segunda-feira, março 12, 2007

A Queda da Rosa

A Queda da Rosa

"Clara manhã, obrigado
o essencial é viver!"
- Carlos Drummond de Andrade

I

A Rosa.
Certezas
diferentes
e iguais às minhas.

Repousa na terra: para
ela migrou a vida; nela
se deita a morte.
Uma rosa que nasce
e da terra suga a vida,
diverte-se enquanto
um cadáver abaixo dela se esconde...

A Rosa se enrola como um caracol...
"Olhem! Ali nasce outra!"

II

A semente enterrada; o óvulo, imaturo.
Na Terra
germinando...
Uma prostituta, um padre, um coveiro.

Uma criança no ventre,
luta, espera.
Seu caule, interno
à terra, ao calor, à placenta
da mãe; pré-funestos.

Nasceu a Rosa!
Livrou-se da prisão da terra
úmida e fértil.
Forma – simplicidade.
Tanta vida em tão pouca matéria!...

O tempo corre. Tanto
para quem vaga quanto para quem fica.

III

Uma Rosa não é uma rosa.
Atenção à vida.
Cor, perfume.
Mijo, sutileza.
Morte.

Uma rosa não é mais nem menos
que um carneiro uma pomba
uma garota que come chocolates.

Rosa-flor.
Rosa-cor.
Rosa-vida.
Rosa-náusea.
Rosa-virilha.
Rosa-mortalha.

Os sentidos não à todos confundem igualmente.
Eu falo – mas muitos não ouvem-me.
(ou escutam-me)
A Rosa fala – e não a entendemos.

Passado futuro fundem-se
no Interminável.

Colha uma flor
em seu jardim, olha-a
como quem olha toda
a vida de um mundo de vida
passageira e instantânea.

Uma janela se fecha
um pêndulo pára
a moça suspira:
algo ocorreu.

O tempo parou. A vida parou.
Tantas mil coisas
padecem e nascem
num mísero instante. Um mísero instante
de suspiros,
partições
de idéias, de homens,
um instante como todos
os outros.

IV

A noite que chega, afasta
os outros, o outro, some
com a luz, e fica o reflexo
da vida, da morte fria
e pálida... pálida
como um corpo abandonado à beira da estrada,
a manta com que a mãe
envolve o filho à noite,
uma noite gelada.

O caule se quebra, a flor murcha,
o câncer se instala, a mente perece;
e tudo volta à aspereza do túmulo!
Húmus, alimento, no solo – saturado.
(o mais adubado solo é o do cemitério)

Nos olhos, uma vez brilharam sonhos
agora: raízes
de uma roseira...
E as vértebras de uma cobra morta.

Carne podre serve de alimento:
A COMISERAÇÃO DOS ARTRÓPODES!
Sarcófagos que guardam só poeira,
ossos, lembranças – mais nada.

Sob um poço fechado pelo triste coveiro,
nasce uma flor...! Uma única flor...!
Aquela que se alimenta
do que à terra o Morto legou.

V

Uma Rosa está caindo
esperando alcançar o chão...
Tendo sua imagem vista e admirada,
mesmo estando seca
e esmagada.

27/12/2006.

.

Foi montado durante meses, quase um ano de trabalho. Representa mais que a vida; diferente do outro, representa a minha vida e forma de encará-la e de como eu penso: entender este poema é entender a mim.

Agradeço todos que lerem e comentarem.

2 comentários:

Carlos Antonechen disse...

Poema que transpira o romantismo decadente, bem o estilo do dog. Como o senhor gosta de métrica também, me assusta, nunca conheci quase nada dela. Se não disse, considero a decadência a parte melhor do romantismo, bonita e triste, exaltando a taciturnidade de toda poesia. Ultra-romantismo do ultra lirismo.

Chega de devaneio!

Guilan disse...

de vez em quando eu me aventuro pelas rotas determinadas e metódicas da métrica. XD