segunda-feira, janeiro 12, 2015

Dois

Não se viam há muito tempo. Há quatro anos. Mas os rostos eram familiares. O sentimento também. A simplicidade das brincadeiras, apesar das dores que ambos sentiram, estava viva. Preparou-lhe um chá. Conversaram amenidades. Colocaram o assunto em dia. A noite era quente.

Conversaram sobre livros e filmes que tinham visto nos últimos tempos. Reclamaram dos salários de jornalista. Fumaram um cigarro juntos. Havia afeto, mas não houve nada demais naquele fim de dia. Mas conversaram muito. Por quase duas horas.

Ele estava despedaçado. A vida foi muito generosa com ele, mas ele foi um ingrato. A vida para ela foi mais difícil, mas ela era muito mais agradecida. Era mais íntegra também. Ela tinha cabeça de velha. Ele parecia uma criança gigante e patética.

Os inconvenientes, os absurdos e os erros de ambos o colocaram frente a frente. Já estiveram um ao lado do outro, se apoiando. Hoje não dava mais. Mas ainda se suportavam. A vida já é amarga o suficiente para se recusar uma boa conversa.

Ela notou que ele já não tinha o peso de antes. O papo liberou uma pressão que estava presa em seu peito. Eles eram dois. A noite era uma só. Despediu-se cordialmente. Sabia que ali não seria o último encontro. Mas os encontros seriam tão banais quanto este. E se conheciam profundamente.

Um comentário:

Anônimo disse...

Um momento para reflexão e crescimento interior.
A evolução deve vir sempre.
Aprende-se com as pessoas e aprende-se errando.
Aprende-se que o amor existe, independente.