quarta-feira, junho 09, 2010
Botão ligado emperrado
Uma nervura ensadecida,
Olheiras dispostas, carne composta
Pelo passar das horas, ornada
Pela atividade sem cessar.
terça-feira, junho 08, 2010
Preenchimentos diferentes
Não existe príncipes em castelos encantados,
Nem homens perfeitos, arrumados.
Sobram os preenchimentos para este vazio
Que me cerca, que me parece perfeito
Para um novo companheiro,
Ou uma noite de loucura, fora da amargura
Desse conjunto vazio.
Mas noto que há presenças,
Há amizades, há diferenças
Entre o que a realidade me mostra
E as minhas carências.
Há carências em todos os lugares
E satisfações em medidas distintas,
Há sensações em rostos únicos
Misturados com momentos mudos
De puro preenchimento.
E ir no cinema com a namorada, ou namorado,
Limita o número de filmes possíveis,
E, entre beijos, às vezes preciso olhar para os lados,
Não trocar saliva, procurar um sentimento infantil,
Um cantil de água para tomar fôlego
E conviver com preenchimentos únicos,
Diferentes.
Para Mariana Bruno
quarta-feira, maio 19, 2010
Na beira
E ao som de jazz e blues
vou deixando essa desilusão.
Em passos
Neles vejo o mar.
Apagando pegadas.
Ao me chamar,
a doce mãe do oceano
embala um som.
O lamento de seus filhos,
esquecidos.
E a bateria,
imita meu coração.
Como ele poderia saber que é tão triste?
Como eu poderia saber que é tão belo?
segunda-feira, abril 05, 2010
domingo, março 28, 2010
Pares atraentes
Não são cabras a serem adestradas, patas de um bicho
Decupável, classificável no reino dos nichos
Das espécies, biologias dos ridículos
Rebanhos de ovelhas adestradas.
Pares atraentes são como véus em queda,
Cascas finas de transformação, vê-las instáveis
Na completa escuridão,
Pares atraentes são delicados, são frágeis
Como o ágil pensar
E o difícil sentir.
sábado, fevereiro 20, 2010
Hipnodança
A vírgula de olhos hipnotireóidicos
O palhaço estreou na dança
Atravessada em sua garganta, uma lança
Minhas mãos, hipercalejadas
E meus olhos, hiperdilatados
Da êxtase o vinho dos deuses
Eu ponho a venda os olhos
É um maligno affair, orgia orquestrada
Já não preciso mais sentir
Só sei é curtir
Dance a dança
Hipnodança
Hipnofálica
Hipnodrástica
Hipnomágica
Originalmente havia um sentido
Sobre aquele místico que já se foi
Naquele dia que já não existe
Com suas lembranças já apagadas
Se algum dia hei de abandonar em desalento
Não posso julgar tanto quanto demonstro
Acho que às vezes esconde-se em mim
Um monstro
A propósito final
A agulha fatal
Me concede um ponto doce
Ignore-me ou desmorone-se
Aceitável Modificação
Passo mal até o fim do mês
Aceito passe e passe bem
Passe a bola ou passe a vez
(Sereno vivo e não muito longe
Da fortaleza onde já fui rei)
terça-feira, fevereiro 16, 2010
Estantes
Nos damos bem quando possuímos intertextos,
Trocamos citações, conceitos, argumentações,
Parecemos pinturas com tintas misturadas,
Parecemos links de internet, texto com contexto.
Mas temo
Quando estamos em estantes opostas,
Separados por outros escritos, entrepostos
De confusões temáticas, de línguas estáticas,
Pouco congruentes, sem a continuidade da letra,
Do amor entre e com palavras.
segunda-feira, fevereiro 15, 2010
Vida a dois
sexta-feira, fevereiro 12, 2010
Uma poesia por segundo
Se retrái no concreto desumano.
Ressoa pelos ventos interioranos.
Dissipa na brisa da praia.
Se perde no fôlego da minha fala.
Grupo, sopa do mundo, colher
Misturado aos meus amigos poetas, no molho
Do processo criativo, agora estou no ocioso
Período artístico, escrevendo
Sozinho.
Batman
Morcego ridículo, noite sem ritmo,
Voz rouca, filmes no lodo, na chuva,
No mofo, na caverna, na taberna
Sem cerveja ou poderes,
Sem muitos dizeres.
Batendo em palhaço maluco,
Correndo da polícia, em surto,
Eis o amor cego noturno,
O morcego.
Perdi o texto
a
cifra
da
frase
e
poesia
na
síntese.
Perdi a tese sim, porque a cifra da viola
Não se encontra na frase adequada.
Incompletei a música. Sentença e contexto. Meu texto.
Super-Homem
Estrangeiro sem passado e nem futuro
Com um comportamento presente estranho:
Vale (a pena) salvar um gato no telhado,
Enquanto ele pode ver todos nus pelos olhos
Vermelhos e censores, protetores?
Estranho no ninho, podia pulverizar o franzino
Homem, diante do seu poderio.
Homem-Aranha
Grudado na vizinha desejada, grudado nos quadrinhos,
Desgrudado do pudor ao ridículo, herói inseto mísero,
Pula através de cordas até o céu maldito
Do dia risível em que um lunático vai trocar
O estável pelo duvidoso.
Homem que toca ladrilhos, magro de repuxar pele até as costelas,
Seus sentidos são uma lanterna diante do perigo.
Quadrinhos
Se posso esticar balões, quadrados, losangos, formas geométricas,
Rascunhar uma silhueta, rabiscar uma barba, dar uma noção em etapas
Ilustrativas para o que pretendo mencionar, registrar?
Micropoesia
Ou de gente pouco louca,
É pedaço mal-acabado do cotidiano,
Ou universo selado num imenso nada,
Definitivamente é indefinição de poeta
Porco na atitude, porco.
Interrompa o jornalismo
Abram as janelas das redações e cultuem
A não-expressividade, a falta de fato, o tato sem objeto.
Paixão por baquetas
Dos surdos aos bumbos, quebrando pratos,
Tenho uma percussão com ritmo, mesmo
Aos socos, nos descompassos.
domingo, fevereiro 07, 2010
Funkeiro
Do gingado do baixo, da bateria em ritmo alternado,
Podendo flertar com o soul, sendo sempre música preta
Na história vermelha dos pretos.
Falta de arte
Aparato de auto-destruição, vendeiro sem produto,
Campeiro sem arbusto.
sexta-feira, janeiro 29, 2010
Pavor
como quem anda em par.
De mãos dadas,
as esquinas,
avenidas
nas cozinhas
e aviões.
