terça-feira, julho 17, 2012
Construção
Pedra sobre pedra.
Adobe argamassa e argila
Taipa e fibras
Excrementos e barro.
De tudo que já fiz hoje
Só me falta construir um carro.
sábado, julho 07, 2012
Grécia do berço até o calote
Era um bebê gorducho, disposto, abastado, deitado no conforto,
Repleto de referências, propagador de preferências, filósofo,
Virou uma criança mimada e um adolescente engajado.
Hoje é um velho senil, preocupado com a conta em banco,
Contando as parcelas do cheque especial, deprimido.
Repleto de referências, propagador de preferências, filósofo,
Virou uma criança mimada e um adolescente engajado.
Hoje é um velho senil, preocupado com a conta em banco,
Contando as parcelas do cheque especial, deprimido.
Sozinho feliz
É o que repara a beleza da luz do dia,
Do natural e do artificial que convivem,
E fica sem inventar nada,
Só a contemplar.
Antes que a inquietude o atinja.
Do natural e do artificial que convivem,
E fica sem inventar nada,
Só a contemplar.
Antes que a inquietude o atinja.
Croesia
É uma história cotidiana
Insuficiente, uma narrativa verbal,
Sem sujeito e nem predicado,
É retrato da realidade
Sem detalhes, um encalhe.
É um lirismo do asfalto,
Um infinito de significados em uma garrafa de cerveja barata,
São versos alexandrinos escritos em um guardanapo,
Ou um soneto involuntário,
De rimas pobres.
Meu verbo podre,
Minha metáfora esnobe,
Faz essa croesia, poesia crônica, crônica poeta,
Um pedaço de texto do mundo real,
Do surreal da minha poética, da minha visão
Tentando extrapolar o mero relato,
Ficando no termo vago.
Insuficiente, uma narrativa verbal,
Sem sujeito e nem predicado,
É retrato da realidade
Sem detalhes, um encalhe.
É um lirismo do asfalto,
Um infinito de significados em uma garrafa de cerveja barata,
São versos alexandrinos escritos em um guardanapo,
Ou um soneto involuntário,
De rimas pobres.
Meu verbo podre,
Minha metáfora esnobe,
Faz essa croesia, poesia crônica, crônica poeta,
Um pedaço de texto do mundo real,
Do surreal da minha poética, da minha visão
Tentando extrapolar o mero relato,
Ficando no termo vago.
domingo, junho 17, 2012
Arquitetônica de livraria
Os mais vendidos na frente, os mofados clássicos atrás,
Os clássicos que já foram bem vendidos na traseira, os novatos com promessas falsas
Na vanguarda, as listas do que fazer antes de morrer na vitrine,
E os livros que realmente ensinam a viver, no estoque, tímidos.
Tomo um café, depois de uma refeição, com um professor
E ele diz: "Desrespeite o sistema de bibliotecas e livrarias,
Ignore os livros que mendigam sua atenção na frente
E resgate o clássico que, mesmo mofado, não vai falecer".
Os clássicos que já foram bem vendidos na traseira, os novatos com promessas falsas
Na vanguarda, as listas do que fazer antes de morrer na vitrine,
E os livros que realmente ensinam a viver, no estoque, tímidos.
Tomo um café, depois de uma refeição, com um professor
E ele diz: "Desrespeite o sistema de bibliotecas e livrarias,
Ignore os livros que mendigam sua atenção na frente
E resgate o clássico que, mesmo mofado, não vai falecer".
segunda-feira, junho 04, 2012
Mendigo
Anda com trapos
Na rua larga, na estreita,
Na avenida e no beco sem saída.
Anda com trapos
Num bairro, nas cidades e
Caminha até entre países.
Coleciona bandeiras de nações
Compradas por poucos centavos.
É pobre de capital
E rico de alma, de história.
Na rua larga, na estreita,
Na avenida e no beco sem saída.
Anda com trapos
Num bairro, nas cidades e
Caminha até entre países.
Coleciona bandeiras de nações
Compradas por poucos centavos.
É pobre de capital
E rico de alma, de história.
domingo, maio 13, 2012
Piadista ruim
O piadista ruim é um homem feliz,
Se alguém ri dele, seu coração palpita,
Suas piadas fluem, a sociedade apita.
Ele é o oposto do piadista bom,
Uma figura triste, sempre cobrada,
Sempre assediada, nunca desafiada,
Banalizadora do riso, um tesouro maciço.
Se alguém ri dele, seu coração palpita,
Suas piadas fluem, a sociedade apita.
Ele é o oposto do piadista bom,
Uma figura triste, sempre cobrada,
Sempre assediada, nunca desafiada,
Banalizadora do riso, um tesouro maciço.
Produção de quinta
Para produzir notícias de primeira,
Desnível técnico, alto nível intelectual,
Esforço descomunal, tarefa braçal,
É coxão duro querendo ser mignon.
Desnível técnico, alto nível intelectual,
Esforço descomunal, tarefa braçal,
É coxão duro querendo ser mignon.
domingo, maio 06, 2012
Encruzilhada
Sozinho, no metrô,
Diante dos letreiros de Santana,
Estou sem violão, sem melodia,
Pequeno diante de um mundo
Em transformação.
Aguardo meu trem, sem me decidir,
Sem sentido e nem retorno.
Diante dos letreiros de Santana,
Estou sem violão, sem melodia,
Pequeno diante de um mundo
Em transformação.
Aguardo meu trem, sem me decidir,
Sem sentido e nem retorno.
quinta-feira, abril 26, 2012
quinta-feira, abril 05, 2012
Canto Maior
O grande drama é começar
Pois uma vez começado é quase certeza
É rapidez na reta.
Quem vai rápido se perde na rota
Quem senta torto
ganha uma coluna torta.
Se usa pouco, perde muito.
Se muito faz, nada fez.
Veja agora, é a sua vez...
Pois uma vez começado é quase certeza
É rapidez na reta.
Quem vai rápido se perde na rota
Quem senta torto
ganha uma coluna torta.
Se usa pouco, perde muito.
Se muito faz, nada fez.
Veja agora, é a sua vez...
O pensamento que não flui.
O pensamento que não flui
É água parada
Poça estagnada.
Vento, traga o sol
Faça este líquido virar pó
Faça novelos e nós
nas entrelinhas
Onde venta o vento
Flui pensamento.
É água parada
Poça estagnada.
Vento, traga o sol
Faça este líquido virar pó
Faça novelos e nós
nas entrelinhas
Onde venta o vento
Flui pensamento.
Trevo
Na encruzilhada
Muita virtude compartilhei
Pois lá iniciei minha cruzada
Contra aquele que impede a felicidade
Geral sem muita noção.
Nos cortes e entrecortes
Caminhos cruzados
Você vê aquele que não quer
Ver e sem ser visto
Vasto ser revisto.
Onde debruçar o olhar verá
Companheiros e aventureiros
Perdidos em seus mundos inteiros
Compartilharem virtudes e emoções
Caminhando juntos, encontramos trevo.
Muita virtude compartilhei
Pois lá iniciei minha cruzada
Contra aquele que impede a felicidade
Geral sem muita noção.
Nos cortes e entrecortes
Caminhos cruzados
Você vê aquele que não quer
Ver e sem ser visto
Vasto ser revisto.
Onde debruçar o olhar verá
Companheiros e aventureiros
Perdidos em seus mundos inteiros
Compartilharem virtudes e emoções
Caminhando juntos, encontramos trevo.
Versos, ersos
Versos curtos
Longos límpidos
Cheios de lero
Cheios de verso.
Versos doces
Densos e ricos
Ao avesso, ao vental
Diga não ao jovem mau.
Longos límpidos
Cheios de lero
Cheios de verso.
Versos doces
Densos e ricos
Ao avesso, ao vental
Diga não ao jovem mau.
A Visita
um dia, um anjo veio me visitar
à meia noite quando já cansado,
antes de dormir, na janela, tomei um ar
Fez perguntas, querendo saber com precisão
a quantidade restante de amor que restava no coração
Deste amor, a solidão - esta desafortunada
Havia roubado um pedaço
um curto passo
rumo à queda da razão
Nos braços do anjo, voei
rumo à imensidão
Voei no céu noturno
Voei até as estrelas
Voei na luz e trouxe um doce
Um pedaço de futuro.
Uma bela poesia
Aquecendo eu, então.
à meia noite quando já cansado,
antes de dormir, na janela, tomei um ar
Fez perguntas, querendo saber com precisão
a quantidade restante de amor que restava no coração
Deste amor, a solidão - esta desafortunada
Havia roubado um pedaço
um curto passo
rumo à queda da razão
Nos braços do anjo, voei
rumo à imensidão
Voei no céu noturno
Voei até as estrelas
Voei na luz e trouxe um doce
Um pedaço de futuro.
