quarta-feira, dezembro 31, 2008
Intersecção
Mas hoje segue o ritual,
A receita matinal
E a cozinha, que é o homem.
Faz-se todos os dias
A mesma travessia,
O universo interseccionado,
A vida transvestida
Nas fantasias, fico fascinado.
Faz-se todos os dias,
Mas hoje é fim de ano,
Quero um beijo
Na boca,
Pois é um ânimo!
sábado, dezembro 27, 2008
A palavra, quando vibra
O corpo conjuga o verbo palavra
(Viviane Mosé, Toda palavra, p. 30).
Encarei outro livro de Viviane Mosé. Toda palavra. Mais um soco. Na boca. Na boca por onde sai a palavra. De onde ela sai esmagada, estrangulada. Não degustada, mas remoída: “Palavra nasce no corpo. / (...) Palavra precisa de adubo de passarinho”. Conforme o dito na orelha do livro, por Chacal, "Viviane tem um caso com as palavras, na medida do impossível, um caso muito bem resolvido".
E, ao lê-la, quem acaba estreitando um caso mais profundo com as palavras, é o leitor. Se bem ou mal resolvido esse caso, depende de cada leitor. No meu caso, na medida do possível, mal resolvido. Ou melhor, nunca resolvido.
Pensar a palavra nunca deverá ser solução para algo. Estrangular a palavra é saída. É fuga. Fazê-la vibrar dentro de nós é o que nos resta. Sentir a vida através dela. Para daí sentir nossa própria vida. Não há mais o que se fazer.
E é isso que Viviane desanda a fazer em Toda palavra. Com a epígrafe de Arthur Bispo do Rosário, “Eu preciso dessas palavras. Escrita”, tem início o livro. A partir daí, há todo um desenrolar de palavras em linhas curvas. Em linhas com desníveis. Em linhas entrecortadas por facas: “O adubo de palavras mortas prepara palavras novas / (...) Uma palavra limpa é uma palavra possível”. É preciso lavar a palavra suja. Sem esquecer de que “Palavra não serve pra escrever cartas de amor. / Nem pra falar ao telefone. / Palavra não serve pra chorar. / Palavra só serve pra fazer poemas”.
Viviane diz procurar “uma palavra que me salve”. Eu também. Achá-la? Prefiro que não. Para em nenhum momento deixar de continuar procurando-a. Porque procurar por uma palavra que salve é alimento diário. É fuga e é sustentação. É contradição. É vida. Para isso, versa Viviane, “Toda palavra deve ser anunciada e ouvida”.
“Quem escreve escava / O que o silêncio palavra”. O silêncio palavra, sim. Palavra é verbo também: “Os verbos são duros por isso o abraço ao samba”. Palavrar é unir o distante: “Amor são palavras cruzadas”. É aproximar o que não se bica. É recriar sentidos. É vida, outra vez: “De todas as palavras que trago gravadas na pele / Amor é a que me assalta de madrugada. / O amor tem fome, muita fome. / Meu corpo são bocas abertas. / A madrugada me atravessa”.
Porém, ressalta Viviane, “(...) a palavra não sabe o que diz / (...) A verdade é que a palavra, ela mesma, em si própria, não diz nada. / Quem diz é o acordo estabelecido entre quem fala / e quem ouve”. A palavra é roupa que vestimos. E com quais palavras nos despimos, pergunta a autora? Eu, assim como Viviane, “Escorro entre palavras, como quem navega um barco / sem remo. Um fluxo de líquidos. Um côncavo silêncio”. Não me basta. Nunca me bastará. Mas não vivo sem. Sentar na calçada e virar a vida do avesso: “A vida ao avesso não tem fundo nem fim”.
í.ta**
segunda-feira, dezembro 22, 2008
Sobre o nome
“Como assim italiano?” perguntavam algumas pessoas, com um ar de indignação moderado. E é sim. Italiano de Segunda Guerra Mundial, apenas um parentesco acima de minha mãe, na ordem cronológica. Não é uma descendência muito “alongada”, se é que me entendem, tipo coisa de bisneto. Mas o fato é que o nome marcou a minha vida toda. Causa risadas e algumas confusões. Acho que algumas pessoas o acham ridículo.
O fato é: determinado ano, uma senhorinha um tanto reprimida, coisa freudiana mesmo, resolveu me chamar o tempo inteiro por essa palavra. E ela não era qualquer senhorazinha, pois ela dava aulas tediosas que eu era obrigado a suportar durante um ano. Para mim, na sala de aula sempre se absorve alguma coisa, mas, ao ouvir aquele ser vociferar como se o nome fosse algo bizarro, eu realmente ficava um tanto quanto incomodado, e rancoroso, talvez.
Mas, como é coisa pra vida toda, que eu não pretendia mudar em cartório, fiquei de bico fechado. Talvez tenha dito pra ela uma ou duas vezes o que havia de errado com a bendita palavra. Mas ficou por isso.
A mulher falou tanto naquela palavra, mas tanto, que eu acabei até gostando dela.
Virou meu diferencial, meu nome único, superior.
No entanto, ainda causa risos. Sempre causará. Meu chefe não sabe falar essa palavra, e não parece querer saber. Meu irmão reduz a palavra pra virar apelido. Minha namorada dificilmente pronuncia.
Ao contrário da maioria das palavras italianas, esse sobrenome não é nada famoso.
Pedro Zambarda de Araújo
22/12/2008
segunda-feira, dezembro 15, 2008
Erro de Português
Regra dramática,
Pois teme a desgraça
Da tragédia e da falácia?
Não seria o sintaxe
A padronização e o encaixe,
Da falta de criatividade?
Não seria a concordância
Uma mera discordância
Dos ligamentos dos termos,
Do silêncio tenro
De meu desejo?
Se não são nada disso, eu sou o erro,
A sedução do descuido, o esmero
Vagabundo, o desespero.
Ou talvez seja apenas um errinho
Que a borracha pune, que se cobre
Com "branquinho".
Nunca morre
Nunca morre, corre muito, torce a palavra, contorce significado, predicado, espaço, poesia é expressão, poema é a extensão, termos usados à exaustão.
sábado, dezembro 13, 2008
Sujeito e Predicado
Apertava os olhos para enxergar melhor o final da rua, algum sinal dos comboios que faziam o percurso centro-interbairros. Um transeunte conhecido mascava chiclete.
A boca que mastigava, escancarada, atraía as pupilas que levemente reconheciam um rosto familiar. Ruidosamente, o transporte estacionava com um trinado estranho, sobressaltaram-se os presentes. Embarcou.
O aniversário da vovó. Ela sempre gostou de doces. Ultimamente, não podia levar nem uma balinha de anis à boca. Sofrendo de várias "Ites", incluindo uma tal de diverticulite, seu leque alimentar restringia-se a suquinhos de soja, arroz, feijão e chuchu, todos processados no liqüidificador. Um iogurte de vez em quando era saudável, dizia minha tia.
A família e a sua bagunça de sempre. Cansado de correr atrás dos primos, espiei pelo muro os vizinhos que também estavam em uma reunião de família. Ela se achava lá. Quem eram os vizinhos? Eu a conhecia de algum lugar. Algum lugar... Que sensação chata.
A ponte. Observara de longe, a pessoa acompanhada de amigos loquazes. Óculos escuros. Chiclete ruidoso. Erguera os olhos. Não acreditara até dobrar uma esquina. Amaldiçoara a ponte.