O medo é mansinho,
pequenino,
delicado.
Até ver que a vida pode se afastar,
ir embora,
e não voltar.
Então ele enfurece,
cresce,
engole!
Fica maior que a vida.
Ela então grita,
geme,
pois teme o medo
e treme.
segunda-feira, janeiro 11, 2010
Árvore
Que tenha ficado em silêncio
A vida toda
Mas consigo ver
Através de teus olhos verdes
Uma folha cadente
Condescendente
Ousa ficar em pé
Até mesmo sob gentil brisa
Que balança a maré
Prefere guardar silêncio, imóvel
Todo segredo a ti confiado
Feliz encobre
É por isto que és Árvore
e eu, Homem
sexta-feira, janeiro 08, 2010
Atração claustrofóbica
Sexo em lugar inapropriado, sigo meu faro e seus passos,
Adrenalina, perde a linha, narcotiza a morfina,
Sinta o proibitivo no labirinto.
quinta-feira, dezembro 31, 2009
Universo de Tolkien
Dos pequeninos e dos anéis, dos poderes dos reis,
Das colinas, dos vales, das magias em cálices
Adormecidos na mente acadêmica
Fantasiosa de um velho e seu cachimbo.
Guerras, amores, deuses, conceitos,
Cultura envolta nos preceitos
Do universo de Arda, munido
De fuga da realidade, misantropo
E reconhecível a todos.
Radiofonia
Pulsos elétricos que tocam meus ouvidos,
São guiados pelos neuróticos neurônios,
Será que o locutor mente?
Forma rápida de jornalismo,
Compacto de fofoca,
Seria o resumo do cinismo?
domingo, dezembro 27, 2009
Cruzar São Paulo
Nas avenidas e periferias preferidas
Da feira de cidadãos, da ceia dos ladrões,
Cerceando e ceifando a liberdade.
domingo, dezembro 20, 2009
Marginais de São Paulo
Pelo fluídos combustíveis,
Pelas carcaças substituíveis
Dos carros.
Irrigadas pelas águas lodosas,
Irritadas por temperamentos implosivos,
Agitadas por gritos inexpressivos.
quinta-feira, dezembro 17, 2009
Depois do trabalho
Bato porta, piso firme, faço caras e mexo a boca,
Desenboco desaforos aéreos, falo em som estéreo,
Sussurro em mono, resmungo.
Rastejar
Peço ajuda ao leito que me arrasa,
Encontro-me derrubado pelos feitos,
Procuro pistas nos fatos.
Estupefato de tanto ler,
Envesgo-me sem foco,
Tenho estrábicos sentimentos
Sobre como me manter
Em solo frio.
Bola da Foca
Encostado com a cabeça no vidro do ônibus,
Não imaginei que sua notoriedade se traduz
Por umas idéias simples postas em prática.
Trata-se de um blogue de pseudo-jornalistas
Para um proto-público, nu diante das falhas
Diárias e retardatárias de um coletivo
Esperto.
quarta-feira, dezembro 16, 2009
Bang-bang italiano
Mulato do Brasil,
Que maltrata os conterrâneos,
Os escravos sem vil comportamento,
Nem hostil envolvimento.
Mistureba de tiros,
Juba escalpelada na caça, no rio,
Pizzaiolos malucos munidos de facas,
Adaga no peito da pureza, duelo babaca.
terça-feira, dezembro 15, 2009
Título Atrativo
Exponha toda sua angústia
É tudo o que pede o poema
O que seus pulsos abertos lhe falam
Insira aqui
Uma estrofe para acompanhar
Os sentimentos a rimar
E aparecem tilintantes
Os desejos que antes
Te faziam despótico
Mais que um dilema
Este morfema
É ilusão de ótica
Pouca prática
Com a mais perfeita possível
Notável prolixidão utópica
Deixa a marca de ouro
O final filosófico.
quinta-feira, dezembro 03, 2009
Bem...
Outros vão estranhar o texto....e este é mesmo de se estranhar....
Mas depois agente conversa melhor sobre ele, só uma coisa a dizer....personagem nova na área.
Beijos
É bom revê-los...
Perfeita Imperfeição
Hoje tenho trinta anos e sou absolutamente satisfeita e feliz.
Aliás, como todo mundo a minha volta.
Tenho um marido maravilhoso que me ama muito. Nunca tive um coração partido, nenhuma desilusão, nunca me senti só.
Meu trabalho é exatamente o que desejei, só faço aquilo que sempre quis, ganho mais que o suficiente para me sentir bem. Nunca levei uma bronca do meu chefe, nem me sinto pressionada com prazos e metas.
Esse é o único mundo que conheço.
Não tenho filhos, pois ainda não os quis, mas se quisesse poderia tê-los, quantos fossem, e seria capaz de criá-los e educá-los como qualquer outra.
Nunca tive uma tranza ruim. Nunca lamentei a ausência de um orgasmo.
Até porque, satisfação sexual própria e do parceiro por aqui é assunto de escola, matéria regular e obrigatória.
Falando em escola, isso me lembra que ela era maravilhosa, interessante em todos os aspectos. Os professores não podem dar aulas entediantes, nem chatear seus alunos, pois todos têm de estar felizes.
Meus pais foram os mais amorosos e presentes o possível, pais bem treinados para fazerem seus filhos felizes. Eles são da última geração a conviver com a transição.
A sociedade mais feliz do mundo! Esta em todos os muros da cidade, limpa e cheia de cidadãos gentis.
Pois a mim a palavra felicidade não diz nada, somente é a única realidade que conheço.
Não sei o que é ser triste, só, sentir dor, angústia, ou qualquer um desses sentimentos que nos tornem pessoas melancólicas, nem ao menos sei o que essas palavras significam.
Tragédias não nos dizem respeito, portanto não são veiculadas, não por serem proibidas, não seria preciso, ninguém as compra. Quem gostaria de ser visto sorvendo algo tão mórbido?
Não sei se felicidade é bom.
Sei que é comum, banal, cotidiano, é tudo que me rodeia.
Por aqui estar alegre, ser feliz é lei.
Todos te fazem feliz, queira você ou não.
Meu avô é anterior a lei da felicidade, me disse que quando era criança as pessoas choravam.
Choravam de tristeza!
E que um sorriso sincero era tão raro, que era considerado uma das coisas mais preciosas que poderiam existir. Devia ser lindo.
Pra mim o sorriso é uma coisa tão corriqueira, que não tem o menor valor.
Gostaria que as pessoas entendessem o que essa ausência de tristeza me causa, essa inexpressividade, esse tédio.
