Amor, vazio amor
De vasos e laços frios
Amor pungente e vazio
Cuja melhor rima é a dor
Amor, estranho amor
Que mais fere do que deixa aferir
A quimera dantesca que nos faz imergir
Pitoresca essência do sincero terror
Amor, carbônico amor
Fruto apenas de uma bioquímica cerebral
Como pode algo tão pequeno fazer-nos tão mal?
Como esses bárbaros versos de texto sem cor...
quinta-feira, janeiro 31, 2008
Palavras Vazias
As palavras dizem-se vazias
Quando o branco do papel
Se torna algo mais belo
Que qualquer idéia
A vontade transcende
O poder de escrever
O quanto és linda
Aos meus olhos
E essas palavras a mancharem
Algo mais belo que escrevo
Contrastam com minha vontade
De dizer que te amo
Num mundo de papel
E tintas vazias
Quando o branco do papel
Se torna algo mais belo
Que qualquer idéia
A vontade transcende
O poder de escrever
O quanto és linda
Aos meus olhos
E essas palavras a mancharem
Algo mais belo que escrevo
Contrastam com minha vontade
De dizer que te amo
Num mundo de papel
E tintas vazias
terça-feira, janeiro 29, 2008
Etilismos
Vejo o homem cambaleando,
ridiculamente sublime,
sem consciência do que faz,
sem sofrimento pelo que é.
Eu também cambaleio
pendendo para o lado,
cambaio para o esquecimento,
sentindo o mundo como ele é
ou talvez como poderia ter sido,
quiçá como gostaria que fosse.
Imerso nos sentidos e sensações
sequer ouso pensar em algo,
receoso de afugentar essa alegria
etílica e artificial, é verdade,
mas muito mais espontânea que
essa carapaça de sombra e sarcasmo.
Evito pensar na vida, pensar em algo,
pois a felicidade é a aptidão natural
de quem não pensa nem se preocupa.
Tento guardar meu rebanho de idéias negras
minha floresta de de sonhos inconjuntos.
Fracasso. E escrevo esse poema.
ridiculamente sublime,
sem consciência do que faz,
sem sofrimento pelo que é.
Eu também cambaleio
pendendo para o lado,
cambaio para o esquecimento,
sentindo o mundo como ele é
ou talvez como poderia ter sido,
quiçá como gostaria que fosse.
Imerso nos sentidos e sensações
sequer ouso pensar em algo,
receoso de afugentar essa alegria
etílica e artificial, é verdade,
mas muito mais espontânea que
essa carapaça de sombra e sarcasmo.
Evito pensar na vida, pensar em algo,
pois a felicidade é a aptidão natural
de quem não pensa nem se preocupa.
Tento guardar meu rebanho de idéias negras
minha floresta de de sonhos inconjuntos.
Fracasso. E escrevo esse poema.
início
Antes de postar meu primeiro texto aqui neste blog, faço uma rápida apresentação.
Meu nome é Ítalo Puccini, sou acadêmico do curso de Letras Licenciatura da Univille (Joinville-SC) e professor de Literatura para as séries finais do Ensino Fundamental.
Tenho um outro blog, no qual rabisco algumas coisas e apresento outros textos e frases que me tocam.
Meus escritos por aqui serão umas croniquetas (ou quase isso). Também um artigos de opinião e umas tentativas de ensaios serão possíveis. Nada profissional. Tudo experimentação, como acredito que seja a proposta deste blog.
Segue o primeiro post.
______________________________________________________________
Meu nome é Ítalo Puccini, sou acadêmico do curso de Letras Licenciatura da Univille (Joinville-SC) e professor de Literatura para as séries finais do Ensino Fundamental.
Tenho um outro blog, no qual rabisco algumas coisas e apresento outros textos e frases que me tocam.
Meus escritos por aqui serão umas croniquetas (ou quase isso). Também um artigos de opinião e umas tentativas de ensaios serão possíveis. Nada profissional. Tudo experimentação, como acredito que seja a proposta deste blog.
Segue o primeiro post.
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Estante - organização livresca
Mexer em livros, para mim, é mergulhar dentro do que sou e de como me construo, e por lá me perder.
Quando vou a sebus e/ou livrarias, empilho em minhas duas mãos tudo o que considero interessante levar para casa, seja para uma leitura imediata, seja para uma leitura futura. E por lá fico, estante por estante, livro por livro, sumindo por trás de suas formas, cores e palavras, até o momento em que encerro minha visita. É quando relembro tudo o que peguei, folheio cada livro para melhor conhecê-lo, equilibro o pensamento entre a necessidade, o desejo e a exceção (além dos recursos financeiros que me acompanham no momento), e faço uma dolorida triagem, acabando por levar sempre menos da metade do que gostaria. Nas primeiras vezes esse momento era mais difícil. Agora me resigno a ele, ajudando-me para isso a memória, trazendo à mente os livros que ainda me esperam em casa, saudosos de um contato mais próximo com minhas mãos e com meus olhos.
Dor foi o que senti ao organizar meus livros em casa, espalhados que estavam pela prateleira que tenho sobre a cabeça aqui onde escrevo e pela cama que sobra em meu quarto, útil justamente para acomodar meus materiais de pesquisa e de leitura. Mas foi uma dor gostosa de sentir, e aqui o paradoxo é proposital por refletir o que foi sentido.
No dia anterior mexi e remexi em meus cd´s e dvd´s. Todos organizados por aproximação, no que diz respeito aos estilos musicais. E, empolgado pelos momentos ali vividos, encarei uma reorganização dos livros, já ciente de que a entrega emocional seria mais intensa.
Gosto de olhar para meus livros. Gosto de senti-los pelo tato. Gosto de folheá-los e de relembrar o exato momento em que foram lidos ou comprados, sendo que de alguns ainda não conheço seus interiores, seus poros de vida, os espaços entre palavras – e as próprias palavras – que os fazem ser o que são, para as quais construo os significados que me tornam quem sou.
Nessa breve atividade de fim de tarde (ainda não tenho tantas estantes e tantos livros espalhados pela casa) voltei aos meus 14 anos, com a leitura que fiz de “O rádio, o futebol e a vida”, de Flávio Araújo, e de “Zico, 50 anos de futebol”, num mês de julho, na praia de Itaguaçu, durante as férias escolares de meio de ano, durante manhãs e tardes chuvosas e frias, enrolado entre cobertas e travesseiros, numa época em que eu respirava futebol.
Memórias mais recentes também resgatei. Ao passar o pano em “O inventor da solidão”, de Paul Auster, comprado despretensiosamente numa feira do livro de Joinville; ao reler algumas crônicas sensíveis e marcantes de “Por que os homens não voam?”, do sensível e marcante Pablo Morenno; e ao encaixar “Uma história da leitura”, de Alberto Manguel, sempre tão recorrente aos meus textos sobre leitura, num novo lugar na estante, rodeados por novos livros sobre práticas de leitura, e com um espaço ainda disponível aos que no momento leio para o término de minha atual pesquisa, que daqui a pouco rumarão aos seus novos lares em meu quarto.