A rua de casa. Lar doce lar. Invadido por aliens. Reminiscências? Hama-mu?
Enlouquecia. Bufava. Sorria.
Eu a tinha visto, em um ponto de ônibus diferente.
Óculos escuros e chiclete escancarado. Eu havia me lembrado.
De que conhecia aquela pessoa de algum lugar.
Entre um evento e outro, anos haviam se passado. Anos e anos. Vivendo e vendo. A outra pessoa. Não se aproximara, sequer acenara. Limitara-se a observar.
Imensa interrogação. Inquietação, angústia.
Na faina da escada rolante, logrado os destinos, se é que existiam, tão particularmente obtusos. Um subia e o outro descia. 180 graus. Incredulidade.
No mesmo dia, em um banquinho de praça, degustando um saudável sanduiche. Estendeu a mão, e foi em um terno aperto de mão que a voz se fez ouvir.
- Tudo bem?
- É, tudo.
Virei-lhe as costas.
Costumo visitar o mesmo lugar, raso de lembranças. Ainda esperando um olhar.
domingo, dezembro 07, 2008
abraçar o sol sob um pé de cebolinha
Chuva ele sentia lhe sorrir quando a ouvia. Uma relação bastante íntima, de cumplicidade. Arco-íris também podia dizer que escancarava o sorriso a ele quando a encontrava. Neste caso, muito em função do próprio formato que o arco-íris adquire no céu, confessava. Diferentemente de mar, por exemplo, que, enquanto elemento da natureza, era apaixonado por, achava-o belo e sincero, mas, enquanto palavra, não lhe transpirava a mínima confiança e simpatia, dando-lhe a impressão de gritar sempre que falava.
Tinha que tomar muito cuidado para não sentir pela palavra o que seu significado apresentava, sabia disso. Mas com algumas palavras não conseguia dissociar esse gostar delas como estrutura do que elas significavam ou representavam. Vento, por exemplo, era palavra livre, leve e solta, tal qual o próprio vento era-lhe. Já madeira era palavra intransponível. Seca, fria, nem ousava mais se aproximar dela.
Não tinha lá muito apego a palavras que eram verbos. Pareciam-lhe sempre irritadiças, incomodadas com algo. Evitava pensar nelas. Preferia ir à procura de palavras mais leves, como azul e travesseiro. Amava viajar na pronúncia de travesseiro. Muito melhor do que dizer cobertor ou escuro; palavras carrancudas estas, afirmava. Linguagem era palavra suave, apaziguadora. Sempre disposta a lhe dar um minuto de atenção que fosse. Parecia-lhe a “mãe de todas”.
Mas era com a palavra palavra que mantinha uma relação secreta e inebriante. Viviam uma paixão escondida, da qual ninguém desconfiava, nem jamais soubera. Sabiam guardar segredo, sabiam respeitar a privacidade de cada um, sabiam quando era hora de se ver novamente. Aprenderam juntos a empinar pipa em cima de nuvens, a abraçar o sol sob um pé de cebolinha, a roçar os telhados do prédio mais largo da cidade, e não pararam de saltar do alto de um formigueiro ao encontro do sol à meia-noite. Viveram explorando ao máximo os subterfúgios que só mesmo a palavra podia oferecer quando bem tratada por alguém. Era ali que se encontravam. Era ali que a paixão existia. Por ali é que estas linhas foram escritas.
domingo, novembro 23, 2008
Vaso
No centro de seu crânio, um buraco
De urânio, pronto para explodir e implodir.
Mas outros são vasos,
Nada escassos, guardam objetos,
Às vezes dentro do formato estético,
Às vezes dentro do uniforme patético,
Mas sempre vasos, espaço
Vazio ou preenchido.
Saudade de poetar
No mundo dos macacos, das criaturas nos cantos,
Dos encantos e das idéias em sacos.
Soltar a decepção com o próprio desempenho,
Arrebentar as amarras do formato ou do pensamento
Livre em pleno descaso, focar o ato, o lado produtivo,
A arte do riso.
Saudade de poesia e de poetar,
Como no pomar das notas
Livres a cantar,
Saudade de lirismo e de amar
O seu riso em meu ciso,
Como uma presa decorativa,
Atração reativa.
Poete, poete este verso,
Repete os nomes do velho
Universo perdido, um ninho
No ópio do seu tédio, pronto
Para o nascimento.
Discursos
Faz de tudo.
Um pensa que a vida está uma maravilha,
Vive a milhas de distância da trilha.
Um não sabe de tudo, mas tem discurso bruto,
Revolucionário inculto.
Vários podem ser assim, acidentes de retórica,
Comodismo e história.
Um balbucia palavras, sussura idéia pouco explorada
Para um público em franca decadência, cego e na demência.
domingo, novembro 16, 2008
Colegas
De inexperiência, preconceituosos ociosos,
Crianças na ciranda da vida e do insosso.
Colégio interno, régio contato,
Fictício laço, maço de cigarro
E entorpecimento.
Vejo barcos afundarem
Nas cirandas, vejo andarem
Sobre o cadáver de quem
Desistiu, de quem regrediu.
Colegas partem do parque,
Da vontade, da vida em cheque,
Colegas partem do tempo
E do professor possesso, do proceso.
Colegas são um constante devir,
Um mártir do magnífico sentir-se
Solidário, visionário, retardado
Diante do estranho,
Solitário.
Bossa velha
Em um calor atroz
Nas ondas de Copacabana,
Em nossa copa, você me abana.
60 anos de
Um violão e uma voz,
E chega de saudade,
Chega da saúde,
Chega, chega
Na foz do rio e desagua
Nos mares, entre os seres.
sábado, novembro 08, 2008
A subversão culpada
Dez narrativas. Abrindo cada narrativa, uma epígrafe escolhida a dedo, cuidadosamente, que seduz o leitor para aquilo que virá nas próximas páginas, as dez personagens-leitoras. Cada uma com uma história muito própria com relação a algum livro. A culpa é sempre do livro. A culpa pelo bilhete perdido, pelo desejo incomum de devorar os livros cheirando-os, pela solidão e loucura provocadas por uma ausência de livros. A culpa pela busca do nada. A culpa pela exaltação da inutilidade. As melhores coisas da vida não servem para nada, e nem precisam. Construir junto a algum livro uma história própria é algo maravilhosamente inútil feito por cada personagem-leitora do livro de Gómez.
Inutilidade esta representadora de um ato subversivo. Talvez o ato mais subversivo dos dias de hoje. Mergulhar na história de um livro, abraçar este livro, torná-lo algo inerente a si, e, principalmente, deixar claro o desligamento das coisas mundanas no momento em que se lê tal livro, são ações que assustam e que incomodam muito a quem não as vivencia. É o sujeito-leitor, hoje em dia, o maior revolucionário, aquele que se incorpora a um livro para engendrar-se na vida.
Livros, sozinhos, não fazem ruídos. Acumulam pó. Livros são exigentes. Para movê-los, para extrair deles algum som possível, exige-se grande esforço. Ser leitor é colocar-se à disposição deste esforço. É o leitor o ingrediente fundamental de uma história. Um leitor perspicaz, sensível ao que existe ao seu redor. Um leitor que trata a leitura como interação com o mundo e consigo mesmo. Um leitor corajoso, que a todo o momento se vê diante de escolhas a fazer, que vive sempre uma batalha em busca de algum sentido. Um leitor de livros errantes, que sente demais o medo de passar um livro para a frente.