Uma bela poesia
Aquecendo eu, então.
quarta-feira, março 14, 2012
Hoje é dia da poesia
Hoje é dia do verso curto,
Da palavra alongada, da estrutura
Alexandrina, do verso sem rima,
Da garota que suspira lendo
A minha querida poesia.
Da palavra alongada, da estrutura
Alexandrina, do verso sem rima,
Da garota que suspira lendo
A minha querida poesia.
domingo, março 11, 2012
Desconcertante
É o olhar que desvio,
É o olhar que concentro,
É meu olhar perdido
E meu olhar despedido.
São meus olhos que brilham
E até quando ficam úmidos.
É meu rosto instável,
Que chora e sorri,
Que vive.
É o olhar que concentro,
É meu olhar perdido
E meu olhar despedido.
São meus olhos que brilham
E até quando ficam úmidos.
É meu rosto instável,
Que chora e sorri,
Que vive.
Samba fossa
Com gingado, improviso,
Eu lamento e canto uma
Alegria mínima, enquadrada
Na batida dos bumbos,
Meu samba fossa, meu amor
De pandeiro.
Eu lamento e canto uma
Alegria mínima, enquadrada
Na batida dos bumbos,
Meu samba fossa, meu amor
De pandeiro.
terça-feira, março 06, 2012
Ouço Carinhoso
E sei porque meu coração bate,
Assim, feliz, quando te vê.
Ele não crê na beleza que escapa
E oferece desejo, procura de olhares.
Assim, feliz, quando te vê.
Ele não crê na beleza que escapa
E oferece desejo, procura de olhares.
quinta-feira, março 01, 2012
O desconforto da prosa
É não conseguir preencher toda a sua lógica lacunar por palavras que devem ter seus significados aplicados em uma salada salpicada por sujeitos, objetos e predicados bagunçados, trucidados pelo seu pensamento pouco fluído, clichê e vulgar.
2112
Saí um pouco do formato de poesia.
Este é um conto baseado na letra de “2112” da banda de rock progressivo canadense Rush. Eu tive a idéia de fazer uma história com a canção depois de ler um conto do escritor e tradutor Fábio Fernandes, criado a partir de uma música dos Beatles.
Acho que ele precisa de mais correções, ainda.
Espero que apreciem as referências e uma história simples baseada em uma letra complexa de ficção científica.
Olhava o céu, sempre. Seja com sete, quinze ou vinte e cinco anos. Tinha uma dificuldade enorme em manter os olhos nesta realidade, no concreto e desperto. Não sabia por que era tão desligado. Sentia-se comum, pequeno, mas contemplando algo maior.
Sua casa era um quebra-cabeça vivo: Haviam brinquedos de seu irmão que partira em cantos de cômodos, fotografias encaixotadas, folhas amareladas, livros com mofo acumulado e fitas cacete podres. Ele gostava dessa atmosfera de estranheza, embora vivesse apenas com a mãe. “Era como se aquelas tralhas trouxessem imediatamente a presença do pai e do maninho que estavam em outra casa”.
A tara dele, então, era fuçar e derrubar o que pudesse quando a mãe ia fazer compras. Se o imóvel era um labirinto, ele havia de chegar até o seu fim, solucionando seu mistério. Desenvolveu, sozinho, um ímpeto natural de desafiar o que lhe parecia inalcançável.
Subiu na estante, derrubou os livros, deixou a televisão na ponta do móvel e transformou a casa em uma anarquia compulsiva e cumulativa, volumosa em caixas, objetos e fotografias espalhadas. Cavou e cavou nas lembranças até chegar num caixote negro, de couro, bem espesso.
Observou as travas de metal. Tentou abrir com força. Sem sucesso.
Observou novamente – com mais atenção – e enxergou como mover a alavanca para abrir a tranca. Um dedo na superfície áspera movimentou tudo. Ouviu um estampido baixo e a caixa retangular abriu.
Havia um violão velho, com trastes oxidados, dentro do recipiente. Tirou, com a maior curiosidade, aquele objeto com corpo ondular e braço estreito. Queria saber por que aquilo estava ali, de quem era, por que estava tão escondido e, acima de tudo...
...Se ainda era possível fazer alguma música com suas cordas.
Abraçou a viola e passou os dedos pelas duas cordas mi, sem tocar nas outras. Brincou com o sol, puxando outras notas de suas casas. Tentou formar alguns acordes simples. Tentou tracejar tocando três cordas. Bateu com os dedos para emitir novos sons. Fez algo desarmônico, desajeitado, despretensioso, mas com sua beleza própria.
Então, aos poucos, mais e mais notas começaram a se formar de suas finas mãos. Cinco minutos depois, com o violão em mãos, músicas começaram a se formar em sua mente, e a surgir involuntariamente do movimento de seus braços. Batidas abafadas se somaram a escalas executadas de forma limpa. Para completar a composição, acordes limpos tiravam seu próprio fôlego.
Não sabia o que estava fazendo. Mas, naquele momento, nada mais importava. A sala, a bagunça e o labirinto pareciam ter desaparecido por completo. Não havia mamãe, papai, irmão ou qualquer rosto conhecido. Somente cordas, sons e o seu coração, que palpitava e não queria mais parar.
A música não queria que ele parasse.
O som começou a crescer, a se encher, a brotar com cada ligação entre notas, acordes, frases e improvisações. O som do violão passou a mudar. A cor do corpo do instrumento avermelhou, sua madeira endureceu e, por fim, o braço começou a afinar. O fundo oco começou a se preencher. Captadores, lentamente, surgiram sob as cordas. E a música nunca parou.
E as cordas ficaram endurecidas, brilhantes, metálicas.
O menino então sentiu o peso da guitarra elétrica que se formou em sua composição e, com uma rapidez que ele próprio desconhecida, acionou a amplificação elétrica, rasgando e preenchendo toda a sua melodia.
Com acordes simples, gerou pequenas explosões com seu instrumento. Puxando as cordas sem dó, alcançou notas agudas, acompanhadas por um som grave que aveludava o retorno do som. Era como uma orquestra de seis cordas, um arranjo brotando do puro contato entre homem e objeto.
E, no ápice de harmonias e de dissonâncias, veio o silêncio.
Ele não estava mais em sua casa. Sequer reconhecia seu próprio corpo ou seus cabelos. A franja cobria-lhe a face. Os longos frios tapavam seus ouvidos.
A música metamorfoseou o menino.
Suas memórias se embaralharam. Já não era um jovem, era um homem de trinta anos, armado com sua guitarra elétrica com amplificador embutido. Austero e cabeludo. Com um gosto amargo na boca e nos pensamentos.
Prendeu a guitarra em uma correia de couro forte, apoiada no ombro. Caminhou para sair da gruta úmida em que se encontrava. Visualizou feixes de luz de um dia maravilhoso fora da caverna, apesar de seu humor difuso, inócuo, vazio.
Caminhou e caminhou.
Desceu a colina após a entrada da caverna. Não havia mais nada plano. Se largasse seu corpo, era queda livre: Morreria só de rolar em uma ladeira sem fim. Pacientemente, um pé por vez, fez o longo caminho. Chegou, enfim, na única cidade humana que se encontrava após o fim da colina e dos campos abertos que circundavam todo o ambiente aberto. Chegou na cidade das cidades.
Sua memória refrescou, no trajeto. A guitarra esteve, todo o tempo, trancafiada na gruta, escondida da civilização. Reprimida, perseguida. Instrumento escondido de tudo e de todos.
Uma perna por vez, enquanto o sol se perdia no horizonte. Perto da cidade das cidades, o clima começou a obscurecer perto do portão. Não precisou sinalizar para entrar. Pé ante pé, entrou na outra escuridão do mundo: A sociedade.
Misturou-se com os humanos socados nas calçadas, com os carros voadores que entupiam o céu coberto da cidade das cidades e até com o cheiro de gás e poeira emitido pelos geradores de energia elétrica. Poluiu-se. Destemido, andou com sua guitarra nas costas, sem se confundir com todos aqueles homens.
Sem se uniformizar com todos aqueles iguais.
Continuou seu trajeto até o centro, tirando a guitarra elétrica das costas e segurando-a pelo braço. Apertou as cordas. Apertou o passo. Sabia que era a hora e o lugar.
Chegou ao ponto zero da cidade das cidades, onde a poeira era mais densa, onde o palavreado era mais sufocante. O centro do buraco. O buraco do ninho. O berço humano sem nenhum contato mínimo, apesar dos esbarros ocasionais em algum pedestre. E o esforço para desviar de naves e carros.