Costumo dar aos livros, em meus escritos e falas, tratamento de como se tivessem personalidades e vidas próprias, pois acredito muito em que eles tenham, sim, suas vidas próprias, suas personalidades que os caracterizam como livros (sem contar as especificidades de gênero às quais eles dão vida e das quais recebem vida). Mais vivos ainda eles se tornam quando em contato com os olhos, a boca, os ouvidos, o tato, e todos os sentidos do ser humano, que a eles dá novos significados, que a partir deles forma-se enquanto ser humano e cidadão social, que sem eles e seus registros (ficcionais ou não) não existiria.
Nessa breve atividade de fim de tarde ainda fiz uma pilha da qual irei me desfazer. Sem choro, sem lamentações. Livros espíritas, romances água-com-açucar, receitas de auto-ajuda. Já tiveram sua importância. Já encerraram seus ciclos por aqui. Agora seguirão adiante, conhecendo novos donos, novas prateleiras, sentindo novos cheiros, oportunizando novos aprendizados. Assim ocorre conosco, pessoas de carne, osso e cérebro. Assim ocorre com os livros, alimentos da mente humana.
Quando vou a sebus e/ou livrarias, empilho em minhas duas mãos tudo o que considero interessante levar para casa, seja para uma leitura imediata, seja para uma leitura futura. E por lá fico, estante por estante, livro por livro, sumindo por trás de suas formas, cores e palavras, até o momento em que encerro minha visita. É quando relembro tudo o que peguei, folheio cada livro para melhor conhecê-lo, equilibro o pensamento entre a necessidade, o desejo e a exceção (além dos recursos financeiros que me acompanham no momento), e faço uma dolorida triagem, acabando por levar sempre menos da metade do que gostaria. Nas primeiras vezes esse momento era mais difícil. Agora me resigno a ele, ajudando-me para isso a memória, trazendo à mente os livros que ainda me esperam em casa, saudosos de um contato mais próximo com minhas mãos e com meus olhos.
Dor foi o que senti ao organizar meus livros em casa, espalhados que estavam pela prateleira que tenho sobre a cabeça aqui onde escrevo e pela cama que sobra em meu quarto, útil justamente para acomodar meus materiais de pesquisa e de leitura. Mas foi uma dor gostosa de sentir, e aqui o paradoxo é proposital por refletir o que foi sentido.
No dia anterior mexi e remexi em meus cd´s e dvd´s. Todos organizados por aproximação, no que diz respeito aos estilos musicais. E, empolgado pelos momentos ali vividos, encarei uma reorganização dos livros, já ciente de que a entrega emocional seria mais intensa.
Gosto de olhar para meus livros. Gosto de senti-los pelo tato. Gosto de folheá-los e de relembrar o exato momento em que foram lidos ou comprados, sendo que de alguns ainda não conheço seus interiores, seus poros de vida, os espaços entre palavras – e as próprias palavras – que os fazem ser o que são, para as quais construo os significados que me tornam quem sou.
Nessa breve atividade de fim de tarde (ainda não tenho tantas estantes e tantos livros espalhados pela casa) voltei aos meus 14 anos, com a leitura que fiz de “O rádio, o futebol e a vida”, de Flávio Araújo, e de “Zico, 50 anos de futebol”, num mês de julho, na praia de Itaguaçu, durante as férias escolares de meio de ano, durante manhãs e tardes chuvosas e frias, enrolado entre cobertas e travesseiros, numa época em que eu respirava futebol.
Memórias mais recentes também resgatei. Ao passar o pano em “O inventor da solidão”, de Paul Auster, comprado despretensiosamente numa feira do livro de Joinville; ao reler algumas crônicas sensíveis e marcantes de “Por que os homens não voam?”, do sensível e marcante Pablo Morenno; e ao encaixar “Uma história da leitura”, de Alberto Manguel, sempre tão recorrente aos meus textos sobre leitura, num novo lugar na estante, rodeados por novos livros sobre práticas de leitura, e com um espaço ainda disponível aos que no momento leio para o término de minha atual pesquisa, que daqui a pouco rumarão aos seus novos lares em meu quarto.
Costumo dar aos livros, em meus escritos e falas, tratamento de como se tivessem personalidades e vidas próprias, pois acredito muito em que eles tenham, sim, suas vidas próprias, suas personalidades que os caracterizam como livros (sem contar as especificidades de gênero às quais eles dão vida e das quais recebem vida). Mais vivos ainda eles se tornam quando em contato com os olhos, a boca, os ouvidos, o tato, e todos os sentidos do ser humano, que a eles dá novos significados, que a partir deles forma-se enquanto ser humano e cidadão social, que sem eles e seus registros (ficcionais ou não) não existiria.
Nessa breve atividade de fim de tarde ainda fiz uma pilha da qual irei me desfazer. Sem choro, sem lamentações. Livros espíritas, romances água-com-açucar, receitas de auto-ajuda. Já tiveram sua importância. Já encerraram seus ciclos por aqui. Agora seguirão adiante, conhecendo novos donos, novas prateleiras, sentindo novos cheiros, oportunizando novos aprendizados. Assim ocorre conosco, pessoas de carne, osso e cérebro. Assim ocorre com os livros, alimentos da mente humana.
Até a próxima reorganização livresca, as biografias abrirão os espaços (ou a falta dos mesmos) na estante, seguidas pelos de filosofia, anteriores aos de educação/leitura, que abrem caminho para as crônicas e os contos, tendo como seqüência as poesias e os infanto-juvenis, seguidos pelos romances e pelos de literatura brasileira, que encerram a prateleira e levam à porta do armário, no qual dormem tranqüilos os best-sellers e mais alguns romances.