Estes sujeitos-leitores presentes em A culpa é do livro representam também o leitor trazido por Piglia, em O último leitor. O leitor extremo, sempre apaixonado e compulsivo; viciado, que não consegue deixar de ler, insone, sempre desperto, para quem a leitura é uma forma de vida, para quem a literatura dá um nome e uma história, retira-o da prática múltipla e anônima, torna-o visível num contexto preciso, faz com que passe a ser parte integrante de uma narração específica. São, estes sujeitos-leitores, os últimos leitores, aqueles leitores em busca do sentido experiência perdida, que dão à literatura uma utilidade inimaginável. Que dão ao livro uma vida transformadora.
Trecho do livro:
“Quando voltei a ler a frase daquele poema, lembrei-me, surpreso, que existia um bilhete dentro de algum livro da minha biblioteca, guardado propositadamente para que eu pudesse ler, muito tempo depois. Minha mente tinha aparentemente criado um bloqueio em relação àquele pedaço de papel e, após todos estes anos em que nem sequer me lembrava de sua existência, fiquei curioso pelo seu conteúdo. Mal sabia onde poderia estar escondido, depois de anos, e nem o que ele dizia.
Talvez algumas pessoas saibam a minha idade, aparência e profissão (muitas vezes tentei não mentir!), mas todos esses dados não me descreveriam por completo. Os livros, eles sim, conseguem me expor como um espelho sem máscaras, embora com algumas vírgulas e reticências. E pelo que lembrei agora, também por alguma ou outra história incompleta contada em algum bilhete esquecido entre suas páginas.
Minha biblioteca abriga diversos volumes, de várias gerações. É verdade que ela já não é tão completa, mas ainda restam aqueles de amor secreto. Não sei quantos deles só abri para folhear e quantos li, de fato. Cultivei o ato da leitura sabendo que nenhum livro é o primeiro, e nenhum é o último. Sempre percebi que formar uma biblioteca é um ato de criação; assim, como considero livros o principal instrumento da imaginação, não os leio tentando aprisionar o superficial. Todos esses livros são, para mim, companheiros vivos, que sorriem, choram, abusam, formam, acalentam, respiram. Minha surrada colcha de retalhos literários. Convivem pacificamente entre novos e velhos, lidos e esquecidos, clássicos e anônimos e valem pela satisfação que provocam em quem os têm nas mãos. Eu os sinto todos ligados a mim por laços invisíveis e remotos”. (do conto O bilhete perdido, pp. 24-25).
sexta-feira, outubro 31, 2008
Anti-decepção
Quando o cético vira o ético,
Quando o pé vira a mão,
Quando o céu vira o mausoléu.
Você não deixa de acreditar,
Mas o seu suspiro vira escama
E o seu libido, chama.
Um pequeno apelo, sem nenhuma poesia
domingo, outubro 26, 2008
nu
o homem está nu
ele tirou suas roupas
tirou suas jóias
livrou-se de adereços
sufocou sua vida
arrancou sua pele
amputou seu ego
se despiu do preconceito
saltou fora seus medos
abandonou seus desejos
esqueceu seu passado
esqueceu seus sonhos
curou suas feridas
desistiu de suas ambições
perdeu seu ódio
agora sobra apenas
o que realmente importa
vazio
sábado, outubro 25, 2008
Conjunto solução inteiro
Alienante do instante
Em vigência, uma tendência
Em colapso num mundo
Relapso de imundos
Conceitos.
Portador da chave
Que o senhor entrave
Insiste em proclamar:
"O senhor é a margem,
O centro e a estalagem,
Em ti passam todos os barcos,
Por ti juntam todos os espaços".
quarta-feira, outubro 22, 2008
Conjunto solução vazio
E para qualquer outro valor no sentido horário.
Assume-se um relógio com dois ponteiros,
Como na definição, o sentido horário é o negativo,
Tão negativo que seu avançar traz o desespero.
Cada segundo que passa, o tempo é gasto.
O tempo chega, talvez seja a hora, a hora final,
Aquela hora onde a vida se resolve, obrigatoriamente.
O dia onde não haverá amanhã e o hoje próximo é escasso;
O dia onde o basta acontece, a dor finalmente finda-se...
Os problemas desaparecem, a angústia some,
O dia onde o tango argentino é finalmente tocado
E a única coisa a fazer já foi feita...
Odeio o dia, não este... Mas seu conjunto complementar.
sábado, outubro 11, 2008
Hallucinogenas
Posso ver em seu olhar
O monstro que machuca gente
Sem um momento de paz
Confusão e indecisão
Pobre valentão
Sem dó, exigente.
Mãe amada
Recomeçou
Repetirei mais uma vez
Seu mundo – meu mundo
O suplício da indecisão
Decisão atroz, incompetente
Incompletude inadimplente
Estado de desânimo
Uma loteria, uma lástima
Esta espada, o amargor.
Não guardo remorso
Posso enxergar e não posso ler
Posso andar e não posso mover-me
Afundado na cama, os escombros
O grito da alma mutilada
Ecoa na folha de poesias
Pelo que eu fiz
Visito o exílio
Simpático, esboça riso.
Já é mais do que tarde
Ventos do exílio
Curvam-se, polêmicos
Dobram palmeiras, araucárias
Ingazeiros, Flamboyants e Ipês
Verde à mercê
Para voltar atrás
À força engastado
Em campos belicosos
Carniças ardem com o fogo
Que a ira ateou
Os ventos do exílio levam
Devagarzinho
O Sombrio Lamento
Que seja capaz de semear a tristeza
Que congela a vingança
A que horas virá?
Sempre esperei por ela
Quando todos que encontrei
Esqueci de quem devia lembrar
E procurar, o que mais?
Faltam os remédios!
...eles me divertem...
Liquidam as sensações.
Eles vão
Nada restou, apenas uma história sem mãe
E a dor desta noite punge
Dizendo maliciosa:
“Tome um banho de sangue”
E a vingança charmosa
Chamusca o peito do jovem refinado
Fumegando a dor do exílio
De suas próprias lembranças
Eu esquecerei de quem procuro
Mamãe por favor, me ajude
Não a verei mais
Um por um
Tenho pouco tempo
Antes de dormir a ilusão dos séculos
Onde corpos jazem em receptáculos minúsculos
Comida dos cães
Bebi seu sangue, comi seu corpo!
E minhas lágrimas ainda não secaram!
Embrulharam-me o estômago.
Seus olhos
Quando
As outras víboras lhe levarem
Cave seu túmulo
Já não intercederei mais
Seus pálidos olhos frios
Despojado do próprio rosto
Por sua vontade cometi seus melhores erros
Todos que encontro ouviram seus lamentos
Através do vento do exílio
Ignorando as lembranças do passado amargo
Arrancaram-me da pele pesada chaga
Todas as crianças
Vomitei seu vômito e ingeri sua bílis
Mas ainda esqueço o teu nome
Nome de salvador
Recordar-me de sua face, nem nos sonhos
Por sua glória
Cuidado com sua própria virtude
Tombam as máscaras, deitam por terra os medos
Mas o calafrio ainda persiste no lamento
Aquele vento vivo,
Que dobra as árvores
Devagar marcham
Em fuga desconhecido
Descontrolado
Mordi seu braço
Andei sozinho
Tentando ao máximo não esquecer
De quem eu era
Para a morte
Quem, por estas chamas
Por capricho do precipício
Puxou-me do salto
De planar rasante
Todas as suas crianças
Preferi não consolar a morte
Mas estão me privando
Da consciência
As complicações e falta de sossego
Dores de cabeça
...minhas amigas
Perderam-se
Faltam remédios
--- esqueci de seu rosto mais uma vez
Olhe por onde anda
O grito da alma ensandecida
Rasgou a goela do tempo
Faz pingar o escarlate
Do passado
Calcinado
Pois vai perder-se também
As pessoas apavoram, e olham
E não estão mais aqui
Mas sinta! Os gritos ainda ecoam
É melhor aproveitar
E concordar a sofrer as conseqüências
Faltam remédios, sim, faltam remédios
E o suplício ainda não decide a angústia
À primeira vista pode faltar amor
e os grilhões invocam a dor
Faltam remédios, e eu suplico ao grito
Levante meu vento!
