sábado, junho 30, 2007

Entre césares e cíceros

Uma grande discussão invadia os corredores,
Invadia os ouvidos credores, devedores
De conhecimento, sofredores.

As vozes bradavam apaixonadas,
Num descaso claro
Com a crítica e a sinceridade revoltadas.

Naquele teatro cego,
Minha voz revirava aberta,
Numa febre alerta
De permanecer bela.

Naquele teatro liberto,
Estava aprisionado em meu discurso,
Naquele espetáculo repleto
De idiotas, reprimi rápido
O vagabundo.

Discurso prolongado
Propositadamente, literalmente
Abandonado aos fluxos da retórica,
Aos repuxos da história.

Um pouco de Marco Túlio Cícero,
Sinceridade envolvente, discurso inteiro
Baixando a guarda frente ao despotismo.

Um pouco de Caio Júlio César,
Deturpando várias eras
Pela artilharia, sem cessar.

Cesariamente imperioso,
Ciceramente persuasivo,
Meu discurso, recurso
Romano e momentâneo.

terça-feira, junho 05, 2007

Defesa da Poesia - Final

Todas as calúnias contra a lírica,
Contra a métrica e a ira
Formaram o rosto doce de menina,
Rosto macabro da anestesia.

Dorme André,
Ronca, seu mané,
Deixe seu corpo aglutinar
Com o asfalto, com o descalço
Mendigo, perdido.

Dorme, adormece, desencane,
Sua poesia vai agora para o lance
Perdido da metrópole, engole,
Cospe seu protesto, enche
Seu derrame.

André podia ser José,
Podia ser seu pé
Pra essa trilha,
Essa sina, garota.

André podia ser seu amado
Paterno, seu vínculo materno,
Seu amor eterno.

Decerto, poesia é seu encanto
Perpétuo, seu inimigo
Didático, vingativo.

domingo, junho 03, 2007

Pardon me pela propaganda, mas...

... preciso mostrá-lo aqui, para começar!

http://sombra-paranoica.blogspot.com/

Montei-o para publicar o que escrevo de cunho mais pessoal e voltado ao público brasileiro em especial. Aqui, no thebluewriters, vou tentar postar somente os trabalhos mais elaborados.

Sem mais para o momento, e pedindo desculpas novamente pela propaganda, vou-me.

quarta-feira, abril 25, 2007

Momentum

"Então dois ossos roídos me assombraram...
- 'Por ventura haverá quem queira roer-nos?!
Os vermes já não querem mais comer-nos
e os formigueiros já nos desprezaram'."

Augusto dos Anjos



Condensarei agora, num instante,
cada frase, pensamento ou teorema
que, na alternância entre insânia e razão,
tenha sumido ou se calado.

Ó heliogabálico homem!
vê a vida num momento,
num momento vê a vida:
sibilante, cruel, irreal e real.

Vida? Momento?
Instante? Desespero?
Sofreste? Acabou seu namoro,
sangrou seu nariz, quebrou seu braço:

Sofreste? Saiba que não:
quão terrível é a dor daqueles
que entendem que a vida é uma aranha
a fiar seus destinos com fios negros?

Pior os fadados
a afundarem em estudos
e entenderem que a homogênea massa de carbono
é sua melhor amiga...

Homo sapiens? Homo infimus!
Saco de matéria orgânica!
Imponente conjunto de células
que perante o primeiro vírus se ajoelha.

E os doentes? Pobres e esquecidos enfermos!
No velho a tremedeira incontrolável
graças ao Alzheimer que o assiste; a angustiante
orbe ocular de uma criança morta de fome!...

Alucinógeno ou sonho? Real ou irreal?
Estou em uma cama – e dopado! –
ou sonho estar em uma cama;
também dopado?!

(Quanto mais desejo o absurdo, mais ele se afasta;
seja o suicídio...
seja a garota pequena e suja que come chocolates
e não faz idéia de nada – e nem quer fazer.)

A assombração deste momento
se reflete na pergunta:
por que me deste, minha Mãe, consciência
para ela pesar durante minha vida inteira?

24/04/2007

sexta-feira, abril 20, 2007

Arte fato.

Artefato.
Fato da arte.
Ao artífice.
Arte, fez
Feto de arte.

Faz da arte feito.
Feito da arte.
Faz a arte por arte.
Farto da arte,
Desfaz.

Fitando o feito.
Vazio no peito.
Faz.
O artífice farto:
Arte sem afeto.
Arte de feto.

