quinta-feira, março 29, 2007

I - Magdalene

Mordi-a com amor
Coloquei todo o sentimento ali.
Ignorei sua dor,
Inimaginável prazer senti.

Ela olhou para mim
Enquanto sorvia sua vida.
Seria ali o seu fim
Ou ainda havia saída?

Ah! Meu amor, como a amo!
Se a mato nao me consolo,
Por tua presença eu clamo!

Soltei-a lentamente
Para seu maior conforto.
A mim seu corpo tem serventia
Somente vivo, não morto.

---------

Poesia feita meio que sendo narrada por um personagem meu (Sim, ele é um vampiro.). Magdalene é o maior "brinquedo" dele. Tava a fim de brincar com rimas nesse dia XD.

quarta-feira, março 28, 2007

Defesa da Poesia - 2

Lamentoso solo
Onde o lamentado
André permanecia
Fixo,
Pensante na vida.

Seguia, sem despertar atenção,
Nem desviar sua má ação,
O espírito da cidade,
A ópera da eternidade
Inanimada, da habilidade
Sufocada, inerte.

Semelhante aos aparecimentos do Diabo à Cristo,
Como os sustos da menina adormecida e seu grito,
Tomou a forma de todas as vozes
E de todas as engenhocas, disfarces
Dos desejos humanos, são as cidades.

"Ousas tu, defendes tu
Essa frágil poesia, abstração?
Queres tu, ofendes tu
Com tal inútil insatisfação?
Não podes ser diferente,
Nem pode estar distante
Do universo que ilimitado
E incorruptível, é o muro
Do material, o chão
Sujo com tua traição."

segunda-feira, março 12, 2007

A Queda da Rosa

A Queda da Rosa

"Clara manhã, obrigado
o essencial é viver!"
- Carlos Drummond de Andrade

I

A Rosa.
Certezas
diferentes
e iguais às minhas.

Repousa na terra: para
ela migrou a vida; nela
se deita a morte.
Uma rosa que nasce
e da terra suga a vida,
diverte-se enquanto
um cadáver abaixo dela se esconde...

A Rosa se enrola como um caracol...
"Olhem! Ali nasce outra!"

II

A semente enterrada; o óvulo, imaturo.
Na Terra
germinando...
Uma prostituta, um padre, um coveiro.

Uma criança no ventre,
luta, espera.
Seu caule, interno
à terra, ao calor, à placenta
da mãe; pré-funestos.

Nasceu a Rosa!
Livrou-se da prisão da terra
úmida e fértil.
Forma – simplicidade.
Tanta vida em tão pouca matéria!...

O tempo corre. Tanto
para quem vaga quanto para quem fica.

III

Uma Rosa não é uma rosa.
Atenção à vida.
Cor, perfume.
Mijo, sutileza.
Morte.

Uma rosa não é mais nem menos
que um carneiro uma pomba
uma garota que come chocolates.

Rosa-flor.
Rosa-cor.
Rosa-vida.
Rosa-náusea.
Rosa-virilha.
Rosa-mortalha.

Os sentidos não à todos confundem igualmente.
Eu falo – mas muitos não ouvem-me.
(ou escutam-me)
A Rosa fala – e não a entendemos.

Passado futuro fundem-se
no Interminável.

Colha uma flor
em seu jardim, olha-a
como quem olha toda
a vida de um mundo de vida
passageira e instantânea.

Uma janela se fecha
um pêndulo pára
a moça suspira:
algo ocorreu.

O tempo parou. A vida parou.
Tantas mil coisas
padecem e nascem
num mísero instante. Um mísero instante
de suspiros,
partições
de idéias, de homens,
um instante como todos
os outros.

IV

A noite que chega, afasta
os outros, o outro, some
com a luz, e fica o reflexo
da vida, da morte fria
e pálida... pálida
como um corpo abandonado à beira da estrada,
a manta com que a mãe
envolve o filho à noite,
uma noite gelada.

O caule se quebra, a flor murcha,
o câncer se instala, a mente perece;
e tudo volta à aspereza do túmulo!
Húmus, alimento, no solo – saturado.
(o mais adubado solo é o do cemitério)

Nos olhos, uma vez brilharam sonhos
agora: raízes
de uma roseira...
E as vértebras de uma cobra morta.

