quinta-feira, janeiro 24, 2008

Sobre o Encontro do TBW, dia 20/01

Bom, eu tinha pedido para o Carlos, Onox, escrever sobre esse dia. No entanto, acabei voltando atrás e decidido eu mesmo escrever.

Motivos? Não faço idéia. Ele muito bem poderia tê-lo feito. Mas deixei quieto. Não é justo que ele escreva sendo que tive a idéia do encontro. Achei que seria melhor eu mesmo cuidar disso.

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Não estava frio, exatamente. O vento fazia uma brisa que ondulava junto com a temperatura, sem oscilar demais, sem nos castigar demais. Uma coisa era entediante e irritante: a chuva. Era fina, nem um pouco espessa. Não molhava tanto e ao mesmo tempo molhava, como estavam a maioria das chuvas daquela semana de verão, com chuviscos tão pontuais quanto em uma vegetação amazonense.

Cheguei pontualmente às 14 horas. Mentira, confesso que cheguei 14:03. Quatorze e poucos, ou muitos, depende do ponto de vista. Talvez seja culpa do meu curso de francês, que tirou minha pontualidade britânica. Não importa muito. Ladislau me esperava na catraca e não havia mais ninguém com aquela rapidez de chegada. São Paulo é um caos para encontros com horas. Sempre esperamos 15 ou mais minutos de atraso.

Lau falou um pouco sobre seus textos, aproveitei e falei dos meus e meu irmão acompanhou o papo sem boiar muito. Gostei da conversa e gostei do fato do pessoal tirar sarro dos textos do Lau, embora ele não aprecie isso. Eu acho que brincar, zoar a aloprar acabam, no final das coisas, mostrando quem nós somos. Seriedade é bom, mas sinceridade muitas vezes traz à tona as minuncias da inspiração. Nunca disse para desestimular ninguém, mas não há mal nenhum na ironia.

Saímos da estação: eu, Lau e meu irmão. Aquelas porcarias dos pingos resolveram ficar mais espessos e rápidos, enquanto meu guarda-chuva parecia um galho torto de uma árvore, todo desgrenhado e com metais soltos. Andamos e vimos um Carlos Onox meio cegueta, que não nos percebeu. Tive que dizer claramente: "Dog, aqui!". Éramos quatro e aguardávamos os restantes.

Esparramei meus livros. Ferreira Gullar, Edgar Morin, Vilém Flusser, Fernando Pessoa. Onox falou sobre medicina, sobre linguística, sobre como é interessante a composição de palavras, a etimologia e falamos de futuro. Lau ouvia atentamente, meu irmão já estava mais desligado, embora falássemos com sossego, sem cobranças.

Antonechen chegou uns 20 minutos atrasados, algo nesse naipe. Falamos de Asimov, distribuímos poesias, comentamos sobre nossas produções. Comentei sobre os assuntos que ando mais relatando ultimamente: loucura e tempestades, coisas que têm invadido meu íntimo. Coisas de fresco. Minha namorada, Ly, chegou algum tempo depois, não lembro.

Decidimos ir comer no Habbibs, que ficava perto da estação São Joaquim de Metrô. Nenhum sinal da Carol "Mozão" ou de qualquer pessoa. Do chão (ou seria do TETO?!?) surge Sir Varios, William Gnann, todo molhado e atrasado. Fomos fazer nosso lanche, regado a esfihas, beirutes e refrigerante. Nada de boemia, só nerdisse.

Pouco antes de irmos, falei para eles sobre literatura Beat. Escritores norte-americanos sexualmente transgressores que influenciaram fortemente o rock. Para reforçar minhas palavras, segue aqui as recomendações do encontro: Geração Beat e On The Road, ambos de Jack Kerouac.

Compramos bebidas, pegamos chuva. Minha mala pesava (além de todos os livros, peguei o Harry Potter and the Deadly Hallows que tinha emprestado pra Ly, peguei o Ensaio Sobre a Cegueira, dela, e meu Mito de Sísifo de Camus, que estava com Onox. Dava pra fazer exercício).