(Inspirada numa exposição que vi de relance na cidade, chamada "arte fato".)

segunda-feira, abril 16, 2007

Argonautas Contemporâneos

Aqui, direto do Peloponeso
Dirijo teus companheiros
Navegando por águas
Desconhecidas e conhecidas
Somos heróis de todas as eras
Manifestamos nossos destinos
Manipulamos nossos augúrios
Na busca do Velocino de Ouro
Partimos agora em busca do

Velocino de Deus.

Além de todas as montanhas e ilhas
Que pudemos encontrar
Até mesmo a ilha das Amazonas
Que almejaram nos soçobrar
Atravessando monstros de diversas culturas
Com nossas flechas abençoadas e impuras
Procuramos Deus mas este não quis ser encontrado
Deixamos somente um recado
Em sua caixa postal




Ele nos respondeu, em uma carta ao nosso navio:

"Assim que sair da lavanderia
Mandarei registrado
Para evitar qualquer extravio."

terça-feira, abril 03, 2007

Tristeza do Outono

Gentem.

Abismado como estou com esse radical início de mudanças climáticas, deixo aqui meu protesto para com o clima e nós mesmos. Gostaria de pedir à própria atmosfera para parar de se auto-aquecer, mas um singelo poeta tem poder apenas de observar os fatos, e contar a seu bel-prazer o que lhe convém ou o que seu Eu Lírico trama.



Tristeza do Outono

Sob a laranjeira penso
Divago na sombra fresca
O sol lá em cima arde
E a gente aqui embaixo, sede

Do sul os ventos álgidos
Dão lugar a um mormaço diáfano
Para dar o sabor outonal
E as folhas ainda verdes
Não douram - calor infernal

Na minha rede estirado
Sob a fresca sombra enfado
Suspiro - mais carbono
Para tristeza do outono.

quinta-feira, março 29, 2007

I - Magdalene

Mordi-a com amor
Coloquei todo o sentimento ali.
Ignorei sua dor,
Inimaginável prazer senti.

Ela olhou para mim
Enquanto sorvia sua vida.
Seria ali o seu fim
Ou ainda havia saída?

Ah! Meu amor, como a amo!
Se a mato nao me consolo,
Por tua presença eu clamo!

Soltei-a lentamente
Para seu maior conforto.
A mim seu corpo tem serventia
Somente vivo, não morto.

---------

Poesia feita meio que sendo narrada por um personagem meu (Sim, ele é um vampiro.). Magdalene é o maior "brinquedo" dele. Tava a fim de brincar com rimas nesse dia XD.

quarta-feira, março 28, 2007

Defesa da Poesia - 2

Lamentoso solo
Onde o lamentado
André permanecia
Fixo,
Pensante na vida.

Seguia, sem despertar atenção,
Nem desviar sua má ação,
O espírito da cidade,
A ópera da eternidade
Inanimada, da habilidade
Sufocada, inerte.

Semelhante aos aparecimentos do Diabo à Cristo,
Como os sustos da menina adormecida e seu grito,
Tomou a forma de todas as vozes
E de todas as engenhocas, disfarces
Dos desejos humanos, são as cidades.

"Ousas tu, defendes tu
Essa frágil poesia, abstração?
Queres tu, ofendes tu
Com tal inútil insatisfação?
Não podes ser diferente,
Nem pode estar distante
Do universo que ilimitado
E incorruptível, é o muro
Do material, o chão
Sujo com tua traição."

segunda-feira, março 12, 2007

A Queda da Rosa

A Queda da Rosa

"Clara manhã, obrigado
o essencial é viver!"
- Carlos Drummond de Andrade

I

A Rosa.
Certezas
diferentes
e iguais às minhas.

Repousa na terra: para
ela migrou a vida; nela
se deita a morte.
Uma rosa que nasce
e da terra suga a vida,
diverte-se enquanto
um cadáver abaixo dela se esconde...

A Rosa se enrola como um caracol...
"Olhem! Ali nasce outra!"

II

A semente enterrada; o óvulo, imaturo.
Na Terra
germinando...
Uma prostituta, um padre, um coveiro.

Uma criança no ventre,
luta, espera.
Seu caule, interno
à terra, ao calor, à placenta
da mãe; pré-funestos.

Nasceu a Rosa!
Livrou-se da prisão da terra
úmida e fértil.
Forma – simplicidade.
Tanta vida em tão pouca matéria!...

