Qual escravo obediente padece;
Seca, débil, abatida, raquítica,
Pele, osso, desfigura fodida
Segue Amandinha, afoita e faminta,
Tirando de sob a cama a comida,
Seu voraz, incontrolável instinto:
Come, devora, orgasma a papila
Degusta coa língua prazer negado,
Júbilo que a caloria reclama,
Felicidade que o espelho rouba,
Contentamento que a balança afana
Mas, passado curtíssimo flagrante,
Qual centelha que de queimada cessa,
O devaneio e o riso, num instante,
Se fazem pranto, se fazem promessa
De que aquela aventura proibida,
Gustativa, obscena, pecaminosa,
Jamais seria, jura, repetida.
É com vagar de ré que se levanta e,
Tal como humílima escrava, que é
Oferece à balança, ao espelho
‒ Senhores do engenho do corpo ‒,
O sacrifício que já lhe é velho:
Força contra a goela dedos-ossos,
Engasga e descarta, com bolos grossos
De alimento, doses diárias de
Seu sorriso, sua alma, sua vida.
sábado, junho 14, 2008
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2 comentários:
Guilan, perdão, traí meu estilo e acabei escrevendo com, huh, métrica. =x
Nway, como vocês interpretaram a expressão "de ré"? Eu a escrevi como sendo "relativo à ré [fem. de réu]", mas acho que à primeira vista soa mais como "marcha a ré". Pena...
ficou deus. bela poesia senhor archie
amandinha anoréxica, ricocheteia pedaços de comida, frutos de paixão proibida, negada pela forma distorcida,
ah maldito espelho, maldição de Narciso! Quisera eu ser vampiro para jamais ter de olhar minha imagem novamente para valorizar imperfeições!
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