terça-feira, dezembro 25, 2007
domingo, dezembro 23, 2007
sábado, dezembro 22, 2007
O Grito do Confinado
O azul púrpura agora brilha vermelho
Tive palavras para serem ditas
Mas tuas más ações criaram feridas
Eu estaria melhor se o Sono Eterno me acordasse
Porém ainda me queimo neste inferno verbal
Que há de tão mau em falar mal
Brilha negro meu plácido lamento, vulgar.
Não há espaço para o azul quando todos gostam do vermelho
Sem opção eu ando a esmo, um pouco mais para baixo
Vagando nas margens dum rio, solitário de frio
Ávido, sacio minha sede com palavras importantes
Eu estaria melhor se a Morte me consolasse
Mas minha trajetória precisa estar nas alturas
Espalho meus pedaços por aí, após esquartejado
E quero que contemplem tais bravuras
Meu sorriso se assemelha a uma máscara vasta e vazia
Gostaria de arrebentar este riso que me deixa preso
Sobrepujar com mil socos este caráter jocoso
Que me sufoca, nauseabundo, dentro do meu próprio gozo!
Eu estaria melhor se esta foice me ceifasse
E com soberbos modos finalizo a aventura
E deixarei recados para amigos, saudades
A todo resto reservo um cauteloso silêncio.
quinta-feira, dezembro 20, 2007
Anjo de Antenas
Formado por circuitos integrados
Componentes de elétrons namorados
Anjo d'asas feitas de fina prata
Suas antenas são pontos de acesso
De emissão, de alta tecnologia,
Onda eletromagnética envia
O atual expoente do progresso!
Anjo de Antenas, milagre veraz
Capaz de processar o mundo inteiro
Capaz de reunir os mais distantes...
Bom anjo que me traz em um instante
Notícias de lugares derradeiros
Como nenhum outro pode eficaz!
quarta-feira, dezembro 19, 2007
Anjo de Atenas
Desciam os dedos deslizando ágeis, em sua lira
Compleição divina, mestre dos gracejos
Seus inimigos fulminava, caprichos de sua ira
Das tênebras pavorosas emergiu sátiro flautista
Ao ver o Anjo empoleirado na mais impávida pilastra
Satirizou a gabolice sádica do empolado lirista
"Atire-se daí, demônio louro de cabeleira basta!"
Quanto mais o flautista gingava, o Anjo tocava
Maldosas canções angélicas que emanavam graça
"Este sátiro ousado está pedindo reza brava"
O que é isso? Voe para o inferno, esterco de harpia!
terça-feira, dezembro 18, 2007
Teoria ou "ponto de vista"
Jovem é estuprada durante uma passeata pela paz, na Rua Brigadeiro Faria Lima, travessa da Avenida Paulista, no último dia 12. A depravação aterrorizou por ter sido cometida à luz do dia, sem nenhum conflito com a polícia e com diversas testemunhas. O criminoso permanece foragido.
Relato de um estudante do curso de Letras da Universidade de São Paulo:
Eram onze horas. Onze e poucos. Os ônibus vindos da Cidade Universitária estavam todos atrasados, meus olhos estavam bastante irritados, meu físico estava um caco, mas o propósito guiou minha motivação, meus passos.
Marchei algum tempo com as pessoas, em uma caminhada irregular, em algumas esperas. Vi o alvoroço nas ruas, as caras estáticas, as tábuas pálidas e os rostos indecifráveis. Via a moça berrar de dor, gemer por sua vida, enquanto ninguém fazia nada.
Gravação de uma senhora de setenta anos:
A passeata sempre foi um costume aqui em São Paulo, por isso sempre tentei ir quando pude, quando minha saúde permite. Últimamente tem sido perturbador. Andar na cidade é um filme de horrores, não é como meu tempo, ah, aqueles anos (...)...
Vi a pobrezinha pedir por ajuda, vi alguns senhores tentarem abrir passagem para fazer alguma coisa, mas o nojo, o asco de ver aquela situação constrangedora, aquele ato desumano, me fez apertar o passo, com medo que aquela aberração acontecesse também comigo. Temi por minha vida.
Diário de um psicanalista:
Estava colado com a garota que foi estuprada no dia 12 desse mês. Poderia ter feito algo, poderia ter impedido que ela tivesse sido violada pelo homem, mas, de alguma maneira, o criminoso era extremamente sedutor, com uma falta de pudor que paralizou todas as pessoas. A própria garota, embora gemesse por sua integridade moral, gemia por um certo prazer. O nosso próprio terror é um tipo de regozijo que, por mais que neguemos, está presente em nosso corpo.
