quarta-feira, abril 30, 2008

Águas da Musa

Muda Musa maravilhada outrora
De memórias amorosas vividas
Em um não sei o porquê escondidas
De toda sufocada fez-se aurora:

Vagando em momentos a mente estoura
A imaginar futuro deslumbrante
Que sentem a vida contagiante
De mudar uma vontade estouva

Ruidosas as águas da inspiração
Cantam um sublime momento a Musa,
E inundam os pensamentos caóticos

Fazendo-se em turbilhão de emoção
Que sentem contagiante uma vida
Renovar-se em palavras esquecidas

quinta-feira, abril 24, 2008

O escrever: por e para mim

Escrever é dar a cara a tapa.
E se hoje (elemento dêitico temporal para especificar o momento dessas observações) escrevo é por timidez, porque meu ser me impede de expressar através da fala, com um mínimo de desenvoltura, o que penso e sinto.
Hoje escrevo porque, de tanto e tanto ler tantas e tantas coisas maravilhosas (e quantas ainda por vir!), desenvolvi em mim a pretensão de achar que através de minhas palavras as pessoas também poderiam se sentir tocadas, seja se encontrando em meus rabiscos, seja desenvolvendo uma antipatia pelos mesmos (e conseqüentemente por mim).
Hoje escrevo porque entre desenhos, informática, números, jogar bola, ou qualquer outra coisa, nada me agrada mais do que escrever (com exceção de ler).E também porque todo o processo de início de um texto, de uma frase, ou a escolha de uma palavra, fascina-me. O trabalho de penso inserido nessa prática alimenta-me.Escrevo porque dói, e porque essa dor é minha fuga. Escrevo para me contradizer e porque ainda não encontrei melhor forma de solidão.
Escrever é enfiar as mãos em um fundo escuro, por ora quieto, com agulhas bem posicionadas em pontos estratégicos. É confrontar esse escuro-quieto-tranquilo com uma claridade imensamente forte e voraz, denominada realidade, oposta à ilusão de se imaginar o que não se é.
Í.ta** - pensando e escrevendo. pensando o escrever.

terça-feira, abril 22, 2008

uma dica:



não ame seu pais
porque ele foi uma invenção arbitrária
não ame sua pátria
porque ela foi inventada sem motivo
não ame sua bandeira
porque ela não passa de um pedaço de pano
não ame sua terra
porque ela não passa de pó
não ame seu governo,
porque ele jamais foi digno
ame apenas seu povo
porque,
bem ou mal,
familia é familia

domingo, abril 20, 2008

uma inocente pretensão

quando viro do avesso
tão fundo, profundo
vejo-me assim
quebrando todos os
objetos
atirando todos os fragmentos
em um lugar que não existe

caótico, colérico
perverso até demais
parido ao contrário
debaixo d'uma maldição materna

não escondo meu sorriso
as minhas desculpas
não escaparão
meu esgar culpado
traz marcado
a prova da competência

há algo alem desta urbe
que me segura
quando o descontrole não responde
quem está no volante?
se você me forçar
acho que vou saltar do terraço

e cair num toldo

sou um surdo pastor de ovelhas
um áugure desafortunado
que vigia o rebanho a pastar
e atenta aos outros
com palavras de destruição

é melhor você não falar
se veio aqui pela resposta
deixarei-te na penumbra
fria como a praga que te aguarda

antes digno de graça
pernicioso me tornei
com tão brutal semântica
atravessada na garganta

com um sorriso mais do que frenético
não escondo minhas mãos cheias de culpa
meus pecados
não irão embora

sou a atormentada cria eterna
sob uma maldição materna.

Escreva sempre

Escreva sempre, escreva sempre, escreva sempre, escreva para sempre, escreva como sempre, escreva para o sempre, escravo do sempre, escravo do ventre, inscreva no ventre, instrua sempre, informatize sempre, fadiga sempre, escreva no século XXI, escreva no real, escreva coisa banal, escreva sempre, escreva sem precisar, escreva por precisar, escrever é preciso, viver sempre, viver sem pretensão, escrever sem pretensão, é preciso não ter pretensão, escrever precisa a vida.

Poesia em três passos

Primeiramente, queira mudar o mundo
E não saiba como, se perca como um todo,
Cultue a vadiagem.

Em segundo lugar, transforme o ócio
Em semente do ódio, em carvalho
Moralista, em metáfora naturalista,
Cultive a imaginação, a curtição,
A utilização.

Finalmente, mexa os ingredientes,
Erre nos textos, mude os terços,
Faça versos vazios e certeiros,
Faça versos cheios e pequenos,
Não se preocupe com alheios,
Observe o cosmo nesses olhos,
A luneta dos homens cheios.

Crises Estomacais/Intestinais.

O verdadeiro Cavalo de Tróia trafega
No embaraçoso e serpentado caminho
Do meu intestino delgado.

O estômago contrai, o corpo
Esterlizia seus dejetos
Em um vaso oval, trajetos
Que vão ser descartados.

