Inocência de criança era a que esperava inquieta.
Apertava os olhos para enxergar melhor o final da rua, algum sinal dos comboios que faziam o percurso centro-interbairros. Um transeunte conhecido mascava chiclete.
A boca que mastigava, escancarada, atraía as pupilas que levemente reconheciam um rosto familiar. Ruidosamente, o transporte estacionava com um trinado estranho, sobressaltaram-se os presentes. Embarcou.
O aniversário da vovó. Ela sempre gostou de doces. Ultimamente, não podia levar nem uma balinha de anis à boca. Sofrendo de várias "Ites", incluindo uma tal de diverticulite, seu leque alimentar restringia-se a suquinhos de soja, arroz, feijão e chuchu, todos processados no liqüidificador. Um iogurte de vez em quando era saudável, dizia minha tia.
A família e a sua bagunça de sempre. Cansado de correr atrás dos primos, espiei pelo muro os vizinhos que também estavam em uma reunião de família. Ela se achava lá. Quem eram os vizinhos? Eu a conhecia de algum lugar. Algum lugar... Que sensação chata.
A ponte. Observara de longe, a pessoa acompanhada de amigos loquazes. Óculos escuros. Chiclete ruidoso. Erguera os olhos. Não acreditara até dobrar uma esquina. Amaldiçoara a ponte.
A rua de casa. Lar doce lar. Invadido por aliens. Reminiscências? Hama-mu?
Enlouquecia. Bufava. Sorria.
Eu a tinha visto, em um ponto de ônibus diferente.
Óculos escuros e chiclete escancarado. Eu havia me lembrado.
De que conhecia aquela pessoa de algum lugar.
Entre um evento e outro, anos haviam se passado. Anos e anos. Vivendo e vendo. A outra pessoa. Não se aproximara, sequer acenara. Limitara-se a observar.
Imensa interrogação. Inquietação, angústia.
Na faina da escada rolante, logrado os destinos, se é que existiam, tão particularmente obtusos. Um subia e o outro descia. 180 graus. Incredulidade.
No mesmo dia, em um banquinho de praça, degustando um saudável sanduiche. Estendeu a mão, e foi em um terno aperto de mão que a voz se fez ouvir.
- Tudo bem?
- É, tudo.
Virei-lhe as costas.
Costumo visitar o mesmo lugar, raso de lembranças. Ainda esperando um olhar.
sábado, dezembro 13, 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Sujeito não é nada sem predicado, mas o predicado de um sujeito é diferente de sujeito pra sujeito.
Então a verbalização demora.
Postar um comentário