Í.ta**
segunda-feira, janeiro 28, 2008
Título
Título
Não há pressa no escrito
Já há muito existido
É uma força que o move
Que o rasga,
Que o contorce
Espera no escrito
Da folha branca
Nas sombras sem vida
Num espaço, num canto
Passa pelo nada
Descreve um ciclo:
Pensa, escreve,apaga,
Rasga, dobra, escreve,
Lê e se gosta
Escreve os versos
Escreve as estrofes
Escreve a poesia
E os guardam na gaveta
Usa de tudo
Da inspiração à expiração
Da imagiação à metalinguagem
E pega outra folha
E pega outro lápis
Título
Não há pressa no escrito
Já há muito existido
É uma força que o move
Que o rasga,
Que o contorce
Espera no escrito
Da folha branca
Nas sombras sem vida
Num espaço, num canto
Passa pelo nada
Descreve um ciclo:
Pensa, escreve,apaga,
Rasga, dobra, escreve,
Lê e se gosta
Escreve os versos
Escreve as estrofes
Escreve a poesia
E os guardam na gaveta
Usa de tudo
Da inspiração à expiração
Da imagiação à metalinguagem
E pega outra folha
E pega outro lápis
Título
domingo, janeiro 27, 2008
Saudações opacas
Contato
Subi os degraus com impulsos acostumados do corpo, deixando antes uma velhinha típica passar à minha frente. Ela tinha uma espécie de xale sobre o vestido florido, que lhe davam um aspecto digno de senhora idosa de classe média. Via-se bem que se arrumara, pusera brincos de bolinhas achatadas verdes e sandálias de pequeno salto brancas e limpas, que pareciam ou eram pouco usadas, e combinavam estranhamente com seus também brancos cabelos presos em coque. Deu-me um largo sorriso quando a deixei passar e subiu com uma destreza incondizente com seus cabelos grisalhos, mas aceitável por seu alegre vestido e sua pele viçosa. Porém não havia mais lugares nos bancos especiais destinados a velhinhas e grávidas e portadores de Síndrome de Down e todos esses que aparecem comportados, distantes e bonzinhos nas novelas politicamente corretas. Por isso a senhorinha passou pela catraca, desembolsando dois e cinquenta pela passagem - o que vi e não vi, pois estava ocupada olhando fixamente um ponto qualquer na janela. Parei de olhá-lo para também pagar minha passagem. Olhava agora os passageiros ao fundo, que olhavam a velhinha se aproximar como se o próprio Destino. Sentou-se. Atravessei o corredor cambaleante com os mesmos olhares direcionados antes à senhora voltados para mim. Tive vontade de ser pequenininha ou de ter Down para ser invisível. Poucos se conheciam ou conversavam. Somente um casal discutia sobre um armário das Casas Bahia e dois garotos ao fundo riam depois de falar palavrões um pro outro. Mesmo assim, havia uma agitação dos passageiros todos, liam revistas fazendo barulho, abriam bolsas, falavam nos celulares, alternadamente, ou ficavam com olhares e pescoços de pombo, a cabeça virando, os olhos fixando-se num ponto, a cabeça novamente virando, os olhos em outro ponto, ..., assim por diante. Eu também tinha um grande olhar de pombo, e já me preparava para tomar o lugar de uma mulher que mexera em sua bolsa, mexendo na minha, quando a senhora disse a meia voz, como se diz em lugares públicos sem se ter um interlocutor definido:
-Puxa, é uma falta de respeito eu ter que pagar pra sentar! Não é?
[E, nessa pergunta final, dirigia-se a mim com a cabeça, meio sem jeito. Talvez houvesse encontrado uma cumplicidade ou facilidade no meu jeito; às vezes me sinto como um velho padre de paróquia, mas sem infligir temor nos outros.]
-É sim...
[respondi com um meneio leve de cabeça; Não me interessava muito falar com ela. Estava ocupada agora com a contade de pegar meu livro na bolsa e lê-lo sem desviar os olhos até o fim do meu destino. Mas a senhora continuou:]
-É que não saio muito, não costumo pegar ônibus sempre...
-Ah, sim... Olha, quando for assim, a senhora deve pedir pro motrista parar, e é só entrar pela portinha de trás; aqui também tem cadeiras reservadas...
[Tentei parecer delicada, mas me sentia um pouco constrangida.]
-Aahh, brigada, minha filha...
-Nada!
-...Sabe? Você se parece muito com minha neta... Parece sim! Ela é bonita e nova assim também.
[Os olhos dela brilharam.]
- Ah, é? Brigada...
- Sabe? Eu gostava muito de conversar com ela, mas ela agora está em São Paulo, estudando...
[Seu rosto, por um átimo, se abriu num abismo triste, disse 'estudando' como um lamento que fosse também uma censura.]
-Ah, sim...E a senhora mora com quem?
[Ela suspirou.]
-Moro sozinha, minha filha. Desde que meu marido morreu
[parou como se quisesse continuar, esperando uma resposta.]
-mmm, que pena...
[Nunca sei o que dizer nessas horas, e sempre acabo dizendo algo que me parece idiota. Talvez tudo seja idiota perto da morte. Talvez tudo seja idiota.]
- Mas já faz muito tempo...
[Abanou os pensamentos com a mão e sorriu novamente.]
Nessa altura, alguns "pombos" nos fixavam os olhos, isso me deixava um pouco nervosa, me fazendo mexer na bolsa de vez em quando. Talvez nossa conversa fosse uma ameaça, provava que os outros também poderiam sair das carapaças e conversar entre si. Isso devia deixá-los assustados, assim como me deixava nervosa sentir que eu perturbava o estranho equilíbrio de ações e vozes desconjuntadas do ônibus.
- A senhora é bem bonita, viu? nunca pensou em encontrar alguém de novo?
[Risos largos dela.]
-Nãão...Já estou velha pra essas coisas...
[Calou-se, fazendo um não com a cabeça, sorrindo romântica. Vi castelos no ar em seu redor.]
- Verdade! Queria ser como a senhora se tivesse sua idade!
[ Não era bem verdade, sempre imaginei morrer antes dos 40.]
- Brigada, você é uma mocinha muito gentil.
(...)
A conversa seguiu nesses termos afáveis e foi se aprofundando. Fiquei sabendo de sua filha, morava em Minas mas sempre costumava visitá-la, isso quando a casa era ainda cheia, quando o marido era vivo e os dois filhos ainda não haviam partido para outras cidades. Justamente a filha dessa filha era a neta que se parecia comigo. Entendi, então, o peso das palavras trocadas naquele ônibus com aquela senhora, como eram importantes para ela, saída de uma toca em busca de alguém da mesma espécie. Quando percebi a importãncia do momento, me senti um pouco culpada por não sentir nele a mesma importância. Essa culpa me deixou, ou me obrigou a parecer, mais solícita e interessada na conversa. Ela deve ter percebido isso, pois nessa hora me passou o telefone de sua casa, junto um convite para ir visitá-la logo que ligasse. "Você vai ver minhas plantinhas!" Ou talvez tenha percebido meus olhares para a janela, dizendo que logo eu teria que descer, e me deu seu número com receio de retornar ao silêncio; seu telefone como uma luz no fim do lusco-fusco a que se acostumara na casa vazia; fézinha. Peguei o papel e o guardei no bolso interno da bolsa, já lotado de papéis de bala, tíquetes, cupons, outros telefones e até um chiclete mastigado envolto num pedaço de uma prova da faculdade. Estava com pressa, os movéis baratos sinalizavam a proximidade da minha parada, deixando-me naquela agitação superior de quem se sente em casa. Disse enfim àquela senhora que eu tinha que ir, dei-lhe dois beijos nas bochechas, que mal e mal consegui acertar naquele balanceio, puxei a cordinha para dar o sinal e desci naquela esquina tão minha conhecida. Depois fiz coisas simples que sempre faço: passar na locadora, cumprimentar o bêbado do bar, pagar minhas contas atrasadas... E cheguei em casa. Pensava no dia, naquela velhinha doce e só, deseperada e quieta até o desespero levá-la a procurar umas palavras amigas. Quem sabe eu me tornasse uma velhinha igual e, como ela, encontrasse uma pessoa como eu, displicente, que me escutaria por um misto de polidez, vontade e dó? Talvez eu a seja neste momento, desmascarada a juventude, os afazeres com ares importantes, as pessoas em redor, estou tão só quanto ela. Nisso eu pensava enquanto vasculhava a barafunda de papeizinhos à procura do dela. Nada. Seu telefone havia sumido, se extraviado enquanto eu voltava à minha vida de sempre, como se nunca houvesse existido. Senti-me mal. Uma estranha sensação de ter escolhido aquela perda, uma culpa. Mas um alívio também. Uma pontada na cabeça me dizia que se o houvesse encontrado, jamais ligaria.
