sexta-feira, outubro 12, 2007
apartamento
primeira noite no meu novo apartamento velho. velho e usado, abandonado, ainda com meia duzia de móveis e pó, que ninguém quis comprar. a luz e a água ainda não foram ligadas, lâmpadas quebradas, privada entupida, marcas de chamas pelas paredes, forte cheiro de mofo e poeira velha. minha primeira noite morando sozinho.
o sol desce no horizonte, gigante e rublo como uma grande forja, tinge de laranja o seco e triste céu do planalto central. laranja-ferrugem, laranja-ferro, ferro do sangue dos corações e das almas desse povo.
na rua a poeira abandonada pela chuva que nunca vem. estendo meu lençol sobre o velho colchão sujo de suor e sangue velhos. me deito. fecho os olhos, não por cansaço, mas por tédio. amanhã acordarei cedo, procurarei emprego. mas, por hoje, o cansaço.
uma gota pinga da goteira do vizinho de cima, o prédio agoniza em silêncio. ao que parece, de todo o prédio, só dois ou três se mantém ocupados, e mesmo esses, por pessoas que não sabem sequer falar.
ninguém quer morar nessa desgraça, esse prédio abandonado, até os sem-teto recusaram. o que estou fazendo aqui ?
ouço as baratas andando pelo forro, ouço uma mosca ao meu ouvido, sei que perto da janela há uma aranha à sua espera; e no armário do banheiro, uma lagartixa parte em sua caçada. juro que ouço o surdo som dos cupins comendo os tacos, e das crianças na rua roendo as lixeiras.
o som dos carros na rua se abranda à um ou dois, eventualmente. um cão ladra sua solidão, um bêbado canta suas mágoas que do sétimo andar se ouvem, e sobre uma casa dois gatos urram seu prazer.
o sol já se foi, e uma anil luz brota do brigadeiro céu convalescente do nosso planalto.
ah planalto central. planalto central, inferno do mundo, planalto de desilusão, miséria e fome, terra onde nasci, onde muitos morreram, ou esqueceram quem são.
os barulhos da noite nascem surdos para tomar aos poucos meus ouvidos. a brisa venta, seca e quente como palavras enciumadas e enraivecidas. um grilo, uma cigarra e mil aleluias murmuram em coro sua canção pedindo água e respeito.
tarde da noite chega. a escuridão toma tudo por completo. e o silêncio vence por cansaço os inimigos que agora pisa.
seu antenor surge capisbaixo, indo de um lado à outro, arrastado as chinelas velhas e carcomidas. pára por um instante, me vê, e diz:
sabe meu filho, a vida é engraçada, você trabalha toda ela para construir alguam coisa, e um belo dia, descobre que isso num mudou nada.
(incompleto, prazo para término indeterminado. inspirado em: faroeste caboclo de renato russo, Confidência do Itabirano de carlos drummond de andrade, morte e vida severina de joão cabral de melo neto, e brasília, de juscelino kubitschek)
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7 comentários:
Ê Nihil...
caralho will, soh pq eu tou contando a história de um cara fudido da vida e conversa com gente fodida, eu sou um nilo-ista ? não veio, eh preconceito seu, e num acho esse texto nem ao menos triste, eu num vejo tristeza, soh gente fudida, e é engraçado
Se só há gente fodida, então é pornô.
xD
lol, não vi gente fodida.
Vi, ao contrário, alguém que conseguiu admirar coisas repugnantes, uma pessoa que consegue ver o seu pior interior, talvez.
não diria que é alguém que sabe admirar a repugnância, apenas alguém que aprendeu a viver nela, sem desespero e tentando aprender algo com isso
Cara, textículo bacana...
Vc tem algumas sacadas muito boas no meio texto...
Mas, como eu sempre te encho o saco(e vc ainda vai acabar muito puto com iso, tenho certeza...), vc tem q dar uma revisada no seu texto.
Tem algumas repetições q me pareceram desncessárias, algumas palavras que podiam ser trocadas por outras ou de lugar e formariam outras grandes sacadas... Essas coisinhas idiotas q transformariam um texto q já é bacana em um ótimo texto...
quero ver o resto...
velho, eu só escrevi aquilo, ai acabou as idéis, eu tentei por mais num otro dia, mas num ficou bom
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