Para seguir com a narrativa, colo umas mensagens de msn:

Ly^^ [CLW] Acho que vou começar a CLL... HAUAHAUHAUHAUHA!!! diz:
LOL nao dxa d escrever as frases célebres:

Ly^^ [CLW] Acho que vou começar a CLL... HAUAHAUHAUHAUHA!!! diz:
"Lylla, seu pai eh efervescente?"

Ly^^ [CLW] Acho que vou começar a CLL... HAUAHAUHAUHAUHA!!! diz:
"Tá todo mundo vivo aí???" (by random mendigo)

Pedro :: The Passenger, Iggy Pop diz:
XD

Pedro :: The Passenger, Iggy Pop diz:
nessa frase do mendigo, eu acrescento um pensamento meu

Pedro :: The Passenger, Iggy Pop diz:
"Não, você tá morto, filho da puta =D"

Pedro :: The Passenger, Iggy Pop diz:
XDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDD

Ly^^ [CLW] Acho que vou começar a CLL... HAUAHAUHAUHAUHA!!! diz:
ahuahauhahuaauh XDDDDDDDDDDDDDDD vc tinha q copy e paste esse nosso histórico no post HAUAHAUHAUHAAUH!!! XDDD


O mendigo resolveu bater papo com nosso grupo, achou que jogávamos RPG. Fiquei em silêncio. Não tava afim de conversas. Puxei uma folha pra escrever e repassei. Lau falava com o dito cujo. O resto ria e eu escrevia. No fim, o ser chapado foi bater palmas para alguma das bandas que tocavam no Centro Cultural São Paulo, nosso ponto de encontro. Então, passada a folha, o lápis e a borracha, todo mundo escreveu. Mesmo quem não materializou, contribuiu pra quem, de fato, escrevia. Anti-Euclidiano saiu desse jeito.


Estava com tempestades. Sabia que não era daquele dia, que não era aquela chuva. Tiramos boas fotos e, graças ao meu cabo e à minha inteligência, eu as perdi. Onox chegou a tirar a camisa e erguer o livro 120 Dias de Sodoma, de Sade, para uma foto. Parecíamos uns estranhos, falando alto e imaginando o futuro. Não sou cético, mas assumo que não acredito em destino, embora o debate sobre nossos escritos muito me agrade.


As tempestades me corroíam e eu resolvi partir. O poema feito por 8 mãos estava pronto e eu guardei na pasta, para transcrever aqui. Eram umas 7 e pouco da noite quando o encontro começou a se desfazer. Talvez nós façamos isso, de novo, em fevereiro. Sem pressa.

Me identifiquei mais com a história da Geração Beat de Kerounac: nos encontramos naquela tarde para fazer os relatos de nossas viagens. Hoje em dia, ninguém precisa ser como os Beats: não precisamos de motocicletas para conhecer o país todo, não precisamos nos privar de residências fixas. Tem Google pra isso. No entanto, com aqueles indivíduos reunidos, queria relatar minhas viagens pessoas, sem uso de drogas e regadas em muitos costumes "caretas".

Onox tinha uma metáfora diferente. Usava o exemplo de Mallarmé: reunia burgueses em volta de uma poesia com várias ligações, subjetiva. Não acho que sejamos burgueses, tem gente mais rica, garanto. Mas éramos, e somos, garotos com muito o que dizer, embora a direção ainda não seja clara. Talvez eu nem queira que esteja clara.

Deixe os leitores saberem qual nosso real significado (...).

5 comentários:

Anônimo disse...

you just gotta let me know!!!

ítalo puccini disse...

Belíssimo relato, Pedro!
Muito bom lê-lo. Boas referências nele presentes.

Sabias que o Meirelles tá finalizando as filmagens de um filme a partir do "Ensaio sobre a cegueira"?

Gullar e Pessoa são fodas!!! (guardadas as devidas proporções, claro).

Passa lá no blog...
falamo-nos,
abraços,
Ítalo.

Anônimo disse...

Uma descrição interessante.

Anônimo disse...

PS: O Dog ficou sexy naquela posição com o Sade em mãos. xD

Pedro Zambarda disse...

Esqueci de mencionar que o senhor Pedro Rabucci também compareceu, embora tenha chegado mais ou menos perto da minha partida.

Trouxe textos interessantes dele, uma resenha do filme Tropa e Elite e outros, além de pessoas que eu conheço do CEFETSP.

É isso o/