O tempo corre. Tanto
para quem vaga quanto para quem fica.

III

Uma Rosa não é uma rosa.
Atenção à vida.
Cor, perfume.
Mijo, sutileza.
Morte.

Uma rosa não é mais nem menos
que um carneiro uma pomba
uma garota que come chocolates.

Rosa-flor.
Rosa-cor.
Rosa-vida.
Rosa-náusea.
Rosa-virilha.
Rosa-mortalha.

Os sentidos não à todos confundem igualmente.
Eu falo – mas muitos não ouvem-me.
(ou escutam-me)
A Rosa fala – e não a entendemos.

Passado futuro fundem-se
no Interminável.

Colha uma flor
em seu jardim, olha-a
como quem olha toda
a vida de um mundo de vida
passageira e instantânea.

Uma janela se fecha
um pêndulo pára
a moça suspira:
algo ocorreu.

O tempo parou. A vida parou.
Tantas mil coisas
padecem e nascem
num mísero instante. Um mísero instante
de suspiros,
partições
de idéias, de homens,
um instante como todos
os outros.

IV

A noite que chega, afasta
os outros, o outro, some
com a luz, e fica o reflexo
da vida, da morte fria
e pálida... pálida
como um corpo abandonado à beira da estrada,
a manta com que a mãe
envolve o filho à noite,
uma noite gelada.

O caule se quebra, a flor murcha,
o câncer se instala, a mente perece;
e tudo volta à aspereza do túmulo!
Húmus, alimento, no solo – saturado.
(o mais adubado solo é o do cemitério)

Nos olhos, uma vez brilharam sonhos
agora: raízes
de uma roseira...
E as vértebras de uma cobra morta.

Carne podre serve de alimento:
A COMISERAÇÃO DOS ARTRÓPODES!
Sarcófagos que guardam só poeira,
ossos, lembranças – mais nada.

Sob um poço fechado pelo triste coveiro,
nasce uma flor...! Uma única flor...!
Aquela que se alimenta
do que à terra o Morto legou.

V

Uma Rosa está caindo
esperando alcançar o chão...
Tendo sua imagem vista e admirada,
mesmo estando seca
e esmagada.

27/12/2006.

.

Foi montado durante meses, quase um ano de trabalho. Representa mais que a vida; diferente do outro, representa a minha vida e forma de encará-la e de como eu penso: entender este poema é entender a mim.

Agradeço todos que lerem e comentarem.

quarta-feira, março 07, 2007

Defesa da Poesia - 1

André ele se denominava,
Andava de madrugada
Com uma bituca do cigarro, amargura.

Gosto azedo em sua boca
Das carícias pouco entendidas,
De deslizes desenrolados, desandadas
Aventuras, uma louca
Amante, serva, moça.

Agora estava sentado na borda da calçada,
Numa lua nublada, numa avenida conturbada,
Tomando ar para o discurso, palavra não gritada.

"Poeto para mim,
Para uma aceitação, um sim
Animado, sem fim.

Discurso, abuso
Do direito incluso
De manifestar luto
Pelo verbo abandonado.

Defendo a poesia desse concreto frio
Nessa calçada, mausoléu e rio
De correnteza das palavras humanas,
Defendo a poesia de televisão,
A prosa das causas artísticas
Enterrada num cotidiano são."

terça-feira, março 06, 2007

Necropedofilia

Dois pequenos olho, um tímido nariz, uma pequeníssima boca; tudo na face
daquele anjinho que seduzira-me: tornou-se amada
apesar de morta, triste e infantil;
mas, em breve, meu amor será substituído pelo do verme...
não deixarei! Hei de mantê-la a meu lado;
em minha casa ficará! Mesmo estando fria...

Empalhada como um animal; uma boneca fria
e eterna; constituir-se-á isso – e apenas isso: boneca de inexpressível face;
tornar-se-á um ornamento com outras assim ao seu lado!
Afrodisíacos!... Enfeites!... Minha amada
provocará o libido meu e dos Criados; e o verme
invejará a orgia bacanesca em torno do minúsculo cadáver infantil...

Desejo-te: teu semblante erógeno e infantil
provocas-me; e, embora incomum, minha paixão por tua fria
carne é real. Não há verme...
Sequer um... que ganhará sua face
além de mim! – pela eternidade será minha Lolita, querida, amada,
e ficará comigo, sempre a meu lado.