Ser alegre é neutro.
Não me entenda mal!
Não quero o retorno das guerras, da fome, da desigualdade, ou de nenhum desse males que segundo os livros de história, maltratavam as pessoas do passado.
Gostaria apenas de ter emoções. Saber o que significa ser feliz! Comparar a felicidade e o sofrimento, saber que rir é o contrário de chorar, não por ter lido em livros velhos, mas por ter vivido.
Quero me sentir real. Preciso saber se Sou de verdade.
Sei que algumas pessoas são capazes de se sentirem tristes com tudo que nos rodeia, mas nunca conheci alguém assim. São excluídos, tratados como doentes, nocivos a sociedade.
Eu não vejo dessa forma. Para mim eles são preciosidades. Sadios entre todos nós, loucos e obcecados com os nossos sorrisos. Eles são capazes de ver e sentir algo além da perfeição que me cerca, eles são verdadeiros, reais.
Enquanto eu nem consigo me considerar humana.
Margarethe.
sábado, novembro 07, 2009
Micro escrita social
Grito da multidão, diversão
Digital é a fama desse twitter,
Reter informação em pílula,
Ou ter acesso para a porta, pulula
Dados na tela.
sexta-feira, novembro 06, 2009
Superação. Supera ação.
De papéis na cama, na lama,
Super retração, retardação,
Inflação do momento,
Larga a mão, minto e não
Desminto o mito.
Esforço contra o peso,
Encaixo seu desejo,
Vou além do ato,
Deixo vir o todo.
Era um dia super,
Num contexo líder
De fracasso, é mister
Ir além do fato, do próprio
Faro.
Um dia super, uma noite super, uma vida superficial
Entre as sombras, entre as sobras da nossa escassez
Um dia super, uma noite super, uma vida superficial
Entre cobras, entre escombros da nossa solidez
quinta-feira, novembro 05, 2009
Lenda
Se o solitário
Morreu na véspera
Da sua composição
Não partilho
dessa lucidez
A força é tanta
Que até me espanta
Ao girar o guarda-sol
Fractal de raios
Pretendo
manter a lenda
e canto
farei do espelho
metade
Juntar os cacos
da única obra
mais sozinha
O velho homem sabe
Que lenda vive agora
A moça que corta os pulsos
Infiel seguiu até a morte
Bebeu taças de compunção
Nada adiantou
quarta-feira, outubro 14, 2009
a vida é costura

A vida é por um fio. Sempre.
Às vezes, um entrelaçamento de fios. Mais das vezes, embaralhados.
Viver é desfiar palavras.
João sabe disso.
Que João?
O “João por um fio”, criado pelo Roger Mello.
João tem uma história própria. Esse João. Uma história dele. Sobre ele. Uma história que ele deixou compartilhar conosco, seus leitores.
Conhecer histórias é viver também. Um cruzamento de histórias. Costuras de vida.
A história deste João começa assim:
João se pergunta, ao dormir: “Agora sou só eu comigo?”.
Pode ser, respondemos. Como pode não ser.
João sonha quando dorme. O que significa que nem sempre seja ele com ele somente. E há os leitores, claro, que o acompanham enquanto ele dorme.
Os leitores a quem cabem algumas perguntas de respostas-não-prontas:
“Onde é que se esconde a noite que beija João?”
“Quem tem medo de um gigante chamado João? Ou quando é que o gigante dorme?”
“Se João cai no sono, com que paisagens ele sonha?”
“E se o medo derrama, João é que abre a torneira?”
“Que rede segura um peixe maior que a gente?”
“De que tamanho é o furo na colcha que cobre João?”
“Como se para um furo que não para?”
De repente, eis que, num susto, João acorda, e se preocupa: “Quem desfiou minha colcha?”.
Nós, leitores, sabemos quem foi. Ou como foi que a colcha se desfiou. Mas não podemos falar a João. Não podemos porque ele precisa descobrir o desenrolar da sua colcha. Ele precisa sentir como isso aconteceu. Ele precisa aprender a costurá-la novamente.
E João mostra saber disso: “No meio do vazio viu palavras espalhadas no chão”.
Então, ele resolve costurar palavras “como retalhos numa colcha”. E, ainda mais. “Enquanto costura, João inventa uma cantiga de ninar”.
Faz mais do que imaginávamos. Surpreende-nos.
E a nós, que acompanhamos João assim de perto, fica a pergunta: “De que tamanho é a colcha de palavras que cobre João?”.
Mas não fica-nos somente esta pergunta. Por trás dela há outra, que João espertamente nos deixa:
De que tamanho é a colcha de palavras que nos cobre?
E, para respondê-la, cabe-nos fazer como João: ao sonhar, desfiar a colcha que nos cobre, abri-la, explorá-la. Expormo-nos. E, depois, costurarmos palavras que nos cobrirão novamente.
A vida são ciclos, mostra-nos João.
A vida é um se despir para se conhecer.
_ _ _
sexta-feira, outubro 02, 2009
Formalizar o Deformado
Ao som e ao áudio do vídeo de Ferreira, o Gullar,
Falando do "antiformalista por excelência" para os ouvidos
Aguçados de Ivan Juqueira, beirando palavras
Das incertezas.
Faz parte da poesia brasileira, que nada tem de portuguesa,
E é verso freguês de bar barato, ato sem muito tato.
Sua destruição é a lei,
É a vez do que se desfez.
escrever é dar a cara a tapa
o título do artigo é o título do post.
é sobre o escrever.
_ _ _ _ _
Escrever deveria ser sempre um incômodo.
_ _ _
í.ta**
quinta-feira, outubro 01, 2009
O estranho dos estranhos
o trejeito no seu sim
Vi também o ai de mim
que vazou sem se tocar
Vê também que te vêem assim
por causa do teu som
Saiba que não foges aqui
14 mil a te olhar
O estranho dentro do ninho
O mais doido varrido
Um príncipe desvairado
E a moça delatada
A cobra peçonhenta
Na teia encantada
A merda que foi feita
Não serve mais de nada
Vê também quem ri de mim
Tão principe que eu sou
Saiba que aqui estou
Mais vão do que
Tu
O cálice entornado
A rosa desfolhada
A linda namorada
De lábios marejada
Desfilo na parada
Com seios de vinil
E mostro a minha cara
Pra todo o Brasil
Quero tê-lo, mas não tenho como.
quarta-feira, setembro 23, 2009
Rock Brasileiro
Contratante, o faminto
Imigrante, rumo ao
Desconhecido reino do
Barão vermelho.
