domingo, julho 29, 2007

O Poeta do Carrasco

Quando te vi no desespero e na agonia
Este poeta estendeu a mão
E nos mais profundos sentimentos
Decapitou o taciturno em questão
E a cada dia tento esquecer
Algum medo não esquecido

Não permita que eu vá
Onde o desconhecido me aguardar
Não quero saber
Onde me esconder
Permaneço nesta ilusão salutar
Ainda que todos me ultrapassem

Frustrante é a impossibilidade de lutar
A letargia de um não saber, de um calar
Espero inquieto em um tempo que não pára
Aterrorizado a cada momento

Não quero ir, covarde do jeito que sou
Vejo uma velha velando um relógio de bolso
Uma menina brincando sobre os destroços de um corpo

Perante o relance de uma vida despedaçada
Agarro uma mão que me lograva
Abraço meu algoz que brincava com versos
Com júbilo e cabeça arrancada

Relevo o que não espero

Relevo, que não é montanha,
Mas a senha de um verbo, reconsidero
É o tema desse poema, desse texto,
Desse ataque mal-feito.

Relevo as crenças religiosas,
Porque tolero ignorantes e os interessantes
Crentes que beneficiam toda gente,
Relevo ateus, dos mais ignorantes
Até os discursivos, os incisivos.

Relevo guerras, relevo pazes,
Porque os ases das cartas não são algozes,
São apenas jogatina, serotonina
Ativa como uma corrida.

Relevo céus e terras,
Júbilos e Rubis
Que são adornos dos vis
E irreparáveis cafajestes.

Relevo as palavras que tremulam os atos,
Desfazem abraços,
Relevo os tapas tanto quanto os amassos,
Pois não menosprezo contato.

Relevo porque sou Afonso,
Alguém que já foi rico, sonso,
E agora se recolhe atônito, meio morto.

O que pode-se fazer?

O que pode-se fazer?
Nada... Não pode-se fazer...
O que pode-se não fazer?
Nada... não pode-se.
Nada pode-se fazer?
Não pode-se o que fazer.
Fazer o que pode-se?
Pode-se fazer nada.
Pode-se nada fazer?
Não. Pode-se nada o que fazer...
O que pode-se fazer, pode-se fazer?
Não.
O que não pode-se fazer?
Nada.

(Poesia de Marcus Tiso com minha coautoria)

quinta-feira, julho 26, 2007

é como se alguém já tivesse escrito este antes



eu quero fazer um poema
não quero uma trova
tampouco procuro um soneto
não quero ser o cancioneiro
não procuro igualar alexandre
nem mesmo sei fazer um haicai
quero apenas um poema singelo
que seja belo em sua simplicidade
e tocante na originalidade
não mais como uma rosa nascendo no esfalto
mas agora, uma pérola no lixo

Falha na Lógica

Mães sofrendo de câncer na próstata
Filhas horríveis vendendo cebolas na feira
Velhas decrépitas fazendo cocô e jogando bingo

Ah
Posso eu ser a razão
De uma inversão humana
Porque eu posso
Eu mudo
Assim.

Queiram atirar alguns versos em mim
Assim como pedras vararam prostitutas
E tomates junto aos apupos
Para artistas desvairados

Posso eu ser a razão
Da infância maculada
Adolescência libertina
Peladas engaioladas
Grávidas esfoladas
Vida indecente
Velhice inútil

Não somente palavras moças estiradas em mesas
E estrofes adultas inteiras sob jugo celeste
Incendiaram junto com velhas tradições
As medidas desmedidas asiladas

Violar sepulturas como requinte
Tão saudável como piquenique
Feminilidade retratada num boquete

Posso eu ser a razão
Da razão humana
Encerrada nesta
Sobremaneira
Impávida

Dançando valsa com marionetes
Nos crepúsculos artificialmente delineados
A vida humana mantém um segredo
Fechado numa caixa guardada pela Branca-de-Neve

Posso eu ser a razão
Das mentiras selecionadas
Contagiosas, ervas daninhas
Trepadeiras maliciosas
Inescrupulosas

Deliciadas as ninfetas enxugam seus lencinhos
Roupinhas de griffe compradas em uma loja podre
Precisam adquirir mais artigos de luxo
Nos sex-shops científicos

Rezem para aquele que se esconde através dos fractais
Ele que passa a eternidade ouvindo música alta
Flertando com o caos em meio à fumaça
De uma rave profana

Sexo nas alturas
A humanidade se engana
Sexo nas alturas
A humanidade se engana

quarta-feira, julho 25, 2007

Estanho

Estanho, estranho, frio metal
Que bronze forma com o cobre.

