára.

mental

Paranormal, é mistério
e solução
Uma mística reclusão
um labirinto
As asas presas a correntes
nem cera
Restitui a liberdade

ainda falta

metade do quebra-cabeças

quinta-feira, julho 10, 2008

Aqueles versos

Além do sexto escândalo
Sorrindo tudo azul
Há um colar de bonecas
Rodeando duas canecas
Você quer mais o quê? Um bidet?

Um beijo gorgolejante,
Panquecas e CD's?

Construir um palácio despidos em um tanque
E depois nos afogarmos
Para o bem do bebê

Amanhã já foi descoberto
Porque nunca saberá o que é pena
De reunir tantos versos
Para um quadro azul

Deram-me um corpo
mas é de papel
Naufragam, os barcos
Tombam lânguidos, dentro do tonel

(ah!)

Louco com uma águia
Pena de bordel
Machucam toda noite, olho para o teto
lambuzo o céu

Peço-lhe que remende
Aqueles traços infantis
É tão decadência
Vejo:
Cabeças em alfinetes.

E a platéia aguarda-me com um atraso
E mais uma vez
Deslumbro decotes com simpatia
Todo mundo consulta seu relógio
é a ponte que liga
esperançosamente à pieguice

Oh, falta-me um inconsciente de uso
Falta-me um consciente humano
Falta-me uma dúvida munida
De pontuações descabidas
Falta-me luz e sombra, ser cruz e tumba
Falta-me uma graça perversa, à sombra dos fracos
Falta-me perversidade graciosa, prepúcio e bunda.

domingo, julho 06, 2008

feia escura e morta

o céu negro de brigadeiro contempla singelo o mundo. e com carinho lhe cobre com sua negra mortalha e o ilumina com suas estrelas sorridentes
muito abaixo
num pequeno beco entre duas ruas desertas
um saco plástico
negro como a noite, a escuridão, e a morte
ele brilha fugazmente sob o luar com com belos nuances e tons de branco reflete fiel e disconexamente a luz das estrelas, que são suas guias, as únicas e caladas testemunhas daquele triste fato
por dentre muitos desses sacos, que sobre o frio e estéril concreto repousam em seu descanço
está pousado wachintom
o jovem garoto está magro, seu olhos estão secos, e em sua boca, junto à várias escarras de infecções, pousa um sorriso pleno
o sorriso pleno, sorriso pleno daquele que é amado, aquele que é feliz, aquele que tem tudo que sempre quis, e mais nada deseja, sorriso de satisfação, felicidade e plenitude
em suma, o sorriso que muitos poucos podem ter, que só os têm no momento junto à morte
calmamente, fria, e sorrateiramente, o hálito quente da vida escoa de seus pulmões, corre pelo chão sem caminho, e sem destino, perdido num universo q eu não é dele, até que é devorado pelos ratos que por ele ansiavam desesperadamente
de seus magros dedos da mão direita cai um pequeno saquinho transparente, com um liquido amarelado e grudento, o único amor daquele garoto, o único motivo dele existir, e ter vivido até agora, seu caminho, o caminho que ele escolheu, o caminho mais fácil, o único caminho feliz
os ratos andam, e encontram o garoto, e por cima dele perambulam, procuram um lugar para morder, e seguir sua vida. mas até os ratos têm nobreza, e respeitam um cadáver jovem em seus primeiros momentos, além do mais, a carne só tem o melhor gosto após 3 dias
se vão na sua luta por uma vida, apenas isso, apenas uma, e apenas vida
do outro lado dos sacos, um casal e namorados anda pela rua, felizes, seu amor contagia, seu amor de carinhos, atenção, dedicação e felicidade, o típico amor que emigra ao nascer do sol
as pequenas folhas de grama no concreto não sabem, se sorriem e contemplam o amor, ou se se contentam em ser as únicas nesse mundo à guardar luto pelo jovem wachintom.
mas, eis que, não por milagre, desgraça, ou destino, mas apenas por coincidência, o brinco da jovem que na parede mais próxima segura ao seu amor, cai, e rola para os sacos
ela o procura, e encontra wachinton, com sua pele negra como muitos, sofrida como tantos outros, e horrível como poucos. olhando em seus olhos, com sua mão esticada parecendo uma garra, e pedindo por carinho
a moça, em sua ignorância juvenil, grita aterrorizada, e corre, seguida de seu consorte, abandonando o pobre e solitário defunto
ao longe, um grande urubu se alimenta no grande lixão da zona norte da cidade, ele ouve o grito, e sente em seu coração o terror, e logo sabe que ali está a morte. e levanta vôo buscar os restos deixados pela bela dama
ele pousa sobre a cama de sacos
olha o garoto com seus velhos olhos, e diz:
acabou garoto, não adianta mais ficar ai abaixado e chorando
não adianta, procurar por seus saquinho, você não pode tocá-lo, nem sentir seu efeito
o garoto diz:
calaboca, me deixa em paz, eu preciso de mais, preciso do meu amor, preciso sentir de novo, preciso sentir a felicidade em mim de novo, preciso de quem me ama e me entende. preciso pra saber de novo que os homens não são nada além de cachorros, que só precisam do seu saquinho que ama
o urubu baixa seu bico, suspira, e fala:
garoto, você não entende, isso não é amor, é cola, ela não te faz feliz, só te dá uma sensação boa, e te faz esquecer como a vida é dura. isso é para os fracos, eu conheci muitos garotos como você, e você é o único que não morreu de tiro. agora me ouça bem, você está morto, não pode cheirar, não pode fugir, não pode dormir, ou sonhar, a vida é o aqui e o agora, e aquilo que você vestia, onde você vivia, agora é minha comida da próxima semana inteira, agora saia daqui, e me deixe comer sem seus resmungos, pois logo outros maiores e mais jovens virão, e eu poderei ficar com fome
o garoto começou à chorar, o urubu pousou sobre o seu peito; onde um coração ainda insistia em bater fracamente, à despeito da morte de todo o resto; e bicou seus olhos que ao vazio pediam alento. o garoto saiu correndo, frio, vazio, e sem forma, aos soluços tropeçou e nas sombras se perdeu


