terça-feira, dezembro 11, 2012

Redigindo

Escrever. Editar. Revisar. Revisar de novo. Errar. Editar tudo de novo. Revisar. Revisar. Errar. Se acertar, revise de novo.

quarta-feira, dezembro 05, 2012

A minha Europa

O velho continente é meu velho amigo,
Minha amante madura, minha namorada convicta,
Essa Europa que visualizo se desenvolve em curvas, em estruturas,
Em corpos de prédios que respiram cultura,
O velho continente é minha mente oculta, dura de conhecimento.

O velho novo, a velha reclamona
Que se mistura em seus traços,
Nos dialetos
Perdidos.

Conheço, e vou conhecendo, seus entornos,
Seus contornos, suas nuances, seu ar provocante
Sem idade, nem identidade, de elementos mesclados,
Mascavos, doces como mel.

Meu velho é novo,
Meu amor por você é próximo, óxido
Intenso,
Meu novo é envelhecido
Pelo encontro de peles, por nossos pés
Insistentes no lençol.

A minha Europa tem diversidade de países
Expressa nas várias línguas que encontro
Em teus lábios.

A minha Europa tem odores
Que saboreio em meus olhares,
Confundindo meus próprios sentidos
E dando rumo aos impulsos,
Contidos.

A minha Europa é a liberdade
Dos beijos viciantes, é a América
Dos povos sem nação, dos nômades
Amantes do múltiplo,
Que pode ser encontrado em teu corpo feminino.

A minha Europa são meus beijos,
São meus textos de desejo,
São a poesia das ruas,
O sexo das esculturas,
O romance dos quadros,
Os olhares dentro do quarto.

Minha Europa é uma viagem a dois,
Minha Europa é uma viagem particular
Em minhas culturas, em meu passado,
Em meu passado, em meu tempo
Perdido, em meu ganho poético,
Em minha estética construída.

O meu amor na minha Europa
É um passeio por uma viela
Que revela uma catedral no fim da via.

A minha Europa é contemplação,
É o contato friccionado dos corpos,
É o copo da água que contém minha alma,
É a ação, o sorriso, o contato, a companhia.

A minha Europa tem olhos claros
Que abarcam o mundo,
A minha Europa tem olhos de muitas cores
E vive no corpo de uma mulher que eu amo,
Meu reino profano.

A minha Europa é uma viagem,
É o extremo frio e o calor contagiante,
É a ausência de drogas e o ácido dilacerante,
É a mistura e nada tem de antigo.

Minha Europa é nova,
Mesmo em traços antigos,
Minha Europa transita nos tempos
E por isso tem nome e imagem:
Viagem.

Dedicado a Andréa Corrêa Lagareiro

sexta-feira, outubro 19, 2012

Valdirene

Some Valdirene
Tenho contas a pagar
Negócios a acertar
Não tenho mais nada para falar
Larga do meu pé
Deixa de ser chulé
Veja se fui parar na esquina
Ou lá na Joaquina
Porque com essa ladainha
É que não vou continuar.

sexta-feira, agosto 17, 2012

sem título 0001


havia algo preso na garganta.
um sentimento que queira sair, que precisava sair.
a pressão era tão grande que o coração apertava.
sua pálpebras estavam tremendo, suas sombrancelhas rígidas, travadas.
os dentes rangiam, e se apertavam até doer.
ele soube que não podia segurar mais.
sua face se transformou, a tensão se dissipou numa inspiração profunda.
agora em sua face havia um sorriso sincero, que cativaria qualquer um que pudesse tê-lo visto.
em seus olhos ardia um fogo, que queimava brando e espirituoso.
ele virou-se e partiu, como se flutuasse, com suas pernas que eram gelatina.
e naquela tarde de verão, naquele lugar distante, o homem partiu caminhando de leve, deixando todos os seus problemas para trás, com os miolos espalhados no asfalto sob o por do sol.

quarta-feira, agosto 15, 2012

Aula de Filosofia da Arte

Podia ser apenas alguns comentários
Sobre a ruptura de Picasso em seus traços,
Mas virou uma descrição da postura de Chopin,
Virou um apreciar do músico de rua,
Dos sons do violão velho,
Desafinado.

Podia ser apenas alguns comentários
Sobre a odisseia de Homero ao criar a literatura,
Mas a aula se transforma em uma discussão kafkaniana
Sobre as rupturas da literatura dodecafônica
E dos versos embaralhados, atonais.

Podia ser arte superficial,
Mas fala-se em expressão com densidade espacial,
Peso metafórico, discuto eufórico.

Gullarianas II

Sou uma velha, uma jovem velha,
Um homem de peruca, um leitor de poemas sujos,
Uma voz com sotaque demarcado, sou óculos fundo de garrafa,
De aros grossos e lentes amareladas.

