Não sejas hipócrita a ponto de me negar
e nada saber a meu respeito
Eu penei teus pecados
E lavei tua alma
Com meu sangue de milagres
Meus ossos em pó tornaram
Mas palavra - ainda queima
Lembra o sacrifício com hálito de fogo
Porque a cruz foi o menor dos males
Não sou eu quem fará da água mais vinho
E nem de quatro multiplicarei mil
Saiba porém quando embriagar-te
Chamarás meu santo nome de sutil
Tu rastejas, criatura vil
Cega em orgulho pórfiro
De nódoas escarlates
Dos mais vários vícios
Pois bem não me acredites
Pois fui bem alma iluminada
E já passada
Mas há quem diga que vivo
E Ilimitado.
terça-feira, agosto 31, 2010
quarta-feira, agosto 25, 2010
O dom.
(Seu som é ouro
Sem versos mancos.)
Meu dom põe fogo
Nos olhos dos mansos
E da mansidão a tristeza
A invadir seu espaço
E a violência - que pena
Toma o lugar do abraço.
Sem versos mancos.)
Meu dom põe fogo
Nos olhos dos mansos
E da mansidão a tristeza
A invadir seu espaço
E a violência - que pena
Toma o lugar do abraço.
quinta-feira, agosto 19, 2010
o poema
O som deste poema é rouco,
E seu ritmo é coxo.
A sua forma é irrelevante - talvez um soneto.
(de cinco quartetos)
A estrutura das estrofes é mal escorada
Precisa ser criticada
A rima é exagerada
pobre e antiquada.
O conteúdo é fraco
fragmentado
Perdeu-se nas sílabas
Que não são contadas
A lógica é falha
Rompe e se espalha
Não obedece a métrica
É uma filha bastarda
O poeta lamenta:
"Não posso mexer mais nele
Não há metáfora que ilustre
O poema que não deu certo."
E seu ritmo é coxo.
A sua forma é irrelevante - talvez um soneto.
(de cinco quartetos)
A estrutura das estrofes é mal escorada
Precisa ser criticada
A rima é exagerada
pobre e antiquada.
O conteúdo é fraco
fragmentado
Perdeu-se nas sílabas
Que não são contadas
A lógica é falha
Rompe e se espalha
Não obedece a métrica
É uma filha bastarda
O poeta lamenta:
"Não posso mexer mais nele
Não há metáfora que ilustre
O poema que não deu certo."
quarta-feira, agosto 18, 2010
Poema Pirovulpimaníaco
Quer mais de onde veio?
Procura mais de belas frases que decoram enigmas?
O senhor do mundo, o psíquico
Que diz dos ignorantes que não esclareceram a questão?
Pois que fiquem mais um tempo
Decifrando o que não se decifra
Replicar paradoxos
É meu mistério
Descobrir a essência dos mestres
e redarguir suas pontuações
É seu trabalho
-
E já acho hilário
Arrastar essa arenga
Como um macho que procura a fêmea
E não despacho
O seu desdém,
e nem também o amor que tem.
Descubra então
A partir de já
O mais sublime pináculo verborrágico já proferido
(e escrito)
Pelo mestre aqui
Que de mestre já está cheio
(e sem nenhum discípulo) - ou escrúpulo?
Inescrupuloso É
Aquele que ousou profanar meus segredos
Mexeu com os mais estimados neologismos
E que se danem os próximos "ismos"
Que um sismo derrube
A biblioteca de Alexandria
E que perturbe
A derrocada da Alegoria
Que já é grande
E me enaltece
Eu sou um Deus
e você reles mortal
Que me lê, que se ri
e que se compraz
com coisas muito importantes.
Mas o mais importante é
Não se deixar esquecer
Pois então que não pereça
Não feneça
A sua essência
Não se deixe enganar
Pois já está sendo enganado,
Obrigado.
:)
Procura mais de belas frases que decoram enigmas?
O senhor do mundo, o psíquico
Que diz dos ignorantes que não esclareceram a questão?
Pois que fiquem mais um tempo
Decifrando o que não se decifra
Replicar paradoxos
É meu mistério
Descobrir a essência dos mestres
e redarguir suas pontuações
É seu trabalho
-
E já acho hilário
Arrastar essa arenga
Como um macho que procura a fêmea
E não despacho
O seu desdém,
e nem também o amor que tem.