-Puxa, é uma falta de respeito eu ter que pagar pra sentar! Não é?
[E, nessa pergunta final, dirigia-se a mim com a cabeça, meio sem jeito. Talvez houvesse encontrado uma cumplicidade ou facilidade no meu jeito; às vezes me sinto como um velho padre de paróquia, mas sem infligir temor nos outros.]
-É sim...
[respondi com um meneio leve de cabeça; Não me interessava muito falar com ela. Estava ocupada agora com a contade de pegar meu livro na bolsa e lê-lo sem desviar os olhos até o fim do meu destino. Mas a senhora continuou:]
-É que não saio muito, não costumo pegar ônibus sempre...
-Ah, sim... Olha, quando for assim, a senhora deve pedir pro motrista parar, e é só entrar pela portinha de trás; aqui também tem cadeiras reservadas...
[Tentei parecer delicada, mas me sentia um pouco constrangida.]
-Aahh, brigada, minha filha...
-Nada!
-...Sabe? Você se parece muito com minha neta... Parece sim! Ela é bonita e nova assim também.
[Os olhos dela brilharam.]
- Ah, é? Brigada...
- Sabe? Eu gostava muito de conversar com ela, mas ela agora está em São Paulo, estudando...
[Seu rosto, por um átimo, se abriu num abismo triste, disse 'estudando' como um lamento que fosse também uma censura.]
-Ah, sim...E a senhora mora com quem?
[Ela suspirou.]
-Moro sozinha, minha filha. Desde que meu marido morreu
[parou como se quisesse continuar, esperando uma resposta.]
-mmm, que pena...
[Nunca sei o que dizer nessas horas, e sempre acabo dizendo algo que me parece idiota. Talvez tudo seja idiota perto da morte. Talvez tudo seja idiota.]
- Mas já faz muito tempo...
[Abanou os pensamentos com a mão e sorriu novamente.]
Nessa altura, alguns "pombos" nos fixavam os olhos, isso me deixava um pouco nervosa, me fazendo mexer na bolsa de vez em quando. Talvez nossa conversa fosse uma ameaça, provava que os outros também poderiam sair das carapaças e conversar entre si. Isso devia deixá-los assustados, assim como me deixava nervosa sentir que eu perturbava o estranho equilíbrio de ações e vozes desconjuntadas do ônibus.
- A senhora é bem bonita, viu? nunca pensou em encontrar alguém de novo?
[Risos largos dela.]
-Nãão...Já estou velha pra essas coisas...
[Calou-se, fazendo um não com a cabeça, sorrindo romântica. Vi castelos no ar em seu redor.]
- Verdade! Queria ser como a senhora se tivesse sua idade!
[ Não era bem verdade, sempre imaginei morrer antes dos 40.]
- Brigada, você é uma mocinha muito gentil.
(...)
A conversa seguiu nesses termos afáveis e foi se aprofundando. Fiquei sabendo de sua filha, morava em Minas mas sempre costumava visitá-la, isso quando a casa era ainda cheia, quando o marido era vivo e os dois filhos ainda não haviam partido para outras cidades. Justamente a filha dessa filha era a neta que se parecia comigo. Entendi, então, o peso das palavras trocadas naquele ônibus com aquela senhora, como eram importantes para ela, saída de uma toca em busca de alguém da mesma espécie. Quando percebi a importãncia do momento, me senti um pouco culpada por não sentir nele a mesma importância. Essa culpa me deixou, ou me obrigou a parecer, mais solícita e interessada na conversa. Ela deve ter percebido isso, pois nessa hora me passou o telefone de sua casa, junto um convite para ir visitá-la logo que ligasse. "Você vai ver minhas plantinhas!" Ou talvez tenha percebido meus olhares para a janela, dizendo que logo eu teria que descer, e me deu seu número com receio de retornar ao silêncio; seu telefone como uma luz no fim do lusco-fusco a que se acostumara na casa vazia; fézinha. Peguei o papel e o guardei no bolso interno da bolsa, já lotado de papéis de bala, tíquetes, cupons, outros telefones e até um chiclete mastigado envolto num pedaço de uma prova da faculdade. Estava com pressa, os movéis baratos sinalizavam a proximidade da minha parada, deixando-me naquela agitação superior de quem se sente em casa. Disse enfim àquela senhora que eu tinha que ir, dei-lhe dois beijos nas bochechas, que mal e mal consegui acertar naquele balanceio, puxei a cordinha para dar o sinal e desci naquela esquina tão minha conhecida. Depois fiz coisas simples que sempre faço: passar na locadora, cumprimentar o bêbado do bar, pagar minhas contas atrasadas... E cheguei em casa. Pensava no dia, naquela velhinha doce e só, deseperada e quieta até o desespero levá-la a procurar umas palavras amigas. Quem sabe eu me tornasse uma velhinha igual e, como ela, encontrasse uma pessoa como eu, displicente, que me escutaria por um misto de polidez, vontade e dó? Talvez eu a seja neste momento, desmascarada a juventude, os afazeres com ares importantes, as pessoas em redor, estou tão só quanto ela. Nisso eu pensava enquanto vasculhava a barafunda de papeizinhos à procura do dela. Nada. Seu telefone havia sumido, se extraviado enquanto eu voltava à minha vida de sempre, como se nunca houvesse existido. Senti-me mal. Uma estranha sensação de ter escolhido aquela perda, uma culpa. Mas um alívio também. Uma pontada na cabeça me dizia que se o houvesse encontrado, jamais ligaria.
sexta-feira, janeiro 25, 2008
demais
palavas demais
informação demais
conversa demais
pensamentos demais
conhecimentos demais
técnica demais
rebuscamento demais
o mundo é grande demais
é complicado demais
e humildemente eu peço
menos
quinta-feira, janeiro 24, 2008
Sobre o Encontro do TBW, dia 20/01
Bom, eu tinha pedido para o Carlos, Onox, escrever sobre esse dia. No entanto, acabei voltando atrás e decidido eu mesmo escrever.
Motivos? Não faço idéia. Ele muito bem poderia tê-lo feito. Mas deixei quieto. Não é justo que ele escreva sendo que tive a idéia do encontro. Achei que seria melhor eu mesmo cuidar disso.
