sábado, fevereiro 02, 2008

Caeirismo

Somos um grupo de escritores,
Que interpretam, relê o que se trabalha,
Deixa o papel entulhado para roedores
Decompositores, compositores de obras
Mortas, mortalha artística.

Somos um grupo de escritores,
Rastreadores de assuntos,
Criadores de ligamentos
De significados, dos personagens
Que devoram nossos miolos,
Que impedem as passagens.

Queremos achar significados
Em nós, em sua declaração e voz,
Queremos dar sentidos
Aos mares descomedidos,
Às tempestades terminais,
Aos contatos viscerais.

Somos o que não somos,
Buscamos o ser onde não há ter,
Será e terá conseguido um querer?
Nós, vós, eles?

Nossa geração não acabou,
Somos filhos bastardos do que se renovou,
Sem revoluções ou constituições,
Temos um linguajar incomum das continuações,
Um começo numa história indeterminada,
Inerente, totalmente inseparada.

Nossa geração não vive de pseudônimos,
Ou personagens fixos, heróis sem prefixos,
Temos personagens de várias linhagens,
De várias origens, de um fim em vertigem.

Alberto Caeiro ficaria um pouco feliz
Com a natureza humana que aqui se diz,
Que meus companheiros, meus parceiros,
Insistem em chegar, sem hesitar.

Alberto Caeiro ficaria um pouco feliz
Pelas poucas vozes, pelas mudanças menos ferozes,
Ficaria impressionado com nossa capacidade lenta, nossa
Vida por triz, nossa melodia de atriz.

Estamos próximos da verdade,
O que não quer dizer vaidade,
Tampouco sensibilidade.

Estamos próximos da verdade,
E da diversidade.

Ficamos absortos. Somos um aborto.

--

Inspirado em conversas com Sir Varios (William Gnann).

3 comentários:

Anônimo disse...

Abortos à contemporânea natureza comum como arte,
Somos parte de um mundo onde dele não fazemos parte...
Partimos dum parto pressuposto,
Caímos num mundo de concreto deposto

Pedro Zambarda disse...

Não somos separados do todo, mas somos tão unidos que causamos confusão, ilusão fixa, realização.

ítalo puccini disse...

muito bom, Pedro!
guardadas as devidas proporções, e sem querer iludir, é um belo manifesto de alguns poucos desse século XXI (sim, pois sabemos que a maioria da população mundial sequer pensa em algo!).

Identifiquei-me muito com alguns trechos. Um deles foi esse:
"Somos um grupo de escritores,
Rastreadores de assuntos,
Criadores de ligamentos
De significados, dos personagens
Que devoram nossos miolos,
Que impedem as passagens.

Queremos achar significados
Em nós, em sua declaração e voz,
Queremos dar sentidos
Aos mares descomedidos,
Às tempestades terminais,
Aos contatos viscerais".

parabéns pela sensibilidade que conseguiu passar nesta poesia.

Í.ta**