"Então dois ossos roídos me assombraram...
- 'Por ventura haverá quem queira roer-nos?!
Os vermes já não querem mais comer-nos
e os formigueiros já nos desprezaram'."
Augusto dos Anjos
Condensarei agora, num instante,
cada frase, pensamento ou teorema
que, na alternância entre insânia e razão,
tenha sumido ou se calado.
Ó heliogabálico homem!
vê a vida num momento,
num momento vê a vida:
sibilante, cruel, irreal e real.
Vida? Momento?
Instante? Desespero?
Sofreste? Acabou seu namoro,
sangrou seu nariz, quebrou seu braço:
Sofreste? Saiba que não:
quão terrível é a dor daqueles
que entendem que a vida é uma aranha
a fiar seus destinos com fios negros?
Pior os fadados
a afundarem em estudos
e entenderem que a homogênea massa de carbono
é sua melhor amiga...
Homo sapiens? Homo infimus!
Saco de matéria orgânica!
Imponente conjunto de células
que perante o primeiro vírus se ajoelha.
E os doentes? Pobres e esquecidos enfermos!
No velho a tremedeira incontrolável
graças ao Alzheimer que o assiste; a angustiante
orbe ocular de uma criança morta de fome!...
Alucinógeno ou sonho? Real ou irreal?
Estou em uma cama – e dopado! –
ou sonho estar em uma cama;
também dopado?!
(Quanto mais desejo o absurdo, mais ele se afasta;
seja o suicídio...
seja a garota pequena e suja que come chocolates
e não faz idéia de nada – e nem quer fazer.)
A assombração deste momento
se reflete na pergunta:
por que me deste, minha Mãe, consciência
para ela pesar durante minha vida inteira?
24/04/2007
- 'Por ventura haverá quem queira roer-nos?!
Os vermes já não querem mais comer-nos
e os formigueiros já nos desprezaram'."
Augusto dos Anjos
Condensarei agora, num instante,
cada frase, pensamento ou teorema
que, na alternância entre insânia e razão,
tenha sumido ou se calado.
Ó heliogabálico homem!
vê a vida num momento,
num momento vê a vida:
sibilante, cruel, irreal e real.
Vida? Momento?
Instante? Desespero?
Sofreste? Acabou seu namoro,
sangrou seu nariz, quebrou seu braço:
Sofreste? Saiba que não:
quão terrível é a dor daqueles
que entendem que a vida é uma aranha
a fiar seus destinos com fios negros?
Pior os fadados
a afundarem em estudos
e entenderem que a homogênea massa de carbono
é sua melhor amiga...
Homo sapiens? Homo infimus!
Saco de matéria orgânica!
Imponente conjunto de células
que perante o primeiro vírus se ajoelha.
E os doentes? Pobres e esquecidos enfermos!
No velho a tremedeira incontrolável
graças ao Alzheimer que o assiste; a angustiante
orbe ocular de uma criança morta de fome!...
Alucinógeno ou sonho? Real ou irreal?
Estou em uma cama – e dopado! –
ou sonho estar em uma cama;
também dopado?!
(Quanto mais desejo o absurdo, mais ele se afasta;
seja o suicídio...
seja a garota pequena e suja que come chocolates
e não faz idéia de nada – e nem quer fazer.)
A assombração deste momento
se reflete na pergunta:
por que me deste, minha Mãe, consciência
para ela pesar durante minha vida inteira?
24/04/2007
3 comentários:
"A assombração deste momento
se reflete na pergunta:
por que me deste, minha Mãe, consciência
para ela pesar durante minha vida inteira?"
Chegou até a me arrepiar.
Adorei.
Mas esqueces-te do legado que podemos deixar
Tudo sim, fazemos tudo, para depois morrermos, esquecidos, ou não, depende de nós, mas ... essa visão depressiva da morte é interessante.
Impressão minha ou enxerguei mesmo Camus no final dessa poesia?
Momento de refletir sobre seu estado atual, Carlos Agaire?
Também gostei, muito.
Pedindo permissão para usar a estrofe citada pelo Guilan.
Quem dera que a humanidade toda fosse que nem a menina que come chocolate...
Parabéns por esse. Se superou.
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