--
Não estava frio, exatamente. O vento fazia uma brisa que ondulava junto com a temperatura, sem oscilar demais, sem nos castigar demais. Uma coisa era entediante e irritante: a chuva. Era fina, nem um pouco espessa. Não molhava tanto e ao mesmo tempo molhava, como estavam a maioria das chuvas daquela semana de verão, com chuviscos tão pontuais quanto em uma vegetação amazonense.
Cheguei pontualmente às 14 horas. Mentira, confesso que cheguei 14:03. Quatorze e poucos, ou muitos, depende do ponto de vista. Talvez seja culpa do meu curso de francês, que tirou minha pontualidade britânica. Não importa muito. Ladislau me esperava na catraca e não havia mais ninguém com aquela rapidez de chegada. São Paulo é um caos para encontros com horas. Sempre esperamos 15 ou mais minutos de atraso.
Lau falou um pouco sobre seus textos, aproveitei e falei dos meus e meu irmão acompanhou o papo sem boiar muito. Gostei da conversa e gostei do fato do pessoal tirar sarro dos textos do Lau, embora ele não aprecie isso. Eu acho que brincar, zoar a aloprar acabam, no final das coisas, mostrando quem nós somos. Seriedade é bom, mas sinceridade muitas vezes traz à tona as minuncias da inspiração. Nunca disse para desestimular ninguém, mas não há mal nenhum na ironia.
Saímos da estação: eu, Lau e meu irmão. Aquelas porcarias dos pingos resolveram ficar mais espessos e rápidos, enquanto meu guarda-chuva parecia um galho torto de uma árvore, todo desgrenhado e com metais soltos. Andamos e vimos um Carlos Onox meio cegueta, que não nos percebeu. Tive que dizer claramente: "Dog, aqui!". Éramos quatro e aguardávamos os restantes.
Esparramei meus livros. Ferreira Gullar, Edgar Morin, Vilém Flusser, Fernando Pessoa. Onox falou sobre medicina, sobre linguística, sobre como é interessante a composição de palavras, a etimologia e falamos de futuro. Lau ouvia atentamente, meu irmão já estava mais desligado, embora falássemos com sossego, sem cobranças.
Antonechen chegou uns 20 minutos atrasados, algo nesse naipe. Falamos de Asimov, distribuímos poesias, comentamos sobre nossas produções. Comentei sobre os assuntos que ando mais relatando ultimamente: loucura e tempestades, coisas que têm invadido meu íntimo. Coisas de fresco. Minha namorada, Ly, chegou algum tempo depois, não lembro.
Decidimos ir comer no Habbibs, que ficava perto da estação São Joaquim de Metrô. Nenhum sinal da Carol "Mozão" ou de qualquer pessoa. Do chão (ou seria do TETO?!?) surge Sir Varios, William Gnann, todo molhado e atrasado. Fomos fazer nosso lanche, regado a esfihas, beirutes e refrigerante. Nada de boemia, só nerdisse.
Pouco antes de irmos, falei para eles sobre literatura Beat. Escritores norte-americanos sexualmente transgressores que influenciaram fortemente o rock. Para reforçar minhas palavras, segue aqui as recomendações do encontro: Geração Beat e On The Road, ambos de Jack Kerouac.
Compramos bebidas, pegamos chuva. Minha mala pesava (além de todos os livros, peguei o Harry Potter and the Deadly Hallows que tinha emprestado pra Ly, peguei o Ensaio Sobre a Cegueira, dela, e meu Mito de Sísifo de Camus, que estava com Onox. Dava pra fazer exercício).
Para seguir com a narrativa, colo umas mensagens de msn:
Ly^^ [CLW] Acho que vou começar a CLL... HAUAHAUHAUHAUHA!!! diz:
LOL nao dxa d escrever as frases célebres:
Ly^^ [CLW] Acho que vou começar a CLL... HAUAHAUHAUHAUHA!!! diz:
"Lylla, seu pai eh efervescente?"
Ly^^ [CLW] Acho que vou começar a CLL... HAUAHAUHAUHAUHA!!! diz:
"Tá todo mundo vivo aí???" (by random mendigo)
Pedro :: The Passenger, Iggy Pop diz:
XD
Pedro :: The Passenger, Iggy Pop diz:
nessa frase do mendigo, eu acrescento um pensamento meu
Pedro :: The Passenger, Iggy Pop diz:
"Não, você tá morto, filho da puta =D"
Pedro :: The Passenger, Iggy Pop diz:
XDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDD
Ly^^ [CLW] Acho que vou começar a CLL... HAUAHAUHAUHAUHA!!! diz:
ahuahauhahuaauh XDDDDDDDDDDDDDDD vc tinha q copy e paste esse nosso histórico no post HAUAHAUHAUHAAUH!!! XDDD
O mendigo resolveu bater papo com nosso grupo, achou que jogávamos RPG. Fiquei em silêncio. Não tava afim de conversas. Puxei uma folha pra escrever e repassei. Lau falava com o dito cujo. O resto ria e eu escrevia. No fim, o ser chapado foi bater palmas para alguma das bandas que tocavam no Centro Cultural São Paulo, nosso ponto de encontro. Então, passada a folha, o lápis e a borracha, todo mundo escreveu. Mesmo quem não materializou, contribuiu pra quem, de fato, escrevia. Anti-Euclidiano saiu desse jeito.
Estava com tempestades. Sabia que não era daquele dia, que não era aquela chuva. Tiramos boas fotos e, graças ao meu cabo e à minha inteligência, eu as perdi. Onox chegou a tirar a camisa e erguer o livro 120 Dias de Sodoma, de Sade, para uma foto. Parecíamos uns estranhos, falando alto e imaginando o futuro. Não sou cético, mas assumo que não acredito em destino, embora o debate sobre nossos escritos muito me agrade.
As tempestades me corroíam e eu resolvi partir. O poema feito por 8 mãos estava pronto e eu guardei na pasta, para transcrever aqui. Eram umas 7 e pouco da noite quando o encontro começou a se desfazer. Talvez nós façamos isso, de novo, em fevereiro. Sem pressa.
Me identifiquei mais com a história da Geração Beat de Kerounac: nos encontramos naquela tarde para fazer os relatos de nossas viagens. Hoje em dia, ninguém precisa ser como os Beats: não precisamos de motocicletas para conhecer o país todo, não precisamos nos privar de residências fixas. Tem Google pra isso. No entanto, com aqueles indivíduos reunidos, queria relatar minhas viagens pessoas, sem uso de drogas e regadas em muitos costumes "caretas".
Onox tinha uma metáfora diferente. Usava o exemplo de Mallarmé: reunia burgueses em volta de uma poesia com várias ligações, subjetiva. Não acho que sejamos burgueses, tem gente mais rica, garanto. Mas éramos, e somos, garotos com muito o que dizer, embora a direção ainda não seja clara. Talvez eu nem queira que esteja clara.