Engenharia havaiana
De quintal, muquirana
Forma de manifestar
Opinião, palavra perdida.
É a coca-cola de uma legião de urbanos,
É o ópio da consciência aberta ao estranho
Jeito de viver neste globo, neste ovo.
quinta-feira, setembro 17, 2009
As chaves da prisão
mau; fecha os olhos vaidoso;
puxa a venda;
decide não pertencer
a conhecer o mais negro porvir
É covarde e vai embora
sem se despedir.
A juventude que te é roubada
por quem havia de proteger
É vã, foi há tempos promessa.
Esta chaga que te adoece
cava um poço e atola na lama
faz-te penar à guisa de carma
inveja a luz que já foi tua arma!
Busca refúgio, como se fosse culpado
de um crime imaginário
Te mandam recados escandalizados
Te chamam de otário
Tudo em nome do amor
Foge de casa e esquece
a panela vazia
e a mulher que termina o seu dia
com ar de concubina
Faz tempo que se foi
Meu belo beija-flor
Não voltou mais
Preciso do teu mel
pras amarguras da vida, sim senhor
Faze loucuras tardias
Devaneio, ilusão
Atitude de perdedor
Te perguntei quais são
os sonhos que te fizeram assim...
Sem as chaves da prisão
o mundo se fez em mim
domingo, agosto 23, 2009
Biblioteca
Ao imaginar a desventura, a ternura
Protagonizada, a cena transporta
Minha mente com meus anseios,
Transborda sentimento.
Percorro as estantes de mofo,
As salas esterilizadas e modernas,
Descanso no registro abandonado,
Anestesio minha sede de invadir
Seu cérebro e colidir suas memórias.
Dedicado ao Ítalo Puccini, que tanto fala sobre leituras.
segunda-feira, agosto 10, 2009
o medo que um livro ainda provoca
A literatura, assim como as outras formas de arte, nada mais é do que a representação da vida, de fatos vividos por todos nós, independentemente de sexo, raça ou credo. Não levar isso em conta é dar topada nos livros, é desaprender com eles ao abri-los. Assim como não existem escritas inocentes, da mesma forma não existem leituras inocentes. “Toda história é uma interpretação de histórias: nenhuma leitura é inocente”, já afirmara o crítico literário Alberto Manguel. Não há como se ler algo sem relacionar a outro algo, ou já lido, ou já ouvido, ou já presenciado. É dessa forma que a leitura, seja ela literária, seja de jornais, revistas, de imagens, ou de qualquer outro meio, enriquece aquele que dela faz uso.
O ato de ler pressupõe uma leitura não somente de textos, de palavras escritas. Não somente de imagens ou de sons. Mas sim uma leitura de nós mesmos e daqueles com quem convivemos. Ler é, também e principalmente, saber ler a si mesmo e ao outro com o qual se estabelece uma relação de viver. E cada leitor constrói uma história própria de suas leituras, assim como cada texto apresenta também sua história própria. É preciso levar isso em conta ao se escolher, por exemplo, um livro para se trabalhar em sala de aula. É preciso saber que a vida não pulsa somente na televisão ou no cinema hollywodiano. Ela está, também, nos livros, e não somente nos de contos de fadas infantis ou nos best-sellers de fórmulas prontas. Ela pulsa da mesma forma nos livros de um Cristovão Tezza, de um Rubem Fonseca, de um Marçal Aquino, de um Dalton Trevisan. Privar alguém de conhecer a vida por este meio é lhe cercear a liberdade de aprender com o livro, este elemento de subversão que ainda provoca medo naqueles que querem ter o mundo para si e aos seus olhos como se fosse uma bola de futebol.
segunda-feira, agosto 03, 2009
0 1
pra cima ou pra baixo
certo ou errado
vai ou vem
ser ou não ser
vivo ou morto
positivo ou negativo
aceso ou apagado
verdade ou mentira
amigo ou inimigo
amor ou ódio
coragem ou medo
a vida é booleana
Festa cheia
Uma festa, longe de casa, longe de regras.
O limite nem mais é a consciência, a moral.
O raciocínio esvai-se, apenas se mexe.
-Anda, mexa-se!, diz a situação,
Alguém que não se mexe, não existe em tal lugar.
Está tão frio, por que não bebe algo para esquentar?
Taças, e copos, e taças, música, copo, música.
A música gira o mundo, o pensamento, o chão.
Música, copo, música, copo, copo, corpo...
Tudo balança e mexe como uma harmonia.
O álcool no sangue, parece combustível.
A música o motor, o chão a estrada,
estrada que vai levando, levando...
Apenas curte esse momento, curte,
pois não se sabe se é permitida
uma lembrança do que ocorrer.
O corpo se mexe por impulso.
Tudo vai ficando mais extenso, intenso.
Tudo vai...girando...andando...mexendo...
O corpo que não é meu,
também se mexe, se mexe como eu,
Mas tal como o meu, não tem rosto.
Só tem corpo, copo, corpo, copo...
A festa estende-se pela noite sombria.
A memória esvai-se pela festa cheia.
Cheia, cheia, cheia de corpos sem rosto.
domingo, agosto 02, 2009
Encontro dos rostos
Nos poros presentes,
Recordo do gosto
No momento do beijo.
Afasto e abro
As pupilas e os lábios,
Vejo meu rosto
No sorriso dos teus olhos.
Um texto definitivo para alguém...
Não seria conclusivo e nem inclusivo. Seria subjetivo. Será que é mesmo definitivo?
Progressão
Pensa a harmonia que os unia, sobe a nota com precisão,
Experimenta efeitos, seleciona notas
E toca a alma, desarma.
Augusto Sentimento
Sereno da minha mente,
É o templo da semente da flor,
É tempo da maturação da cor.
domingo, julho 26, 2009
Sobre o silêncio (e outros)
Acho que só tenho duas mãos, dois olhos,
Um silêncio perpétuo de muitos, o ruído cativante de outros.
sábado, julho 25, 2009
A transada perfeita
É a fornicação que foge da visão comum,
São corpos sobrepostos, sorrisos dispostos,
E nenhuma lembrança além dos gemidos.
É um filme pornô sem história,
Sem televisão, sem memória.
Fala interminável
De não querer ouvir, no devir
Da comunicação, espaço
Fechado, cada um
No seu quadrado.
Não ter o que dizer
Meninas tímidas transformam em charme,
Escritores prolixos trasnformam em numerosas páginas de destaque,
Oradores pensam que é um excelente intervalo no palanque.
Eu fico na gagueira, no medo,
E é justo o momento que quero dizer
Tudo.