Descubra então
A partir de já
O mais sublime pináculo verborrágico já proferido
(e escrito)
Pelo mestre aqui
Que de mestre já está cheio
(e sem nenhum discípulo) - ou escrúpulo?
Inescrupuloso É
Aquele que ousou profanar meus segredos
Mexeu com os mais estimados neologismos
E que se danem os próximos "ismos"
Que um sismo derrube
A biblioteca de Alexandria
E que perturbe
A derrocada da Alegoria
Que já é grande
E me enaltece
Eu sou um Deus
e você reles mortal
Que me lê, que se ri
e que se compraz
com coisas muito importantes.
Mas o mais importante é
Não se deixar esquecer
Pois então que não pereça
Não feneça
A sua essência
Não se deixe enganar
Pois já está sendo enganado,
Obrigado.
:)
quinta-feira, agosto 12, 2010
O estranho familiar
Sempre gostei de encostar a caneta numa folha em branco, manifestando desejo estéril de registrar coisas que não conseguirei lembrar. Não sei se os escritos fluem bem, mas sempre me lembro de referências quando resolvo me manifestar em palavras. E uma experiência surreal, rica, vasta e aterrorizante que me tocou foi a leitura compulsiva do curto e profundo O Estrangeiro, do franco-argelino Albert Camus. Tudo lido em uma tarde de fim de primavera e começo de verão, com um deus solar tão quente e enlouquecedor quanto o calor da Argélia.
Mersault não chora no enterro de sua própria mãe e provoca a revolta silenciosa das convenções sociais. Eu choraria na morte da minha progenitora, mas entendo o personagem. Muitas vezes, não me sinto livre para manifestar abertamente o que sinto, e o jogo social de convenções é muito cruel. Mersault deseja apenas sexualmente sua parceira. E verbaliza isso. E essa mistura de homem e animal é presente em todas as pessoas, mesmo que essa natureza se esconda em uma suposta racionalidade.
Mersault mata um árabe a tiros. Mata a tiros por causa do Sol. Explica isso ao tribunal, que o reprova e o condena à morte. Mersault aceita a morte como uma vitória, porque a aceita e porque não quer entender seus motivos. Tudo, nesse jogo de ação absurda, é gratuito. O mundo, subitamente, ganha um ar de aleatoriedade que é a verdade absoluta dos fatos, mesmo dentro das crendices mais fanáticas no destino. O curso da vida não é nada mais do que a soma de seus fatos, com ou sem razão. Aquela leitura preencheu meu cérebro por horas, dias, meses, anos. Aquele Mersault era o abandono definitivo do passado e do futuro, além da aceitação da condição humana como animal. Animais dotados de sociedade, tecnologia e todo um sistema próprio de linguagem, mas ainda selvagens.
E aquele assassinato tornou-se a metáfora da escrita para mim, que é o amor da minha vida. Escrever é um absurdo. O documento escrito cria uma segurança para o homem. Preenche-o com um passado e um futuro. Preenche nossos conteúdos. No entanto, as reais motivações para se escrever são tão aleatórias quanto matar uma pessoa. Não precisaria escrever, pois outro o faria para mim. Não preciso correr atrás de uma informação, se existe um jornal que pode ser comprado, ou uma fofoca que pode ser ouvida.
Mesmo assim, eu ouso escrever. Ouso assumir o assassinato como Mersault e aceitar a sentença desse ato. A punição por escrever é saber que o passado e o futuro, um dia, serão varridos do mapa. Não há conforto.
Mersault não chora no enterro de sua própria mãe e provoca a revolta silenciosa das convenções sociais. Eu choraria na morte da minha progenitora, mas entendo o personagem. Muitas vezes, não me sinto livre para manifestar abertamente o que sinto, e o jogo social de convenções é muito cruel. Mersault deseja apenas sexualmente sua parceira. E verbaliza isso. E essa mistura de homem e animal é presente em todas as pessoas, mesmo que essa natureza se esconda em uma suposta racionalidade.