Com a guitarra nas mãos, abraçou o corpo e puxou a correia. Formou um ré menor com a mão direita e dedilhou de baixo para cima, ascendente. Saturou a distorção e aumentou progressivamente o volume. Escancarou acordes cheios emendados com notas soltas. Executou bends, pulou cordas e cobinou do jazz ao puro rock´n´roll.
Sem fazer nada, seu amplificador estourou. Os ouvidos dos presentes estouraram. Os guardas surgiram. “Objeto não autorizado! Objeto não autorizado! Repreenda! Repreenda!”. Os robôs e os guardas tentaram derrubar seu corpo e destruir sua música.
Mas a música não interrompeu. Eram seis pares de mãos puxando suas costas, com cacetetes acertando seus joelhos. Sentiu a febre atingi-lo, misturado com o cheiro de mofo e ferrugem da cidade das cidades. Sentiu seu corpo se render, mas sem parar com o solo na escala de lá. Ouviu as cordas estourando, com a música ainda subindo.
Naquele mundo, era proibido fazer arte, sentimento. Isso era coisa de mártires.
***
Acordou socado entre a poeira de sua casa, de volta ao corpo de menino, com o violão ao lado. Ouviu a mãe abrindo a porta. Abraçou a viola. Todas as seis cordas.
Este é um conto baseado na letra de “2112” da banda de rock progressivo canadense Rush. Eu tive a idéia de fazer uma história com a canção depois de ler um conto do escritor e tradutor Fábio Fernandes, criado a partir de uma música dos Beatles.
Acho que ele precisa de mais correções, ainda.
Espero que apreciem as referências e uma história simples baseada em uma letra complexa de ficção científica.
“What can this strange device be?
When I touch it, it gives forth a sound
It's got wires that vibrate and give music
What can this thing be that I found?”
Neil Peart, da banda Rush
Olhava o céu, sempre. Seja com sete, quinze ou vinte e cinco anos. Tinha uma dificuldade enorme em manter os olhos nesta realidade, no concreto e desperto. Não sabia por que era tão desligado. Sentia-se comum, pequeno, mas contemplando algo maior.
Sua casa era um quebra-cabeça vivo: Haviam brinquedos de seu irmão que partira em cantos de cômodos, fotografias encaixotadas, folhas amareladas, livros com mofo acumulado e fitas cacete podres. Ele gostava dessa atmosfera de estranheza, embora vivesse apenas com a mãe. “Era como se aquelas tralhas trouxessem imediatamente a presença do pai e do maninho que estavam em outra casa”.
A tara dele, então, era fuçar e derrubar o que pudesse quando a mãe ia fazer compras. Se o imóvel era um labirinto, ele havia de chegar até o seu fim, solucionando seu mistério. Desenvolveu, sozinho, um ímpeto natural de desafiar o que lhe parecia inalcançável.
Subiu na estante, derrubou os livros, deixou a televisão na ponta do móvel e transformou a casa em uma anarquia compulsiva e cumulativa, volumosa em caixas, objetos e fotografias espalhadas. Cavou e cavou nas lembranças até chegar num caixote negro, de couro, bem espesso.
Observou as travas de metal. Tentou abrir com força. Sem sucesso.
Observou novamente – com mais atenção – e enxergou como mover a alavanca para abrir a tranca. Um dedo na superfície áspera movimentou tudo. Ouviu um estampido baixo e a caixa retangular abriu.
Havia um violão velho, com trastes oxidados, dentro do recipiente. Tirou, com a maior curiosidade, aquele objeto com corpo ondular e braço estreito. Queria saber por que aquilo estava ali, de quem era, por que estava tão escondido e, acima de tudo...
...Se ainda era possível fazer alguma música com suas cordas.
Abraçou a viola e passou os dedos pelas duas cordas mi, sem tocar nas outras. Brincou com o sol, puxando outras notas de suas casas. Tentou formar alguns acordes simples. Tentou tracejar tocando três cordas. Bateu com os dedos para emitir novos sons. Fez algo desarmônico, desajeitado, despretensioso, mas com sua beleza própria.
Então, aos poucos, mais e mais notas começaram a se formar de suas finas mãos. Cinco minutos depois, com o violão em mãos, músicas começaram a se formar em sua mente, e a surgir involuntariamente do movimento de seus braços. Batidas abafadas se somaram a escalas executadas de forma limpa. Para completar a composição, acordes limpos tiravam seu próprio fôlego.
Não sabia o que estava fazendo. Mas, naquele momento, nada mais importava. A sala, a bagunça e o labirinto pareciam ter desaparecido por completo. Não havia mamãe, papai, irmão ou qualquer rosto conhecido. Somente cordas, sons e o seu coração, que palpitava e não queria mais parar.
A música não queria que ele parasse.
O som começou a crescer, a se encher, a brotar com cada ligação entre notas, acordes, frases e improvisações. O som do violão passou a mudar. A cor do corpo do instrumento avermelhou, sua madeira endureceu e, por fim, o braço começou a afinar. O fundo oco começou a se preencher. Captadores, lentamente, surgiram sob as cordas. E a música nunca parou.
E as cordas ficaram endurecidas, brilhantes, metálicas.
O menino então sentiu o peso da guitarra elétrica que se formou em sua composição e, com uma rapidez que ele próprio desconhecida, acionou a amplificação elétrica, rasgando e preenchendo toda a sua melodia.
Com acordes simples, gerou pequenas explosões com seu instrumento. Puxando as cordas sem dó, alcançou notas agudas, acompanhadas por um som grave que aveludava o retorno do som. Era como uma orquestra de seis cordas, um arranjo brotando do puro contato entre homem e objeto.
E, no ápice de harmonias e de dissonâncias, veio o silêncio.
Ele não estava mais em sua casa. Sequer reconhecia seu próprio corpo ou seus cabelos. A franja cobria-lhe a face. Os longos frios tapavam seus ouvidos.
A música metamorfoseou o menino.
Suas memórias se embaralharam. Já não era um jovem, era um homem de trinta anos, armado com sua guitarra elétrica com amplificador embutido. Austero e cabeludo. Com um gosto amargo na boca e nos pensamentos.
Prendeu a guitarra em uma correia de couro forte, apoiada no ombro. Caminhou para sair da gruta úmida em que se encontrava. Visualizou feixes de luz de um dia maravilhoso fora da caverna, apesar de seu humor difuso, inócuo, vazio.
Caminhou e caminhou.
Desceu a colina após a entrada da caverna. Não havia mais nada plano. Se largasse seu corpo, era queda livre: Morreria só de rolar em uma ladeira sem fim. Pacientemente, um pé por vez, fez o longo caminho. Chegou, enfim, na única cidade humana que se encontrava após o fim da colina e dos campos abertos que circundavam todo o ambiente aberto. Chegou na cidade das cidades.
Sua memória refrescou, no trajeto. A guitarra esteve, todo o tempo, trancafiada na gruta, escondida da civilização. Reprimida, perseguida. Instrumento escondido de tudo e de todos.
Uma perna por vez, enquanto o sol se perdia no horizonte. Perto da cidade das cidades, o clima começou a obscurecer perto do portão. Não precisou sinalizar para entrar. Pé ante pé, entrou na outra escuridão do mundo: A sociedade.
Misturou-se com os humanos socados nas calçadas, com os carros voadores que entupiam o céu coberto da cidade das cidades e até com o cheiro de gás e poeira emitido pelos geradores de energia elétrica. Poluiu-se. Destemido, andou com sua guitarra nas costas, sem se confundir com todos aqueles homens.
Sem se uniformizar com todos aqueles iguais.
Continuou seu trajeto até o centro, tirando a guitarra elétrica das costas e segurando-a pelo braço. Apertou as cordas. Apertou o passo. Sabia que era a hora e o lugar.
Chegou ao ponto zero da cidade das cidades, onde a poeira era mais densa, onde o palavreado era mais sufocante. O centro do buraco. O buraco do ninho. O berço humano sem nenhum contato mínimo, apesar dos esbarros ocasionais em algum pedestre. E o esforço para desviar de naves e carros.
Com a guitarra nas mãos, abraçou o corpo e puxou a correia. Formou um ré menor com a mão direita e dedilhou de baixo para cima, ascendente. Saturou a distorção e aumentou progressivamente o volume. Escancarou acordes cheios emendados com notas soltas. Executou bends, pulou cordas e cobinou do jazz ao puro rock´n´roll.
Sem fazer nada, seu amplificador estourou. Os ouvidos dos presentes estouraram. Os guardas surgiram. “Objeto não autorizado! Objeto não autorizado! Repreenda! Repreenda!”. Os robôs e os guardas tentaram derrubar seu corpo e destruir sua música.
Mas a música não interrompeu. Eram seis pares de mãos puxando suas costas, com cacetetes acertando seus joelhos. Sentiu a febre atingi-lo, misturado com o cheiro de mofo e ferrugem da cidade das cidades. Sentiu seu corpo se render, mas sem parar com o solo na escala de lá. Ouviu as cordas estourando, com a música ainda subindo.