Cruzada Libertadora
Arrependimento de informação errada,
Contentamento na carteira, na anotação amassada,
Carteira vazia no emprego, desespero da falta de mesada.
Abandono das faculdades,
Dos mestres e das felicidades
Fantasiadas, vestidos
E disfarces.
Quero cortar a barba do professor,
Raspar sua autoridade, seu caráter opressor,
Esmagar seu livro, seu nariz franzino,
Sumir com sua lousa, com o quadro
Que será quebrado
Em meu punho.
Quero acabar com a escola,
Depois cuspir no emprego,
Quero acabar com a escolha
E punir a frustração, evitar
Que ela me encolha.
E sou como uma bomba sem direção,
Uma rolha de uma garrafa, acertada
Por suas bolhas internas, ração
Da minha revolta, reação.
quarta-feira, julho 22, 2009
Pequenez
Que me sustenta,
Remenda
Os meus olhares de ausência,
Aumenta
Meu tato em teu corpo,
Nos teus passos.
Não é miúda, não é migalha,
É apenas pequena, uma concentração
Imensa em um ponto, suspensa.
Pequena
Que me alimenta
E cativa,
Pequeno
E grande sentimento.
segunda-feira, julho 20, 2009
Poema Torto
preferem fazer que é torto
fora do quadrado
Não foi isto que lhe pedi
Não coloque isso ali
este não é o seu lugar
Não faz isso assim
Não me olhe assim!
Nascer torto das idéias
Para ensinar o que é reto
Aos frágeis de esquadro
segunda-feira, julho 06, 2009
o leitor

O leitor é não só uma história de amor, ou mais um ponto de vista sobre o extermínio de judeus. É, também, mais uma possibilidade de sentir os alcances da literatura: o quanto ela pode ressignificar vidas e estabelecer elos duradores. É como afirmou Pennac: a virtude paradoxal da leitura é a de nos abstrair do mundo para nele encontrarmos algum sentido.
Sinuca de bico
Não irei para Valhalla,
Se eu não acreditar em Zeus,
Irei da mesma forma para o mundo subterrâneo,
Se eu não acreditar em Júpiter,
Terei o mesmo destino de cima,
Se eu não acreditar em Alah,
Não terei minhas 50 concubinas virgens,
Se eu não acreditar em Krishna,
Não atingirei o Nirvana,
Se eu não acreditar em Buddha,
Não alcançarei a iluminação,
Se eu não acreditar em Mitra,
Talvez aconteça algo ruim,
Se eu não acreditar em Baal,
Vou mal nas guerras,
Se eu não acreditar em Jeová,
Vou arder no inferno,
Se eu não acreditar em Deus,
Não vou para o Paraíso...
São justos esses deuses medíocres?
domingo, julho 05, 2009
O despertar do poder supremo
engastado nas entranhas
mais viscerais do senhor doutor
martela-se o pé, quebram os estribos;
arremessa-se a bigorna contra os detritos
livra-me disso por escrito
dê-me a única razão que não se abala
circunscreva todas as circunstâncias não circunscritas
e sobreviva à relação mais duradoura com seu empecilho favorito
é um mero atrito, mas que por desserviço achou melhor não se fazer de mito
um atrevimento só poderia ter lhe custado mais que a cabeça;
donde há de vir rolar mais do que idéias soltas
mais do que o sangue carmesim que flui
um deus de nanquim, plúmbeo
registrado, para sempre
neste blogado
terça-feira, junho 30, 2009
Fera-Eu
Desejou a liberdade
Estraçalhou a realidade
Uma fera quer ser liberta
E os ouvidos afiam suas garras
O espelho cresce conforme o admiramos
A realidade mostra-se hostil diante do desejo
Estraçalha o espelho, e tudo vem à tona
O desejo é podado, as mãos se cortam
Estanca-se o ferimento
Lava-se as mãos
Procura-se outro espelho
segunda-feira, junho 29, 2009
narcirexia 2
não enxerga além? Mais do que seus vibrantes olhos
inescrutáveis
mas ousam sonhar, perscrutadores..."
Quem é
O garboso jovem do sorriso doce
aparência tenra, beleza ímpar
um dia, beirando um lago
viu-se refletido
no espelho de águas
e curioso, procurava o irreconhecível
provando do seu mais malvado, irônico
destrutivo e corrompido
contempla o rosto, descontente
buscando o ser mais desumano
impassível, cruel-homem
o inimigo e irmão discreto
esquecido, passou tempos espreitando
uma fraqueza, criança tola
detém a força, recaída
e porventura mostra-se dócil e insolente
recalcado - gêmeo por natureza e separados por narciso
ao se atirar nos braços de eco
bem vindos à percepção irreal da persistencia
de uma subjetividade perversa
maligna até o osso
inconseqüente de raiz
Os dois jovens encaravam-se
mediam forças
tête-a-tete, de olhos injetados
disparando falácias que incidiam em ângulos incongruentes
centralizando mil sotaques de idiomas diferentes
sem conseguir pôr de lado um abraço
o bendit frut de vos ventre, do mágico
e da branca de neve.
quarta-feira, junho 24, 2009
Narcirexia
mira de lado
qual será o certo
e qual é o errado
a vida pelo retrato
dizer quem é
sem ao menos saber
se espelhar na dor
vira de lado
vira em cima
diga quem ser
sem demora
porque vaidade
não tem hora
sexta-feira, junho 19, 2009
Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres

sábado, junho 06, 2009
mulher [- reloaded]
vontade, muita vontade
desejos incontroláveis que não são entendidos
um sexto sentido que não se pode ignorar, mas que às vezes falha
um temor incontrolável pelo bem estar de aluguém que está muito longe
[e que talvez outros o teriam esquecido]
eterna sensação de que há algo de errado
eventual sensação de quem mais te ama, não te ama
costumeira sensação de que ninguém te ama
sensação de que o chocolate te ama
impressão de que há algo sobrando, e não é um filho
rara sensação de que há algo à mais, e é um filho
impressão de que não se sabe onde está, quando se sabe
domingo, maio 31, 2009
Mulher
Um corpo em curvas, feições, tato e luvas.
Dois olhos focados, uma boca delimitada,
Sensivel ao toque, desenhada,
Mas não é boneca de diversão,
É ação, é reflexão.
Mulher, mulher que é distinta
Talvez pela história terrível, a sina machista,
Mulher que, com corpo estético,
Não se difere do macho herético.