Mersault mata um árabe a tiros. Mata a tiros por causa do Sol. Explica isso ao tribunal, que o reprova e o condena à morte. Mersault aceita a morte como uma vitória, porque a aceita e porque não quer entender seus motivos. Tudo, nesse jogo de ação absurda, é gratuito. O mundo, subitamente, ganha um ar de aleatoriedade que é a verdade absoluta dos fatos, mesmo dentro das crendices mais fanáticas no destino. O curso da vida não é nada mais do que a soma de seus fatos, com ou sem razão. Aquela leitura preencheu meu cérebro por horas, dias, meses, anos. Aquele Mersault era o abandono definitivo do passado e do futuro, além da aceitação da condição humana como animal. Animais dotados de sociedade, tecnologia e todo um sistema próprio de linguagem, mas ainda selvagens.
E aquele assassinato tornou-se a metáfora da escrita para mim, que é o amor da minha vida. Escrever é um absurdo. O documento escrito cria uma segurança para o homem. Preenche-o com um passado e um futuro. Preenche nossos conteúdos. No entanto, as reais motivações para se escrever são tão aleatórias quanto matar uma pessoa. Não precisaria escrever, pois outro o faria para mim. Não preciso correr atrás de uma informação, se existe um jornal que pode ser comprado, ou uma fofoca que pode ser ouvida.
Mesmo assim, eu ouso escrever. Ouso assumir o assassinato como Mersault e aceitar a sentença desse ato. A punição por escrever é saber que o passado e o futuro, um dia, serão varridos do mapa. Não há conforto.
segunda-feira, agosto 02, 2010
Pra que serve?
Respondo com sinceridade:
Pra que serve um Avatar?
Só pra vender mais pipoca e ingresso?
Só pra divertir as noites tediosas de um povo brega que se deixa manipular tão facilmente por opiniões obtusas e ridículas, que não expressam nada absolutamente sobre nada e que ainda por cima facilitam a disseminação de partículas radioativas que fazem o cérebro enguiçar e trabalhar mais lentamente, contendo vírus que disseminam pragas que se alimentam de neurônios...
Já percebeste o quanto é importante saber da serventia das coisas?
Para que serviu a diáspora?
Só para disseminar mais judeus no mundo que contaminam o universo com versos de Hitler ( pois para quem não sabe, Adolph era fantoche de Judeus)
Para que serve o cotonete?
Só para empurrar mais sujeiras dentro dos ouvidos? Como se eles já não tivessem muito com o que se ocupar ouvindo diariamente besteiras que nada nos ajudam na nossa luta contra o controverso?
Pra que serve a mosca da fruta?
Só pra levar palmada? Ela nem tenta se esquivar, coitada!
Pra que serve a poesia?
Esgoto de cérebros contaminados por versos de Hitler e tantalizados pelas mesmas partículas radioativas que tentam ameaçar o mundo com seus esporos disseminadores de pragas alienígenas?
Pra que serve a serventia?
Pra deixar o servente que me lê um pouco mais confusos sobre as atrocidades cometidas neste poema NEM SEI SE DEVO CLASSIFICÁ-LO COMO TAL
Para que serve a claustrofobia?
A claustrofobia serve para muitas coisas, entre um de seus principais usos está o discernimento da insânia e da lucidez, pois uma vez preso dentro de uma Virgem de Nuremberg eu prefiro que Hitler me liquide pessoalmente.
Para que serve a paródia?
Para os de cérebro enguiçado e pouco criativos ganharem dinheiro com perdição de auditórios.
AQUI EXPONHO ALGUNS VERSOS DE MEU CÉREBRO ENCUCADO COM A RETIDÃO ABSOLUTA DE COISAS.
Para que serve?
Não sei, funciona?
Certamente, por quê?
Acostumbra-te.
Pra que serve um Avatar?
Só pra vender mais pipoca e ingresso?
Só pra divertir as noites tediosas de um povo brega que se deixa manipular tão facilmente por opiniões obtusas e ridículas, que não expressam nada absolutamente sobre nada e que ainda por cima facilitam a disseminação de partículas radioativas que fazem o cérebro enguiçar e trabalhar mais lentamente, contendo vírus que disseminam pragas que se alimentam de neurônios...
Já percebeste o quanto é importante saber da serventia das coisas?