Aqueles que estavam olhando nos olhos do assassino da ética, sem estar embolado na multidão, eram contagiados por sua malícia e sua precisão. Ele nos chocou, nos atraiu, violentando a moça e saindo sem nenhuma conseqüência para si. Fez isso tudo, isso poucos jornais noticiaram, portando uma faca do tamanho de um canivete. Um pedaço de ferro legitimou o ato sexual dele.
Gravação de um pai de família, por volta dos trinta anos:
O estuprador apareceu, sacou um revólver, deu três tiros para cima e raptou a moça. Meteu nela umas sete vezes, gemendo ameaças em seu ouvido. Pensei em proteger minhas filhas, já que a polícia estava à caminho.
Depoimento de um jornalista presente na rádio local:
Foi uma indignação presenciar aquela cena, onde o estuprador usava uma granada para afastar as pessoas. Violentou a moça, mas foi retirado à pontapés pela multidão. Como a Paulista é enorme, não foi difícil para ele fugir.
Pequeno texto embaixo de um desenho de Jonathas, 8 anos, em seu colégio:
Vi a moça e o moço se mexendo na parede, soltando barulhos esquisitos. Ao redor muita gente gritava, muita gente xingava, meu pai falava, minha mãe chorava. Os que tava mais perto arregalava os olhos, mas pareciam como na missa do padre, meio sérios.
segunda-feira, dezembro 17, 2007
Propaganda descarada sobre textos não tão sérios
Weblog que formei com um colega para falar sobre assuntos inúteis, pensamentos desconexos e várias citações de outros sites.
Uma idéia bonitinha para limpar o restante das merdas.
sábado, dezembro 15, 2007
Ainda estou
(...)
Fechada neste apartamento. Já não sei, porém, quem o escolheu; se eu, outros ou as circunstâncias. Já não sei se a escolha foi como o testemunho de um torturado: feito para que a dor cesse. Aqui a respiração às vezes me parece faltar e, então, quando sinto haver uma caixa apertada nos pulmões e nos olhos uma ardência, vou à janela, única aqui, ver as pessoas e ouvir o que diz o vento. Isso me excita e faz voltar o ar, como se o coração precisasse de saber existir outros para continuar bombeando. E o excitamento não ultrapassa o que poderia comprometer minha decisão de claustro, vem na dose certa, com a alegria calma do que é apenas necessário. Mas uma vez, ao ver um casal se enroscando por ali, na madrugada da rua, senti espasmos intensos de vontade e de medo da vontade. Quase abri a porta, vi-me fazendo-o, até; consegui me segurar fechando a janela, e fiz um bolo. Tenho por cá tudo de que necessito. A minha linha com a fome é o número de telefone do mercado. Geralmente uma voz fanha atende, eu lhe digo meu nome e os das compras. Ela mas manda pela mão que recebe o dinheiro por baixo da porta; deixa tudo ali, para que eu pegue depois; já devidamente instruída, a mão. E a casa fica sempre limpa, com cheiro do desinfetante que eu sempre compro o mesmo. Há o velho. Ele também está na minha janela, e vejo-o da janela de sua casa: passa a maior parte do tempo que está nela balançando-se na cadeira enquanto assiste a televisão; enquanto assisto a ele. Às vezes se masturba, sei apenas pelo braço frenético – não consigo vê-lo de frente quando se senta, nem a tevê denuncia: já fez vendo um programa de auditório . Gostaria de ver-lhe a expressão. Aposto que não sorri ao se masturbar. Durante os primeiros dias me impressionei com ele, senti pena, depois veio isso, misto de sentimento e aquilo que um animal sente ao ver outro da emsma espécie. Lembro-me de quando uma mulher e uma criança vieram visitá-lo. Ficaram muito pouco; a mulher sorria muito, como na propaganda daquela margarina ruim, que uma vez puseram ali na rua. Eu não conseguia ver o anúncio todo, mas a mulher sorridente estava lá, com pães e bolinhos no prato. Ela me fazia sentir mal, como se quisesse culpar com seu sorriso nossa falta de riso, apesar de parecer gostar dos bolinhos docemente; última coisa na vida dela, os bolinhos. Ela durou muito mais tempo ali do que a outra na casa do velho. Depois da visita, ele pegou a cesta de frutas dada pela mulher e pela criança – seus filha e neto, creio – e comeu uma maçã, enquanto na televisão um homem caía de um muro repetidas vezes a mesma queda.