Não há mais
Fingir problemas que não comigo
Nadar no rio onde desovam peixes triviais
Camões entulha-me de superficiais
Vil contratempo
É Contra o vento
tempo
Choca meu lamento
Através dos tempos
Chega ao destino
E desafina
Não há mais
Se há uma coisa que não admito
É desarmonia
tempo
Espatifa-se – tiraram-me a voz
Sobrou o murmúrio das árvores
Que dobraram o vento
Vejo coisas
Estou no comando
Segurando
Todas as cordas
Dos movimentos das marionetes
Dos perdedores
Em suas mãos de assassino
Que não se cansa de prejulgar
E cometer sacrifícios ousados
Porque o grito que alerta a alma Que já perdeu tudo
Ainda te causa dor
demais
Mas não fique preocupado, apenas deixe-me daqui sair
Ouve este sussurro? Para além do verde distante e pálido
Merece um outro olhar
Eu digo – isso é bloqueio
Uma perversidade
Deles, que estão por toda a parte
Vigiando os sentimentos e rendendo toda gente
Vejo coisas
Exilaram meus movimentos
Momentos partiram-se em pedaços
Cansado, dormi em seus braços.
Demais.
quinta-feira, outubro 09, 2008
Pátria amada, Brasil!
Teu espírito, senhoril,
Respira um ar pueril.
Seu moleque senil!
quarta-feira, outubro 08, 2008
cenidistante
enquadrados no silêncio
tique taque de seu peito
és uma máquina, é verdade
mas tão verdadeira
quanto o lobo e a coruja
asinhas delgadas,
fitas de silêncio
pouca voz e sorriso.
energias na espinha
hostis
sinto-me no escuro
tétricas,
horrendas
és prática
rotina fatal -
queima-me as retinas
por um relance de amor
queima, queima,
como agulha na brasa
os minúsculos pontinhos
encarnação da derrota, um fiasco.
domingo, outubro 05, 2008
már
morrendo à noite
na beira da praia
engolindo as estações
o estrondo de àgua
castigando os rochedos
fustigando os sentidos
fugindo em asas delta...
sibila o vento - enreda os pés
na areia de diamante
nos cabelos o torvelinho
saltado das falésias
o mar está morrendo
e você ainda sonhando...
poema sobre experiência
o amado leito de morte
decorado com algodão-doce
e atroz bílis, o açoite;
estende seus lençóis, garras
ágeis e senis
Na face, de lado a outro
risca altivo, um esgar
brota mais sorrisos frios
tão distantes deste débil
vestindo trapos de Brasil.
sexta-feira, outubro 03, 2008
Descaminho
Sistemas, distrações, reinvenções.
A criatividade implodida,
O coito interrompido.
sexta-feira, setembro 26, 2008
caminho
mapa, bússola, sextante, GPS, navegador
pra que antever meu caminho
se o meu nariz sempre aponta onde devo ir ?
segunda-feira, setembro 15, 2008
A harmonia da transcendência
Ou o sintético,
Fazendo o surdo,
Ou o patético,
A lisergia e a orgia
Racional continuarão.
Pelas cordas vibrantes,
Pelas nuances ondulantes,
Eu permito ao diamante louco
E insano o brilho profano e puro
Das minhas teclas espaçadas,
Do meu teclado harmônico.
Pelas notas inseridas e tocadas,
Faço você sentir o paraíso,
Procuro o riso contido
E seu choro mais desgraçado.
Vamos juntos viajar
Nesse mar de nuvens cor-de-abórbora,
Na abóboda do seu festejar.
Entendo em três sentidos
quarta-feira, setembro 10, 2008
Velkinta Kadavro
Por linda forma, num branco vestido,
Ofuscava a tudo enquanto o lindo sorriso
Brilhava, rutilante; Dizia eu: preciso!
Preciso vê-la, logo ali, adiante
Tão longe, inalcançável... Tão distante...
Dois passos, um universo interminável...
Esplendorosamente inigualável!
Imóvel como estátua, enevoada,
Parada ao longe apenas observando,
Entre as nuvens do céu admirando,
A alma triste que soluça, desgraçada.
Pobre ser que não pode fazer nada,
Que sente a vida para sempre malograda:
A essência do mundo que o conforta,
Jazia em sua frente pálida... Morta...
quinta-feira, setembro 04, 2008
o livro
Autor: Francesco Petrarca
Texto: Meus amigos
Livro: A paixão pelos livros
Ano: 2004
p. 51.
Editora: Casa da palavra
quarta-feira, setembro 03, 2008
Saudade
Antes tudo, tão próximo
Mas a distância do espaço
Gerou a distância do tempo
Esqueço de qualquer imagem, realidade
Quem é esse que me abraça
E me esqueço?
Imagem que sigo, esquecida
Tão protegida, e de tanto, bloqueada
Um ídolo que sigo e nao vejo
Admiro-o sem lembrar
Uma infância perdida...
Em apenas doze horas de distância
Inspiração
Que nunca me deixa só
Uma imagem cobre-me a lembrança
E não me deixa ver além
Respiro saltitante
Coração palpitante
Por que me afundas
Em mares de saudades?
E tão logo recobro a consciência
Ainda inquieta e saudosa
Repasso-te em pensamento
Papel, tinta ... escrevo
sexta-feira, agosto 29, 2008
Escultura
Andai por caminhos torturantes, tortuosos
Todos lotados, cheios disso tudo!
Passa não passa, passa não passa!
Para onde vais com tanta pressa?
Se muito parado estás?
Estática Cidade, cresce um porém!
Algo não sai, não floresce
Mas está perto, está sob o solo
Nasce a crise, estática crise!
Permanente crise, crise cheia!
Estamos cheios disso tudo!
domingo, agosto 24, 2008
Podresia
Não necessariamente poética,
Que não possui uma rítmica bem formulada.
A podresia é aquela poesia morta,
Não necessariamente aritmética,
Que descreve vasos em versos decassílabos.
Ela também não é paralelística,
Mas nunca se encontra com seu significado.
Ela não possui significado,
É uma poesia corroída,
Mas não ao ponto de tornar-se vendida.
Na realidade, é uma poesia vadia,
Totalmente mal-escrita, sem cuidado,
Feita por não-poetas às pressas,
Com letras grudadas, bem presas.
A podresia é um lirismo de palavras vãs,
Todas presas ao nada e jogadas ao vento;
É à poesia e à arte um imundo desalento.
Desprezível e mefítica reunião de palavras,
Que apenas toma o tempo curto do leitor,
Obnóxia abjeção feita com o inverso de primor.
