terça-feira, março 06, 2007

Necropedofilia

Dois pequenos olho, um tímido nariz, uma pequeníssima boca; tudo na face
daquele anjinho que seduzira-me: tornou-se amada
apesar de morta, triste e infantil;
mas, em breve, meu amor será substituído pelo do verme...
não deixarei! Hei de mantê-la a meu lado;
em minha casa ficará! Mesmo estando fria...

Empalhada como um animal; uma boneca fria
e eterna; constituir-se-á isso – e apenas isso: boneca de inexpressível face;
tornar-se-á um ornamento com outras assim ao seu lado!
Afrodisíacos!... Enfeites!... Minha amada
provocará o libido meu e dos Criados; e o verme
invejará a orgia bacanesca em torno do minúsculo cadáver infantil...

Desejo-te: teu semblante erógeno e infantil
provocas-me; e, embora incomum, minha paixão por tua fria
carne é real. Não há verme...
Sequer um... que ganhará sua face
além de mim! – pela eternidade será minha Lolita, querida, amada,
e ficará comigo, sempre a meu lado.

Sortudo daquele que adentrar minha tumba: lado a lado,
milhares de corpos – empalhados – posicionados em uma orgia – eterna e infantil –
de proporções sádicas; não haverá mais pessoa querida ou amada:
só um museu cadavérico. E fria,
triste e aterrorizada manter-se-á a face
de nosso visitante; tornar-se-á o almoço do grande coveiro-mestre: o verme.

(almoço ou jantar? tanto faz...) E como me esqueço dele! Do verme –
que responsável é pelo sumiço da carne, e ao lado
da ossada, tem sua sesta. E perante à face
angelical e pálida – nem mesmo a infantil... –
não sucumbe! Nem imagina, pensa ou comove-se com a razão da fria
temperatura do corpo de quem só foi, depois de morta, desvirginada e amada...

Desculpe-me, pequeno entalho sem vida: o verme tem a mesma inocência infantil
que você. Não conhece a morte, mesmo morando a seu lado; nem sabe que sua fria
refeição teve outrora na face o olhar meigo de uma criança amada...

15/11/2006

.

Uma sestina: poema criado com base em 6 palavras dispostas no final de cada verso, alternando-se em cada uma das 6 estrofes e terminando em um terceto em que cada verso possua duas dessas palavras, sem repetição.

Um desejo antigo e forte meu. >"<

4 comentários:

Unknown disse...

Você sonha com coisas bizarras demais @_@

Anyway, quanto a montagem ficou muito bom. Me lembrei do poema do Byron, ele fala bastante de vermes XD

Pedro Zambarda disse...

Desejo devasso, perturbado contraditório. Bem Byron mesmo.

Carlos Antonechen disse...

Iria te chamar de Byronista, mas ja fizeram isto antes. ja o tinha visto e continua sendo um bom poema devasso, decadente.

Guilan disse...

perturbador.