Naquele mundo, era proibido fazer arte, sentimento. Isso era coisa de mártires.
***
Acordou socado entre a poeira de sua casa, de volta ao corpo de menino, com o violão ao lado. Ouviu a mãe abrindo a porta. Abraçou a viola. Todas as seis cordas.
quarta-feira, fevereiro 29, 2012
Um dia que só existe a cada quatro anos
Frustra quem faz aniversário, atrasa dia de pagamento,
Alonga um pouco mais a vida,
Irrita os deprimidos e ilude os animados.
Alonga um pouco mais a vida,
Irrita os deprimidos e ilude os animados.
sábado, fevereiro 25, 2012
Dia de 25 horas
Hoje, dia 25 de fevereiro, é um dia de 25 horas
E não das habituais 24, um dia extenso, de minutos densos,
Com vida alargada, mesmo que o cotidiano
Nos mate a todo momento.
Muitos queriam um dia com 72 horas, mas só conseguiram nos dar
Uma mísera hora a mais, uns minutos adicionais de tango,
Tempinho para beijos, para mais espera, para continuar
Desejando.
Neste dia de número 25, você percebe que o relógio é uma mentira,
Que o alongamento é inútil, que a inércia vai continuar e que o vácuo
Vai se prolongar.
Toque então mais uma balada, separe mais alguns acordes e
Me prepare um café para um dia com duas meia noites.
(Lembra deste aqui?)
E não das habituais 24, um dia extenso, de minutos densos,
Com vida alargada, mesmo que o cotidiano
Nos mate a todo momento.
Muitos queriam um dia com 72 horas, mas só conseguiram nos dar
Uma mísera hora a mais, uns minutos adicionais de tango,
Tempinho para beijos, para mais espera, para continuar
Desejando.
Neste dia de número 25, você percebe que o relógio é uma mentira,
Que o alongamento é inútil, que a inércia vai continuar e que o vácuo
Vai se prolongar.
Toque então mais uma balada, separe mais alguns acordes e
Me prepare um café para um dia com duas meia noites.
(Lembra deste aqui?)
Tempo
É o que tenho comigo mesmo, é a sensação
De estar com todos, de estar com alguns, de estar só
Com meus neurônios solitários e insólitos. Rebeldes.
Tempo é as trocentas poesias sobre o momento,
É uma batida de baqueta, um termo abstrato,
Uma respiração entre um palavreado,
Um vácuo entre conceitos.
Tempo depende de espaço. Espaço é tempo
Elástico, tempo é recorte de tesoura
Nos papéis revirados na bagunça.
É uma ordenação absurda do espaço,
Comprimido pelos contratempos.
De estar com todos, de estar com alguns, de estar só
Com meus neurônios solitários e insólitos. Rebeldes.
Tempo é as trocentas poesias sobre o momento,
É uma batida de baqueta, um termo abstrato,
Uma respiração entre um palavreado,
Um vácuo entre conceitos.
Tempo depende de espaço. Espaço é tempo
Elástico, tempo é recorte de tesoura
Nos papéis revirados na bagunça.
É uma ordenação absurda do espaço,
Comprimido pelos contratempos.
Sou servo dos meus textos
E escrevo todos eles com erros, sangro na edição, efetuo cortes,
Faço sangria das palavras desnecessárias, apago, reescrevo, desisto,
Resisto, escravo das frases, da composição, do contexto.
Faço sangria das palavras desnecessárias, apago, reescrevo, desisto,
Resisto, escravo das frases, da composição, do contexto.
quinta-feira, fevereiro 23, 2012
Poesia vazia
É poesia a ser escrita,
É poesia depois da borracha,
É palavra do dia a dia,
É ponta da caneta, papéis amassados
E cérebro inquieto.
É poesia depois da borracha,
É palavra do dia a dia,
É ponta da caneta, papéis amassados
E cérebro inquieto.
quarta-feira, fevereiro 22, 2012
Deus ex machina
É a torradeira, é o computador,
É a britadeira, é o robô
Do roubo do meu intelecto,
É a arte que espero,
Arte ofício,
Atifício
Que é artificial.
sábado, fevereiro 18, 2012
Observador
Voa com suas asas sobre os homens, se esconde no alto
Da arquitetura mais megalomaníaca, é um solitário completo,
Um sozinho diante do mundo.
Da arquitetura mais megalomaníaca, é um solitário completo,
Um sozinho diante do mundo.
quinta-feira, fevereiro 16, 2012
Os melhores textos
Saíram desastrados na primeira publicação, foram riscados,
Retorcidos, trocados, retocados, remanejados, reescritos
E espantam até o dono.
Retorcidos, trocados, retocados, remanejados, reescritos
E espantam até o dono.
Escreva uma linha por dia
Escreva uma palavra por dia.
Escreva uma sílaba por dia.
Escreva uma letra por dia.
Escreva.
Escreva uma sílaba por dia.
Escreva uma letra por dia.
Escreva.
quarta-feira, fevereiro 15, 2012
Músicas
Sou fã de músicas tristes,
Pra chorar, pra pensar, pra arrepiar,
Pra iludir, pra absorver, pra abduzir.
Sou fã de músicas felizes,
Pra descontrair, pra unir,
Pra confundir nossos corpos.
Sou fã de tragédias sonorizadas,
Pra não esquecer.
Sou fã de sussurros e de barulhos,
Pra sempre me incomodar.
O único que não entendo é meu próprio ruído,
Minha voz inibida, meu zunido,
E fico com palavras entaladas, sem som.
Pra chorar, pra pensar, pra arrepiar,
Pra iludir, pra absorver, pra abduzir.
Sou fã de músicas felizes,
Pra descontrair, pra unir,
Pra confundir nossos corpos.
Sou fã de tragédias sonorizadas,
Pra não esquecer.
Sou fã de sussurros e de barulhos,
Pra sempre me incomodar.
O único que não entendo é meu próprio ruído,
Minha voz inibida, meu zunido,
E fico com palavras entaladas, sem som.
Na solidão, componho
Na solidão, escrevo,
Na solidão, converso com meu amigo imaginário,
Crio companhias, farsas materializadas na ponta do lápis.
Na solidão, posso usar borracha.
Na solidão, abro álbuns com fotografias amareladas
De quem não sou mais, de quem tenho saudade,
De quem não conheço, de quem não me esqueço.
Na solidão, escrevo notas,
Escrevo livros, escolho as cores
Para uma nova pintura, um novo quadro.
Na solidão, faço orações,
Atéias ou religosas.
Na solidão, conto pétalas,
Martelo tábuas,
Organizo os tijolos em casas.
Mas eu só trabalho sozinho porque já estive junto,
Porque tenho memória,
Porque tive contato. Intacto.
Na solidão, converso com meu amigo imaginário,
Crio companhias, farsas materializadas na ponta do lápis.
Na solidão, posso usar borracha.
Na solidão, abro álbuns com fotografias amareladas
De quem não sou mais, de quem tenho saudade,
De quem não conheço, de quem não me esqueço.
Na solidão, escrevo notas,
Escrevo livros, escolho as cores
Para uma nova pintura, um novo quadro.
Na solidão, faço orações,
Atéias ou religosas.
Na solidão, conto pétalas,
Martelo tábuas,
Organizo os tijolos em casas.
Mas eu só trabalho sozinho porque já estive junto,
Porque tenho memória,
Porque tive contato. Intacto.
Embaixo da ponte, na Avenida Nove de Julho
Eu sinto sua presença trágica, mas sua memória afável.
Na Avenida Santo Amaro,
Eu sinto sua mão na minha coxa, no carro. E seu sorriso simples como acorde
Cheio.
Na Avenida Paulista, sinto os abraços,
As mãos dadas, as companhias fáceis, a garoa fina,
A mudança brusca de tempo e os prédios bonitos e feios.
Na Rua Augusta, aspiro cerveja,
Petiscos, cinema profundo e
Muita música.
Não sei de quem falo, muitos se encaixam,
Mas os locais são únicos.
Na Avenida Santo Amaro,
Eu sinto sua mão na minha coxa, no carro. E seu sorriso simples como acorde
Cheio.
Na Avenida Paulista, sinto os abraços,
As mãos dadas, as companhias fáceis, a garoa fina,
A mudança brusca de tempo e os prédios bonitos e feios.
Na Rua Augusta, aspiro cerveja,
Petiscos, cinema profundo e
Muita música.
Não sei de quem falo, muitos se encaixam,
Mas os locais são únicos.