Metal frouxo, metal nobre,
Nunca que vai ser
Pelo hidrogênio perecer!
Dita a fila de reatividade.

Metal mole, é verdade
Maleável, condutor
Prendedor de circuitos
Componentes mui bonitos
Que formam até computador.

Sua quentura?
Traz-me dor
Sua energia, seu calor

Formaram em minha mão
Bolhas, não de sabão
Mas de queimadura
Liga pérfida, impura!
Que possui também chumbo...

Quarenta por cento!
Que ultraje! Desalento!
Como poderia essa liga suja
Trazer-me assim tão grão contento?

segunda-feira, julho 23, 2007

Um fenômeno literário chamado Harry Potter.

"Já foram vendidos 8,3 milhões de Relíquias da Morte nos EUA
Só nas primeiras 24 horas de vendas, a Scholastic (editora americana dos livros do Harry Potter) já tinha vendido 8,3 milhões de cópias do livro Harry Potter e as Relíquias da Morte nos EUA. Nesse mesmo período, no lançamento do livro Harry Potter e o Enigma do Príncipe (lançamento mundial em 16 de Julho de 2005) foram vendidos 6,9 milhões de cópias."

Fonte: Site da Hogsmeade

Por mais que os escritores mais conservadores reclamem, o fenômeno Potter exporta a cultura anglo-saxônica pelo mundo. Por mais que os pais enlouqueçam com os filhos, as vendas revelam que isso tá longe de ser coisa de criança.

Saudações a senhora Joanne Kathleen Rowling, responsável pela história que cativa gerações por seu obscurantismo, misticismo, arquétipos e épicas batalhas entre iguais, sejam puros ou mestiços com trouxas.

segunda-feira, julho 09, 2007

Mal de Balzac #1 - Desentitulado


Eis que no dia nove, nove postagens formaram
Aquilo que posteriormente chamaram de poema
Mas o título? Um dilema
Um problema que deveria ser resolvido
Qual foi deliberado? Qual foi escolhido?
Veio-me à cabeça, mas está agora perdido...


Mal de Balzac #1 - por Pedro, Carlos Antonechen e Sir Varios

Não era noite, nem dia manso,
Talvez fosse tarde, talvez fosse
Meio, meio-dia, meia-noite,
Meia vida, meia morte,
Meia sorte, naquele fosso.

Deitado, em tempo.
Transcorria, lento.
Sem ode nem mote.
Balbuciando dizeres de morte.

Deitado, absorto,
Encontrava-se a trovar
Quase morto
Inebriado pela dor do despencar

Moribundo, estava jogando búzios,
Num dado sem futuro, vultos
De um presente atento, tentado.

Moribundo estava quase em pé,
Estava de frente com a ralé, quase
Com quarto reservado num cabaré.

Moribundo não era metade, era divisa,
Era ausência de conquista.

Era a treva numa vida mal quista
A essência que o nunca realiza

A demência, a loucura!
A mente insana, impura!
Do devanear livremente
Aquela que contente
Contém a continência
Contínua em continuar

Navegando absorto,
Em terra de Vigília.
Tragado abruptamente.
Pelos primeiros raios de dia.

Tinha uma vida a tocar.
Uma fuga planejada.
Insolente com o corpo.
Adormece enquanto labuta.

As ferramentas estão enferrujadas,
As engrenagens estão remoídas,
Não há fumaça, não há comida,
Só há trilhas, pegadas abandonadas.

Mórbido andarilho se contorce,
Enquanto o brilho se reverte,
Reflete.

Reflete ele como um espelho
Reflete outrora como um velho
Objeto que oxidado joga fora
Abjeto que para respirar demora

Escolheu embora ir apenas
Procurar águas mais amenas

Encontrou tempestades e sereias,
Confusões das mais terrenas,
Largado na mortalidade
De um medíocre derrotado,
De um nada abarrotado.

Borrado, em seus traços,
Estava entregue, sem seu mastro
De navio desgovernado.

Não era menos,
Era mais dos poucos,
Um completo porco
No chiqueiro para o
Matadouro.

Estava leve,
De tanto pesar,
De tanto largar
Essa mente, lugar.

