quarta-feira, julho 14, 2010

conto premiado

um corte




uma pausa. forçada.

ana e bruno sentiram foi isso mesmo. além da dor, é claro. estirados sobre a cama – bagunçada. não pensavam. respiravam. mas queriam pensar. ana e bruno sentiram foi isso mesmo. uma vontade de pensar. um desejo de não ter que. estirados sobre a cama, ana e bruno. lado a lado. mas não próximos. o suficiente para estar. somente. não para pensar. ou para agir.

ana e bruno transavam. um acaso. começaram não por um beijo, mas pelas roupas. ana e bruno transavam. mas antes tiraram as roupas um do outro. ágeis, para isto. as mãos. não mais que. ana e bruno souberam usar foram as mãos. primeiro nas roupas. não por coincidência, as peças ficaram simetricamente estendidas ao chão. ana e bruno não puderam reparar. mas as peças ficaram lá. simetricamente estendidas. ao chão. mesmo. mas ana e bruno não puderam reparar.

sentiram foi isso mesmo. uma ruptura. enquanto transavam. primeiro foram os corpos. que se romperam. depois das roupas. primeiro foram os corpos. de ana e bruno. que se encontraram. que não se procuraram, mas que se encontraram. antes de transarem. antes as mãos e os corpos. reconhecendo-se. procurando-se. então as roupas. arrancadas. longe. ao chão. ana e bruno não puderam reparar na simetria das roupas. mas sentiam a simetria dos corpos. sentiram a simetria dos seus corpos, antes. sentiam. agora também.

ana e bruno sentiram foi isso mesmo. uma vontade de pensar. porque já sentiam. mas que. ana e bruno transavam. e não mais. uma procura. logo um encontro. as mãos. os corpos. ana e bruno se completavam. frente e verso. um dentro do outro. era assim que ana e bruno transavam. quando.

as mãos de ana desceram logo. as mãos de ana eram ágeis, sim. desceram pelo peito de bruno. arranharam-no. desceram logo. as mãos de ana – e também a língua de ana – procuravam por bruno. por tudo o que fosse de bruno. pelos cabelos no peito de bruno. pelo piercing no mamilo esquerdo de bruno. pelos ossos do quadril de bruno. que.

que não sabia o que sentia. a língua de ana. as mãos de ana. seus olhos. os seus, não os de ana. seus olhos virados, torcidos. seus olhos que sentiam. eles. elas. as pernas tremendo. as coxas sendo arranhadas. os cabelos do peito sendo puxados. bruno não sabia o que sentia. o membro duro, agarrado, apertado, puxado. pralá e pracá. pralá e pracá. pralá e pracá. bruno não sabia.

as mãos de ana desceram logo. chegaram logo aonde. agarraram logo. e forte. as mãos de ana. aquelas mãos. que arranharam. que rasgaram. as mãos. que ritmavam o movimento do membro duro de bruno. pralá e pracá. pralá e pracá. sob os gemidos de bruno. agora os gemidos de bruno. os sons guturais. as entranhas de bruno sob a mão de ana. simbolicamente. mas sim. sob. as mãos de ana.

os sons guturais de bruno. pralá e pracá. bruno que não sabia o que sentia.

sentiram foi isso mesmo. ana e bruno. foi antes. o membro, as mãos. foi antes. até que.

agora deitados não sentem mais. sentiram. não mais sentem. foi um corte só. ou dois, talvez. umemdois. foi de ana. quando as mãos de ana desceram logo. e quando bruno não sabia o que sentia. se era frio ou não. se eram as unhas de ana ou não. mas doeu, sentiu bruno. foi isso o que bruno sentiu. que doeu. mas ana sorria. sorria e ria alto. ana. por isso bruno não sabia o que sentia. quando as mãos de ana desciam. e quando agarravam seu membro duro. foi a última coisa que bruno viu. seu membro duro. de prazer. foi quando bruno fechou os olhos. e de repente sentiu frio. e não entendeu. e não entendeu. mas sentiu.

foi quando.

as mãos de ana. não mais que. as unhas de ana. cortantes. o corte primeiro. as mãos de ana. aquilo que elas escondiam. uma ponta. só uma. não mais que. um corte. só um. depois os outros. um corte. e o frio de bruno. e o riso de ana. um corte e um membro não mais duro. um corte. só. e um membro. e as mãos de ana. e o membro. não mais.

e depois.

um corte. outro. e mais outro. e não mais bruno.

e um último.

um corte.

e não mais ana.
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conto premiado com o segundo lugar no concurso de contos jaraguaenses, organizado por joão luis chiodini. presente no livro "mundo infinito", que contém os catorze melhores textos do concurso.

3 comentários:

Lu...uma imensidão sem palavras disse...

Ritmo fascinante.

Muito Bom....

Parabéns pelo prêmio e obrigada pela oportunidade de lê-lo.

Pedro Zambarda disse...

Ritmo de aflição.

Eu gostei muito. Repetição que diz muito. Amei mesmo.

Guilan disse...

acho que já reconheço o teu estilo.. ;P

está mto melhor, e olha que vc sempre foi melhor que eu em redação de faculdade

acho que o premio jabuti é fichinha hein