Houve vezes que desconfiei dele me saber aqui, vendo-o, estando, lutando com estas paredes das quais necessito – elas são minha libertação porque me subtraem o vício. Ele ficou como eu tantas vezes estivera: plantado com os olhos tranquilos mas intensos, invaginando por aquele buraco lento de comunicação com o alheio, tomando aos poucos contato tangente com aqueles poros de ações expelidas como pus. Vez em quando meu vício parece retornar, emsmo sem aquele exterior todo que me ensinava eu ser louca. Aqui posso ser louca, mas não saberei disso, porque não verei minha loucura nos olhos dos outros. Aqui minha loucura é lei, sem outros se apropriarem dela como vício. Os olhos do velho, umas vezes, essas vezes, parecem mesmo tocar nos meus, como quando se põe o indicador na retina para senti-la, e fico brilhando e me esquentam as órbitas de choro morno. A partir daí, comecei a escrever, não sei se por descontrole da minha solidão ou se para assinar minhas próprias leis – porque é isso que ocorre agora; não é o seu mundo, nem o do velho ou o da mulher-manteiga, mas o de todos, que eu posso ter inventado e até nos inventado. Talvez nem haja este apartamento, nº 304, nem este próximo ponto final. Todods invenções da mão que me entrega sabonete ovos café em pó biscoitinhos peixe arroz desinfetante o mesmo sempre, viu, dona fanha? Mas não importa muito. Precisamos continuar, chegar a uma palavra final que fique e se vá e retorne, mas com a segurança de ter sido e de término – um Amém.
(Certa vez tive um sonho. Quando acordei, não sabia se deveria continuar. Por que os sonhos não têm fim? Pois isso me angustiou. Fiquei em dúvida se a vida era vida ou se um onírico seguimento. Abri a cortina, era cedo e o gasto homem não estava do outro lado, só foi aparecer depois de meio-dia. Tentei me recordar bem do que sonhara: um bolo grande, suculento, interminável. Era terrível! Ele precisava da cobertura, mas não havia manteiga suficiente. Eu ia escalando aquele gigante, gritando, Manteiga!, Mais manteiga!, dona fanha! Então, acordei, acho. Último sonho do qual me lembro bem em anos. Ou pesadelo. Ou algo não-real apenas porque acordei?)
Quando cheguei por aqui, os primeiros dias foram limpos e obcecados. Passei a amior parte do tempo organizando o lugar. Depois, revivendo alguns momentos, falando com fantasmas daquele mundo do qual só me restaram memórias, ferimentos – o olhar delecom um largo horizonte de nãos pelo rosto, depois os histéricos “Louca! Louca!”, gritados para seres imaginários de grande sanidade, supus. – dores que me puseram aqui. Preciso me salvar. Vou levar o velho comigo. Sei que ele sabe. Entende. Criaremos um mundo sem filhas sorridentes e maridos tiranos. Iremos além dos pesadelos, criando finais e finais sem nunca faltar manteiga e frutas e masturbações e letras, até, sim, o fim poder chegar. Não vamos nos inacabar por faltas. Maridos, filhas, netos, namorados, mãos, fanhas, todos enrolando caminhos, dizendo para não se calarem, movendo-se por leis abstratas tão rígidas! Você quebrou, Elisa, a regra do infinito sem saída! Disse à senhora na festa: habitei os campos elíseos, sou elisão e alívio – porque queria dizê-lo. Disse verdades suas, findas ali, queridas no momento. Quiseram-na engolinda nos bons-dias, nas conversas de moscas, zumbidas todas. Não podia dizer como gosto de sangrar embaixo da água; a fonte de pêlo e carne fazendo uma aquarela nos ladrilhos amarelos, levando de mim o necessário para a linda visão existir por uns instantes. Ninguém pode saber disso. Ninguém pode dizer realmente. A não ser para si mesmo. Por isso eu me digo e sinto e vivo as minhas verdades a mim, aqui é lei e deve ser assim até eu esquecer que houve outra. Então, já não haverá escrúpulos, ordens, exteriores, porque o meu tudo estará em mim, o que me importa será o importante. Mas ainda não é assim; tenho o vício de me conter, de satisfazer os mesmos seres imaginários dele, com termômetros nas mãos a medir sãos e enfermos, martelos de juízes magnânimos onipresentes.
Respirei e me intoxiquei de toda ladainha daquele mundo.
