Contarei uma estória simples, um trecho limpo,
De natureza ampla, num ponto efêmero.
As teclas desciam e subiam num ritmo apetitoso,
Notas subiam até a imagem do cérebro, vagarosas,
Era um menino com menos de dez, tocando
No âmago dos cinqüenta anos.
Essas teclas só subiram agora, ele passou as mãos no rosto esguio,
Em seus olhos verdes cor de água, em seu pensamento muito valente,
Potente em sua criatividade, delicado como sua intimidade, sua timidez
Exposta, procurava nem sair de casa, nem sair de sua própria cabeça.
Passou outras vezes a mão pelo seu companheiro enorme e negro,
Cujas cordas silenciosas povoavam seus sonhos, seu desejo
De se ver tocando num palco, sem medos ou desesperos.
No entanto, nunca passou do estado de tocar a si mesmo,
Tocar uma música para si e sentir, no bruto, as sensações etílicas,
Tocou a si e se tornou diferente de todos, num esforço a esmo.
Sentia-se sozinho,
Sentia-se abandonado até quando tocava o piano,
Sentia-se sozinho e abandonado com seu piano.
Teclas descendo, mas era feliz, era assim, como uma atriz
Que recita um canto melancólico, mas que se enriquece
Com o doente, com a arte entre a gente, sensível quis
Que o mundo inteiro chorasse como ele faz, todo dia.
Lágrimas e teclas,
Dos humanos, talvez um dos mais vividos deles,
Nunca teve uma garota, um orgasmo real, um reles prazer
Corporal,
Teve sua música, suas lições e emoções, encontrou
Seu próprio fazer analítico, metódico e poético.
Lágrimas e teclas,
Não sinta dó de quem chora,
Nem de quem parece eternamente só,
Que cora poucas vezes.
Lágrimas e teclas,
Não procure sentir tudo o que o pianista
Expressa, procura na tua alma
A tua melancolia secreta.
sábado, novembro 03, 2007
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3 comentários:
Sublime.
Não tenha DO
Tente se REdimir
MIsturando a música
FAzendo o novo
SOL do alvorecer
LA bem longe
De SI...
Realmente cheio de sentimento. Lindo.
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