Mulher é igual ao homem,
Mulher é como o homem,
Mulher come o homem,
O homem não come a mulher,
Porque só quer as coisas
De colher.
quinta-feira, maio 28, 2009
memórias de leitura

São relatos, impressões, e opiniões que, para um leitor-em-formação-amante-de-livros, meu caso, fazem crescer ainda mais a vontade de estar rodeado por livros e por objetos de leitura. São relatos que inspiram a novos escritos, a descrições de momentos de leitura, como este. Cada livro merece um dizer, falando bem ou não. Cada livro merece o seu silêncio pós-leitura, um tempo para digerir o que acabou de se mastigar, e um registro, por menor que seja, incorporando-o, de fato, a si.
Não me vejo herdando alguma biblioteca, e sim construindo uma própria. Com livros bem selecionados, que me tocam de alguma forma, sem preocupações com classificações ou vendagens de revistas semanais ou semanários culturais. A construção de um leitor se dá pelo saber escolher o que ler. "Herdando uma biblioteca", para mim, foi uma boa escolha, sem dúvida.
terça-feira, maio 19, 2009
Prolixo
Das letras, do nicho
Das cabeças, da confusa
Maneira de compôr.
Uso meus dentritos
Em uma reciclagem, edição
Dos meus escritos.
terça-feira, maio 12, 2009
Anatomia
aqueles que aprendem morte.
Vista-se de conhecimento,
o corpo frio e vivo.
Quantas lágrimas correram
veias e artérias diversas!
Quantas emoções transcenderam
músculos e tendões endurecidos!
Olhos vidrados no infinito,
que haveria mais além:
morte viva, ou vida morta?
A Anatomia vive em
corações diversos...digo
doutores, doutores da morte.
segunda-feira, maio 11, 2009
Ofuscada
virou o rosto
muito apressada
subiu à sala
esbocei um
"seja sensata"
som de poesia
mal sussurrada
uma vez excitada
cuspiu na cruz
pensa nas luzes
..esquece a ribalta
terça-feira, maio 05, 2009
Writers no TOP BLOGS

Criado pela MIX Mídia Digital, o concurso TOP BLOGS vai eleger o melhor blog em várias categorias - Celebridades, Cultura, Comunicação, Esportes, Games, Humor, Música, Política, Saúde, Sustentabilidade, Tecnologia e Variedades.
Mais detalhes sobre o TOP BLOGS, aqui.
segunda-feira, abril 13, 2009
Meu canto
Não tenho grandes valores para exaltar,
Vivo numa época de desesperar,
Ensaio um desperar, invento um renovar.
Não tenho grandes viagens para contar,
Só tenho um punhado de livros, meus olhos
E minha terra, meus cantos,
Minha fala em prantos.
domingo, abril 12, 2009
Jazz
Invento um verso, rimo com outro,
Teço grupos, estruturo os conjuntos,
Uso repertório, repito o repetido,
Uso obra de outro, destruo meu espírito.
Não espero nada das palavras,
Não espero nada das lavradas
Obras de meu destino,
Espero uma base, um tino
De fina arte, e crio
Idéias.
Poesias são idéias,
Não declarações de amor,
Nem fontes de odor,
São conceitos flutuantes,
Ululantes, pulsantes,
São momentos e intervalos,
Incessantes.
segunda-feira, abril 06, 2009
A solução para São Paulo
Mesmo sem verbalizar.
(Entenda ônibus como qualquer lugar.
Falar ao ônibus é como falar ao mundo,
exigindo coragem, ousadia e até uma
certa falta de noção, que é saudável)
quarta-feira, abril 01, 2009
P.A.Z
Parada Administrativa e Zunida
Pára o Auditivo Zelote.
Para Alguém Zelar
É Preciso Alertar o Zé.
Minhas iniciais brincam no fim e um pouco antes dele.
Não é? Pedro Zambarda de Araújo?
quinta-feira, março 26, 2009
Frenético
Amigo, patente do meu ascendente
Artístico, rente a irreverente
Loucura do místico, inteligente.
Dedicado a Guilherme Prestes Mendes, que completa 21 anos hoje.
sexta-feira, março 13, 2009
Uma existência presa
no plano do absurdo
sedenta por mundos
sou algo que vaga
no campo do inimaginável
imaginar-me, moldar-me
despido de probidade
é digno de pena
desconfortável
quando escondi
a dor da alma gêmea
existe livre arbítrio
ou é conversa das estrelas
sou preso por estar ciente
por quanto tempo
não consente
esta lógica
incoerente
e mais,
esta coleira
é de puro couro
do mais fino curtume
entre os dejetos dos firmamentos
exibo as algemas
não machucam as mãos, mas
os vislumbres do inconsciente
prendem-me a este mundo leviano
sou uma alma
acorrentada e torturada
subjugada ao mais cruel verdugo
a cruel mortalha
que cobre a carne viva
é da mais fina seda
especialidade da nobre colheita do oriente
sem saída, aberração
sem salvação neste plano
de certeza crua
e implacável desdém
preso ao valor
e à matéria prima
de alta qualidade
padrão de mercadoria
eu,
acho que penso
Revolução da Vida e da Morte
sobre a vida pública
é perfeita a hora
para semear dúvidas
no mais,
é viver e deixar morrer
e na prateleira guardar
o que não mais servir
pois,
de que adiantaram
todas as paronomásias
se os parnasianos invadiram França
dos bons costumes
ficaste a ver
os vagalumes
já ébrio, distante
de boemia
e decorado com uma cereja
é ordinária
a dulce fava
que serviu exércitos
e honras compradas
é triste igual
todo esse medo
sinal de destruição
é igualmente mordaz
a inteligência
que deixa sequelas
que prometeu o sangue
houve tempo
para imaturidade
domingo, fevereiro 22, 2009
Po.e.si.a
Da expressão sublime e primordial da lingaguem,
Dos adjuntos humanos, da comunicação e linhagem
De relações, o engenho dos corações
E dos célebres cérebros.
Uma construção como qualquer outra, rota de
Um emburrecimento inteligente, o inteligente emburrecido,
Sentido, bruto, refinado. É um tijolo da casa,
A palha da morada, o cimento da idéia.
Poeta entristecido
Poeta triste espalha angústia,
Enquanto poeta entristecido empalha sofrimento,
Pausa no momento exato de seu clímax, seu máximo.
quinta-feira, fevereiro 19, 2009
(Des)Humano
Divide o pensamento com um murro,
Há o Ocidente de direita
E o Oriente de esquerda.