Esse presente de grego
É um desespero, um emprego
Pra masoquista, uma oportunidade
Às palavras entaladas, palavrões.

Fôlego

Tenho uma professora bastante especial, que analisa, de forma conceitual, tudo o que é escrito.
Ela já foi escritora, já foi pensadora de seu ideal, foi reflexo do seu olhar mais sincero e concreto.
Hoje ela diz que tudo o que produz é descartado, que a teoria suprime seu gosto criativo.

Eu, ao contrário, prefiro manter as produções, pretendo renascer a cada segundo, com várias dores, vários cortes profundos.

E ser o que eu sempre quis, ou, ao menos, se atirar pelo ar.

Até o pulmão estourar.

quarta-feira, abril 16, 2008

Vento no litoral

O retrato da dor causada por uma partida repentina, para o sempre. O fim de um relacionamento. O desequilíbrio emocional de Renato Russo. De repente, Robert Scott, a grande paixão (ou amor seria melhor?) da vida de Renato, vai embora do Rio de Janeiro, do apartamento em que ambos moravam, para nunca mais voltar. Sem justificar-se de nada. Apenas a ação de ir. E no líder da Legião Urbana fica um profundo corte a perfurar-lhe o coração, o corpo e a alma, chamado perda.
Renato sabia que nesse mundo ninguém é dono de ninguém (ao menos não deve ser). Não se considerava dono de Scott – rapaz a quem conhecera em uma de suas passagens por Nova Yorque – nem se via como servo do mesmo. A perda sentida não era de Scott, enquanto corpo, enquanto homem. A dor relacionava-se ao amor interrompido bruscamente, aos sentimentos únicos vividos entre os dois, nos rápidos dois anos em que viveram juntos no RJ. A dilacerante perda era de duas almas que longe uma da outra pouco provável sobreviveriam; Renato sentia isso.
Será Scott não se considerava merecedor de um amor tão intenso e profundo quanto o que Renato sentia por ele? Será Scott não sentia poder contribuir a tanto amor? Não sentir com a mesma intensidade? E por isso preferiu partir, como forma de respeito ao sentimento puro de Renato? Será havia se esgotado em Scott aquela paixão que os unira? Nada se sabe. Apenas ficou o registro do quanto esse sentimento chamado saudade, aliado à dor, tomou conta do ser de Renato Russo, dilacerando-o com rapidez, num mesmo passo em que ele sentiu que deveria erguer-se e aprender a viver com essa faca pontuda dentro de si, fazendo o possível para não se deixar ferir demais por ela.
É o que fica claro nos versos de Vento no litoral. O desejo de deixar-se ir, “Eu deixo a onda me acertar / E o vento vai levando tudo embora”, e a sapiência de que se deve ficar: “Quando vejo o mar / Existe algo que diz: / - A vida continua e se entregar é uma bobagem”. A dor da perda de tudo o que se viveu e planejou junto, a ciência de que aquele sentimento não mais seria vivido, e o quanto seria doloroso seguir em frente somente com a lembrança do que um dia sentiu-se na prática, Renato demonstra ao cantar “Dos nossos planos é que tenho mais saudade / Quando olhávamos juntos na mesma direção (...) Agimos certo sem querer / Foi só o tempo que errou / Vai ser difícil sem você”.
O poeta apresenta o quanto o sentimento por Scott permaneceria consigo até o último dia de sua vida, e que jamais seria possível apagar as marcas que ficaram no seu ser. Canta ele “Aonde está você agora / Além de aqui dentro de mim? (...) Porque você está comigo o tempo todo”. Ao mesmo tempo sabia que se erguer era fundamental. Seguir em frente por si e por quem, segundo o mesmo dizia, era a verdadeira Legião Urbana: o público, os fãs. A consciência de que, apesar de toda a dor a cortar-lhe a alma a fundo, ele teria que, a partir daquela ruptura brusca, viver por si mesmo, sentir-se bem consigo mesmo, está expressa nos versos: “Já que você não está aqui / O que posso fazer é cuidar de mim / Quero ser feliz ao menos / Lembra que o plano era ficarmos bem?”.
Renato parecia saber que através da escrita de seus versos e das composições das músicas da banda ele poderia ajudar-se a superar tal perda. É o que demonstra ao cantar “Sei que faço isso pra esquecer”, este isso em referência ao processo de produção dos versos e da música, momento em que o poeta sentia que valeria a pena seguir em frente.
Vento no litoral é uma das mais belas músicas escritas e cantadas por Renato Russo. Pouco mais de cinco minutos de duração que levam um ouvinte sensível a sentir-se sob as pedras lisas de um mar agitado, sendo levado pelas ondas, acompanhado pela ajuda do vento, tirando de si as marcas indeléveis que uma paixão interrompida causara. Num mesmo instante em que se pode visualizar o movimento das ondas trazendo de volta à beira da praia o mesmo ser anteriormente engolido, agora já mais leve, sem tal faca cortante dentro de si chamada saudade, e pronto para seguir em frente por si mesmo, relembrando com carinho e respeito o que um dia tornara-se amor vivido na prática.
Na versão ao vivo da música, no disco Como É Que Se Diz Eu Te Amo, Renato diz: "Eu cheguei à conclusão de que se o amor é verdadeiro não existe sofrimento, senão fica um cara doente como o cara dessa música agora", e começa a cantar os versos de Vento no litoral. A consciência do estado no qual ele ficara com a partida para sempre de Scott. O reflexo principal do fim desse amor, no autor dos versos dessa música, é o ceticismo que passou a tomar conta dele no que se refere a um possível amor verdadeiro nessa vida terrena.
Uma obra prima de alguém que sempre deixará nos seus eternos admiradores esse mesmo sentimento que o consumiu por certo tempo: saudade.