(Acabei de tomar banho. Meu corpo nu permanece nu – ainda a vergonha deles me observando -, espero o dia em que seja só o corpo.)
Aqui é como um internato para fugir aos internos. Os internos estão lá fora. Só aqui poderei me libertar. Só.
Bebo bastante água. Acostumei-me a isso quando a vontade de comer, não a fome, vinha por tédio. Tomava copos e copos; depois, mijava-os. Uma boa sensação: corpo-cano, tubulação; assim sentia concretamente minha existência, sem intervalos, o que fazia mais difícil o próximo passo. A aprendizagem é lenta. Nem aprendizagem; tento esquecer-me como uma julgada, devo me ver sem ser pelos olhos dos outros. Hoje a água é ritual. Sem solenidades, porém. Solene o bastante sou eu viva bebendo o que me atravessará. Isso sim é excitante, mas não deixaria meu vizinho onanista de pau duro. Diferente dele, prefiro o interno ao me excitar. Antes de dormir, sinto o calor do corpo e encolho-me ao máximo pra retê-lo. Volto ao útero enroscando-me no meu próprio. Já o velho tem a tevê. Mas sei que ele não a percebe. Só abraça uma cena para engoli-la e fazê-la sua. Ele precisa da calma de fazer parte de uma cena. Assim como preciso do calor.
(Este papel me transtorna. Não sei bem o que dizer com isso. Ele me faz não perceber minha respiração, me vou abrindo nele como um origami se desfaz: perde a forma e o sentido, no fim, já não tem o mesmo nome; é outro. Sinto que sou, aos poucos, outra. Ou que deixo a outra para trás.)
Desenho na garrafa de água recém tirada da geladeira. Desfaço seu vestido de suores em gotículas que se vão ajuntando, crescendo, comendo-se até não aguentar o peso de serem muitas, e rolarem para baixo, amontoando-se no pequeno mar de gotas desistentes. Eu desisti de desistir. Sou agora como a gota na superfície do recipiente que lá permanece. Não me junto às outras. Irei secar aos poucos, sem perpetuar os sísifos carregadores de outros sísifos, e deixarei onde estive uma leve sombra com a minha forma. Talvez na tinta.
(...)
terça-feira, dezembro 11, 2007
História da Filosofia
Ou o nada passou para algo,
Talvez tudo fosse um grande lago,
Uma água, um reflexo sem traço.
Surgiram coisas,
Sumiu a sabedoria,
Nasceu o homem, na alegria,
Na triteza, na dor
De suas conseqüências.
Pesado em seus atos,
O homem se elevou aos autos
De sua comunicação invisível,
Criou a capacidade de pensar
Achando que Deus havia criado,
Sem sequer duvidar.
Pensou um homem,
Pensou as coisas que homem via,
Pensou os símbolos de cada dia,
Pensou nos símbolos de outrem,
Pensou em seu começo, amém.
Pensou, pensaram muitos,
E não pense você que foi sentado
Ou desocupado, pensaram sob ruído.
Pensaram vários tempos,
Pensaram alguns, ambiciosos,
Pensaram em sobreviver nos adversos,
Uns pensaram em se tornar perversos,
Outros pensaram em unir inversos.
Pensa-se hoje, pensa-se em não saber o que pensar,
Pensamos com muito pesar, pensamos em Deus,
Em Zeus, seguramos no raio e nos perdemos no mar.
Pensamos como templários, esquecemos do banho,
Juramos lealdade, nos rebaixamos à condição de rebanho.
Pensamos como nilistas, militaristas e até analistas,
Penso eu como artista, tento pensar.
Penso história, penso comunicador, penso em contas,
Penso dados desconexos e crio pontas, perco a conta.
Pensaram todos os homens uma filosofia,
Quando a filosofia era o veneno de sua história,
A realidade da sua trajetória.
A casa desarrumada e o cobertor
It's less dangerous
Here we are now
Entertain us
I feel stupid
and contagious
Here we are now
Entertain us
A mulatto
An albino
A mosquito
My libido"
quinta-feira, dezembro 06, 2007
Sobre Ignorantes - Conversa de MSN
Será que quanto mais você fala menos as pessoas te ouvem?
Pedro :: Videotape, Thom Yorke diz:
eu tenho certeza que é assim.
Pedro :: Videotape, Thom Yorke diz:
eu tenho a impressão que vou morrer e ninguém vai me entender.
Will "Foi-se." diz:
É incrível.
Pedro :: Videotape, Thom Yorke diz:
mas, essa impressão minha é a prova de que não entendo os outros.