Tudo trocado,
Troca tudo!
terça-feira, fevereiro 10, 2009
lembrança pós-morte
O que meu subjugador foi na morte
Toma umas rédeas, contrito
e apregoa a boa oração
a mágica
a mágica reflete a beleza do olhar
a pureza do ser humano
que carga humanitária desdobra
perante a nobreza de sua verdade
o que mentiu é o que se foi
mais afastado de todos
porque misturas com o divino
coisas não compreendidas
e mistificadas foram tuas palavras
ambiente oráculo de sua mente
aperto de lembranças agastadas
multidão deveras crente...
sábado, fevereiro 07, 2009
A minha identidade
É meu ato e seu retorno, é meu rosto.
No entanto, ele não precisa ter face,
Porque não há personalidade
Sem fase.
- mais - mais -
Rosto ao contrário,
Espelho com rosto e com mais espelho,
Pentelho ao contrário, duas vezes.
Cabelo jogado para lá, cabelo caído pra cá,
Enquanto a superfície primeiramente mente,
Segundamente, desmente.
Quando és careca, as arestas são as mesmas.
Raspo, alongo, faço plástica, disfarço
Escancaro minha diáspora.
Você nunca vai saber quem sou,
Se ajo como eu ou como outrem,
Quisera Deus que eu fosse só sémem,
No entanto, sou humano, homem.
sexta-feira, janeiro 23, 2009
Punk
Vou te foder, seu filha puta,
Te contorcer, capar tua culpa,
Comer tua bunda.
O negócio é explodir amplificadores,
Peidar, comer hambúrgueres e experimentar
Motocicletas envenenadas, armar
O barraco, o arroto.
Meu moicano, meu cabelo repicado,
Minha jaqueta de couro, meu molho espalhado
No teu lanche vomitado.
O negócio é a bagunça,
A falta de rumo que me excita,
A orgia e a aversão, música.
domingo, janeiro 11, 2009
Glam
Minha boca pendura
O cigarro e a gula,
Pareço maluca.
Sou apenas,
Perua.
Ou peru,
Puro glamour.
Blues
Baixo pra cima, guitarra pra baixo,
Meu negro som em notas, em poucos tons,
Simula coloração, escala cromática
E pura prática.
Ácido
Devora meu saco, revira meu suco gástrico.
Não é droga, não é alucinógeno,
Talvez seja a dor dos estóicos.
Líquido puro e corrosivo,
Estomacal, anormal.
Dor abnominal, bestial
Sensação, compressão labial,
Reclamação matinal.
quarta-feira, dezembro 31, 2008
Intersecção
Mas hoje segue o ritual,
A receita matinal
E a cozinha, que é o homem.
Faz-se todos os dias
A mesma travessia,
O universo interseccionado,
A vida transvestida
Nas fantasias, fico fascinado.
Faz-se todos os dias,
Mas hoje é fim de ano,
Quero um beijo
Na boca,
Pois é um ânimo!
sábado, dezembro 27, 2008
A palavra, quando vibra
O corpo conjuga o verbo palavra
(Viviane Mosé, Toda palavra, p. 30).
Encarei outro livro de Viviane Mosé. Toda palavra. Mais um soco. Na boca. Na boca por onde sai a palavra. De onde ela sai esmagada, estrangulada. Não degustada, mas remoída: “Palavra nasce no corpo. / (...) Palavra precisa de adubo de passarinho”. Conforme o dito na orelha do livro, por Chacal, "Viviane tem um caso com as palavras, na medida do impossível, um caso muito bem resolvido".
E, ao lê-la, quem acaba estreitando um caso mais profundo com as palavras, é o leitor. Se bem ou mal resolvido esse caso, depende de cada leitor. No meu caso, na medida do possível, mal resolvido. Ou melhor, nunca resolvido.
Pensar a palavra nunca deverá ser solução para algo. Estrangular a palavra é saída. É fuga. Fazê-la vibrar dentro de nós é o que nos resta. Sentir a vida através dela. Para daí sentir nossa própria vida. Não há mais o que se fazer.
E é isso que Viviane desanda a fazer em Toda palavra. Com a epígrafe de Arthur Bispo do Rosário, “Eu preciso dessas palavras. Escrita”, tem início o livro. A partir daí, há todo um desenrolar de palavras em linhas curvas. Em linhas com desníveis. Em linhas entrecortadas por facas: “O adubo de palavras mortas prepara palavras novas / (...) Uma palavra limpa é uma palavra possível”. É preciso lavar a palavra suja. Sem esquecer de que “Palavra não serve pra escrever cartas de amor. / Nem pra falar ao telefone. / Palavra não serve pra chorar. / Palavra só serve pra fazer poemas”.
Viviane diz procurar “uma palavra que me salve”. Eu também. Achá-la? Prefiro que não. Para em nenhum momento deixar de continuar procurando-a. Porque procurar por uma palavra que salve é alimento diário. É fuga e é sustentação. É contradição. É vida. Para isso, versa Viviane, “Toda palavra deve ser anunciada e ouvida”.
“Quem escreve escava / O que o silêncio palavra”. O silêncio palavra, sim. Palavra é verbo também: “Os verbos são duros por isso o abraço ao samba”. Palavrar é unir o distante: “Amor são palavras cruzadas”. É aproximar o que não se bica. É recriar sentidos. É vida, outra vez: “De todas as palavras que trago gravadas na pele / Amor é a que me assalta de madrugada. / O amor tem fome, muita fome. / Meu corpo são bocas abertas. / A madrugada me atravessa”.
Porém, ressalta Viviane, “(...) a palavra não sabe o que diz / (...) A verdade é que a palavra, ela mesma, em si própria, não diz nada. / Quem diz é o acordo estabelecido entre quem fala / e quem ouve”. A palavra é roupa que vestimos. E com quais palavras nos despimos, pergunta a autora? Eu, assim como Viviane, “Escorro entre palavras, como quem navega um barco / sem remo. Um fluxo de líquidos. Um côncavo silêncio”. Não me basta. Nunca me bastará. Mas não vivo sem. Sentar na calçada e virar a vida do avesso: “A vida ao avesso não tem fundo nem fim”.
í.ta**
segunda-feira, dezembro 22, 2008
Sobre o nome
“Como assim italiano?” perguntavam algumas pessoas, com um ar de indignação moderado. E é sim. Italiano de Segunda Guerra Mundial, apenas um parentesco acima de minha mãe, na ordem cronológica. Não é uma descendência muito “alongada”, se é que me entendem, tipo coisa de bisneto. Mas o fato é que o nome marcou a minha vida toda. Causa risadas e algumas confusões. Acho que algumas pessoas o acham ridículo.