(inspirado tropicália, de caetano veloso ( http://letras.terra.com.br/caetano-veloso/44785/ ))

sexta-feira, julho 04, 2008

Academia

Tentativa de conhecimento,
Recrudescimento de vocabulário,
Reclusos alunos no calvário,
Ensinamentos totalmente arbitrários.

Uma misantropia manifesta,
Uma sociologia dispersa,
Universidade sem faculdade,
Faculdade universa.

Frases do fim do começo do dia.

A Internet é censurada aos turistas. A literatura é pouca.
Estavam eu e meus vinte anos. Cansados e com as pálpebras piscando involuntariamente - cabeça doendo - crianças gritando nas têmporas. Qualquer frustraçãozinha era motivo de quebrar copos, rasgar livros, entortar os óculos e cheirar meias sujas de ontem. Eu procurava soluções dúbias para uma produção procrastinada há muito tempo. Contemplava com o olhar desfocado o quarto imenso, mergulhado em um prato cheio de cores e possibilidades. Várias são plangentes a ponto de desviar-me da minha tarefa principal - aquela tela quadrada, cujas letrinhas pareciam me desafiar a cada momento que eu desafiava a continuar acordado. Eu versus o relógio. Ora, eu já havia gritado antes muitas vezes com Deus, pedindo para que esticasse só um pouquinho a duração dos dias... mas antes que eu novamente me distraia a ponto de perder uma frase genial para este texto, é importante mencionar que a Internet era safada e maliciosa. O Youtube te tragava para uma vastidão surreal de possibildades. A Wikipédia era uma biblioteca indócil, consumidora maldosa de horas. Ah, como eu gostaria de funcionar 24 horas em total lucidez, sem pausa para sono. Eu queria dormir. Maldito botão editar!