Moribundo não era centro,
Era dentro, dentro ao avesso,
Avesso ao consentimento
De estar à margem, chantagem.

Chantagista dos fracos,
Embaraçado nos laços
De sua frígida coberta,
Da sua cama desperta,
Despida.

sexta-feira, julho 06, 2007

Reza da Marmita

Abençoada marmita,
Seja recheada com batata
Frita, carne refogada, esfiha,
O que sobrar da minha janta
Ida.

Abençoada marmita,
Traga sua energia,
Não se deixe cair no garfo
Dos demais, assim no almoço,
Como no jantar.

Marmita, não derrame seus restos,
Enquanto estiver esmagada no meus braços,
Nem nos braços inimigos,
Porque comida desperdiçada
É muita mancada.

Amém.

--

Porque eu não poderia deixar de fazer poesia em homenagem ao nosso amigo Leandro.
Conhecido como Jazom no Blue Steel Castle (BSC).

Assumiu sem medo que carrega marmita embaixo do braço XD

quinta-feira, julho 05, 2007

Você no Outro Mundo com Os Aqueles

Você é uma combinação de indivíduos
Misturado a talentos visionários
Moldado pela pragmática misteriosa
Um ponto de equilíbrio
Austero, inefável.

Separação em um percalço - um passo em falso
Em tom conclusivo
Nada desvia do seu objetivo
É ferrenho como o ferro
Dotado de grande capacidade
Pavoroso.

Não hesita - abusa
De força, por meios
Obscuros, desafiadores.

Você esta só, sei que está
E ouve murmúrios
Contextos e vozes intermitentes
Completam uma lacuna grotesca
Algo apenumbrado, indefinido
Por trás da palavra
Você não me escapa.

Você, está.

Sinta seu ser
Em verbo e em
Nome de Deus
Sua última vítima
Que eclipsou, outrora
Uma profusão de seres

Aqui, nesta clausura
Estou pronto para mostrar-lhe
Um outro mundo
Resplandescente.

sábado, junho 30, 2007

Entre césares e cíceros

Uma grande discussão invadia os corredores,
Invadia os ouvidos credores, devedores
De conhecimento, sofredores.

As vozes bradavam apaixonadas,
Num descaso claro
Com a crítica e a sinceridade revoltadas.

Naquele teatro cego,
Minha voz revirava aberta,
Numa febre alerta
De permanecer bela.

Naquele teatro liberto,
Estava aprisionado em meu discurso,
Naquele espetáculo repleto
De idiotas, reprimi rápido
O vagabundo.

Discurso prolongado
Propositadamente, literalmente
Abandonado aos fluxos da retórica,
Aos repuxos da história.

Um pouco de Marco Túlio Cícero,
Sinceridade envolvente, discurso inteiro
Baixando a guarda frente ao despotismo.

Um pouco de Caio Júlio César,
Deturpando várias eras
Pela artilharia, sem cessar.

Cesariamente imperioso,
Ciceramente persuasivo,
Meu discurso, recurso
Romano e momentâneo.

terça-feira, junho 05, 2007

Defesa da Poesia - Final

Todas as calúnias contra a lírica,
Contra a métrica e a ira
Formaram o rosto doce de menina,
Rosto macabro da anestesia.

Dorme André,
Ronca, seu mané,
Deixe seu corpo aglutinar
Com o asfalto, com o descalço
Mendigo, perdido.

Dorme, adormece, desencane,
Sua poesia vai agora para o lance
Perdido da metrópole, engole,
Cospe seu protesto, enche
Seu derrame.

André podia ser José,
Podia ser seu pé
Pra essa trilha,
Essa sina, garota.

André podia ser seu amado
Paterno, seu vínculo materno,
Seu amor eterno.

Decerto, poesia é seu encanto
Perpétuo, seu inimigo
Didático, vingativo.

domingo, junho 03, 2007

Pardon me pela propaganda, mas...

... preciso mostrá-lo aqui, para começar!

http://sombra-paranoica.blogspot.com/

Montei-o para publicar o que escrevo de cunho mais pessoal e voltado ao público brasileiro em especial. Aqui, no thebluewriters, vou tentar postar somente os trabalhos mais elaborados.

Sem mais para o momento, e pedindo desculpas novamente pela propaganda, vou-me.

quarta-feira, abril 25, 2007

Momentum

"Então dois ossos roídos me assombraram...
- 'Por ventura haverá quem queira roer-nos?!
Os vermes já não querem mais comer-nos
e os formigueiros já nos desprezaram'."