Í.ta**

domingo, abril 13, 2008

Cabelereira Crespa

Crespice, que chatice
Aos olhos alheios,
Aos comentários pentelhos.

Chapinha tá na moda,
Carequice, apesar do frio,
Dá e sobra.

Sou de cabelo retrógrado,
Com pão sou Jesus alado,
Com guitarra sou róquenrou
Irado.

sexta-feira, abril 11, 2008

Jornal

http://boladafoca.blogspot.com/

Não, não é poesia e nem literatura.

Abelha Rainha

Abelha-Rainha

o que perscruta a mente insana
que redime a mente sã?

era uma pérfida abelha-rainha
perdida nas austeras horas
daquela longa e devassa noite
voava pelos becos escuros
a bisbilhotar prostíbulos
ferretreando proxenetas
enlouquecendo as mulheres
que exercitavam as (...?)

desenhava ganchos em linha
na parede das passagens
perscrutando à luz de velas
um labirinto de esfarrapados
perfura gargantas incômodas
despedaçando insolências

e de vão em vão
estalava o ferrão
mas por inexata
razão
com a violência de um peteleco
despedaçada foi-se então.

sinto falta do zunzum
das asinhas agitadas
enxeridas e afiadas
acho que tornei-me
mais um daqueles.

o que perscruta a mente má
que redime a mente vã?

Realidade insana

Da cruel insanidade mental
povoada pela limitada lógica,
emergem as destruidoras dúvidas,
que aquela realidade circundam.

De nós nunca antes desmatados,
agride à loucura humana
aquela força toda interna,
que a vida externa não explica.

E a coexistência de dois mundos;
o dele, que a consciência fere,
e o dela, que chora a verdade;

jamais um elo constituem
até que aquele desapareça
no complexo infinito do outro.

segunda-feira, abril 07, 2008

Tentação do Não-Conseguir

A tentação do não-conseguir
Não é o desespero, este
Ao contrário do que se possa ouvir
Não é o não-esperar.

Impregna nossa mente, uma peste
Com pensamentos desconexos:
Vermelhos, azuis, homicidas...

De fogo e substância ácida
Com inúmeros venenos anexos
Vontade de ferro, de vagar.

Vontade de apagar,
Apagar-se ao desespero,
Desespero é escuridão,
Obscura voz muda em vão
Que grita atroadora
E nada e ninguém toca...

É como um oboé quebrado
Em ver sos li vre s,
Que esganiça as notas
À aguda baforada de seu musicista
Não é o desespero, sua música
É a música sua conquista...

Mas o desespero recorrente
Senóide...
São palavras descontentes
Sentimentalóides...
Palavras não pertinentes
Implausíveis...
Impossíveis...
Inacessíveis...
Irreconhecíveis...
Decibéis infinitos soprados ao além
Vociferações mortas vistas por ninguém.

É a sala escura e o desespero plangente,
O momento triste de se virar gente
E deixar o mundo de Alice no lado escuro da Lua;
Hora de vagar, de ir enfim pra rua...
(E não conseguir
N'infinito porvir
D'incessante fracassar)

domingo, abril 06, 2008

Blasé

Biquinho pro lado,
Feições do vaso,
Vernizadas e maleáveis
Como papel almaço.

Tudo se fala,
Pouco se resvala,
Pouco revela.

Reticência armada,
Ares de cilada
Perseguem a cena
Filmada e, teoricamente,
Falada.

Não ter um porquê,
Ver a pomba no fio do poste,
Uma velha sem laquê
Apavorada com diversões
E porre leve de champanhe.

Blasé, saber para quê?
Espere outro anoitecer que vaporize os ares
E venha me dizer histórias, os lares
De quem fez muito,
Ou de quem se omitiu e foi inútil.

Beicinho pra frente,
Cara de quem entende
E o jeito idiota, de repente.

Borboleta Amarela

És uma borboleta
Que apenas voa
Mas nunca passa

És em contraste linda
Na liberdade amarela
E na sombra voa
E na névoa passa

É de toda bela
Essa borboleta que voa
Mas nunca passa