terça-feira, fevereiro 19, 2008

Tentativa: Akira I

_____A noite caía. No subúrbio de Londres, aquela boate em breve encher-se-ia de pecados. Todas as noites, seu néon vermelho atraía os mais devassos perfis humanos. Porém, antes que o estabelecimento abrisse, o quarto 205 já testemunhava seus momentos de depravação.
_____Sobre a cama circular, posta debaixo de um enorme espelho e ricamente rendada, via-se uma mulher. Deitada, ainda gemia. Espalhados pelo quarto, partes de uma lingerie preta e vermelha, sugerindo o modo como ela estaria vestida há algum tempo. Seus cabelos ligeiramente ruivos ondulavam delicadamente.
_____Contrastando com a sensualidade diabólica da figura feminina, um homem sentava-se ao seu lado. Seu rosto era um tanto infantil - seria erro chamá-lo de homem? Não trajava roupas, mas a calça militar estirada adiante da cama - atirada por alguma mão excitada - seguramente lhe pertencia, tal qual o coturno negro jogado displicentemente ao seu lado.
_____Desafiador, observava os resultados de suas habilidades e truques nas expressões da mulher. Seu semblante era se satisfação. Desviou momentaneamente o olhar para o lado de seu travesseiro: lá havia um maço de cigarros. Pegou um e acendeu. A mulher levantou-se, ainda imersa em êxtase, e beijou-o. Após aceitar o afago, mudou de idéia e virou o rosto.
_____-Acabou, Sharon. Vá embora.
_____Grosseiro e insensível. Era assim que ele gostava de ser visto. Capricho? Talvez. O fato é que não pretendia envolver seu coração com sentimentos como o amor. Nada sentia por aquela pessoa com a qual compartilhava a noite. Nenhum frio na espinha. Respiração mais rápida por motivos meramente biológicos. A mulher não parecia abalar-se.
_____-Fala como se tivesse pago um programa comigo! Enfia nessa cabecinha oca que eu te amo!
_____-Não mesmo. Vai embora, Sharon.
_____-Me tratando como objeto... Akira, assim fico com mais vontade de não ir...
_____-Não enche.
_____Akira levantou-se e jogou fora o cigarro. Pegou a calça e vestiu-a. Ouviu um suspiro. Virou-se. Sharon deixou escapar uma lágrima. O homem viu-a deslizando por sua face. Sharon nunca chorara.
_____-Desculpe. - ela começou a chorar mais. - Sharon, não chora!
_____Estragara tudo então? Ela nunca havia chegado a tal ponto. Seria o sofrimento dela pela sua falta de tato tão grande assim? Ele não suportava ver mulher alguma chorando. Subiu novamente na cama e abraçou-a.
_____-Não chora... por favor...
_____Abraçou-a mais forte. Após segundos, ela correspondeu. Se encararam. Ela estava frágil, fraca, desamparada, mas absolutamente divina. Delicada como as pétalas de rosas brancas. Seu coração bateu mais forte. Não queria amá-la. Mas seria amor confortá-la numa só noite? Suas mãos deslizaram pela cintura dela. Passou-as por lugares proibidos. Ela parou de chorar. Entregara-se àquele amor, tão brilhante e verdadeiro em sua mente, tão obscuro e falso pelos olhos verdes de Akira.
_____A noite ainda não acabara. A rosa branca acabara de tornar-se vermelha.

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Primeiro texto depois de algum tempo sem escrever. Akira é meu personagem preferido, acho que escreverei mais coisas sobre ele... e acho que arrumei uma forma de colocar parágrafos aqui xD~

Até o/

2 comentários:

Carlos Onox disse...

"[...] tal qual o coturno negro jogado displicentemente ao seu lado."

Tal como ficaria melhor, ou mesmo assim como, que prejudicaria menos a sonoridade do parágrafo, como as conjunções com "tal".

"Seu semblante era se satisfação."

Errinho de digitação: "era de [...]"

"Desviou momentaneamente o olhar para o lado de seu travesseiro: lá havia um maço de cigarros."

A partícula "lá" está empregada sem necessidade real. O sentido ficaria mantido sem ela, e, por ser um monosílabo tônico, estaria melhor no final da frase. Pela sua tonicidade elevada, agrada melhor terminando que começando.

"A noite ainda não acabara. A rosa branca acabara de tornar-se vermelha."

Boniteza de imagem, diabo! Adorei a metáfora para a transformação emocional e sentimental da personagem Sharon, ficou legal essa colocação. Mas uma dicazinha: a repetição do termo "acabara" estranhou o parágrafo. Em nome dos meus ouvidos, não troque o "acabara" da segunda frase, não consigo imaginar um sinônimo forte e sonoro o bastante para tirá-lo; "terminara" criaria uma aliteração indesejada, tirando um pouco da atenção da metáfora. "Ficara", talvez, reflita melhor, no lugar de "acabara de tornar-se", o significado e a força da frase, da metáfora. "A noite ainda não acabara; a rosa branca ficara vermelha." Soa bem!

E outra opiniãozinha, talvez desimportante: uma vez que a ação se dá no "tempo corrente" do texto, ao menos no final, não vejo uso para o pretérito mais-que-perfeito nele. Acho que fica melhor "Entregou-se àquele amor [...]" e "A noite ainda não acabou." Ah sim, se considerar essa observação (e ela estiver correta, obviamente), fica melhor usar tornou-se. "A noite ainda não acabou. A rosa branca tornou-se vermelha." Ótimo.

Escreva mais, muito mais. Quero ver a continuação da história. Prossiga, e sempre que precisar de alguma ajuda, dê-me um aviso.

Ah sim, pelo estilo do texto, recomendo a leitura de Stephen King e Edgar Allan Poe. Alguns trechinhos do King são bem escritos, metaforizados, inteligentes, e merecem atenção; já o sr. Poe, o lendário criador de "The Raven", tem alguns dos melhores contos de suspense já vistos. The Black Cat, The pit and the pendulum, Berenice (um dos meus favoritos) e The fall of the house of Usher são minhas indicações maiores.

Anônimo disse...

Argh, quantas falhas por não revisar o texto >_>... o do final fez meu pâncreas doer~

Btw, thx pelo review, rly vai me ajudar :3