Para que serviu a diáspora?
Só para disseminar mais judeus no mundo que contaminam o universo com versos de Hitler ( pois para quem não sabe, Adolph era fantoche de Judeus)
Para que serve o cotonete?
Só para empurrar mais sujeiras dentro dos ouvidos? Como se eles já não tivessem muito com o que se ocupar ouvindo diariamente besteiras que nada nos ajudam na nossa luta contra o controverso?
Pra que serve a mosca da fruta?
Só pra levar palmada? Ela nem tenta se esquivar, coitada!
Pra que serve a poesia?
Esgoto de cérebros contaminados por versos de Hitler e tantalizados pelas mesmas partículas radioativas que tentam ameaçar o mundo com seus esporos disseminadores de pragas alienígenas?
Pra que serve a serventia?
Pra deixar o servente que me lê um pouco mais confusos sobre as atrocidades cometidas neste poema NEM SEI SE DEVO CLASSIFICÁ-LO COMO TAL
Para que serve a claustrofobia?
A claustrofobia serve para muitas coisas, entre um de seus principais usos está o discernimento da insânia e da lucidez, pois uma vez preso dentro de uma Virgem de Nuremberg eu prefiro que Hitler me liquide pessoalmente.
Para que serve a paródia?
Para os de cérebro enguiçado e pouco criativos ganharem dinheiro com perdição de auditórios.
AQUI EXPONHO ALGUNS VERSOS DE MEU CÉREBRO ENCUCADO COM A RETIDÃO ABSOLUTA DE COISAS.
Para que serve?
Não sei, funciona?
Certamente, por quê?
Acostumbra-te.
Indubitavelmente..
Foi a palavra que escolhi
Porque encontrava-se logo ali
Na esquina do "não tou nem aí".
Fez parte do meu show
Muita bebida e roquenroll
Muita flor, que flor!
Indubitavelmente
é evidente
que não restam dúvidas.
Indubitavelmente.. em débitos
Descrédito com a sociedade
Deves muito? Devo tudo!
Devo tudo a você
Devo sim
Devoção.
Dividi!
Dividendos desacompanhados
Despejados
Desfolhados
Afago um trauma
De infância
Ambulãncia?
.. redundância.
Indubitavelmente
Indubitabilizei
O indubitabilizável? . Não
O neologista? O proctologista?
O minimalista?
O protagonista?
Indubitavelmente, foi a palavra que escolhi.
Porque encontrava-se logo ali
Na esquina do "não tou nem aí".
Fez parte do meu show
Muita bebida e roquenroll
Muita flor, que flor!
Indubitavelmente
é evidente
que não restam dúvidas.
Indubitavelmente.. em débitos
Descrédito com a sociedade
Deves muito? Devo tudo!
Devo tudo a você
Devo sim
Devoção.
Dividi!
Dividendos desacompanhados
Despejados
Desfolhados
Afago um trauma
De infância
Ambulãncia?
.. redundância.
Indubitavelmente
Indubitabilizei
O indubitabilizável? . Não
O neologista? O proctologista?
O minimalista?
O protagonista?
Indubitavelmente, foi a palavra que escolhi.
O Jardim de Rosas
Veja! Há flores hoje, em um campo onde não haviam;
Onde planta nenhuma crescia - nem a grama e o musgo
não conseguiam nascer
De um arado e muita labuta a força fez-se música
De esforço de bom grado e de luta que faz parte
E com muitos calos forma um belo gramado
A terra infértil ontem
Hoje incuba sementes de arte.
Essa semente de arte fez-se rosa
Vestida de veludo, doce
de um púrpura intenso
profundo.
Onde planta nenhuma crescia - nem a grama e o musgo
não conseguiam nascer
De um arado e muita labuta a força fez-se música
De esforço de bom grado e de luta que faz parte
E com muitos calos forma um belo gramado
A terra infértil ontem
Hoje incuba sementes de arte.
Essa semente de arte fez-se rosa
Vestida de veludo, doce
de um púrpura intenso
profundo.
O canto do Galo
Cinco horas da manhã e nem bem havia cerrado as pálpebras e lá se vai Pedro para longe do colchão duro, mas quente.