Como um anjo, observo o mundo
Como humano, encosto no vidro do vigésimo andar de um prédio e vejo pequenos carros,
Pessoas mínimas,
E como um anjo do filme de Wim Wenders, acredito que sou invisível,
Um observador inconcebível,
E tento sentir as pessoas, sem entender.
Pessoas mínimas,
E como um anjo do filme de Wim Wenders, acredito que sou invisível,
Um observador inconcebível,
E tento sentir as pessoas, sem entender.
Que bom que a vida é (um pouco) feliz
E só é feliz com o mínimo, que vira o muito,
Que desemboca no sorriso, que se trumbica na gargalhada,
Que é torcido na loucura e que é atropelado
Pela ternura, sedutora.
Que desemboca no sorriso, que se trumbica na gargalhada,
Que é torcido na loucura e que é atropelado
Pela ternura, sedutora.
Piano silencioso
Toca notas dispersas, com dedos leves,
Numa noite coberta
De cacos de pessoa, de lapsos de ideia,
Reúne fagulhos
E forma pontos de um hino grandioso.
Numa noite coberta
De cacos de pessoa, de lapsos de ideia,
Reúne fagulhos
E forma pontos de um hino grandioso.
Quem bom que a vida é triste
Que bom que a vida é triste,
Porque assim ela muda,
Porque assim a muda brota,
A semente esgota, o caule se ergue,
O tempo prossegue, a folha desabrocha,
E as coisas ficam felizes,
Depois ficam tristes
E são, sempre,
Difíceis.
Porque assim ela muda,
Porque assim a muda brota,
A semente esgota, o caule se ergue,
O tempo prossegue, a folha desabrocha,
E as coisas ficam felizes,
Depois ficam tristes
E são, sempre,
Difíceis.
domingo, fevereiro 05, 2012
domingo, janeiro 29, 2012
Tentam censurar a internet
Ela é pirataria?
É compartilhamento.
Ela é infração de propriedade intelectual?
A propriedade é coletiva, mas há financiamentos para grandes sites.
Ela é destruição de negócios milenares?
Lobbies seculares?
Claro que é. É uma quebra de esquema.
Sistema em crise.
O futuro é Copyleft,
Com mais rights que o Copyright.
É compartilhamento.
Ela é infração de propriedade intelectual?
A propriedade é coletiva, mas há financiamentos para grandes sites.
Ela é destruição de negócios milenares?
Lobbies seculares?
Claro que é. É uma quebra de esquema.
Sistema em crise.
O futuro é Copyleft,
Com mais rights que o Copyright.
quinta-feira, janeiro 12, 2012
Bifurcação
Escolher a redação ou a arte?
A academia ou o mercado?
O sonho ou o concreto?
Físico ou abstrato?
Escolho ambos, sou filósofo
Não de nome, mas de querer conhecer
(sempre)
Mais
A academia ou o mercado?
O sonho ou o concreto?
Físico ou abstrato?
Escolho ambos, sou filósofo
Não de nome, mas de querer conhecer
(sempre)
Mais
domingo, janeiro 08, 2012
Ano novo, ano velho, ano ferro-velho
Cada minuto passa, eu enferrujo
E o tempo urge, e a vaca muge,
O minuto segue, o momento apodrece
E nada faz diferença.
E o tempo urge, e a vaca muge,
O minuto segue, o momento apodrece
E nada faz diferença.
segunda-feira, dezembro 26, 2011
Noite (in)feliz
Alguns festejam o nascimento de Cristo,
outros lamentam, praguejam,
e a noite permanece
indiferente
outros lamentam, praguejam,
e a noite permanece
indiferente
terça-feira, dezembro 20, 2011
Funeral
Uma celebração da memória
dos mortos ou um lamento
por nossas vidas? Uma nostalgia
ou uma muleta para nossos erros?
Visto de preto,
Visto de branco,
Tanto faz a cor
E só importa a conexão
Entre vivos e mortos.
dos mortos ou um lamento
por nossas vidas? Uma nostalgia
ou uma muleta para nossos erros?
Visto de preto,
Visto de branco,
Tanto faz a cor
E só importa a conexão
Entre vivos e mortos.
domingo, dezembro 18, 2011
Família
É estar junto e separado,
cumprindo papéis e funções.
É ter esperança de companhia
e direcionar suas crias ao mundo.
cumprindo papéis e funções.
É ter esperança de companhia
e direcionar suas crias ao mundo.
quarta-feira, dezembro 14, 2011
LRM
Ao estar sozinho, a gente sabe
Que teve companhia, um dia.
Soube da sua partida, do seu falecimento,
No monitor frio do computador,
Sem dizer adeus, segurando o choro,
Tentando levar o cotidiano.
Dividimos poemas, artigos, reportagens, sentimentos,
Puro afeto,
Hoje vejo o mundo pela janela do carro, desligo a música,
Vejo a canção do silêncio, a tua presença e ausência.
Hoje eu tentei ouvir música, e nenhuma se encaixou,
A única melodia era a da sua vida, na memória.
Que teve companhia, um dia.
Soube da sua partida, do seu falecimento,
No monitor frio do computador,
Sem dizer adeus, segurando o choro,
Tentando levar o cotidiano.
Dividimos poemas, artigos, reportagens, sentimentos,
Puro afeto,
Hoje vejo o mundo pela janela do carro, desligo a música,
Vejo a canção do silêncio, a tua presença e ausência.
Hoje eu tentei ouvir música, e nenhuma se encaixou,
A única melodia era a da sua vida, na memória.
segunda-feira, dezembro 12, 2011
Conhecimento
Devo dormir,
Devo relaxar,
Devo anestesiar
O monstro que não adormece,
A criatura que me cansa, me
Alcança, no limite da energia.
O conhecimento
Que não fecha o olho,
Cimento e remendo.
Devo relaxar,
Devo anestesiar
O monstro que não adormece,
A criatura que me cansa, me
Alcança, no limite da energia.
O conhecimento
Que não fecha o olho,
Cimento e remendo.
Viagem ao campo
Com flores, silêncio,
odores, meu corpo,
seu corpo e um copo
de oxigênio, nem um pouco
verdadeiro.
Diante da cidade que
abandonamos.
odores, meu corpo,
seu corpo e um copo
de oxigênio, nem um pouco
verdadeiro.
Diante da cidade que
abandonamos.
terça-feira, dezembro 06, 2011
segunda-feira, dezembro 05, 2011
Acampa-se protestos
No vale do Anhangabaú, na Paulista,
nas causas perdidas, nas causas justas,
na falta do verde, no excesso
do humano.
Só não acampa no meu eu individual
e nada muda,
vivemos em feudos.
nas causas perdidas, nas causas justas,
na falta do verde, no excesso
do humano.
Só não acampa no meu eu individual
e nada muda,
vivemos em feudos.
Não-escritor
Vive na frente da tela, computador,
não segura mais uma pena, nem caneta,
nem lápis de colorir, é automático,
automatizado.
É um robô solitário
e com alma.
não segura mais uma pena, nem caneta,
nem lápis de colorir, é automático,
automatizado.
É um robô solitário
e com alma.
domingo, dezembro 04, 2011
Fracasso
É um átomo do
penhasco, do mundo
transviado, travestido
de remorso, de orgulho ferido
e do desejo perseguido.
É um átomo do
sucesso.
penhasco, do mundo
transviado, travestido
de remorso, de orgulho ferido
e do desejo perseguido.
É um átomo do
sucesso.
Poesia mobile
Nasce no teclado touch
e morre nessa solidão, rouco
pela velocidade, cego pela
ausência do pensar.
Sempre ao alcance das mãos.
e morre nessa solidão, rouco
pela velocidade, cego pela
ausência do pensar.
Sempre ao alcance das mãos.
domingo, novembro 20, 2011
Berlusconi saiu do poder
da Itália, aos gritos de
"Máfia, máfia, máfia".
Um burocrata europeu saiu
De seu trono de ouro,
De grana desviada
De uma Europa endividada,
Embasbacada.
"Máfia, máfia, máfia".
Um burocrata europeu saiu
De seu trono de ouro,
De grana desviada
De uma Europa endividada,
Embasbacada.
quarta-feira, outubro 12, 2011
Culpa de nada serve
Culpa serve apenas como desculpa
Para sofrer enquanto se é responsável
Pelo ato cometido, (falta de) atitude.
Para sofrer enquanto se é responsável
Pelo ato cometido, (falta de) atitude.
Amor-Aborto
Ninguém sabe, ninguém viu,
Ninguém viu nascer, é sentimento proibido,
É impulso emocional,
Na verdade e em verdade é sentimento canibal,
Que devora a isso, que passa, que renova
E volta ao sentimento morto de antes.