Deixe os leitores saberem qual nosso real significado (...).
quarta-feira, janeiro 23, 2008
Queria ter nascido assim eterna criança
Lesado pelos ventos do mundo, torcido em viés
Criei-me na tristeza por meu sangue de vileza
Não sei o que é ter certeza de estar triste
Pois sou beleza que não se põe à mesa.
Calo-me, virtudes não me são necessárias
Sem expressão, ser sem mão
Rastejando em ruínas de ruídos
cheiros, gostos, esboços, coisas
texturas atritos, aflitos gritos
lembranças de tortura de crianças
Mas não sei o que é estar lúcido
Mas não sou maluco, beleza?
Sou apenas
Um inocente quase vivo
À frente um cortejo de doentes
Meu funeral é sacramento,
só me esperam no cimento.
Um indigente quase digno
Em um mundo de dureza,
crudeza, pureza, rudeza, beleza?
E talvez um dia você se lembre
Desta extensão de ser humano.
Eu queria ter nascido assim, eterna criança
Ser doce, doce sempre, mesmo lambuzado em fel
Não sou nada perto
Sou tudo longe.
Criei-me na tristeza por meu sangue de vileza
Não sei o que é ter certeza de estar triste
Pois sou beleza que não se põe à mesa.
Calo-me, virtudes não me são necessárias
Sem expressão, ser sem mão
Rastejando em ruínas de ruídos
cheiros, gostos, esboços, coisas
texturas atritos, aflitos gritos
lembranças de tortura de crianças
Mas não sei o que é estar lúcido
Mas não sou maluco, beleza?
Sou apenas
Um inocente quase vivo
À frente um cortejo de doentes
Meu funeral é sacramento,
só me esperam no cimento.
Um indigente quase digno
Em um mundo de dureza,
crudeza, pureza, rudeza, beleza?
E talvez um dia você se lembre
Desta extensão de ser humano.
Eu queria ter nascido assim, eterna criança
Ser doce, doce sempre, mesmo lambuzado em fel
Não sou nada perto
Sou tudo longe.
terça-feira, janeiro 22, 2008
Anti-Euclidiano
Barulhos que me irritam,
Embrulhos que me limitam,
Pareço presente no entulho.
Um estômago estridente azedo
De ácidos muriáticos, medo
Da digestão indigesta, do embrulho.
Embrulho, disfarço
No estar do braço,
Me limito a fingir.
hermeticamente, e mais
nenhum advérbio - setinhas
voam em um céu nublado - há de haver!
As setinhas, o barulho e meu estômago
Embrulham meu pensamento,
Que digere o conteúdo aberto
Do mundo diverso.
Escuto o discurso entricheirado
Das vozes aparentemente caladas,
Sumissas ou mal-cheirosas.
A seta vermelha incorpora um bicho
e discute com a amarela, a branca,
e mais outra qualquer: o vento está forte.
É um farol de sinais, uma indicação sem finais,
Objetivos, signos, sentidos.
A setinha sentia, setinha sem tia,
Orfã, de origem vetorial,
De resultante perdida, informal.
Setinha, do vetor velocidade,
Do móvel que vê-lo, a cidade
Veio ser incrementada, por produto escalar normal.
Cidade, a matriz do sistema,
Cidade linear, unidimensional,
Cidade produto de equações e esquema
De uma verdade aritmética,
Mas incerta como eutética
Ou azeotrópica mistura,
Ponto difuso de fusão e fervura...
- E dentro da legalidade
desfez-se a seta-rei -
Seis sinais retangulares:
Esquerda, esquerda, centro, direita, direita, muito direita.
Arquitetura do centro de cultura,
Uma textura desenvolvida em argila,
Uma tontura previamente calculada.
Estávamos apenas andando, molhados,
Despidos de idéias, ocupados
Nas sinalizações dos canos,
Nos encantos jogados.
Postado por:
Pedro Z. de A.
SirVarios
Carlos Onox
Carlos Antonechen
Em 20 de janeiro de 2008, no Centro de Cultura de São Paulo.
Às 19 horas e 30 minutos.
--
Poesia feita em conjunto, com muita reflexão bizarra e risadas sobre quem ler isso, durante o encontro realizado entre integrantes do TBW.
Embrulhos que me limitam,
Pareço presente no entulho.
Um estômago estridente azedo
De ácidos muriáticos, medo
Da digestão indigesta, do embrulho.
Embrulho, disfarço
No estar do braço,
Me limito a fingir.
hermeticamente, e mais
nenhum advérbio - setinhas
voam em um céu nublado - há de haver!
As setinhas, o barulho e meu estômago
Embrulham meu pensamento,
Que digere o conteúdo aberto
Do mundo diverso.
Escuto o discurso entricheirado
Das vozes aparentemente caladas,
Sumissas ou mal-cheirosas.
A seta vermelha incorpora um bicho
e discute com a amarela, a branca,
e mais outra qualquer: o vento está forte.
É um farol de sinais, uma indicação sem finais,
Objetivos, signos, sentidos.
A setinha sentia, setinha sem tia,
Orfã, de origem vetorial,
De resultante perdida, informal.
Setinha, do vetor velocidade,
Do móvel que vê-lo, a cidade
Veio ser incrementada, por produto escalar normal.
Cidade, a matriz do sistema,
Cidade linear, unidimensional,
Cidade produto de equações e esquema
De uma verdade aritmética,
Mas incerta como eutética
Ou azeotrópica mistura,
Ponto difuso de fusão e fervura...
- E dentro da legalidade
desfez-se a seta-rei -
Seis sinais retangulares:
Esquerda, esquerda, centro, direita, direita, muito direita.
Arquitetura do centro de cultura,
Uma textura desenvolvida em argila,
Uma tontura previamente calculada.
Estávamos apenas andando, molhados,
Despidos de idéias, ocupados
Nas sinalizações dos canos,
Nos encantos jogados.
Postado por:
Pedro Z. de A.
SirVarios
Carlos Onox
Carlos Antonechen
Em 20 de janeiro de 2008, no Centro de Cultura de São Paulo.
Às 19 horas e 30 minutos.
--
Poesia feita em conjunto, com muita reflexão bizarra e risadas sobre quem ler isso, durante o encontro realizado entre integrantes do TBW.
domingo, janeiro 20, 2008
SAMPOEMAS III
25 de janeiro de 2007
Comemoração do aniversário de São Paulo
Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura
Para comemorar o aniversário da nossa cidade, a Casa das Rosas –
Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura convida a todos para
um dia de apresentações poéticas e musicais com a participação de
algumas das mais importantes vozes poéticas de São Paulo, incluindo a
sua! Venha participar e apresentar o seu poema sobre a nossa Paulicéia
Desvairada!
14:00h – Água: entre o rio e o mar
Recital de Átila Almada, jovem poeta paulistano cujo trabalho se volta
para a reflexão sobre o cotidiano nesta grande metrópole. Nesta edição
do Sampoemas, os poemas apresentados abordam primordialmente a questão
da água, um dos tópicos mais relevantes para o futuro da humanidade.