O fato é: determinado ano, uma senhorinha um tanto reprimida, coisa freudiana mesmo, resolveu me chamar o tempo inteiro por essa palavra. E ela não era qualquer senhorazinha, pois ela dava aulas tediosas que eu era obrigado a suportar durante um ano. Para mim, na sala de aula sempre se absorve alguma coisa, mas, ao ouvir aquele ser vociferar como se o nome fosse algo bizarro, eu realmente ficava um tanto quanto incomodado, e rancoroso, talvez.
Mas, como é coisa pra vida toda, que eu não pretendia mudar em cartório, fiquei de bico fechado. Talvez tenha dito pra ela uma ou duas vezes o que havia de errado com a bendita palavra. Mas ficou por isso.
A mulher falou tanto naquela palavra, mas tanto, que eu acabei até gostando dela.
Virou meu diferencial, meu nome único, superior.
No entanto, ainda causa risos. Sempre causará. Meu chefe não sabe falar essa palavra, e não parece querer saber. Meu irmão reduz a palavra pra virar apelido. Minha namorada dificilmente pronuncia.
Ao contrário da maioria das palavras italianas, esse sobrenome não é nada famoso.
Pedro Zambarda de Araújo
22/12/2008
segunda-feira, dezembro 15, 2008
Erro de Português
Regra dramática,
Pois teme a desgraça
Da tragédia e da falácia?
Não seria o sintaxe
A padronização e o encaixe,
Da falta de criatividade?
Não seria a concordância
Uma mera discordância
Dos ligamentos dos termos,
Do silêncio tenro
De meu desejo?
Se não são nada disso, eu sou o erro,
A sedução do descuido, o esmero
Vagabundo, o desespero.
Ou talvez seja apenas um errinho
Que a borracha pune, que se cobre
Com "branquinho".
Nunca morre
Nunca morre, corre muito, torce a palavra, contorce significado, predicado, espaço, poesia é expressão, poema é a extensão, termos usados à exaustão.
sábado, dezembro 13, 2008
Sujeito e Predicado
Apertava os olhos para enxergar melhor o final da rua, algum sinal dos comboios que faziam o percurso centro-interbairros. Um transeunte conhecido mascava chiclete.
A boca que mastigava, escancarada, atraía as pupilas que levemente reconheciam um rosto familiar. Ruidosamente, o transporte estacionava com um trinado estranho, sobressaltaram-se os presentes. Embarcou.
O aniversário da vovó. Ela sempre gostou de doces. Ultimamente, não podia levar nem uma balinha de anis à boca. Sofrendo de várias "Ites", incluindo uma tal de diverticulite, seu leque alimentar restringia-se a suquinhos de soja, arroz, feijão e chuchu, todos processados no liqüidificador. Um iogurte de vez em quando era saudável, dizia minha tia.
A família e a sua bagunça de sempre. Cansado de correr atrás dos primos, espiei pelo muro os vizinhos que também estavam em uma reunião de família. Ela se achava lá. Quem eram os vizinhos? Eu a conhecia de algum lugar. Algum lugar... Que sensação chata.
A ponte. Observara de longe, a pessoa acompanhada de amigos loquazes. Óculos escuros. Chiclete ruidoso. Erguera os olhos. Não acreditara até dobrar uma esquina. Amaldiçoara a ponte.
A rua de casa. Lar doce lar. Invadido por aliens. Reminiscências? Hama-mu?
Enlouquecia. Bufava. Sorria.
Eu a tinha visto, em um ponto de ônibus diferente.
Óculos escuros e chiclete escancarado. Eu havia me lembrado.
De que conhecia aquela pessoa de algum lugar.
Entre um evento e outro, anos haviam se passado. Anos e anos. Vivendo e vendo. A outra pessoa. Não se aproximara, sequer acenara. Limitara-se a observar.
Imensa interrogação. Inquietação, angústia.
Na faina da escada rolante, logrado os destinos, se é que existiam, tão particularmente obtusos. Um subia e o outro descia. 180 graus. Incredulidade.
No mesmo dia, em um banquinho de praça, degustando um saudável sanduiche. Estendeu a mão, e foi em um terno aperto de mão que a voz se fez ouvir.
- Tudo bem?
- É, tudo.
Virei-lhe as costas.
Costumo visitar o mesmo lugar, raso de lembranças. Ainda esperando um olhar.
domingo, dezembro 07, 2008
abraçar o sol sob um pé de cebolinha
Chuva ele sentia lhe sorrir quando a ouvia. Uma relação bastante íntima, de cumplicidade. Arco-íris também podia dizer que escancarava o sorriso a ele quando a encontrava. Neste caso, muito em função do próprio formato que o arco-íris adquire no céu, confessava. Diferentemente de mar, por exemplo, que, enquanto elemento da natureza, era apaixonado por, achava-o belo e sincero, mas, enquanto palavra, não lhe transpirava a mínima confiança e simpatia, dando-lhe a impressão de gritar sempre que falava.
Tinha que tomar muito cuidado para não sentir pela palavra o que seu significado apresentava, sabia disso. Mas com algumas palavras não conseguia dissociar esse gostar delas como estrutura do que elas significavam ou representavam. Vento, por exemplo, era palavra livre, leve e solta, tal qual o próprio vento era-lhe. Já madeira era palavra intransponível. Seca, fria, nem ousava mais se aproximar dela.
Não tinha lá muito apego a palavras que eram verbos. Pareciam-lhe sempre irritadiças, incomodadas com algo. Evitava pensar nelas. Preferia ir à procura de palavras mais leves, como azul e travesseiro. Amava viajar na pronúncia de travesseiro. Muito melhor do que dizer cobertor ou escuro; palavras carrancudas estas, afirmava. Linguagem era palavra suave, apaziguadora. Sempre disposta a lhe dar um minuto de atenção que fosse. Parecia-lhe a “mãe de todas”.
Mas era com a palavra palavra que mantinha uma relação secreta e inebriante. Viviam uma paixão escondida, da qual ninguém desconfiava, nem jamais soubera. Sabiam guardar segredo, sabiam respeitar a privacidade de cada um, sabiam quando era hora de se ver novamente. Aprenderam juntos a empinar pipa em cima de nuvens, a abraçar o sol sob um pé de cebolinha, a roçar os telhados do prédio mais largo da cidade, e não pararam de saltar do alto de um formigueiro ao encontro do sol à meia-noite. Viveram explorando ao máximo os subterfúgios que só mesmo a palavra podia oferecer quando bem tratada por alguém. Era ali que se encontravam. Era ali que a paixão existia. Por ali é que estas linhas foram escritas.