Carne podre serve de alimento:
A COMISERAÇÃO DOS ARTRÓPODES!
Sarcófagos que guardam só poeira,
ossos, lembranças – mais nada.

Sob um poço fechado pelo triste coveiro,
nasce uma flor...! Uma única flor...!
Aquela que se alimenta
do que à terra o Morto legou.

V

Uma Rosa está caindo
esperando alcançar o chão...
Tendo sua imagem vista e admirada,
mesmo estando seca
e esmagada.

27/12/2006.

.

Foi montado durante meses, quase um ano de trabalho. Representa mais que a vida; diferente do outro, representa a minha vida e forma de encará-la e de como eu penso: entender este poema é entender a mim.

Agradeço todos que lerem e comentarem.

quarta-feira, março 07, 2007

Defesa da Poesia - 1

André ele se denominava,
Andava de madrugada
Com uma bituca do cigarro, amargura.

Gosto azedo em sua boca
Das carícias pouco entendidas,
De deslizes desenrolados, desandadas
Aventuras, uma louca
Amante, serva, moça.

Agora estava sentado na borda da calçada,
Numa lua nublada, numa avenida conturbada,
Tomando ar para o discurso, palavra não gritada.

"Poeto para mim,
Para uma aceitação, um sim
Animado, sem fim.

Discurso, abuso
Do direito incluso
De manifestar luto
Pelo verbo abandonado.

Defendo a poesia desse concreto frio
Nessa calçada, mausoléu e rio
De correnteza das palavras humanas,
Defendo a poesia de televisão,
A prosa das causas artísticas
Enterrada num cotidiano são."

terça-feira, março 06, 2007

Necropedofilia

Dois pequenos olho, um tímido nariz, uma pequeníssima boca; tudo na face
daquele anjinho que seduzira-me: tornou-se amada
apesar de morta, triste e infantil;
mas, em breve, meu amor será substituído pelo do verme...
não deixarei! Hei de mantê-la a meu lado;
em minha casa ficará! Mesmo estando fria...

Empalhada como um animal; uma boneca fria
e eterna; constituir-se-á isso – e apenas isso: boneca de inexpressível face;
tornar-se-á um ornamento com outras assim ao seu lado!
Afrodisíacos!... Enfeites!... Minha amada
provocará o libido meu e dos Criados; e o verme
invejará a orgia bacanesca em torno do minúsculo cadáver infantil...

Desejo-te: teu semblante erógeno e infantil
provocas-me; e, embora incomum, minha paixão por tua fria
carne é real. Não há verme...
Sequer um... que ganhará sua face
além de mim! – pela eternidade será minha Lolita, querida, amada,
e ficará comigo, sempre a meu lado.

Sortudo daquele que adentrar minha tumba: lado a lado,
milhares de corpos – empalhados – posicionados em uma orgia – eterna e infantil –
de proporções sádicas; não haverá mais pessoa querida ou amada:
só um museu cadavérico. E fria,
triste e aterrorizada manter-se-á a face
de nosso visitante; tornar-se-á o almoço do grande coveiro-mestre: o verme.

(almoço ou jantar? tanto faz...) E como me esqueço dele! Do verme –
que responsável é pelo sumiço da carne, e ao lado
da ossada, tem sua sesta. E perante à face
angelical e pálida – nem mesmo a infantil... –
não sucumbe! Nem imagina, pensa ou comove-se com a razão da fria
temperatura do corpo de quem só foi, depois de morta, desvirginada e amada...

Desculpe-me, pequeno entalho sem vida: o verme tem a mesma inocência infantil
que você. Não conhece a morte, mesmo morando a seu lado; nem sabe que sua fria
refeição teve outrora na face o olhar meigo de uma criança amada...

15/11/2006

.

Uma sestina: poema criado com base em 6 palavras dispostas no final de cada verso, alternando-se em cada uma das 6 estrofes e terminando em um terceto em que cada verso possua duas dessas palavras, sem repetição.

Um desejo antigo e forte meu. >"<