É uma a-poesia que nada contesta;
A charneca literária oriunda do marasmo,
Onde verso atrás de verso é um inútil pleonasmo,
Mais mal feita que a podresia... Só existe esta.
sexta-feira, agosto 22, 2008
alguma coisa de muito diferente
fiz a leitura de De repente, nas profundezas do bosque, do escritor israelense Amós Oz, e, novamente, durante e após a leitura, o sentimento de que a literatura provoca no ser humano algo que foge de sua compreensão me invadiu. é uma sensação muito boa, alguma coisa de muito diferente de todo o resto. ainda bem que não consigo mais viver sem sentir isto. um livro após o outro. um sentimento que complementa o outro.
uma fábula muito gostosa, sem maiores enrolações, escrita com leveza. os capítulos são, em sua maioria, curtos. não são todos os capítulos que terminam fazendo alguma ponte direta com o próximo. não há essa necessidade.
em uma aldeia pacata não há bicho algum. o que seria um mistério, é tratado com certo descaso pelos adultos. não por algumas crianças. poucas. três ou nove. o mergulho delas em tal mistério é o fio condutor da narrativa. elas sentem que há algo a mais naquele bosque. seus olhos imploram por novas imagens. elas não recuam. e... (é fazer a leitura e descobrir o que elas descobrem; ou não).
nunca havia lido nada do escritor israelense. se a primeira impressão é a que fica, esta é muito boa. é um livro infanto-juvenil. desconheço se o único do autor para essa faixa etária. independentemente desta categorização, é um livro para todos aqueles que se dispõem a se aventurar por entre árvores e personagens, mergulhando no mistério da solidão humana e animal.
í.ta**
domingo, agosto 17, 2008
Silêncio, ruído e comunicação
Há uma verdade rejeitada,
Há uma inércia involuntária,
Há uma manipulação inventada.
Há vozes, simples ruídos,
Há um silêncio constrangedor,
Há um interloculor medroso,
Há um mundo tenebroso.
E há, quando saímos de chiados e paralisias,
Quando a voz assume timbre e rítmica,
Uma breve comunicação.
De resto, tudo é apenas sons e vácuos.
Ideologia
Enquanto o conservador repete um discurso conhecido,
Enquanto os embates ficarem na revisão do conhecido e público,
Eu vou querer que a ideologia se exploda, esse mal bem recebido.
Não vou sonhar utopias,
Não vou fixar pernas em uma realidade momentânea,
Vou caçar um pensamento e uma filosofia contemporânea,
Vou unir rebeldes e tradicionais, orgulho e revolta,
Eu vou ser completo nas minhas alegorias.
segunda-feira, agosto 11, 2008
sábado, agosto 09, 2008
Paralogismo
Do falar prolixo
E do olhar em riso.
Gozação, piada, mentira
Do discurso, do impulso até a alucinação.
Silogismo
Do meu terço, que oro,
Frases estão avulsas, coro,
Estamos no seio do meio
Que nos indica ao finalizado.
Começo, meio, fim.
Do sujeito-objeto
Aos detalhes do trajeto
Que guiam o fim completo.
Prosa Idiota I
Me desloco um pouco, a paisagem, ela está deserta.
Noto que a choupana que se situava ao fundo, ao lado da colina, não emite mais a doce fumaça da lareira que esquentava seus moradores.
Nossa! Haviam moradores, mas... O que lhes ocorreu?
Fui averiguar... Abri a porta, noto uma ossada totalmente decomposta; vermes banquetearam naquela casa. Mas... O que faço eu num lugar tão longe? Não devia estar na cidade? O que vim fazer por aqui?
Existe cidade?... De onde me veio esse conceito: "cidade"?
A neve está acinzentada. O que está havendo nesse lugar?
Noto o céu, há uma lua brilhante, mas contracenava com a tenra luz do dia de sol tímido de inverno. Esse lugar, não me faz sentido...
Alguém, há alguém por aqui? Há?
# ## # ### # # ## ## # ### #
Que barulho é esse?!
# # # ### # ## # # # # ## # #
Alguém me respondeu, mas é um crocitar!
Há um corvo nessas imediações... Não só um corvo, as árvores, elas não desfolharam somente, elas estão mortas.
Está se adensando uma névoa obnóxia, ela me sufoca, me faz querer correr.
Pusilânime, não consigo. O tremor me faz evitar os movimentos.
...
Existe! Existe! Existe!
Olho ao meu redor. Há cinzas, não neve, ela se acinzentou cada vez mais.
O céu está numa vermelhidão, cor de sangue, uma atmosfera escarlate.
O ambiente está cada vez menor, as árvores estão se contraindo, há forças ocultas atuando sobre nossos corpos.
Uma atração gravitacional, eu suponho... O que é gravidade?...
A família! Ela morreu, morreu de peste!
A choupana, a choupana exalava um doce aroma de lareira porque eu morava lá.
Por que eu não moro lá?
Por que morreram?!
Por que eu estou vivo.
Eu NÃO estou vivo...
Este é o ...
...
quinta-feira, agosto 07, 2008
Tres Haicais
Decreto
força de sol maior
desce a corda até fá
mas esquece mi
Morte
Espero que seja
rápido e indolor
o disparo
Derreto
Olho para a névoa
de linho branco
derreto n'água
Terror
Nos olhos esbugalhados
Que a admiração embrulhada
Conjuga com os estômagos contorcidos.
Terror roto em terremoto,
Rosto ligado ao pescoço rouco.
Comédia
Enquanto as caretas dizem,
Decididamente,
Que a realidade é uma farsa,
Pois o coração está nas traças.
Drama
Enquanto o mundo roda, enquanto o vivo se aloja
Nas impressões individualizadas.
Nossas caretas ficam eretas,
Nossas palavras ficam suspensas,
E a falta de verbalização deixa a situação
Menos picareta.
Drama é tensão,
Mas o tenso não vive sem o líquido
Racionalizado, pensamento.
Tragédia
Sorrir sabendo do lacrimejar,
Acabar a melodia depois de solfejar.
Trágico é ser homem,
Criar e destruir deuses,
Pegar fiapos e soltar o sentido,
Crer no eterno
Enquanto nossas impressões somem.
Morte certa e errada
Na mente que sente a lente de repente,
A visão obscura, a perda latente.
Morre-se muito, morre-se todas as vezes,
Morre muito nas vezes em que as fezes
São os restos de gente.
Morreu de câncer, morreu no lance
De sacada, na bancada do hospital,
Sem as amarras do pecado capital,
Morreu feliz, morreu por um triz,
Podia viver sempre.
Morreu na batida policial,
Na colisão frontal, na corte marcial,
Morreu bestamente, morreu subitamente
Da morte mais morrida de todas,
Na queda mais sofrida de todas.
Morre-se de um jeito, morre-se de outro,
E, na real, a vida é só uma morte sem sentido,
Uma observação positiva, um medo destemido,
A vida é a morte que a morte nunca teve desejo.
domingo, agosto 03, 2008
Teu medo
De balas perdidas, de corrupção incessante,
de mosquito egípcio, de crise permanente?
E fazes o quê? Choras?
Choras o sangue espirrado, o dinheiro perdido,
a doença-epidemia, o futuro esquecido?
De medo fazem tua cabeça
uma bagunça covarde e reprimida!
Mas, o caos do dia é mantido.
E ainda te dizes correto?!
Por sentar e esperar,
por dizer e sentar!
As desculpas correm, o moedo fica.
Culpas e te desculpas.
Pobre de ti, que hipócrita sê na vida!
Medo está em mudar.
És estático!
És obsoleto!
Muda e transforma!
Se tudo está assim,
tu és isso tudo!
segunda-feira, julho 28, 2008
Sob o signo sem ver.
