quinta-feira, agosto 07, 2008

Morte certa e errada

Morre-se muito, vive-se longamente
Na mente que sente a lente de repente,
A visão obscura, a perda latente.

Morre-se muito, morre-se todas as vezes,
Morre muito nas vezes em que as fezes
São os restos de gente.

Morreu de câncer, morreu no lance
De sacada, na bancada do hospital,
Sem as amarras do pecado capital,
Morreu feliz, morreu por um triz,
Podia viver sempre.

Morreu na batida policial,
Na colisão frontal, na corte marcial,
Morreu bestamente, morreu subitamente
Da morte mais morrida de todas,
Na queda mais sofrida de todas.

Morre-se de um jeito, morre-se de outro,
E, na real, a vida é só uma morte sem sentido,
Uma observação positiva, um medo destemido,
A vida é a morte que a morte nunca teve desejo.

2 comentários:

Luma Ramiro Mesquita disse...

Adorei!
Em especial, a primeira estrofe, da qual, pode-se seguir diversos caminhos e o traçado por você foi uma opção linda e poética, cujo tema é a vida, mais que a própria morte.

Aión disse...

Gostei mesmo é do último verso, mas sabes que eu não acredito na morte, não é mesmo?