Ainda sente o perfume distante de uma cachaça amarga, tomada ao som de conversas atravessadas, em meio a rodadas de palitos na noite anterior, na birosca do Simão.
- Diabo de galo miserável.
A leiteira só esquenta água. Do lado de lá tem chá, presunto e muito queijo com pão quentinho, do lado de cá, o pão ainda dorme, há pouco pó para coar e o que sobra é fé.
Veste um pouco de calça e enfia as butina. O candidato do boné já retornou ao anonimato. O da camisa promete.
Não reclama da vida, nem da mulher, muito menos dos filhos. Não têm culpa de nada. Dormem os inocentes. Um beijo na mulher, que deixou a marmita no forno, com a sobra da janta que sobrara do almoço. Ela nunca saberá de Leonor. Beija os filhos, cada qual à sua maneira, mas com afeto indistinto. Não esquece um só dia.
- Se eu pego esse galo desgraçado, acabo com ele.
Cinco e meia, tá na hora de tomar rumo.
Desce a rua, atravessa a passarela, dobra a esquina, pula o bêbado, leva a marmita morna, espera o sinal fechar, desvia do carro, aperta o passo, não vai perder a hora.
Tira do bolso duas notas e uma prata, espera na fila, troca por bilhete, passa a catraca, espera na fila, desce a escada rolante, vira à direita, entra na fila, espera na fila, empurra a fila, a fila o empurra, perde a condução. Espera de novo, lá vem a condução, entra na marra, se segura como pode, se espreme, se enrosca, se entorta, segura a marmita, olha a curva! Olha o freio! Mais vinte paradas e será nossa vez! Olha o breque! Lá se vai a marmita ao chão. Ficam o arroz o feijão e o ovo estrelado, mas rolam as lingüiças, que não vão muito longe. São pinçadas de volta, assopradas e bem guardadas. Não vai deixar cair de novo.
Chega ao destino. É empurrado para fora do vagão, entra na fila, sobe a escada rolante, dobra à esquerda, passa na catraca, ganha a rua, de frente à igreja, com o polegar direito, parte a cara em quatro, o peito em quatro, segue adiante, chega ao canteiro. Não esquece o ponto.
Qual é o andar de Pedro? Apressado, mete a mão na massa. Qual é o andar de Pedro? Põe o capacete e sobe a escada devagar. Passa o segundo, o terceiro. O quarto trem três quartos, o menor maior que seu barraco, o maior é o sonho de toda uma vida. Continua a subir. Qual era mesmo o andar de Pedro? Pára no sexto. Não há mais andar.
A visibilidade é boa, a poluição ainda não é sufocante, as buzinas dos automóveis vão aos poucos substituindo as piadas de passarinhos. Não tem graça nenhuma, é piada cada vez mais rara. Não vai rir de nada.
- Ainda mato aquele galo filho da puta.
É bom de colher, sapeca a massa, pega a lajota, uma a uma, vai sumindo a paisagem. Aparece a cachaça não se sabe de onde. É hora do almoço. Toma um trago, faz cara feia. Pega a marmita e se vira para o canto. É bom de colher. Não quer companhia.
De volta à labuta, ainda zonzo da pestana breve. Cambaleia por entre as lajotas e meias paredes. Fabrica um quadrado vazio. Aos poucos vai se erguendo o labirinto e o homem lá, se encarcerando. Cadê as piadas? Cadê a luz? Não ouve as buzinas.
O galo canta fora de hora em cima do telhado. O sol fica vermelho.
No canteiro é hora de trocar de andar. Não quer falar. Vai até o fim da laje. Olha para baixo e vê os transeuntes a esquivarem-se uns dos outros, escolhe o momento de calmaria. Não hesita.
Qual é o andar de Pedro? Pedro não tem andar. É pássaro, mas não voa. Não é rei, mas sente-se príncipe. De pernas para o ar, não quer voltar.
Pressente o momento em que todos o cercarão estupefatos. Indignar-se-ão por ele interromper seus dias com sua vida banal. Não tem esse direito.
Lembra-se do galo, da mulher, das crianças, de Leonor. Esfrega os olhos. As lágrimas molham o cimento. O cimento arranha seus olhos. Seus olhos vêem o sol vermelho. Não os fechará.