15:30h ¬– O Último Canto da Cigarra
Lançamento do último número da revista A Cigarra,
publicada por Zhô Bertholini e Jurema Barreto de Souza desde 1982.
Esta edição, de número 42, conta com a colaboração de, entre outros,
Glauco Mattoso, Augusto de Campos, Arnaldo Antunes, Alberto Marsicano,
Cláudio Daniel, Júlio Mendonça, Tom Zé, Jomard Muniz de Britto,
Ronaldo Azeredo, Marcelo Montenegro e Walter Silveira. O recital conta
com a presença confirmada de Hélio Néri, Fabiano Calixto, Beth Brait
Alvim e Tarso de Melo.
17:00h – Perseptom Banda Vocal
São sete vozes apenas, mas que têm a sonoridade de uma banda inteira.
É na voz, com a técnica do beat box e da percussão vocal, que eles
trazem a bateria, o pandeiro e os chocalhos, além de todo o
preenchimento harmônico. Trabalho internacionalmente reconhecido, são
o segundo melhor grupo vocal do mundo na categoria World Álbum (Melhor
CD) e World Song (Melhor canção), segundo a CASA (Contemporary A
Cappella Society of America) dos EUA. Também no Brasil alcançaram o
reconhecimento do seu trabalho diferenciado, estando entre os três
finalistas do Prêmio TIM 2007 na categoria Melhor Grupo de MPB.
Integrantes: Eloíza, Estela Paixão, Cristiano Alberto, Aníbal e Valter
Macário, Diego de Jesus e Du Machado.
18:30h – Especial Roberto Piva
Récita e entrevista pública com Roberto Piva, um dos poetas
paulistanos que, desde a década de 1960, mais e melhor cantou a nossa
cidade. Segundo João Silvério Trevisan, "Piva mora em São Paulo,
cidade que lhe parece apocalíptica, exemplo do que não deve ser feito
contra o meio ambiente, mas que forneceu todo o pano de fundo para sua
obra poética."
A entrevista será conduzida por Roberto Bicelli e Cláudio
Willer, grandes poetas e companheiros de geração de Piva.
20:30h A Meditação sobre o Tietê
O ator Pascoal da Conceição explora sua semelhança física com o
escritor Mário de Andrade (1893-1945) na interpretação do seu último
poema, "A meditação sobre o Tietê", no qual o autor de Macunaíma
colocou o ponto final 13 dias antes de sua morte. A leitura terá o
acompanhamento musical de Luiz Gayotto, Maria Alvim, Paulo Padilha e
Marcelo Ferretti.
21:00h Saraokê Sampoemas
Mais uma edição do já famoso "Saraokê" da Casa das Rosas, em que o
público é convidado a apresentar poemas com o acompanhamento dos
talentosos músicos Luiz Gayotto, Maria Alvim, Paulo Padilha e Marcelo
Ferretti. Nesta edição especial do aniversário de São Paulo,
intitulada Sampoemas, os participantes são convidados a declarar seu
amor pela cidade, seu ódio, seu carinho, sua indignação... Em suma,
sua emoção. Participação especial do Grupo Rascunhos Poéticos e de
todos que queiram transformar tudo o que sentem por São Paulo em poema
e mostrá-lo ao som do improviso dos nossos músicos no Saraokê
Sampoemas!
E mais...
Exposição "Fotografando o Poema", de Selma Fernandes
Coquetel de abertura, 8 de janeiro às 19h
Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura
Casa das Rosas
Av. Paulista, 37
01311-902 São Paulo SP
Fs: 3288-9447 ou 3285-6986
.
Pois é, recebi por e-mail o aviso e gostaria de repassar a vocês. Talvez eu não vá, não sei se vou ao Animedreams mesmo, que horas saio, simplesmente não sei; mas podem marcar algo, irem, talvez até recitar algo de vocês. Gostaria de falar algo meu se fosse...
Qualquer coisa, falem por aqui, no orkut, MSN ou deviantART. Abraços!
25 de janeiro de 2007
Comemoração do aniversário de São Paulo
Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura
Para comemorar o aniversário da nossa cidade, a Casa das Rosas –
Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura convida a todos para
um dia de apresentações poéticas e musicais com a participação de
algumas das mais importantes vozes poéticas de São Paulo, incluindo a
sua! Venha participar e apresentar o seu poema sobre a nossa Paulicéia
Desvairada!
14:00h – Água: entre o rio e o mar
Recital de Átila Almada, jovem poeta paulistano cujo trabalho se volta
para a reflexão sobre o cotidiano nesta grande metrópole. Nesta edição
do Sampoemas, os poemas apresentados abordam primordialmente a questão
da água, um dos tópicos mais relevantes para o futuro da humanidade.
15:30h ¬– O Último Canto da Cigarra
Lançamento do último número da revista A Cigarra,
publicada por Zhô Bertholini e Jurema Barreto de Souza desde 1982.
Esta edição, de número 42, conta com a colaboração de, entre outros,
Glauco Mattoso, Augusto de Campos, Arnaldo Antunes, Alberto Marsicano,
Cláudio Daniel, Júlio Mendonça, Tom Zé, Jomard Muniz de Britto,
Ronaldo Azeredo, Marcelo Montenegro e Walter Silveira. O recital conta
com a presença confirmada de Hélio Néri, Fabiano Calixto, Beth Brait
Alvim e Tarso de Melo.
17:00h – Perseptom Banda Vocal
São sete vozes apenas, mas que têm a sonoridade de uma banda inteira.
É na voz, com a técnica do beat box e da percussão vocal, que eles
trazem a bateria, o pandeiro e os chocalhos, além de todo o
preenchimento harmônico. Trabalho internacionalmente reconhecido, são
o segundo melhor grupo vocal do mundo na categoria World Álbum (Melhor
CD) e World Song (Melhor canção), segundo a CASA (Contemporary A
Cappella Society of America) dos EUA. Também no Brasil alcançaram o
reconhecimento do seu trabalho diferenciado, estando entre os três
finalistas do Prêmio TIM 2007 na categoria Melhor Grupo de MPB.
Integrantes: Eloíza, Estela Paixão, Cristiano Alberto, Aníbal e Valter
Macário, Diego de Jesus e Du Machado.
18:30h – Especial Roberto Piva
Récita e entrevista pública com Roberto Piva, um dos poetas
paulistanos que, desde a década de 1960, mais e melhor cantou a nossa
cidade. Segundo João Silvério Trevisan, "Piva mora em São Paulo,
cidade que lhe parece apocalíptica, exemplo do que não deve ser feito
contra o meio ambiente, mas que forneceu todo o pano de fundo para sua
obra poética."
A entrevista será conduzida por Roberto Bicelli e Cláudio
Willer, grandes poetas e companheiros de geração de Piva.
