Ana Maria Machado, em artigo presente no livro Balaio: livros e leituras (2007), apresenta a importância fundamental da leitura na formação do professor, destacando o agravante de que há um medo por parte do professor de entrar em contato com os livros, “Um objeto estranho e com tal carga simbólica que o ameaça”, conseqüência de sua má-formação, cada vez mais longe da leitura livresca.
Esta afirmativa abre caminho para uma reflexão sobre o professor enquanto um sujeito-leitor, ou não-leitor.
Relevando o contato diário com diferentes materiais de leitura (livros didáticos, trabalhos dos alunos, comunicados escolares), pode-se classificar o professor como um leitor. No entanto, se o professor não sentir a leitura como uma necessidade para si – e não só como uma exigência burocrático-profissional – ele não passará de um leitor-por-obrigação, e pouco conseguirá contribuir para a formação de novos sujeitos-leitores. Logo, a caracterização do professor como leitor ou não-leitor está relacionada à significância que o próprio professor concerne às atividades que realiza como docente.
Segundo Batista (1998), antes de simplesmente inquirir ao professor um julgamento de leitura, há necessidade de descrevê-lo e compreendê-lo em suas práticas, analisando em que situações ele se forma como um sujeito-leitor. O mesmo defendido por Brito (1998), que traz a impossibilidade de se afirmar que o professor é um leitor, muito menos, pela sua atividade intelectual, que ele é um não-leitor. Segundo ele, “mais que ser leitor ou não-leitor, o professor é um leitor interditado”.
É também importante ressaltar as questões que envolvem as condições de acesso e de produção de leitura dos professores. A formação de um sujeito leitor é tão determinada pelas condições sociais nas quais ele se encontra, quanto pela própria tomada de iniciativa do mesmo em prol de tal formação. Daí sendo muito relevante analisar o que é que o professor lê, quantos livros ele tem condições de adquirir para seu aperfeiçoamento pessoal e profissional, e que tempo sobra para que ele busque a leitura de textos variados.Vale ressaltar ainda que a definição de um professor leitor ou não-leitor passa, primeiramente, por outra definição: o que é ler ou não-ler? E, levando em conta que o ato de ler engloba diversas outras práticas e modos além de somente a leitura livresca (caracterização burguesa do que é ler), o professor, é, sim, um sujeito-leitor. A variedade aqui está no como o professor lê, ou seja, que sentido ele dá/constrói à própria prática da leitura.
artigo publicado no jornal ANotícia de 21-02-08 (circulação estadual), p. 3 (http://www.an.com.br/2008/fev/21/0opi.jsp)
Í.ta**
quinta-feira, fevereiro 21, 2008
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Um comentário:
Julguei interessante e verdadeiro. O aluno raramente se interessa por leituras se seus professores - incluindo seus pais - darem atenção ao hábito também. Eu agradeço ao meu pai por isso, e a alguns poucos professores, pois sem isso não teria adquirido essa forma-de-vida (que por vezes não me deixa dormir).
O conceito de ler e não-ler foi bem colocado, também. Sem contar a superação da leitura livresca, que é quando você lembra da professorinha, aquela, essa mesma, falando: "Ah, mas drummond é ruim... Manuel Bandeira, para quê?... quero mais é Vinícius!" Ou então aquela pagação-de-pau abusiva em cima de poeminhas românticos sem-fundo, desprezando outros como a pedra no meio do caminho. (Nel mezzo del camin había una pedra...)
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