Ônibus, carros, motos, pedestres. Todos param. O mundo finalmente parou para ver Pedro. A cidade não é toda de pedra.
Ainda sente o perfume distante de uma cachaça amarga, tomada ao som de conversas atravessadas, em meio a rodadas de palitos na noite anterior, na birosca do Simão.
- Diabo de galo miserável.
A leiteira só esquenta água. Do lado de lá tem chá, presunto e muito queijo com pão quentinho, do lado de cá, o pão ainda dorme, há pouco pó para coar e o que sobra é fé.
Veste um pouco de calça e enfia as butina. O candidato do boné já retornou ao anonimato. O da camisa promete.
Não reclama da vida, nem da mulher, muito menos dos filhos. Não têm culpa de nada. Dormem os inocentes. Um beijo na mulher, que deixou a marmita no forno, com a sobra da janta que sobrara do almoço. Ela nunca saberá de Leonor. Beija os filhos, cada qual à sua maneira, mas com afeto indistinto. Não esquece um só dia.
- Se eu pego esse galo desgraçado, acabo com ele.
Cinco e meia, tá na hora de tomar rumo.
Desce a rua, atravessa a passarela, dobra a esquina, pula o bêbado, leva a marmita morna, espera o sinal fechar, desvia do carro, aperta o passo, não vai perder a hora.
Tira do bolso duas notas e uma prata, espera na fila, troca por bilhete, passa a catraca, espera na fila, desce a escada rolante, vira à direita, entra na fila, espera na fila, empurra a fila, a fila o empurra, perde a condução. Espera de novo, lá vem a condução, entra na marra, se segura como pode, se espreme, se enrosca, se entorta, segura a marmita, olha a curva! Olha o freio! Mais vinte paradas e será nossa vez! Olha o breque! Lá se vai a marmita ao chão. Ficam o arroz o feijão e o ovo estrelado, mas rolam as lingüiças, que não vão muito longe. São pinçadas de volta, assopradas e bem guardadas. Não vai deixar cair de novo.
Chega ao destino. É empurrado para fora do vagão, entra na fila, sobe a escada rolante, dobra à esquerda, passa na catraca, ganha a rua, de frente à igreja, com o polegar direito, parte a cara em quatro, o peito em quatro, segue adiante, chega ao canteiro. Não esquece o ponto.
Qual é o andar de Pedro? Apressado, mete a mão na massa. Qual é o andar de Pedro? Põe o capacete e sobe a escada devagar. Passa o segundo, o terceiro. O quarto trem três quartos, o menor maior que seu barraco, o maior é o sonho de toda uma vida. Continua a subir. Qual era mesmo o andar de Pedro? Pára no sexto. Não há mais andar.
A visibilidade é boa, a poluição ainda não é sufocante, as buzinas dos automóveis vão aos poucos substituindo as piadas de passarinhos. Não tem graça nenhuma, é piada cada vez mais rara. Não vai rir de nada.
- Ainda mato aquele galo filho da puta.
É bom de colher, sapeca a massa, pega a lajota, uma a uma, vai sumindo a paisagem. Aparece a cachaça não se sabe de onde. É hora do almoço. Toma um trago, faz cara feia. Pega a marmita e se vira para o canto. É bom de colher. Não quer companhia.
De volta à labuta, ainda zonzo da pestana breve. Cambaleia por entre as lajotas e meias paredes. Fabrica um quadrado vazio. Aos poucos vai se erguendo o labirinto e o homem lá, se encarcerando. Cadê as piadas? Cadê a luz? Não ouve as buzinas.
O galo canta fora de hora em cima do telhado. O sol fica vermelho.
No canteiro é hora de trocar de andar. Não quer falar. Vai até o fim da laje. Olha para baixo e vê os transeuntes a esquivarem-se uns dos outros, escolhe o momento de calmaria. Não hesita.
Qual é o andar de Pedro? Pedro não tem andar. É pássaro, mas não voa. Não é rei, mas sente-se príncipe. De pernas para o ar, não quer voltar.
Pressente o momento em que todos o cercarão estupefatos. Indignar-se-ão por ele interromper seus dias com sua vida banal. Não tem esse direito.