Solene atina,
O hábito de sofrer.
Igual fruta caída,
Hesita em amadurecer.
Queda, distante,
Qualquer sonho a ter.
Insone, sente a manhã.
Incólume, insípido amanhã.
Descompasso, todos compromissos.
A sua vista outros iludidos.
Como homem que é.
Transeunte ou altaneiro.
Altíssono compadece.
Mítica simbiose
De ser e desespero.
sábado, julho 26, 2008
Silêncio ou a Tentação do Não-Falar
Pensar fugiente como jamais visto antes;
"Por que falar?" dizia, "Para que dialogar?"
Não faz mais sentido o ato de conversar.
Incomunicável, é o que o fato parece
"Comunicação não! Falar não me apetece!"
Fome por dizeres, o anseio, a expressão...
Não complementam mais minha alma da razão.
Resta para todos apenas o silêncio,
Silêncio que amarga os tão controversos versos
De significados paradoxais, dispersos.
Resta para todos apenas o silêncio,
Não silêncio surdo, que é apenas ignorado,
Mas silêncio mudo, dum agora calado...
Pensamentos sobre a Filosofia do Jornalismo #2
O terror mais sincero e duro
É ser o momento.
Tormento puro.
Pensamentos sobre a Filosofia do Jornalismo
Quando a notícia abandona o formato digitado,
Eletrônico,
A informação passa a trafegar em pé,
Separar-se de forma, ser um além
Dos formatos, passa a ser contato.
Eis que surge o indivíduo jornalístico. Ele não é uma colagem de revistas, nem jornais. Ele não é um chip de informática, nem é notícia que respira e sobrevive. O jornal, o diário, o cotidiano, o ordinário é o imediato, o sensato, o esclarecedor. Ele carrega e não carrega as incoerências do cotidiano. Nenhum cristianismo, nenhum mito e nenhum cientificismo encostou no homem-jornal. Nem mesmo o super-homem do bigodinho.
O jornal
Carrega as incoerências
Sem apelar para a demência,
Sem cair na dependência,
Ele não é Deus,
Ele não é homem,
A atualidade é a metamorfose,
Aquela não podemos deter, a simbiose
Da osmose que é não poder se controlar,
Não poder se tocar.
Indivíduo jornalístico irá compreender o panorama.
Irá investigar as minúncias,
Desmontando o programa.
Indivíduo olhará para a história,
Perdoando os assassinos,
Julgando apenas os erros
Disciplinares, as linhagens
Dos traidores.
O culpado pedirá pela morte,
Pedirá pela tortura, um forte
Sentimento masoquista,
E o indivíduo jornalístico
Corromperá com sua palavra.
O jornal penetrará no ser humano,
Não mais com número limitado de espaço,
Nem com gênero categorizável,
Será comunicação pura e mudança madura,
E todas as palavras terão sentido,
Ungido pelo terror que é a esquizofrenia.
O homem-informação,
A desinformação declarada,
Será um arauto a ser temido,
Por seu olhar, que é um cupido.
Apaixonado,
O ordinário homem compreenderá que
Diante do indivíduo jornalístico,
Não há basilisco
Da criação humana como arma.
Verás, por esse indivíduo,
O fim da imaginação,
Fim da sua personalização.
Pois o presente como verdade,
O duelo da ascensão,
Revelará todo resto como simulação.
quinta-feira, julho 24, 2008
Estudos Poéticos 2
espero que gostem :)
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Adágio
Dor. Por ela, o violão chora.
e seu braço deita
Lenta e dolorosamente
Verruga
Ò verruga, serei capaz
Passar uma dura
à saliência tão desnuda
Canora
O cantador no peitoril
Cita arpejos, preso:
Liberdade, que já voou.
quarta-feira, julho 23, 2008
terça-feira, julho 22, 2008
sobre a poesia
1ª lição
Rosa daninha:
Você quer que eu te ensine poesia e se confessa envergonhada da própria ignorância. Mea Culpa, Rosante! Não te ofendo por ruindade, mas de leviano que sou. Teus versos são maus, mas puros – o que é uma qualidade. Falta informação, cultura a você – sensibilidade você tem de sobra. Ler O Estrangeiro do Camus e gostar, na tua idade e com a tua formação, é algo admirável por si só. Entretanto, você acha Drummond um chato, o que é um crime de lesa-pátria. Certas coisas são sagradas, Rosinha. Não existisse Drummond e hoje eu seria um próspero vendedor de ações. O mal dele é que encalacra na gente, como certa menininha, princesa de castelo, que eu conheço. Às vezes escrevo versos e percebo que há mais alguém participando da tarefa – esses malditos fantasmas, grandes demais para caberem no túmulo. Vivem se metendo na obra alheia.
Mas vamos à aula de poesia.
Artigo único: poesia não se ensina.
Está encerrada a lição. Mas, para não decepcioná-la por completo, falarei da poesia em geral, já que não posso ensiná-la. Antes de mais nada, dê uma folheada em algum manual de literatura (serve enciclopédias, daquelas que o teu pai compra em metro) para familiarizar-se ligeiramente com a História. Itens de pesquisa: Homero – Classicismo – Barroco-Arcadismo (ou neo-classicismo) – Romantismo – Parnasianismos – Simbolismo – Modernismo – Concretismo.
Pronto? Ótimo. Se não entender alguma coisa, não faz mal: esse pessoal todo já morreu, e em geral eram muito chatos. Conclusão primeira destes três mil anos:
- a poesia não é rima
não é forma
não é metro
não é papel cuchê de primeira
não é assunto
não é necessariamente música
não é estrofe
não é profundo mergulho na individualidade humana
não é uma borboleta voando
a poesia não é nada.
ou seja
que porra é a poesia?
Conclusão segunda da revisão histórica (preste atenção, Rosânida!):
- como não há mais nenhum discípulo de Homero e a Grécia virou uma bosta, como os clássicos da Renascença eram muito posudos, como os barrocos faziam piruetas, como os árcades só cuidavam de ovelhas, como os românticos morreram todos tuberculosos, como os parnasianos eram a última raspa do tacho da boçalidade acadêmica, como os simbolistas compensavam a falta de assunto com Iniciais Maiúsculas, como os modernistas envelheceram, como os concretistas, práxis, poetas-processo e suas cinco milhões de dissidências cooptaram todos pelas agências de publicidade:
ESTAMOS LIVRES!
HIP! HIP! HURRA
Não é um alívio, Rosaflor?
Isto facilita as coisas. Por que buscar um fio de meada que talvez tenha se perdido para sempre? Ora, a solução é cristalina. Não existe a meta-poesia?
Pois acabo de inventar a mata-poesia.
A mata-poesia (nada a ver com ecologia!) propõe o assassínio da Poesia. O Esquadrão Matapô não terá piedade: matará, estraçalhará, estrangulará tudo o que aparecer por aí sob o codinome de Poesia. O filho da puta do poeta que aparecer com textinhos mimeografados, com vanguardas obsoletas, com tiradas de cinco estrofes, com rimas ou sem rimas, com vaguezas sonambúlicas, comícios e aquilhos, saudades, dores, fragmentação do ser, trocadalhos e poemas em geral, estes comerá o pão que o diabo amassou. Para se filiar ao Matapô basta ser poeta e colocar seus préstimos a favor da destruição final da poesia. Vamos extirpar de vez esta vergonha nacional, esta horda de mendigos bem nutridos. Ofereçamo-nos em holocausto. Ave!