Sortudo daquele que adentrar minha tumba: lado a lado,
milhares de corpos – empalhados – posicionados em uma orgia – eterna e infantil –
de proporções sádicas; não haverá mais pessoa querida ou amada:
só um museu cadavérico. E fria,
triste e aterrorizada manter-se-á a face
de nosso visitante; tornar-se-á o almoço do grande coveiro-mestre: o verme.

(almoço ou jantar? tanto faz...) E como me esqueço dele! Do verme –
que responsável é pelo sumiço da carne, e ao lado
da ossada, tem sua sesta. E perante à face
angelical e pálida – nem mesmo a infantil... –
não sucumbe! Nem imagina, pensa ou comove-se com a razão da fria
temperatura do corpo de quem só foi, depois de morta, desvirginada e amada...

Desculpe-me, pequeno entalho sem vida: o verme tem a mesma inocência infantil
que você. Não conhece a morte, mesmo morando a seu lado; nem sabe que sua fria
refeição teve outrora na face o olhar meigo de uma criança amada...

15/11/2006

.

Uma sestina: poema criado com base em 6 palavras dispostas no final de cada verso, alternando-se em cada uma das 6 estrofes e terminando em um terceto em que cada verso possua duas dessas palavras, sem repetição.

Um desejo antigo e forte meu. >"<

terça-feira, fevereiro 27, 2007

Iniciando

Sou o último a postar no blog, mesmo tendo meu convite confirmado a algum tempo. Estou em período improdutivo, como todo começo de ano é. Começarei com uma autobiográfica deste ano, que título não carrega. Dou meus votos que participarei com frequência e com coisas mais interessantes.

Deixei de ser quem era
Esqueci antigos paradigmas
Agi diferente.
Da reação esperada.

Consegui a iluminação
Aquela simples e destoante
Que vem sem aviso prévio
Mudando a mente velha
Acostumada e estática.

Hoje minhas procuras são diferentes
Não almejo aquilo que desejei
Anseio o que rejeitei
Sou mais Carlos
E menos Antonechen.

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Exegeses

Andei até encontrar

(eu não sabia o que era, mas conheci minutos depois)

Um dicionário ambulante pra conversar

(no nosso mundo real, dicionários ambulantes não existem, mas considerem alguém fantasiado, ou um dicionário de verdade encarapitado em cima de um carrinho de rolimã, ou sobre patins - movimentando-se de alguma forma - ou simplesmente possa ser uma expressão que o autor encontrou para expressar uma escolha vã)

Sobre Deus, filosofia, paz, escargots, abridores de latas e liquidificadores

(atos de alguém desesperado por diálogos)

Assuntos que eram discutidos minuciosamente

(pormenorizadamente, afinal, estamos tratando de dicionários)

Deus.

(O aquele, triângulo, universal, paradoxal e espectral e ainda mais etéreo)

cansamos de deus - filosofamos

(ou fingimos que filosofamos, porque aniquilamos o ato pensar)

A Paz

(eu vi uma pomba branca ser atropelada por uma ambulância num pátio de hospital)

Escargots

(chiques, nuas e cruas, lesmas antagonistas que invadiram um espaço considerado de bom valor para discussões)

Enfim, peguei uma lata de sardinha e fiz um rolmops.

(com vitamina de abacate)

Poemínimos

I

pinto
com
tanta
tinta
tanto
tempo
rodo
tonto

II

com
amor
amei
anoitece
ria
o meu dia.

sábado, fevereiro 24, 2007

Crônica #1

Já eram vinte e três horas, e nenhum deles havia chegado no lugar que marcamos. Foram pegos. Com o coração batendo num ritmo anormal, peguei minha bolsa e saí do recinto, olhando de forma quase paranóica para os lados. Um ônibus vinha na rua, e quase imediatamente fiz sinal. Entrei.

Tentando desviar meu pensamento das torturas que certamente já estariam sendo aplicadas nos meus companheiros, olhei para trás. Havia um homem ali, com roupas tipicamente vestidas por mafiosos e me olhando como se me avaliasse. Tendo certeza de que sua intenção não era dirigir-se a mim como um partido em potencial, levantei-me e desci no primeiro ponto possível.

Como suspeitava, o sombrio homem desceu também. Eu não sabia onde eu me encontrava, e seria inútil tentar achar conhecidos por ali. Apressei o passo e puxei minha pistola; a última coisa que queria era usá-la, mas o homem estava pedindo isso.