Augusto dos Anjos



Condensarei agora, num instante,
cada frase, pensamento ou teorema
que, na alternância entre insânia e razão,
tenha sumido ou se calado.

Ó heliogabálico homem!
vê a vida num momento,
num momento vê a vida:
sibilante, cruel, irreal e real.

Vida? Momento?
Instante? Desespero?
Sofreste? Acabou seu namoro,
sangrou seu nariz, quebrou seu braço:

Sofreste? Saiba que não:
quão terrível é a dor daqueles
que entendem que a vida é uma aranha
a fiar seus destinos com fios negros?

Pior os fadados
a afundarem em estudos
e entenderem que a homogênea massa de carbono
é sua melhor amiga...

Homo sapiens? Homo infimus!
Saco de matéria orgânica!
Imponente conjunto de células
que perante o primeiro vírus se ajoelha.

E os doentes? Pobres e esquecidos enfermos!
No velho a tremedeira incontrolável
graças ao Alzheimer que o assiste; a angustiante
orbe ocular de uma criança morta de fome!...

Alucinógeno ou sonho? Real ou irreal?
Estou em uma cama – e dopado! –
ou sonho estar em uma cama;
também dopado?!

(Quanto mais desejo o absurdo, mais ele se afasta;
seja o suicídio...
seja a garota pequena e suja que come chocolates
e não faz idéia de nada – e nem quer fazer.)

A assombração deste momento
se reflete na pergunta:
por que me deste, minha Mãe, consciência
para ela pesar durante minha vida inteira?

24/04/2007

sexta-feira, abril 20, 2007

Arte fato.

Artefato.
Fato da arte.
Ao artífice.
Arte, fez
Feto de arte.

Faz da arte feito.
Feito da arte.
Faz a arte por arte.
Farto da arte,
Desfaz.

Fitando o feito.
Vazio no peito.
Faz.
O artífice farto:
Arte sem afeto.
Arte de feto.

(Inspirada numa exposição que vi de relance na cidade, chamada "arte fato".)

segunda-feira, abril 16, 2007

Argonautas Contemporâneos

Aqui, direto do Peloponeso
Dirijo teus companheiros
Navegando por águas
Desconhecidas e conhecidas
Somos heróis de todas as eras
Manifestamos nossos destinos
Manipulamos nossos augúrios
Na busca do Velocino de Ouro
Partimos agora em busca do

Velocino de Deus.

Além de todas as montanhas e ilhas
Que pudemos encontrar
Até mesmo a ilha das Amazonas
Que almejaram nos soçobrar
Atravessando monstros de diversas culturas
Com nossas flechas abençoadas e impuras
Procuramos Deus mas este não quis ser encontrado
Deixamos somente um recado
Em sua caixa postal




Ele nos respondeu, em uma carta ao nosso navio:

"Assim que sair da lavanderia
Mandarei registrado
Para evitar qualquer extravio."

terça-feira, abril 03, 2007

Tristeza do Outono

Gentem.

Abismado como estou com esse radical início de mudanças climáticas, deixo aqui meu protesto para com o clima e nós mesmos. Gostaria de pedir à própria atmosfera para parar de se auto-aquecer, mas um singelo poeta tem poder apenas de observar os fatos, e contar a seu bel-prazer o que lhe convém ou o que seu Eu Lírico trama.



Tristeza do Outono

Sob a laranjeira penso
Divago na sombra fresca
O sol lá em cima arde
E a gente aqui embaixo, sede

Do sul os ventos álgidos
Dão lugar a um mormaço diáfano
Para dar o sabor outonal
E as folhas ainda verdes
Não douram - calor infernal

Na minha rede estirado
Sob a fresca sombra enfado
Suspiro - mais carbono
Para tristeza do outono.

quinta-feira, março 29, 2007

I - Magdalene

Mordi-a com amor
Coloquei todo o sentimento ali.
Ignorei sua dor,
Inimaginável prazer senti.

Ela olhou para mim
Enquanto sorvia sua vida.
Seria ali o seu fim
Ou ainda havia saída?

Ah! Meu amor, como a amo!
Se a mato nao me consolo,
Por tua presença eu clamo!

Soltei-a lentamente
Para seu maior conforto.
A mim seu corpo tem serventia
Somente vivo, não morto.

