sexta-feira, agosto 29, 2008

Escultura

Grande diáspora de pequenos parados!
Andai por caminhos torturantes, tortuosos
Todos lotados, cheios disso tudo!

Passa não passa, passa não passa!
Para onde vais com tanta pressa?
Se muito parado estás?

Estática Cidade, cresce um porém!
Algo não sai, não floresce
Mas está perto, está sob o solo

Nasce a crise, estática crise!
Permanente crise, crise cheia!
Estamos cheios disso tudo!

domingo, agosto 24, 2008

Podresia

A podresia é aquela poesia torta,
Não necessariamente poética,
Que não possui uma rítmica bem formulada.

A podresia é aquela poesia morta,
Não necessariamente aritmética,
Que descreve vasos em versos decassílabos.

Ela também não é paralelística,
Mas nunca se encontra com seu significado.

Ela não possui significado,
É uma poesia corroída,
Mas não ao ponto de tornar-se vendida.

Na realidade, é uma poesia vadia,
Totalmente mal-escrita, sem cuidado,
Feita por não-poetas às pressas,
Com letras grudadas, bem presas.

A podresia é um lirismo de palavras vãs,
Todas presas ao nada e jogadas ao vento;
É à poesia e à arte um imundo desalento.

Desprezível e mefítica reunião de palavras,
Que apenas toma o tempo curto do leitor,
Obnóxia abjeção feita com o inverso de primor.

É uma a-poesia que nada contesta;
A charneca literária oriunda do marasmo,
Onde verso atrás de verso é um inútil pleonasmo,
Mais mal feita que a podresia... Só existe esta.

sexta-feira, agosto 22, 2008

alguma coisa de muito diferente


a literatura é um troço louco. algo nela me encanta de uma maneira difícil de explicar. escrevo, escrevo, escrevo e leio sobre, mas, ainda bem, jamais conseguirei defini-la, muito menos expressar com uma mínima proximidade o que ela provoca em mim.
fiz a leitura de De repente, nas profundezas do bosque, do escritor israelense Amós Oz, e, novamente, durante e após a leitura, o sentimento de que a literatura provoca no ser humano algo que foge de sua compreensão me invadiu. é uma sensação muito boa, alguma coisa de muito diferente de todo o resto. ainda bem que não consigo mais viver sem sentir isto. um livro após o outro. um sentimento que complementa o outro.
uma fábula muito gostosa, sem maiores enrolações, escrita com leveza. os capítulos são, em sua maioria, curtos. não são todos os capítulos que terminam fazendo alguma ponte direta com o próximo. não há essa necessidade.
em uma aldeia pacata não há bicho algum. o que seria um mistério, é tratado com certo descaso pelos adultos. não por algumas crianças. poucas. três ou nove. o mergulho delas em tal mistério é o fio condutor da narrativa. elas sentem que há algo a mais naquele bosque. seus olhos imploram por novas imagens. elas não recuam. e... (é fazer a leitura e descobrir o que elas descobrem; ou não).
nunca havia lido nada do escritor israelense. se a primeira impressão é a que fica, esta é muito boa. é um livro infanto-juvenil. desconheço se o único do autor para essa faixa etária. independentemente desta categorização, é um livro para todos aqueles que se dispõem a se aventurar por entre árvores e personagens, mergulhando no mistério da solidão humana e animal.

í.ta**

domingo, agosto 17, 2008

Silêncio, ruído e comunicação

Há uma verdade comumente aceita,
Há uma verdade rejeitada,
Há uma inércia involuntária,
Há uma manipulação inventada.

Há vozes, simples ruídos,
Há um silêncio constrangedor,
Há um interloculor medroso,
Há um mundo tenebroso.

E há, quando saímos de chiados e paralisias,
Quando a voz assume timbre e rítmica,
Uma breve comunicação.

De resto, tudo é apenas sons e vácuos.

Ideologia

Enquanto Cazuza canta um verso conhecido,
Enquanto o conservador repete um discurso conhecido,
Enquanto os embates ficarem na revisão do conhecido e público,
Eu vou querer que a ideologia se exploda, esse mal bem recebido.

Não vou sonhar utopias,
Não vou fixar pernas em uma realidade momentânea,
Vou caçar um pensamento e uma filosofia contemporânea,
Vou unir rebeldes e tradicionais, orgulho e revolta,
Eu vou ser completo nas minhas alegorias.

segunda-feira, agosto 11, 2008

amor

o amor veio
o amor passou
disse que voltava na primavera
mas por enquanto acabou

sábado, agosto 09, 2008

Paralogismo

Paráfrase do pensamento,
Do falar prolixo
E do olhar em riso.

Gozação, piada, mentira
Do discurso, do impulso até a alucinação.

Silogismo

Idéia completa, começo
Do meu terço, que oro,
Frases estão avulsas, coro,
Estamos no seio do meio
Que nos indica ao finalizado.

Começo, meio, fim.

Do sujeito-objeto
Aos detalhes do trajeto
Que guiam o fim completo.

