terça-feira, julho 15, 2008

Como matar Deus (e se matar)

Negar,
Refutar a garra que me agarra
Na masmorra que é vida, armadura.

Primeiro veio o homem,
Ou o homem veio a si, primeiramente,
A existência veio do sêmen
Nadador e penetrador do óvulo, somente.

Humanos olhos que enxergam,
A mente que fala, a esquizofrenia
Que trepa com nossos genitais,
Resvala nos pensamentos difusos,
Nasce uma imaginação.

Imaginação é senso,
Senso em conjunto vira consenso,
Imaginar é ser tenso,
É deixar de ter um olhar tenro.

Surge o superior,
O que fica abaixo e o interior,
Pode ser um homem de barba branca,
Ou uma pomba retardada, também manca.

Deus dialoga com o homem
E este apenas fala consigo,
Não porque é pecador,
Mas porque é amador.

(de si próprio, iniciante e penitente)

Dentro de tantas mitologias,
Transpassando as igrejas e as mesquitas,
A herança final do rito é o grito da razão,
E a esquizofrenia duplica, é a cisão
Dos saberes, a desapropriação
Desproporcional, idéias em suspensão.

Veio o sangue pelo nome divino,
Veio o equívoco científico,
(Cruzados e Bombas Nucleares, qual é o pior?)
Dormem os meninos entorpecidos,
Vieram todos os símbolos e todos os fantasmas,
A humanidade se revelou no miasma.

Surgiu um bigodinho maroto
E disse que Deus estava morto,
Surgiu um turbilhão de fragmentos,
O homem voltou a viver o momento.

Da apneia dos conflitos,
Surgiu a mais atéia das composições,
E a mais religiosas das confusões.

Ateu, tua religião é um Deus
Da negação, uma afirmação,
Uma admiração inimiga.

Negar o superior virou desculpa
Para selar a catapulta
Do assassinato,
Para quebrar a crença
Com o tesão cético.

Não se desacredita em Deus por vontade,
Mas deixa-se de acreditar por maldade.

Vingança é o credo do ceticismo,
Matança de seus órgãos internos,
Cínicos.

(onde foi parar o fim da Igreja?
vocês fundaram um ritual da suspeita,
um terrorismo de nascença,
não é um Deus tão temido
quanto o mais antigo?)

(homem sempre cria ´Deus´
nem sempre com um nome, nem sempre como um dos seus,
mas imaginar, enlouquecer e admirar são o crer e o cegar)

(somos estrangeiros, somos extraterrestres,
crentes ou desordeiros,
estamos sempre a pensar, ser.)

"Sade irá negar portanto o homem e sua moral, já que Deus os nega. Mas negará ao mesmo tempo Deus, que lhe servia de caução e de cúmplice até então. Em nome de quê? Em nome do mais forte instinto daquele que o ódio dos homens condena a viver entre os muros de uma prisão: o instinto sexual. Que instinto é esse?
--
Sade irá negar Deus em nome da natureza - o material ideológico de seu tempo fornece-lhe discursos mecanicistas - e fará da natureza um poder de destruição. Para ele, a natureza é o sexo; sua lógica o conduz a um universo sem lei, onde o único senhor será a energia desmedida do desejo.
--
Se Deus mata e nega o homem, nada pode proibir que se neguem e matem os semelhantes."

Albert Camus, O Homem Revoltado.

5 comentários:

Guilan disse...

Ateu, tua religião é um Deus
Da negação, uma afirmação,
Uma admiração inimiga.

fasciannte.

Anônimo disse...

Há algo que é morto antes de ter sido vivo?

O que o bigodinho diria sobre isso? Teria ele admitido a vida de deus anteriormente?

Admissões à parte, o que é inadmissível é o rumo dado pelo ser humano à crença. Não é só uma crença; Uma doença! Isso que é. Um fanatismo excessivo... Segundo o bigodinho, as pessoas são necrolatras?

Não há um erro em ser ateu, há um erro em necessitar de deus para sê-lo. Muitos ateus simplesmente o são para ir 'contra o movimento'. Sempre que vêem algo de deus, se postam totalmente contra... O erro deles é ir contra o fim e não contra o meio. O meio é o sujo, o meio é o miasma, o ícor, a merda.
Não há problema em se acreditar ou não, há problema nas bombas atômicas, nas mortes, nas discriminações, nos costumes criados a partir disso que trazem desgraça dia após dia à humanidade.

O erro não está em crer ou não em deus, está em simplesmente ser humano.

Pedro Zambarda disse...

Camus diz algo importante sobre o bigodinho. Não vou pegar exatamente a epígrafe, mas vou reproduzir o que entendi:

Nietzsche não disse que Deus estava morto. Ele viu isso na socieade. Admitir a morte de Deus, a falência do cristianismo como era feito, foi uma inovação para a época dele.

Bom, de resto, o will pegou bem o espírito do que eu disse.

Aión disse...

Como pode o homem considerar Deus se nem ao menos pode admiti-lo, ou seja, nem ao menos o pode defini-lo?
Deus é muito mais do que nomeamos ser Deus. É tanto, que esse nome nos é uma justificativa para o que não entendemos, o motivo do milagre?
Oras, se não podemos defini-lo, podemos ao menos dizer-lhe suas características e provar que Ele existe. E para tanto, basta confrontarmos teorias errôneas sobre a criação do universo.
O tal do Big Bang, se não existia nada, como pode ter um ponto de massa concentrada que explode? Não, não e não, tentar explicar a origem da matéria com a matéria é um ciclo infinito, não há fim (ou será que não há começo?).
Podemos dizer, então, que Deus é o limite entre o nada e o tudo, entre existir e não existir.
Estamos acostumados a sempre dar uma causa, um começo e um fim, mas como achar esses elementos em um ciclo?
Necessitar acreditar em algo, é uma forma de tentar explicar o , até agora, inexplicável. Faz parte da condição de seres dotados de individualismo, expresso em sua liberdade. Pensamos, e com isso somos o que somos, "Homo sapiens sapiens". O saber é uma forma de nos afirmarmos diante do eterno, tentar tornar nossa ínfima existência em algo notável diante do infinito.

Pedro Zambarda disse...

genial, Eric.