Rosance, essas cartas me estimulam! Refaço agora o título da aula: onde se lê A POESIA AO ALCANCE DE TODOS, leia-se A POESIA AO ALCANCE DO BRAÇO DE TODOS.
Porrada nela!".
Livro: Trapo
Autor: Cristovão Tezza
Editora: Brasiliense
Ano: 1988
pp: 113, 114, 115.
terça-feira, julho 15, 2008
Como matar Deus (e se matar)
Refutar a garra que me agarra
Na masmorra que é vida, armadura.
Primeiro veio o homem,
Ou o homem veio a si, primeiramente,
A existência veio do sêmen
Nadador e penetrador do óvulo, somente.
Humanos olhos que enxergam,
A mente que fala, a esquizofrenia
Que trepa com nossos genitais,
Resvala nos pensamentos difusos,
Nasce uma imaginação.
Imaginação é senso,
Senso em conjunto vira consenso,
Imaginar é ser tenso,
É deixar de ter um olhar tenro.
Surge o superior,
O que fica abaixo e o interior,
Pode ser um homem de barba branca,
Ou uma pomba retardada, também manca.
Deus dialoga com o homem
E este apenas fala consigo,
Não porque é pecador,
Mas porque é amador.
(de si próprio, iniciante e penitente)
Dentro de tantas mitologias,
Transpassando as igrejas e as mesquitas,
A herança final do rito é o grito da razão,
E a esquizofrenia duplica, é a cisão
Dos saberes, a desapropriação
Desproporcional, idéias em suspensão.
Veio o sangue pelo nome divino,
Veio o equívoco científico,
(Cruzados e Bombas Nucleares, qual é o pior?)
Dormem os meninos entorpecidos,
Vieram todos os símbolos e todos os fantasmas,
A humanidade se revelou no miasma.
Surgiu um bigodinho maroto
E disse que Deus estava morto,
Surgiu um turbilhão de fragmentos,
O homem voltou a viver o momento.
Da apneia dos conflitos,
Surgiu a mais atéia das composições,
E a mais religiosas das confusões.
Ateu, tua religião é um Deus
Da negação, uma afirmação,
Uma admiração inimiga.
Negar o superior virou desculpa
Para selar a catapulta
Do assassinato,
Para quebrar a crença
Com o tesão cético.
Não se desacredita em Deus por vontade,
Mas deixa-se de acreditar por maldade.
Vingança é o credo do ceticismo,
Matança de seus órgãos internos,
Cínicos.
(onde foi parar o fim da Igreja?
vocês fundaram um ritual da suspeita,
um terrorismo de nascença,
não é um Deus tão temido
quanto o mais antigo?)
(homem sempre cria ´Deus´
nem sempre com um nome, nem sempre como um dos seus,
mas imaginar, enlouquecer e admirar são o crer e o cegar)
(somos estrangeiros, somos extraterrestres,
crentes ou desordeiros,
estamos sempre a pensar, ser.)
Estudos Poéticos
É tão doce
Que o vento soprou
É assim que sei
O som
Sabe
A saudade me seca
Suspiro e silêncio
Ouça
Esta solidão
Será serenata?
É só sensação...
----
Música para ser ouvida:
Revèrie - Claude Debussy
Enjoy!
domingo, julho 13, 2008
A Floresta
Fadiga
Dos retardos constantes
Em mi, fá, sol, lá, lá em casa,
Na morada dos párias,
A fadiga diária.
Casa do violão, da guitarra,
Imprecisão da garra, cãibra,
Barba ralada, casa com o nada.
Pouca poesia
Que assopra no teu peito,
Que proseia no anseio
De te ver sem meio termo.
Lança a enzima
Da palavra, a esgrima
Da frase, da oração, do verbo,
De tudo o que for concreto e curto,
De tudo o que for ação no escuro.
E me anima.
O Templo das Pedras
o sábio
cria astuto enigma
é ilusão má
Ecoa o tempo e as tênebras
e roda
força os eixos e pára.
mental
Paranormal, é mistério
e solução
Uma mística reclusão
um labirinto
As asas presas a correntes
nem cera
Restitui a liberdade
ainda falta
metade do quebra-cabeças
quinta-feira, julho 10, 2008
Aqueles versos
Sorrindo tudo azul
Há um colar de bonecas
Rodeando duas canecas
Você quer mais o quê? Um bidet?
Um beijo gorgolejante,
Panquecas e CD's?
Construir um palácio despidos em um tanque
E depois nos afogarmos
Para o bem do bebê
Amanhã já foi descoberto
Porque nunca saberá o que é pena
De reunir tantos versos
Para um quadro azul
Deram-me um corpo
mas é de papel
Naufragam, os barcos
Tombam lânguidos, dentro do tonel
(ah!)
Louco com uma águia
Pena de bordel
Machucam toda noite, olho para o teto
lambuzo o céu
Peço-lhe que remende
Aqueles traços infantis
É tão decadência
Vejo:
Cabeças em alfinetes.
E a platéia aguarda-me com um atraso
E mais uma vez
Deslumbro decotes com simpatia
Todo mundo consulta seu relógio
é a ponte que liga
esperançosamente à pieguice
Oh, falta-me um inconsciente de uso
Falta-me um consciente humano
Falta-me uma dúvida munida
De pontuações descabidas
Falta-me luz e sombra, ser cruz e tumba
Falta-me uma graça perversa, à sombra dos fracos
Falta-me perversidade graciosa, prepúcio e bunda.
domingo, julho 06, 2008
feia escura e morta
muito abaixo
num pequeno beco entre duas ruas desertas
um saco plástico
negro como a noite, a escuridão, e a morte
ele brilha fugazmente sob o luar com com belos nuances e tons de branco reflete fiel e disconexamente a luz das estrelas, que são suas guias, as únicas e caladas testemunhas daquele triste fato
por dentre muitos desses sacos, que sobre o frio e estéril concreto repousam em seu descanço
está pousado wachintom
o jovem garoto está magro, seu olhos estão secos, e em sua boca, junto à várias escarras de infecções, pousa um sorriso pleno
o sorriso pleno, sorriso pleno daquele que é amado, aquele que é feliz, aquele que tem tudo que sempre quis, e mais nada deseja, sorriso de satisfação, felicidade e plenitude
em suma, o sorriso que muitos poucos podem ter, que só os têm no momento junto à morte
calmamente, fria, e sorrateiramente, o hálito quente da vida escoa de seus pulmões, corre pelo chão sem caminho, e sem destino, perdido num universo q eu não é dele, até que é devorado pelos ratos que por ele ansiavam desesperadamente
de seus magros dedos da mão direita cai um pequeno saquinho transparente, com um liquido amarelado e grudento, o único amor daquele garoto, o único motivo dele existir, e ter vivido até agora, seu caminho, o caminho que ele escolheu, o caminho mais fácil, o único caminho feliz
os ratos andam, e encontram o garoto, e por cima dele perambulam, procuram um lugar para morder, e seguir sua vida. mas até os ratos têm nobreza, e respeitam um cadáver jovem em seus primeiros momentos, além do mais, a carne só tem o melhor gosto após 3 dias
se vão na sua luta por uma vida, apenas isso, apenas uma, e apenas vida
do outro lado dos sacos, um casal e namorados anda pela rua, felizes, seu amor contagia, seu amor de carinhos, atenção, dedicação e felicidade, o típico amor que emigra ao nascer do sol
as pequenas folhas de grama no concreto não sabem, se sorriem e contemplam o amor, ou se se contentam em ser as únicas nesse mundo à guardar luto pelo jovem wachintom.