Sou livro de sebo,
Poema amadurecido pelo tempo,
Sou folha de bananeira, luz de Sol que ultrapassa peneira,
Sou pele áspera e tempo sem espera.

Gullarianas

Estou com cor de ocre, febril, bêbado e ébrio,
Senil,
Estou ficando grisalho, estou como cascalho
Desgastado pelo tempo, sou um carvalho
Velho, uma flor arregaçada, sem pétalas,
Decomposto em sementes.

Pronto para nascer do lodo.

quarta-feira, agosto 01, 2012

E se...

Estívessemos juntos há três anos
Sem interrupções, sem desamparo,
Sem lamentação, não me separo
Do meu eu transformado,
Metamorfoseado
Por você.

segunda-feira, julho 23, 2012

Croesia II

É madrugada, é começo de dia,
É hora do almoço, do doce,
Com pessoas invisíveis,
Com as que nos enchem de algo,
E sob o Sol, morre o tempo,
Os indivíduos, os fatos.

E no jantar, tudo morre.

Triste

Triste é ser triste
E ter beleza ao redor, luz,
Sombra e água fresca.

Triste é o mundo profundo,
Denso, rico, contraditório
E cativante, sendo opaco por dentro.

Triste é ser inteligente, respeitado
E ciente.

Agindo feito demente.

Memória

Gotas da história 
Pingam nos seixos da memória
É rio caudaloso que entorta
E reconta contos tão longos
De um passado distante
Ora vívido, ora fosco
O quadro de vidro
Atrás da porta.


Os anos somem afora
Mas ainda se escuta à porta
A gota que pinga
No leito que seca
No quadro que mirra
No rio cinza, na foz morta.

  Memória
  À sua glória.
  

terça-feira, julho 17, 2012

Ai, Ana.

Ai, Ana.


Ana veio se queixar
Porque empresto minha voz ao poeta
A voz mágica, de ternura e tenores
Fala de algodão doce
E amores
O ressentimento de Ana
É porque empresto minha voz somente ao Poeta
E só ele me completa.

Construção


 Pedra sobre pedra.
Adobe argamassa e argila
 Taipa e fibras
 Excrementos e barro.

  De tudo que já fiz hoje
 Só me falta construir um carro.

sábado, julho 07, 2012

Grécia do berço até o calote

Era um bebê gorducho, disposto, abastado, deitado no conforto,
Repleto de referências, propagador de preferências, filósofo,
Virou uma criança mimada e um adolescente engajado.

Hoje é um velho senil, preocupado com a conta em banco,
Contando as parcelas do cheque especial, deprimido.

Sozinho feliz

É o que repara a beleza da luz do dia,
Do natural e do artificial que convivem,
E fica sem inventar nada,
Só a contemplar.

Antes que a inquietude o atinja.

Croesia

É uma história cotidiana
Insuficiente, uma narrativa verbal,
Sem sujeito e nem predicado,
É retrato da realidade
Sem detalhes, um encalhe.

É um lirismo do asfalto,
Um infinito de significados em uma garrafa de cerveja barata,
São versos alexandrinos escritos em um guardanapo,
Ou um soneto involuntário,
De rimas pobres.

Meu verbo podre,
Minha metáfora esnobe,
Faz essa croesia, poesia crônica, crônica poeta,
Um pedaço de texto do mundo real,
Do surreal da minha poética, da minha visão
Tentando extrapolar o mero relato,
Ficando no termo vago.

domingo, junho 17, 2012

Arquitetônica de livraria

Os mais vendidos na frente, os mofados clássicos atrás,
Os clássicos que já foram bem vendidos na traseira, os novatos com promessas falsas
Na vanguarda, as listas do que fazer antes de morrer na vitrine,
E os livros que realmente ensinam a viver, no estoque, tímidos.

Tomo um café, depois de uma refeição, com um professor
E ele diz: "Desrespeite o sistema de bibliotecas e livrarias,
Ignore os livros que mendigam sua atenção na frente
E resgate o clássico que, mesmo mofado, não vai falecer".

segunda-feira, junho 04, 2012

Mendigo

Anda com trapos
Na rua larga, na estreita,
Na avenida e no beco sem saída.

Anda com trapos
Num bairro, nas cidades e
Caminha até entre países.

Coleciona bandeiras de nações
Compradas por poucos centavos.

É pobre de capital
E rico de alma, de história.

domingo, maio 13, 2012

Piadista ruim

O piadista ruim é um homem feliz,
Se alguém ri dele, seu coração palpita,
Suas piadas fluem, a sociedade apita.

Ele é o oposto do piadista bom,
Uma figura triste, sempre cobrada,
Sempre assediada, nunca desafiada,
Banalizadora do riso, um tesouro maciço.

Produção de quinta

Para produzir notícias de primeira,
Desnível técnico, alto nível intelectual,
Esforço descomunal, tarefa braçal,
É coxão duro querendo ser mignon.