Lembra-se do galo, da mulher, das crianças, de Leonor. Esfrega os olhos. As lágrimas molham o cimento. O cimento arranha seus olhos. Seus olhos vêem o sol vermelho. Não os fechará.
Ônibus, carros, motos, pedestres. Todos param. O mundo finalmente parou para ver Pedro. A cidade não é toda de pedra.
domingo, agosto 01, 2010
Sem complicar
Ela caminhava alegremente pelo espaço destinado às pessoas que não possuíam aparelhos de locomoção por força motora autônoma e artificial quando avistou aquele que num certo período indeterminado e não presente de vinte e quatro horas viria a ser o ser que a assumiria como a única com a qual ele teria uma relação de fidelidade para fins de sentimentos nobres e geração de seres menores apenas em tamanho e de características genéticas oriundas da combinação das suas e que levariam parte da composição de seus desígnios fonéticos.
Ele gostou dela e a desejou.
Ela não conseguia concatenar um processo sequer de sinapses bem sucedidas que implicassem em resultados satisfatórios do ponto de vista da ausência absoluta de qualquer razão que fosse capaz de resumir o volume inestimável de sensações corpóreas que se acumulavam naquelas três repetições de centena de segundos subseqüentes.
Ele tomou a iniciativa e foi falar com ela.
O processo de inalação e eliminação do elemento gasoso fundamental para a manutenção da vida ganhou sincronia desproporcional ao habitual nas vias condutoras do invólucro carnal daquela representante do gênero superior. Percebeu que já não era a principal condutora dos movimentos do sistema articulado.
Ele segurou a sua mão e curvou-se até tocar-lhe seus lábios na branca tez.
Para ela a propagação da energia que emanava do corpo celestial maior desapareceu e apenas a ausência poderia ser captada pelos seus dispositivos perceptivos.
Ele a segurou e com um copo de água trouxe-lhe de volta à consciência.
Ela dirigiu-lhe uma formação simples de palavras em tom interrogativo a respeito do sucedido.
Um mau súbito apenas.
Jamais se daria por plena a proposição do cavalheiro. Procurou auxílio profissional daqueles cujo ofício é reorganizar os pensamentos e domar os impulsos, mas nenhuma proposta de resolução de dúvidas foi bem aceita. Restava-lhe as palavras sugestivas daquele ser que mais estimamos por ter nos gerado, parido e alimentado até que ganhássemos auto suficiência e responsabilidade sobre nossos atos. Foi um hiato temporal que não contabilizou mais do que duas vezes a centena de milésimos:
- É o amor, minha criança.
Ele gostou dela e a desejou.
Ela não conseguia concatenar um processo sequer de sinapses bem sucedidas que implicassem em resultados satisfatórios do ponto de vista da ausência absoluta de qualquer razão que fosse capaz de resumir o volume inestimável de sensações corpóreas que se acumulavam naquelas três repetições de centena de segundos subseqüentes.
Ele tomou a iniciativa e foi falar com ela.
O processo de inalação e eliminação do elemento gasoso fundamental para a manutenção da vida ganhou sincronia desproporcional ao habitual nas vias condutoras do invólucro carnal daquela representante do gênero superior. Percebeu que já não era a principal condutora dos movimentos do sistema articulado.
Ele segurou a sua mão e curvou-se até tocar-lhe seus lábios na branca tez.
Para ela a propagação da energia que emanava do corpo celestial maior desapareceu e apenas a ausência poderia ser captada pelos seus dispositivos perceptivos.
Ele a segurou e com um copo de água trouxe-lhe de volta à consciência.
Ela dirigiu-lhe uma formação simples de palavras em tom interrogativo a respeito do sucedido.
Um mau súbito apenas.
Jamais se daria por plena a proposição do cavalheiro. Procurou auxílio profissional daqueles cujo ofício é reorganizar os pensamentos e domar os impulsos, mas nenhuma proposta de resolução de dúvidas foi bem aceita. Restava-lhe as palavras sugestivas daquele ser que mais estimamos por ter nos gerado, parido e alimentado até que ganhássemos auto suficiência e responsabilidade sobre nossos atos. Foi um hiato temporal que não contabilizou mais do que duas vezes a centena de milésimos:
- É o amor, minha criança.
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