Will "Foi-se." diz:
Faz 10 minutos que eu mando um link para um amigo meu e ele não se ligou que o que ele queria estava lá.
Pedro :: Videotape, Thom Yorke diz:
já deve ter acontecido entre eu e você, não?
Will "Foi-se." diz:
Não assim.
Will "Foi-se." diz:
Mas hoje foi o the best.
Will "Foi-se." diz:
Quanto mais eu falo, menos me entendem.
Will "Foi-se." diz:
Acho que eu devo parar de falar.
Pedro :: Videotape, Thom Yorke diz:
sim, pare. Mas não fique com a ilusão que a situação vai mudar por conta disso
Pedro :: Videotape, Thom Yorke diz:
e, não sei por quê, fiquei com vontade de postar essa conversa no TBW.
Will "Foi-se." diz:
Sinta-se livre.
Will "Foi-se." diz:
Arte é apenas a livre expressão.
Will "Foi-se." diz:
Nada além disso.
Pedro :: Videotape, Thom Yorke diz:
Não é que essa conversa seja arte, mas, dentro desse problema pessoal, está o problema da arte e das demais coisas, creio.
Pedro :: Videotape, Thom Yorke diz:
por mais que eu admita que eu vá morrer, que tudo é delicado e frágil, eu não consigo assumir isso.
Pedro :: Videotape, Thom Yorke diz:
Nem você. Mensagens nossas não são entendidas e, mesmo assim, nos indignamos, continuamos tentando nos afirmar.
Will "Foi-se." diz:
Como assim: "delicado e frágil"?
Will "Foi-se." diz:
E qual o problema com morrer?
Pedro :: Videotape, Thom Yorke diz:
se as coisas não fossem delicadas, não causariam emoções
Pedro :: Videotape, Thom Yorke diz:
morrer é deixar de entender, de certa forma.
Will "Foi-se." diz:
Ih, esqueceram de me enterrar. xD
Pedro :: Videotape, Thom Yorke diz:
hahahahaha XD
Pedro :: Videotape, Thom Yorke diz:
somos dois XD
A verdade é que essa conversa ocorre uma, duas, três, cem, duzentas, vezes que eu esqueço de contar. Sempre é mentira quando dizem que isso tem solução. Solucionar isso seria resolver talvez um dos maiores males da humanidade, descrito com exatidão no título.
E cá pego uma citação de Carlos Heitor Cony, no 1º Salão do Jornalista Escritor, mês passado: "Pessoas felizes não são escritores. O homem que está na felicidade completa não vê necessidade em escrever".
Sem mais. E sem fazer drama à toa.
Fila
A mulher entrou no carro outra vez, bateu com a mão na testa como quem acaba de lembrar qualquer coisa e saiu, de novo.
Andou depressa de volta à loja, aquela loja enorme. Entrou de cabeça baixa, como quem se esconde; desnecessário: certamente ninguém a observaria.
Espremeu-se por entre o povo, o estabelecimento lotado dos que deixaram o presente para a véspera. Andou um pouco por entre as prateleiras, ansiosa. Pegou qualquer coisinha pequena, só para disfarçar. Dirigiu-se apressada em direção aos caixas e meteu-se na maior das filas. Apreciou por um momento a distância a ser percorrida, deleitou-se com a espera enfadonha que teria, era certo.
A excitação era absurda, tamanha a lentidão com que se deslocava, tamanha a zanga dos que estavam atrás. Passados quinze minutos, meia-hora, ainda era enorme.
Tentava conter-se, permitiu-se apenas alguns sorrisinhos disfarçados. A intervalos regulares, moldava uma carranca e resmungava a lentidão, amaldiçoava o gerente, só para se misturar ao coro da multidão.
Passada uma hora, talvez, o calor já insuportável pareceu piorar. Alguém ali atrás disse que o aparelho de ar condicionado parara. Rugiram palavrões gerais. O suor fedia, a umidade somava-se à pressão dos corpos. Era demais; a mulher precisou dar uns pulinhos de satisfação, que não arranjou desculpa para camuflar; indiferentes, ninguém reparou.
O aroma denunciou um pum. Os mais próximos amarraram a cara, pediram uma gota de respeito. A mulher entrou em êxtase; esta, sem dúvida, estava sendo a melhor espera do dia.
À medida que se aproximava mais e mais do caixa, a agitação se moldava em ansiedade. Ela procurava ocultar seus tremores, rangeu um tanto os dentes. A mulher do caixa a chamou, ela fingiu uma surdez muito mal. Chamou outra vez, mais alto. As pessoas atrás já a empurravam, não era mais possível postergar. Deixou que passasse o produto na máquina, pagou no cartão e saiu, a cabeça baixa.