Ele era mais rápido do que eu, com certeza vou "cair" dessa vez. Como Domenic e Estela. Como todos os homens que admiro. O sujeito me alcançou. Era o fim. Pegou meu ombro. Tentei atirar. Não podia. Não sou assasina. Calmamente, ele disse:
-Moça, deixou seu relógio cair.

--------x---------

Colocado com linhas separando os parágrafos porque eu não lembro como coloca (/incompetente). Ficou bem menor que o original, no papel. E sim, tá simples.

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Pormenoremas

Um poema
leve dilema
pra descrever
o que sonhar

quais letras cerzir
entremeando temas...
assuntos...
o torpor...

cada página
quando torço
verte rios de sangue
e lágrimas
que secam ao sol

desejo...
tudo rápido
descompassado -
em tempo
emprestei um compasso.
perdi um metrônomo.

sem tempo para patíbulos
na escolha entre cáftens
vejo pormenores
contidos em detalhes
nos cartazes
de adolescentes
nuas
despidas na calçadas
as exibidas.

álgido hálito que perpassa
inebriantes cartilagens e tendões
do meu dilema
encarcerado sabe aonde?

não neste poema, mas sim

na minha pena.

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Pensamento do Escritor Medíocre

Nada,
Não disserto nem sobre
Fracasso
Ou Descaso,
Não discuto, sou pobre,
De palavra abalada.

Nada que vejo é maduro
E toda a circunstância
Se torna peso duro,
É a falta de constância.

Nenhuma inspiração, nenhum desejo,
Nenhuma inquietação, nenhum despejo,
Toda a libertação, todo o desespero,
Pilha dos papéis, do fracasso.

Montanhas e montanhas de palavras,
Abismos e abismos de culpas,
Mas um aprendizado,
Um laço delicado.

Minha loucura está somente,
Tão decididamente,
Dormente.

A frustração e o incomodo
São seu duradouro
Ronco.

terça-feira, janeiro 30, 2007

Um pensamento que fala de visão, mas não de olhos.

"You put on our brave face and slip over the road for a jar.
Fixing your grin as you casually lean on the bar,
Laughing too loud at the rest of the world
With the boys in the crowd
You hide, hide, hide,
Behind petrified eyes."

Paranoid Eyes.

Dizem que, de todos os sentidos, a visão é um dos que melhor representa o homem. Olhos são aparelhos que, através de um engano e de uma perspectiva própria, criam uma energia que ilumina e integra os sentidos aparentemente distintos, como o tato e o olfato. No entanto, acho um engano pensar que a visão pertence apenas aos glóbulos oculares. A perspectiva está presente em cada cinza que integra sua existência.

Outra coisa assustadora é constatar que, além de nós, podemos enxergar objetividade em objetos, em construções externas, dintintas completamente da nossa natureza. Podemos ver futuros, desastres e glórias num pedaço de pedra. Vemos linhas do nosso pensamentos em pensamentos de outros, em outros seres. Chamo isso de milagre da separação, que não é solitária por existir a individualidade. O dia que o egoísmo estiver morto, o pensamento terá sua parada e a solidão recobrirá tudo o que existe em qualquer realidade sem vida, com paisagem morta. Uma paz plena, um desespero pleno.

Então, na próxima vez que for falar no futuro de jovens ou no futuro das crianças, pense que até o enfermo tem futuro. Sempre podemos nos agarrar às memórias e aos aspectos simples da vida, ou até podemos não depender de nada, é tudo inconstante. Pense que um morto pode gerar destinos simplesmente pelo que ele deixou em nossas mãos. Pense que sua vida pode mudar completamente nos próximos 30 segundos, mesmo que você seja cego, não só nos olhos.

"You believed in their stories of fame, fortune and glory.
Now you're lost in a haze of alchohol soft middle age
The pie in the sky turned out to be miles too high.
And you hide, hide, hide,
Behind brown and mild eyes."

Obrigado, Pink Floyd.

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Arquitetos Lexicais

É isso aí gente. Podemos usar sem medo essa designação.

Trabalhamos com as estruturas lexicais (basicamente nosso vocabulário), nossa gramática, tudo em prol de um bom ritmo contido nas poesias para agradar aos nossos leitores.

O aperfeiçoamento do ritmo, da musicalidade, transforma qualquer frase filosófica de impacto em uma sentença deslumbrante. Nossas poesias ressoarão alegres com seu próprio som interior.

Implorarão para serem transformadas em letra de música.