20:30h A Meditação sobre o Tietê
O ator Pascoal da Conceição explora sua semelhança física com o
escritor Mário de Andrade (1893-1945) na interpretação do seu último
poema, "A meditação sobre o Tietê", no qual o autor de Macunaíma
colocou o ponto final 13 dias antes de sua morte. A leitura terá o
acompanhamento musical de Luiz Gayotto, Maria Alvim, Paulo Padilha e
Marcelo Ferretti.
21:00h Saraokê Sampoemas
Mais uma edição do já famoso "Saraokê" da Casa das Rosas, em que o
público é convidado a apresentar poemas com o acompanhamento dos
talentosos músicos Luiz Gayotto, Maria Alvim, Paulo Padilha e Marcelo
Ferretti. Nesta edição especial do aniversário de São Paulo,
intitulada Sampoemas, os participantes são convidados a declarar seu
amor pela cidade, seu ódio, seu carinho, sua indignação... Em suma,
sua emoção. Participação especial do Grupo Rascunhos Poéticos e de
todos que queiram transformar tudo o que sentem por São Paulo em poema
e mostrá-lo ao som do improviso dos nossos músicos no Saraokê
Sampoemas!
E mais...
Exposição "Fotografando o Poema", de Selma Fernandes
Coquetel de abertura, 8 de janeiro às 19h
Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura
Casa das Rosas
Av. Paulista, 37
01311-902 São Paulo SP
Fs: 3288-9447 ou 3285-6986
.
Pois é, recebi por e-mail o aviso e gostaria de repassar a vocês. Talvez eu não vá, não sei se vou ao Animedreams mesmo, que horas saio, simplesmente não sei; mas podem marcar algo, irem, talvez até recitar algo de vocês. Gostaria de falar algo meu se fosse...
Qualquer coisa, falem por aqui, no orkut, MSN ou deviantART. Abraços!
sábado, janeiro 19, 2008
É um acontecimento. Um cimento.
Quando você se torna louco, não há razão que o acalme, não há emoção que o embale. As palavras dos outros nunca são suficientes. O recipiente da sua mente é calcário. A água, ao invés de dissolver, cimenta, solidifica, endurece, percorre seu corpo e não o enxuga.
Esse muro só desaba sob porrada. Sob marretadas, é uma queda forçada.
Minha mão dói, a minha mente ainda me corrói.
Sou homem.
Doutor Adão, 19/01/2008.
sexta-feira, janeiro 18, 2008
Papel sem Sombra
Ouve a palavra
Que pede a voz
Numa linha estreita
Em silêncio vibrante
Espera escutar
Aquela imagem
Que se contorce
Sem seu som
Esconde no silêncio
A sombra da palavra
Que veste de preto
A folha nu
Sem sombra
Sem palavra
Que pede a voz
Numa linha estreita
Em silêncio vibrante
Espera escutar
Aquela imagem
Que se contorce
Sem seu som
Esconde no silêncio
A sombra da palavra
Que veste de preto
A folha nu
Sem sombra
Sem palavra
quarta-feira, janeiro 16, 2008
1º Encontro dos Escritores do TBW
Data: 20/01/2008
Horário: 14:00 (quem se atrasar, pode chegar depois, contanto que não atrapalhe ninguém ao chegar)
Local: Centro Cultural São Paulo, próximo à estação Vergueiro de metrô (com saída)
Encontro: Catracas do metrô (depois das 14:00, dentro do próprio CCSP)
Favor, quem quiser contato comigo, pode pedir contato via comentário ou pelo meu e-mail, pedrosolidus@gmail.com.
E quem tiver alguma objeção/sugestão sobre o encontro, continue comentando.
Horário: 14:00 (quem se atrasar, pode chegar depois, contanto que não atrapalhe ninguém ao chegar)
Local: Centro Cultural São Paulo, próximo à estação Vergueiro de metrô (com saída)
Encontro: Catracas do metrô (depois das 14:00, dentro do próprio CCSP)
Favor, quem quiser contato comigo, pode pedir contato via comentário ou pelo meu e-mail, pedrosolidus@gmail.com.
E quem tiver alguma objeção/sugestão sobre o encontro, continue comentando.
segunda-feira, janeiro 14, 2008
Hora Infértil
Oi amigos, cá estou com outra coisa escrita.
Hora Infértil
Sentimentos que conspurcam incendeiam
Alma de pecadores, traidores infiéis
Adicionados a dedo longo em listas
Que ocultam verdades suspensas por uma corda
Contemplem hereges
As pernas balançando loucas
A etérea morte que não afrouxa
Assistida pelo terror roxo
Vemos as mortalhas da infâmia espalhadas
Neste chão afável que consome a embriaguez
Veja você, perecível infrator
Quem não pisa no patíbulo
Gira e vive no olvido.
Hora Infértil
Sentimentos que conspurcam incendeiam
Alma de pecadores, traidores infiéis
Adicionados a dedo longo em listas
Que ocultam verdades suspensas por uma corda
Contemplem hereges
As pernas balançando loucas
A etérea morte que não afrouxa
Assistida pelo terror roxo
Vemos as mortalhas da infâmia espalhadas
Neste chão afável que consome a embriaguez
Veja você, perecível infrator
Quem não pisa no patíbulo
Gira e vive no olvido.
sexta-feira, janeiro 11, 2008
terça-feira, janeiro 08, 2008
quinta-feira, janeiro 03, 2008
Para começar 2008 - Um encontro do TBW
Como o título é auto-explicativo, basta que saibam que, à partir do dia 6, estarei de volta das minhas viagens, ocupado apenas com algumas aulas durante a tarde. Mas dá, perfeitamente, para marcar um encontro de escritores.
Temos alguns problemas para reunir o pessoal, três, para ser exato:
- As provas do vestibular da FUVEST que vão até dia 11;
- As provas da UNICAMP que vão até dia 17;
- Alguns dos integrantes que moram no Rio (Carol "Shadow"), Jaraguá do Sul (Guilan) e Mogi das Cruzes (Carol "Mozão").
Com esses três empecilhos, e mais algum, se eu esqueci, proponho que, nos comentários desse post, discutamos uma data, se possível ainda em janeiro, para reunir o maior número de pessoas possíveis dentro desse blog.
Por favor, entrem em consenso e fiquem livres para conversar aqui. Peço só que não briguem.
Grato pela atenção,
Pedro Zambarda de Araújo.
Temos alguns problemas para reunir o pessoal, três, para ser exato:
- As provas do vestibular da FUVEST que vão até dia 11;
- As provas da UNICAMP que vão até dia 17;
- Alguns dos integrantes que moram no Rio (Carol "Shadow"), Jaraguá do Sul (Guilan) e Mogi das Cruzes (Carol "Mozão").
Com esses três empecilhos, e mais algum, se eu esqueci, proponho que, nos comentários desse post, discutamos uma data, se possível ainda em janeiro, para reunir o maior número de pessoas possíveis dentro desse blog.
Por favor, entrem em consenso e fiquem livres para conversar aqui. Peço só que não briguem.
Grato pela atenção,
Pedro Zambarda de Araújo.
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