Prosa Idiota I

Chegou o inverno. Parece-me que cai agora o primeiro floco de neve. Percebo as árvores se desfolhando.
Me desloco um pouco, a paisagem, ela está deserta.
Noto que a choupana que se situava ao fundo, ao lado da colina, não emite mais a doce fumaça da lareira que esquentava seus moradores.
Nossa! Haviam moradores, mas... O que lhes ocorreu?
Fui averiguar... Abri a porta, noto uma ossada totalmente decomposta; vermes banquetearam naquela casa. Mas... O que faço eu num lugar tão longe? Não devia estar na cidade? O que vim fazer por aqui?
Existe cidade?... De onde me veio esse conceito: "cidade"?
A neve está acinzentada. O que está havendo nesse lugar?
Noto o céu, há uma lua brilhante, mas contracenava com a tenra luz do dia de sol tímido de inverno. Esse lugar, não me faz sentido...
Alguém, há alguém por aqui? Há?
# ## # ### # # ## ## # ### #
Que barulho é esse?!
# # # ### # ## # # # # ## # #
Alguém me respondeu, mas é um crocitar!
Há um corvo nessas imediações... Não só um corvo, as árvores, elas não desfolharam somente, elas estão mortas.
Está se adensando uma névoa obnóxia, ela me sufoca, me faz querer correr.
Pusilânime, não consigo. O tremor me faz evitar os movimentos.
...
Existe! Existe! Existe!
Olho ao meu redor. Há cinzas, não neve, ela se acinzentou cada vez mais.
O céu está numa vermelhidão, cor de sangue, uma atmosfera escarlate.
O ambiente está cada vez menor, as árvores estão se contraindo, há forças ocultas atuando sobre nossos corpos.
Uma atração gravitacional, eu suponho... O que é gravidade?...
A família! Ela morreu, morreu de peste!
A choupana, a choupana exalava um doce aroma de lareira porque eu morava lá.
Por que eu não moro lá?
Por que morreram?!
Por que eu estou vivo.
Eu NÃO estou vivo...
Este é o ...
...

quinta-feira, agosto 07, 2008

Tres Haicais

livres.




Decreto

força de sol maior
desce a corda até fá
mas esquece mi

Morte

Espero que seja
rápido e indolor
o disparo

Derreto

Olho para a névoa
de linho branco
derreto n'água

Terror

O humor dissipa
Nos olhos esbugalhados
Que a admiração embrulhada
Conjuga com os estômagos contorcidos.

Terror roto em terremoto,
Rosto ligado ao pescoço rouco.

Comédia

Falo comedidamente
Enquanto as caretas dizem,
Decididamente,
Que a realidade é uma farsa,
Pois o coração está nas traças.

Drama

Sorrir, gaguejar, praguejar, martirizar,
Enquanto o mundo roda, enquanto o vivo se aloja
Nas impressões individualizadas.

Nossas caretas ficam eretas,
Nossas palavras ficam suspensas,
E a falta de verbalização deixa a situação
Menos picareta.

Drama é tensão,
Mas o tenso não vive sem o líquido
Racionalizado, pensamento.

Tragédia

Viver sabendo que vai morrer,
Sorrir sabendo do lacrimejar,
Acabar a melodia depois de solfejar.

Trágico é ser homem,
Criar e destruir deuses,
Pegar fiapos e soltar o sentido,
Crer no eterno
Enquanto nossas impressões somem.

Morte certa e errada

Morre-se muito, vive-se longamente
Na mente que sente a lente de repente,
A visão obscura, a perda latente.

Morre-se muito, morre-se todas as vezes,
Morre muito nas vezes em que as fezes
São os restos de gente.

Morreu de câncer, morreu no lance
De sacada, na bancada do hospital,
Sem as amarras do pecado capital,
Morreu feliz, morreu por um triz,
Podia viver sempre.

Morreu na batida policial,
Na colisão frontal, na corte marcial,
Morreu bestamente, morreu subitamente
Da morte mais morrida de todas,
Na queda mais sofrida de todas.

Morre-se de um jeito, morre-se de outro,
E, na real, a vida é só uma morte sem sentido,
Uma observação positiva, um medo destemido,
A vida é a morte que a morte nunca teve desejo.

domingo, agosto 03, 2008

Teu medo

Tens medo? De quê?
De balas perdidas, de corrupção incessante,
de mosquito egípcio, de crise permanente?

E fazes o quê? Choras?
Choras o sangue espirrado, o dinheiro perdido,
a doença-epidemia, o futuro esquecido?

De medo fazem tua cabeça
uma bagunça covarde e reprimida!
Mas, o caos do dia é mantido.

E ainda te dizes correto?!
Por sentar e esperar,
por dizer e sentar!

As desculpas correm, o moedo fica.
Culpas e te desculpas.
Pobre de ti, que hipócrita sê na vida!

Medo está em mudar.
És estático!
És obsoleto!

Muda e transforma!
Se tudo está assim,
tu és isso tudo!