Ninguém viu nascer, é sentimento proibido,
É impulso emocional,
Na verdade e em verdade é sentimento canibal,
Que devora a isso, que passa, que renova
E volta ao sentimento morto de antes.
segunda-feira, setembro 19, 2011
O Mar dos Afogados
Eu tô me afogando
Em conto de fada
Eu meto murro
Em ponta de faca
Sonhos e pesadelos
Andam aos pares
Tenho dor nos meus cabelos
Eu vomito na tigela
Eu respeito
Seus peitos
A despeito dos seus defeitos
Nada é perfeito,
Portanto não me censure com uma moral vã.
Em conto de fada
Eu meto murro
Em ponta de faca
Sonhos e pesadelos
Andam aos pares
Tenho dor nos meus cabelos
Eu vomito na tigela
Eu respeito
Seus peitos
A despeito dos seus defeitos
Nada é perfeito,
Portanto não me censure com uma moral vã.
terça-feira, setembro 06, 2011
Kant me diz que criatividade estética é arte
E que há poetas, quase filósofos, que mudam os paradigmas com suas sensações,
Que mudam a história da arte com um garrancho, com palavras vindas do barranco,
Com inspirações que fluem como solavancos.
Que mudam a história da arte com um garrancho, com palavras vindas do barranco,
Com inspirações que fluem como solavancos.
Poesia foge
Abandona, desampara, escapa,
É fonte, poesia foge,
É rarefeita, dissipa,
Intoxica, atarracha,
Envolve, solta, prende,
Não pode ser dimensionada,
Não pode ser formato,
É ato, e não é.
É fonte, poesia foge,
É rarefeita, dissipa,
Intoxica, atarracha,
Envolve, solta, prende,
Não pode ser dimensionada,
Não pode ser formato,
É ato, e não é.
quarta-feira, agosto 31, 2011
Você é o que você não lê
Você é o que você lê,
Um artigo de jornal, um romance babaca,
Uma ficção desconstruída, um bilhete de namorada,
Uma matéria de colégio chata, um livro obrigatório,
Um livro das férias, uma capa bonita que você quis colocar na estante.
E você é o que você não lê,
Os autores que você cita por cima,
O texto que deu preguiça,
A leitura que parou no sono,
A vida não vivida.
Um artigo de jornal, um romance babaca,
Uma ficção desconstruída, um bilhete de namorada,
Uma matéria de colégio chata, um livro obrigatório,
Um livro das férias, uma capa bonita que você quis colocar na estante.
E você é o que você não lê,
Os autores que você cita por cima,
O texto que deu preguiça,
A leitura que parou no sono,
A vida não vivida.
domingo, junho 12, 2011
Sentimento autêntico, data comercial
Pessoas gastam dinheiro, dão presentes caros, movimentam o capitalismo,
Prefiro mover minhas mãos, sentir tua companhia e todas as coisas
Sem custo real no sistema.
Deitar no colo, descansar o corpo, compartilhar conhecimentos,
Repartir o que se guarda. De vez em quanto,
Gastar um capital em presentes pequenos
E significativos.
Prefiro mover minhas mãos, sentir tua companhia e todas as coisas
Sem custo real no sistema.
Deitar no colo, descansar o corpo, compartilhar conhecimentos,
Repartir o que se guarda. De vez em quanto,
Gastar um capital em presentes pequenos
E significativos.
Aquecer
Eu ando com meu casaco grande
E sinto pouco frio, tem espaço para você se aquecer dentro dele,
São Paulo é gélida, você é pequena, o mundo é muito grande,
As pessoas são isoladas, o envolvimento é na base do calor,
Meu casaco grande nem aquece tanto, preciso do teu contato,
Preciso sentir tato, afago, amor abstrato
E substrato de fogo.
Dedicado à Priscila Jordão.
E sinto pouco frio, tem espaço para você se aquecer dentro dele,
São Paulo é gélida, você é pequena, o mundo é muito grande,
As pessoas são isoladas, o envolvimento é na base do calor,
Meu casaco grande nem aquece tanto, preciso do teu contato,
Preciso sentir tato, afago, amor abstrato
E substrato de fogo.
Dedicado à Priscila Jordão.
domingo, junho 05, 2011
Bin Laden morreu
Bush saiu do governo, Obama falou nos microfones,
Eu nunca conheci o inimigo do ocidente, só há sorrisos,
Dentes, sucessos, pouca transparência com o público,
Um cadáver, uma catástofre justificada no assassinato,
Todos sujos de sangue, um crime, um genocídio,
O suicídio da humanidade.
Eu nunca conheci o inimigo do ocidente, só há sorrisos,
Dentes, sucessos, pouca transparência com o público,
Um cadáver, uma catástofre justificada no assassinato,
Todos sujos de sangue, um crime, um genocídio,
O suicídio da humanidade.
Terrorismo, uma capacidade
Basta causar uma discussão, desapontar um expectativa,
Frustrar um pensamento, castrar uma produtividade,
Enlouquecer com palavras simples, retardar toda
Uma complexidade, sem bombas para detonar,
Sem nenhum ideal suicida.
Frustrar um pensamento, castrar uma produtividade,
Enlouquecer com palavras simples, retardar toda
Uma complexidade, sem bombas para detonar,
Sem nenhum ideal suicida.
quarta-feira, maio 25, 2011
Sem Pretensão
Este poema, meus amigos
Não tem pretensão nenhuma.
Adoro contradições. (hahahaha)
Este poema não te fará ver estrelas
Não te seduzirá com palavras.
Não traduzirá os sintomas de sua alma inquieta
cheia de problemas
Este poema está aqui apenas por capricho
Um mero jogar de palavras
Doce caracol verbalizado
Sem pretensão nem aprumo
Te deixa sem rumo.
Não tem pretensão nenhuma.
Adoro contradições. (hahahaha)
Este poema não te fará ver estrelas
Não te seduzirá com palavras.
Não traduzirá os sintomas de sua alma inquieta
cheia de problemas
Este poema está aqui apenas por capricho
Um mero jogar de palavras
Doce caracol verbalizado
Sem pretensão nem aprumo
Te deixa sem rumo.
domingo, maio 01, 2011
Zapping nas notícias
Seus lides prendem no cérebro,
Sua compreensão falha,
Sua cabeça espalha,
As chamadas ecoam
E a inteligência vaza.
Sua compreensão falha,
Sua cabeça espalha,
As chamadas ecoam
E a inteligência vaza.
domingo, abril 17, 2011
A dificuldade de passar uma ideia numa poesia
Reside na falta de percepção sobre:
1) O peso das palavras;
2) O meu desejo de escrever começo, meio e fim.
Não estar afim é uma falha de opção. Opção poética.
Dormir em um sofá pequeno
Espremer as pernas, encontrar uma posição que não cause lesão na coluna,
Vira de lado, vira de bruços, tenta não ficar com a barriga para cima,
Debruça no braço, ronca com o peso, prega os olhos,
Debruça no braço, ronca com o peso, prega os olhos,
Levanta com dores nas pernas e nos pés,
Alonga, remexe, improvisa.
sábado, abril 16, 2011
Queixumes
Estava aqui eu morto de pêsames
no desalento de meus queixumes
Quão desajeitado fui, ah, pressuposto louco
com os frascos de perfumes
Sugestão de lágrimas, enquanto decifrava
símbolos estranhos que não nos deixam sóbrios
as gotas que escorrem caem das pálpebras erradas
Sob mágica quente, com a plenitude em mente
Afogo-me nos cardumes das pérolas douradas
e este véu com que me visto,
ao apagar meu lume
é negro, atro como betume
não deixa visível nem sombra de risada
e sob este espectral manto levanto
às duas da madrugada
cálido e frio, a lamentar como alma penada.
no desalento de meus queixumes
Quão desajeitado fui, ah, pressuposto louco
com os frascos de perfumes
Sugestão de lágrimas, enquanto decifrava
símbolos estranhos que não nos deixam sóbrios
as gotas que escorrem caem das pálpebras erradas
Sob mágica quente, com a plenitude em mente
Afogo-me nos cardumes das pérolas douradas
e este véu com que me visto,
ao apagar meu lume
é negro, atro como betume
não deixa visível nem sombra de risada
e sob este espectral manto levanto
às duas da madrugada
cálido e frio, a lamentar como alma penada.
quinta-feira, abril 14, 2011
Kurt Cobain se matou em abril
No mesmo mês de uma tragédia com crianças no Rio de Janeiro
E outro assassino suicida, e o amor pela morte, e os sentimentos
Estranhos que não se curam
Colocando culpa em arma,
Em sociedade
Ou em karma.
E outro assassino suicida, e o amor pela morte, e os sentimentos
Estranhos que não se curam
Colocando culpa em arma,
Em sociedade
Ou em karma.
Virada Paulista
É a Virada Cultural em São Paulo,
Um evento paulistano nas ruas do centro,
Entre mendigos e jovens, muvucas e músicas,
Barulhos e bebidas, sem sobriedade
Se viram os corpos na madrugada.