---------

Poesia feita meio que sendo narrada por um personagem meu (Sim, ele é um vampiro.). Magdalene é o maior "brinquedo" dele. Tava a fim de brincar com rimas nesse dia XD.

quarta-feira, março 28, 2007

Defesa da Poesia - 2

Lamentoso solo
Onde o lamentado
André permanecia
Fixo,
Pensante na vida.

Seguia, sem despertar atenção,
Nem desviar sua má ação,
O espírito da cidade,
A ópera da eternidade
Inanimada, da habilidade
Sufocada, inerte.

Semelhante aos aparecimentos do Diabo à Cristo,
Como os sustos da menina adormecida e seu grito,
Tomou a forma de todas as vozes
E de todas as engenhocas, disfarces
Dos desejos humanos, são as cidades.

"Ousas tu, defendes tu
Essa frágil poesia, abstração?
Queres tu, ofendes tu
Com tal inútil insatisfação?
Não podes ser diferente,
Nem pode estar distante
Do universo que ilimitado
E incorruptível, é o muro
Do material, o chão
Sujo com tua traição."

segunda-feira, março 12, 2007

A Queda da Rosa

A Queda da Rosa

"Clara manhã, obrigado
o essencial é viver!"
- Carlos Drummond de Andrade

I

A Rosa.
Certezas
diferentes
e iguais às minhas.

Repousa na terra: para
ela migrou a vida; nela
se deita a morte.
Uma rosa que nasce
e da terra suga a vida,
diverte-se enquanto
um cadáver abaixo dela se esconde...

A Rosa se enrola como um caracol...
"Olhem! Ali nasce outra!"

II

A semente enterrada; o óvulo, imaturo.
Na Terra
germinando...
Uma prostituta, um padre, um coveiro.

Uma criança no ventre,
luta, espera.
Seu caule, interno
à terra, ao calor, à placenta
da mãe; pré-funestos.

Nasceu a Rosa!
Livrou-se da prisão da terra
úmida e fértil.
Forma – simplicidade.
Tanta vida em tão pouca matéria!...

O tempo corre. Tanto
para quem vaga quanto para quem fica.

III

Uma Rosa não é uma rosa.
Atenção à vida.
Cor, perfume.
Mijo, sutileza.
Morte.

Uma rosa não é mais nem menos
que um carneiro uma pomba
uma garota que come chocolates.

Rosa-flor.
Rosa-cor.
Rosa-vida.
Rosa-náusea.
Rosa-virilha.
Rosa-mortalha.

Os sentidos não à todos confundem igualmente.
Eu falo – mas muitos não ouvem-me.
(ou escutam-me)
A Rosa fala – e não a entendemos.

Passado futuro fundem-se
no Interminável.

Colha uma flor
em seu jardim, olha-a
como quem olha toda
a vida de um mundo de vida
passageira e instantânea.

Uma janela se fecha
um pêndulo pára
a moça suspira:
algo ocorreu.

O tempo parou. A vida parou.
Tantas mil coisas
padecem e nascem
num mísero instante. Um mísero instante
de suspiros,
partições
de idéias, de homens,
um instante como todos
os outros.

IV

A noite que chega, afasta
os outros, o outro, some
com a luz, e fica o reflexo
da vida, da morte fria
e pálida... pálida
como um corpo abandonado à beira da estrada,
a manta com que a mãe
envolve o filho à noite,
uma noite gelada.

O caule se quebra, a flor murcha,
o câncer se instala, a mente perece;
e tudo volta à aspereza do túmulo!
Húmus, alimento, no solo – saturado.
(o mais adubado solo é o do cemitério)

Nos olhos, uma vez brilharam sonhos
agora: raízes
de uma roseira...
E as vértebras de uma cobra morta.

Carne podre serve de alimento:
A COMISERAÇÃO DOS ARTRÓPODES!
Sarcófagos que guardam só poeira,
ossos, lembranças – mais nada.

Sob um poço fechado pelo triste coveiro,
nasce uma flor...! Uma única flor...!
Aquela que se alimenta
do que à terra o Morto legou.

V

Uma Rosa está caindo
esperando alcançar o chão...
Tendo sua imagem vista e admirada,
mesmo estando seca
e esmagada.

27/12/2006.

.

Foi montado durante meses, quase um ano de trabalho. Representa mais que a vida; diferente do outro, representa a minha vida e forma de encará-la e de como eu penso: entender este poema é entender a mim.

Agradeço todos que lerem e comentarem.