Abriu a porta do carro e entrou, jogou o produto de qualquer jeito no banco de trás, junto aos outros treze. Agarrou o volante com as duas mãos e tamborilou, tentando se convencer de uma calma que não tinha. Mirou a loja, fechou os olhos com força. “Só mais uma vez, só mais uma”, pensou. Olhou para os lados, bateu com a mão na testa como quem acaba de lembrar qualquer coisa e saiu, de novo.
quarta-feira, dezembro 05, 2007
Palavras da Condenação (Glória a vós Senhor)
uma palavra é tragédia.
O carrasco é a língua
pedaço de carne nojento.
As vibrações agourentas
sons mais letais que cicuta.
Músculo da perfídia
dono de um belo filho da puta.
Está na escuta
sentencia a pena deste dia.
A arma mais arguta
não há necessidade de mais esguia.
Líquido
Devo ter engolido um pouco deste ungüento.
É,
Derramei um xarope que derretia mãos
Esburacando o chão com gotas gordas, disformes
Parecia uma super-diarréia, vazando por falsos buracos
Era produto tóxico de uma mente ofegante, fumegante
Os pés mesclavam-se àquele solo lunar, cheio de crateras
Convoco esfregão augusto para limpar a textura desta meleca
Aproveite e venha saborear estes restos de moela, crua
Eu prometi matar, no entanto
Você precisa beber este líquido, amaro conteúdo
Perfunctório xorume escorregando por esta torneira
Líquido hediondo originário do mais sublime morgue
Concretize nosso pacto infecto, mãos de acetato
Sorva meu destilado lixívio
É,
um alívio.
a mentira
nada do que te dizem é verdade. nada do que você vê é verdade. nada do que você sente é de verdade. nada é mais verdade do que uma mentira.
(inspirado num textículo que fiz no fotolog e em um texto do Ladislau, que não por acaso se chama "a verdade". Obrigado pelo incentivo bem simples)
Confissão
É uma reticência que sussurra na minha circulação, trava minhas ações.
Ele abusa da tinta, serra caules de selvas, macha minhas olheiras,
Definha meu rosto, embora cause um sorriso repentino, quase doentio.
É, não adianta. Eu não descanso nunca mais.
Ele me atirou numa sopa de letrinhas, me sepultou numa imprensa,
Me crucificou num texto, é vago como maresia
E se chama poesia.
terça-feira, dezembro 04, 2007
Meu Mundo Vaidoso
Sou antipático, mais um lunático
Ser maléfico, clorídrico, acético
Tive abraços para dar, mas não os dei - vendi
Chorei; perdi
Por favor, onde guardo meu pudor?
Ressentido de pavor,
Eu, cínico, vergonha venceu o amor
Mas, deixo meu coração executar
Um passo magnífico, jocoso atípico
Todo enfático, lírico
Neste mundo tão frio, eu divido meu pão
Um pedaço de chão, um estender de mão
Salutar é tão, o precioso cifrão.
http://guilan.deviantart.com/art/Meu-mundo-Vaidoso-71311496
domingo, dezembro 02, 2007
Vida ácida
Em álbuns amarelados, em pedaços
Entregues aos vermes que marcham
Contra a vontade de sobreviver,
Passo a mão no toco do charuto
Cubano que asfixia o escritório.
Pela lente ocular externa,
Vejo meus próprios atos,
Pela minha mente em caminhada
Lenta, vejo meu significado,
Meu exercício filosófico, minha vigilância
Constante, a tentativa em vão de colocar
Sementes na estufa.
Uma estufa de maconha, as idéias estocadas,
Arquivadas, a lua que não mais consola,
Os sóis sem nenhuma escola,
Não acordo mais para aprender.
Digressão, ondulação das estatísticas,
E a vida vive a ser observada,
O calor queima suas folhas, suas amostras,
Estamos nos consumindo sem
Nem nos entorpecer.
Ondulação, ascensão, locutores expressam
Seus roteiros, acho que agora entendo,
Estou deslocado do meu corpo,
Estou retorcendo minha alma, minha ama
Escrava, estou embaçando meu vidro.
A plantação derrete sobre o ácido de minhas indefinições.
Vivo de escrever, vivo de criar textos e guias para perdidos,
Sendo que os mais desorientados são meus olhos escritos à caneta.