Um evento paulistano nas ruas do centro,
Entre mendigos e jovens, muvucas e músicas,
Barulhos e bebidas, sem sobriedade
Se viram os corpos na madrugada.
Sistema operacional open source
É o patinho feio dos software,
O programa adequado, mas mal-visto,
Mal vestido por sua propaganda ineficaz
E soterrado pelo marketing concorrente.
O programa adequado, mas mal-visto,
Mal vestido por sua propaganda ineficaz
E soterrado pelo marketing concorrente.
terça-feira, abril 05, 2011
sexta-feira, março 18, 2011
Conceitos
Duas meninas, uma de frente para a outra,
Duas de cabelos longos, uma tingida de ruivo,
A outra morena pura, mesma altura, rostos simétricos,
Colados, trocando selinhos, na estação Sé
De metrô, os apegos se aqueceram
E viraram beijos, e os rostos horrorizados,
Mas discretos, se avolumaram ao redor.
"Gosto muito de você" - beijo -
"Gosto muito de você" - beijo -
"Não vou parar de gostar de você - beijo,
Beijo - "Você teve um dia tenso, não teve?" -
Beijo - "Meu mundo anda fora do eixo".
O trem chega na estação, as pessoas de São Paulo se empurram
Beijo - "Meu mundo anda fora do eixo".
O trem chega na estação, as pessoas de São Paulo se empurram
E o casal de meninas é separado - não sem antes mais um beijo -
E um homem com uma Bíblia na mão resmunga para a esposa:
"Feh, beijos, assim, ao ar livre. Tsc tsc".
A mulher concorda com o marido,
E um homem com uma Bíblia na mão resmunga para a esposa:
"Feh, beijos, assim, ao ar livre. Tsc tsc".
A mulher concorda com o marido,
A sociedade julga a menina e seu beijo
Autêntico, o homem vai embora,
A esposa libera a cadeira para uma criança
Portadora de Down, sem mal algum.
Baseado no meu ouvido bisbilhoteiro e sem MP3 pra distrair.
Baseado no meu ouvido bisbilhoteiro e sem MP3 pra distrair.
quarta-feira, março 16, 2011
Samurai ferido
Japão sob escombros
Do terremoto, coberto
Sob ondas do tsunami,
Céu anil, dia tranquilo
Em uma São Paulo hostil.
Em luto pelos desastres naturais no Japão, dia 11 de março de 2011.
Do terremoto, coberto
Sob ondas do tsunami,
Céu anil, dia tranquilo
Em uma São Paulo hostil.
Em luto pelos desastres naturais no Japão, dia 11 de março de 2011.
domingo, fevereiro 27, 2011
Caiu a árvore
E desabaram os cabos
Do poste, cacos
De vidro do lustre,
Ficamos sem luz, no escuro,
Ficamos sem água, imundos.
Em homenagem às chuvas fortes de fevereiro de 2011 em São Paulo, na Zona Norte.
terça-feira, fevereiro 22, 2011
Nas Cinzas de Pompéia
Nas Cinzas de Pompéia
Soterrado por pedra-pomes
Nos labirintos da lava
Está engastado, de certa forma;
um passado vivo
O lupanar calcificado
de vívidas posições eróticas
demonstram a pureza
do quotidianum
Nas Cinzas de Pompéia
Eu vi o Templo de Vênus
A Afrodite dos Romanos
de beleza imortal
Hoje podemos contemplar
a bela Pompéia
E caminhar por entre os mortos
No jardim de fugitivos
E suas posições, talvez um pouco obscenas
Como se acometidos de vergonha
Debaixo das Cinzas de Pompéia.
Soterrado por pedra-pomes
Nos labirintos da lava
Está engastado, de certa forma;
um passado vivo
O lupanar calcificado
de vívidas posições eróticas
demonstram a pureza
do quotidianum
Nas Cinzas de Pompéia
Eu vi o Templo de Vênus
A Afrodite dos Romanos
de beleza imortal
Hoje podemos contemplar
a bela Pompéia
E caminhar por entre os mortos
No jardim de fugitivos
E suas posições, talvez um pouco obscenas
Como se acometidos de vergonha
Debaixo das Cinzas de Pompéia.
sábado, fevereiro 12, 2011
Moça feliz da ponte orca
É baixinha, um pouco rechonchuda, sorriso de aparelho,
Indica aos passageiros o local da fila, mantém a felicidade
Mesmo no sol de trinta e cinco graus, mesmo com a fila de cento e
Quarenta e quatro pessoa, permanece feliz mesmo trabalhando
Embaixo da ponte.
Baixinha, rechonchuda, funcionária feliz.
Indica aos passageiros o local da fila, mantém a felicidade
Mesmo no sol de trinta e cinco graus, mesmo com a fila de cento e
Quarenta e quatro pessoa, permanece feliz mesmo trabalhando
Embaixo da ponte.
Baixinha, rechonchuda, funcionária feliz.
Comercial excessivo
Repete à exaustão seus slogans e frases-chave para produtos randômicos
Na televisão à cabo, que você paga para se livrar dos comerciais convencionais
E comprar os repetitivos.
Na televisão à cabo, que você paga para se livrar dos comerciais convencionais
E comprar os repetitivos.
domingo, fevereiro 06, 2011
Redação inexistente
Reuniões de pauta no Google Docs,
Não vejo o rosto dos editores, compro drops,
Chupo bala de menta, fico sentado com a bunda
Gorda, a digitar.
Não vejo o rosto dos editores, compro drops,
Chupo bala de menta, fico sentado com a bunda
Gorda, a digitar.
sábado, fevereiro 05, 2011
terça-feira, fevereiro 01, 2011
Poesia é um rascunho
De pintura renascentista,
É um rabiscar de anatomia simetricamente
Imperfeita,
É uma rasura rarefeita.
Poesia é uma arte extinta
Mas viva nas entrelinhas,
Viva no vazio artístico,
Viva no espaço e no vácuo
Do querer representar e no objeto,
Fluída entre a semiótica e a ontologia.
sexta-feira, janeiro 14, 2011
Leia poesia
Leia poesia
Você talvez irá descobrir que...
a poesia não fala só de obras,
de espaço cotidiano
da vida que cruza a rua.
- A poesia é mutante.
- ardilosa, indefinível.
- prosaica, indecifrável.
- maleável serenata.
a poesia é do ego,
que procura um abraço
sem precisar arrancar um braço.
a poesia tem estrofes
versos e compassos
ritmo sem embaraço.
a professora nos disse que pode ser heróica, decassílaba ou alexandrina -
tanto faz.
a mim importa o que a atualidade me diz
e que os versos livres dão mais espaço do que uma estrutura iâmbica.
- a poesia pode ser comparada a metáfora-
- sem a metáfora,
- é como um rei sem bispos --
- torres, peões e cavalos-
- sobra somente a Dama pra falar do amor--
ela muitas vezes fala de amor - e canta a dor,-
das moças de fino trato - passa as sendas proibidas--
de aconchego e calor - finta com desejos frágeis-
também trata a poesia - orgulha-se. mesmo desapontada--
a poesia , . , . @!5?:%
é vírgula traço pontuação reticências...
pode conter aliteração vulgarização repetenciação neologismação
até mesmo metalinguagens e compassos absurdos e erros "esdrúchulos"
e todas as hipérboles da elíptica portuguesa
a mãe gramática que ensinou Camões a navegar os Lusíadas
.a poesia já esteve presente
...com Adão e Eva
.....desde a gênese quando Deus
..........disse "fiat lux"
A poesia sempre fala do poeta
Por que nas poucas linhas que a compõem
Quem diz "Faça se a Luz!"
É o poeta.
~~~~a poesia diz tanto quanto mímica
porque os traços leves~~~~
~~~~são os mesmos dos braços que se elevam
ao gesticular emoções~~~~
- a poesia dá margem
para o mais rude dito
ser bela passagem
- você pode lê-la
- do jeito que quiser
- ninguém dá ordens ao leitor.
Ass: Rotiel Repus O.
Você talvez irá descobrir que...
a poesia não fala só de obras,
de espaço cotidiano
da vida que cruza a rua.
- A poesia é mutante.
- ardilosa, indefinível.
- prosaica, indecifrável.
- maleável serenata.
a poesia é do ego,
que procura um abraço
sem precisar arrancar um braço.
a poesia tem estrofes
versos e compassos
ritmo sem embaraço.
a professora nos disse que pode ser heróica, decassílaba ou alexandrina -
tanto faz.
a mim importa o que a atualidade me diz
e que os versos livres dão mais espaço do que uma estrutura iâmbica.
- a poesia pode ser comparada a metáfora-
- sem a metáfora,
- é como um rei sem bispos --
- torres, peões e cavalos-
- sobra somente a Dama pra falar do amor--
ela muitas vezes fala de amor - e canta a dor,-
das moças de fino trato - passa as sendas proibidas--
de aconchego e calor - finta com desejos frágeis-
também trata a poesia - orgulha-se. mesmo desapontada--
a poesia , . , . @!5?:%
é vírgula traço pontuação reticências...
pode conter aliteração vulgarização repetenciação neologismação
até mesmo metalinguagens e compassos absurdos e erros "esdrúchulos"
e todas as hipérboles da elíptica portuguesa
a mãe gramática que ensinou Camões a navegar os Lusíadas
.a poesia já esteve presente
...com Adão e Eva
.....desde a gênese quando Deus
..........disse "fiat lux"
A poesia sempre fala do poeta
Por que nas poucas linhas que a compõem
Quem diz "Faça se a Luz!"
É o poeta.
~~~~a poesia diz tanto quanto mímica
porque os traços leves~~~~
~~~~são os mesmos dos braços que se elevam
ao gesticular emoções~~~~
- a poesia dá margem
para o mais rude dito
ser bela passagem
- você pode lê-la
- do jeito que quiser
- ninguém dá ordens ao leitor.
Ass: Rotiel Repus O.
terça-feira, janeiro 11, 2011
Auto-ajuda é uma mentira
Porque você precisa ficar bem pelo bem ser a única coisa que você possui
Em um mundo infestado pelo absurdo, corroído pela verdade,
Saturado de poucas razões.
sábado, janeiro 08, 2011
Prédio da editora Abril
Um cilindro de vidros, com jardins nos arredores, uma marginal (Pinheiros) fedida,
Trânsito de carros esporádicos, uns narizes empinados, uns sorrisos inesperados,
Um lugar bonito, um lugar grande, um lugar pequeno pra tanta gente,
Um prédio ereto, um labirinto de concreto, frio no miolo,
Abafado fora pelo sol do aquecimento, estorvo.
Trânsito de carros esporádicos, uns narizes empinados, uns sorrisos inesperados,
Um lugar bonito, um lugar grande, um lugar pequeno pra tanta gente,
Um prédio ereto, um labirinto de concreto, frio no miolo,
Abafado fora pelo sol do aquecimento, estorvo.
Almoço de trabalho
Chego, abro o computador,
Trabalho, olho no relógio,
11h, está perto do almoço,
A rua está um alvoroço,
O texto empacou, chamei os amigos pra comer,
Engasguei com um caroço, comi chocolate saboroso,
Voltei ao computador, olho no relógio, 14h,
As horas parecem que não passam - até o almoço,
É um tempo estranho, penoso e leve, trabalho,
Saio, Chego, abro o computador,
Trabalho, olho no relógio, 11h,
Ou seriam 14h? Empaco no texto,
Chamo pro almoço, engasgo com caroço,
Voltei ao computador, olho no relógio, 14h,
Ou seriam 11h?
Trabalho, olho no relógio,
11h, está perto do almoço,
A rua está um alvoroço,
O texto empacou, chamei os amigos pra comer,
Engasguei com um caroço, comi chocolate saboroso,
Voltei ao computador, olho no relógio, 14h,
As horas parecem que não passam - até o almoço,
É um tempo estranho, penoso e leve, trabalho,
Saio, Chego, abro o computador,
Trabalho, olho no relógio, 11h,
Ou seriam 14h? Empaco no texto,
Chamo pro almoço, engasgo com caroço,
Voltei ao computador, olho no relógio, 14h,
Ou seriam 11h?
Textos não óbvios
Como tiro de pistola
Acidental, bomba caseira
Que corrói os arredores,
Como sorte de roleta de cassino,
Como sorte de roleta russa
Com revólver no meio da fuça.
Acidental, bomba caseira
Que corrói os arredores,
Como sorte de roleta de cassino,
Como sorte de roleta russa
Com revólver no meio da fuça.
Textos óbvios
Barco de papel
Na banheira do meu banheiro,
Castelo no canteiro de areia,
Torre de cartas, trilha de dominó,
Estruturas frágeis.
E essenciais.
Na banheira do meu banheiro,
Castelo no canteiro de areia,
Torre de cartas, trilha de dominó,
Estruturas frágeis.
E essenciais.
Sinto uma culpa
Da conversa não ocorrida,
Mas sinto que tentei,
Então se trata de uma corrida
Desonesta.
Mas sinto que tentei,
Então se trata de uma corrida
Desonesta.
O passado
O passado não existe,
O passado existe no passado,
O passado existe no futuro,
E no presente,
Mas o passado não existe, é abstrato,
É fuga, é encontro, é volta
Até o rabo do cachorro.
O passado existe no passado,
O passado existe no futuro,
E no presente,
Mas o passado não existe, é abstrato,
É fuga, é encontro, é volta
Até o rabo do cachorro.
Gullar diz
"Fazer uma poesia em que a linguagem nascesse com o poema",
Mas me sinto incapaz de criar algo do que fiz
Do nada, que refiz.
Mas me sinto incapaz de criar algo do que fiz
Do nada, que refiz.
O pedinte com guitarra
... elétrica mostra seus dotes no cruzamento
Da Rua Augusta com a Avenida Paulista,
Na frente do Shopping Center Três,
Toca com aplificador na cintura, carregado
Com pilhas de dois As, cabelos crespos
Presos, sem feições apelativas, sem parar.
Usava uma guitarra branca,
Marca Tagima, ofuscada
Por poucas manchas e sujeira.
Da Rua Augusta com a Avenida Paulista,
Na frente do Shopping Center Três,
Toca com aplificador na cintura, carregado
Com pilhas de dois As, cabelos crespos
Presos, sem feições apelativas, sem parar.
Usava uma guitarra branca,
Marca Tagima, ofuscada
Por poucas manchas e sujeira.
Poema não é só sujo
É imundo, é rastejante,
Gerninal, parasita brutal
De toda e qualquer elaboração
Mais bem posicionada.
O poema é o micróbio da mente,
A traça da ideia,
O fiapo latente.
Gerninal, parasita brutal
De toda e qualquer elaboração
Mais bem posicionada.
O poema é o micróbio da mente,
A traça da ideia,
O fiapo latente.
Estação Paraíso
É um inferno de engarrafamento
Urbano em qualquer horário,
Em qualquer variável,
Para qualquer homem
Que tente mudar
Do azul ao verde
Do verde ao azul,
Das linhas do metrô
Em rede.
Urbano em qualquer horário,
Em qualquer variável,
Para qualquer homem
Que tente mudar
Do azul ao verde
Do verde ao azul,
Das linhas do metrô
Em rede.
Reclamar no boteco
Da política, do futebol, da falta de dinheiro, da falta de amor, da falta do amante,
Do copo vazio, do vazio existencial, da essência do fundo da cerveja,
Do gosto distante da cereja, da tecnologia distante, do barulho da tevê,
Da falta de assunto, da falta de presunto, no assunto que presumo.
Do copo vazio, do vazio existencial, da essência do fundo da cerveja,
Do gosto distante da cereja, da tecnologia distante, do barulho da tevê,
Da falta de assunto, da falta de presunto, no assunto que presumo.
Ponte orca
Uma lotação detestada
Por habitantes de São Paulo
Que nunca andaram nessa forma de veículo,
Nesse remendo entre o metrô Vila Mariana
E o trem da Cidade Universitária.
É um veículo organizado, embaralhado
Pelo tráfego intenso de carros,
Sempre com uma janela arborizante,
Aberta com força, no fundo.
Por habitantes de São Paulo
Que nunca andaram nessa forma de veículo,
Nesse remendo entre o metrô Vila Mariana
E o trem da Cidade Universitária.
É um veículo organizado, embaralhado
Pelo tráfego intenso de carros,
Sempre com uma janela arborizante,
Aberta com força, no fundo.
sexta-feira, janeiro 07, 2011
Poesia é uma tolice
Tola brasa, toda fama
É escama, é pele reptiliana,
É curta, é mínima, insignificante,
Fria, morna, aquecida, é uma clara
Idiotice.
É escama, é pele reptiliana,
É curta, é mínima, insignificante,
Fria, morna, aquecida, é uma clara
Idiotice.
Dirigir em alta velocidade
Dizem que é comum, que é como no videogame,
Que é só pressionar o pedal da direita, que é só desviar dos obstáculos,
Seguir a trilha,
Sentir a brisa
Na nuca.
Mas morro quando o ponteiro marca só 90 km/h.
Abraço a guitarra
Pensando que é a namorada,
Adormeço de braços cruzados no braço
Com as cordas rentes à pele,
E o corpo apoiado na barriga.
E sonho com tua pele aquecida.
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