mas, eis que, não por milagre, desgraça, ou destino, mas apenas por coincidência, o brinco da jovem que na parede mais próxima segura ao seu amor, cai, e rola para os sacos
ela o procura, e encontra wachinton, com sua pele negra como muitos, sofrida como tantos outros, e horrível como poucos. olhando em seus olhos, com sua mão esticada parecendo uma garra, e pedindo por carinho
a moça, em sua ignorância juvenil, grita aterrorizada, e corre, seguida de seu consorte, abandonando o pobre e solitário defunto
ao longe, um grande urubu se alimenta no grande lixão da zona norte da cidade, ele ouve o grito, e sente em seu coração o terror, e logo sabe que ali está a morte. e levanta vôo buscar os restos deixados pela bela dama
ele pousa sobre a cama de sacos
olha o garoto com seus velhos olhos, e diz:
acabou garoto, não adianta mais ficar ai abaixado e chorando
não adianta, procurar por seus saquinho, você não pode tocá-lo, nem sentir seu efeito
o garoto diz:
calaboca, me deixa em paz, eu preciso de mais, preciso do meu amor, preciso sentir de novo, preciso sentir a felicidade em mim de novo, preciso de quem me ama e me entende. preciso pra saber de novo que os homens não são nada além de cachorros, que só precisam do seu saquinho que ama
o urubu baixa seu bico, suspira, e fala:
garoto, você não entende, isso não é amor, é cola, ela não te faz feliz, só te dá uma sensação boa, e te faz esquecer como a vida é dura. isso é para os fracos, eu conheci muitos garotos como você, e você é o único que não morreu de tiro. agora me ouça bem, você está morto, não pode cheirar, não pode fugir, não pode dormir, ou sonhar, a vida é o aqui e o agora, e aquilo que você vestia, onde você vivia, agora é minha comida da próxima semana inteira, agora saia daqui, e me deixe comer sem seus resmungos, pois logo outros maiores e mais jovens virão, e eu poderei ficar com fome
o garoto começou à chorar, o urubu pousou sobre o seu peito; onde um coração ainda insistia em bater fracamente, à despeito da morte de todo o resto; e bicou seus olhos que ao vazio pediam alento. o garoto saiu correndo, frio, vazio, e sem forma, aos soluços tropeçou e nas sombras se perdeu
(inspirado tropicália, de caetano veloso ( http://letras.terra.com.br/caetano-veloso/44785/ ))
sexta-feira, julho 04, 2008
Academia
Recrudescimento de vocabulário,
Reclusos alunos no calvário,
Ensinamentos totalmente arbitrários.
Uma misantropia manifesta,
Uma sociologia dispersa,
Universidade sem faculdade,
Faculdade universa.
Frases do fim do começo do dia.
Estavam eu e meus vinte anos. Cansados e com as pálpebras piscando involuntariamente - cabeça doendo - crianças gritando nas têmporas. Qualquer frustraçãozinha era motivo de quebrar copos, rasgar livros, entortar os óculos e cheirar meias sujas de ontem. Eu procurava soluções dúbias para uma produção procrastinada há muito tempo. Contemplava com o olhar desfocado o quarto imenso, mergulhado em um prato cheio de cores e possibilidades. Várias são plangentes a ponto de desviar-me da minha tarefa principal - aquela tela quadrada, cujas letrinhas pareciam me desafiar a cada momento que eu desafiava a continuar acordado. Eu versus o relógio. Ora, eu já havia gritado antes muitas vezes com Deus, pedindo para que esticasse só um pouquinho a duração dos dias... mas antes que eu novamente me distraia a ponto de perder uma frase genial para este texto, é importante mencionar que a Internet era safada e maliciosa. O Youtube te tragava para uma vastidão surreal de possibildades. A Wikipédia era uma biblioteca indócil, consumidora maldosa de horas. Ah, como eu gostaria de funcionar 24 horas em total lucidez, sem pausa para sono. Eu queria dormir. Maldito botão editar!
sexta-feira, junho 27, 2008
Carcereira
Que nos torna pequenos
em nossa prisão de sentimentos.
Egoístas solitários!
Vemos apenas o desejado.
Cegos compulsivos!
Não vemos sequer o mundo.
Não és tão grande quanto imaginas:
se nos destróis em tua ira,
morres em tua solidão!
Mas, de toda teimosa
Sustentas nossas asas de Ícarus.
E há o dia em que derreterás
com nossas asas
tão efêmeras quanto a argila.
A realidade queima à verdade,
e o mundo que não víamos...
desmorona.
terça-feira, junho 24, 2008
Entendimentos
O entendo, mas não o sinto.
Sou cega
Sou surda
Muda
Da alma que mais entendo
Dos olhos que mais me dizem
Fechados
Fugidos de mim
Como posso me ser o real?
Se na minha confusão ilusória, perco meus freios?
Explosão!
Provoco o turbilhão das faces, minhas caretas.
Somente para confundir teu olhar
Para não me veres jamais
Para que não me entendas
Para que não veja além do espelho,
superfície de meu profundo lago.
Homem amado meu
Passado meu
Futuro meu
Humanidade
Menos humana de meu sangue
Lê os meus sonhos?
Os meus lábios?
Enxerga os meus olhos?
Como podes, então, não ver o meu olhar?
Posso acabrunhar minha mente.
Isolar meus desejos
Fingir-me una
Mostrar-me muitas
E, no entanto, todas suas.
Rivais e amantes
Pesadelo
Sonho
Paixão
Temem estes todos?
Eu já não.
quarta-feira, junho 18, 2008
Roda Cutia
austera verborragia de poeta molenga
pois bem, entoarei cantoria indígena
ao meio-dia, nesta ermida
prosa alquebrada, toda malfeita
atroz frenesi com iguaria suspeita
imagens de arcanjos desconexos
promovem bacanais nesta capela prístina
e os ébrios comandam o ritmo
dançam e giram em um só pé
com selvageria de um só pã
anjos e demônios sibilam nas pautas
que transcrevem valsas homéricas
e a siringe causa flutuar
toda a súcia que parasita as épocas
eis que chega aquela freira cética
toda faceira em moda de buda
todos os mantras da ayurvédica
ela tira no saltério, delírio da platéia
eis que chega Grandão-Mor, convidado de luxo
é sapiente, vossa onisciência máxima
não resiste à música, e entra na dança
e toma a mão da freira, ao amor se lança
aquele ateu vizinho, mal humorado
convida a polícia fazer parte da festa
eles expulsos da Igrejinha; acabou-se a dança
desligou-se a música, apagaram-se as luzes.
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uma das parlendas que eu mais me lembro de quando era criança era a Roda Cutia.
Roda Cutia, de noite e de dia, O galo cantou e a casa caiu.
segunda-feira, junho 16, 2008
Relâmpago
um
conto
falido
em intensidade
Sou divindade
Procuro
estar mais perto
o que é?
vislumbro.
Acontece
Aconteceu aqui, aconteceu lá.
Acontece tudo
Em toda a parte
Eu não percebo
Mas lhe contaram
Acho que sou surdo
Não me acontece, mas aconteço.
Acontece, e se resume a isso?
Uma eterna inquietude?
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Acontece aqui, acontece lá
Acontece tudo
Em toda a parte
Eu não me dou conta
Estou surdo
A vida se resume a isso
Uma eterna inquietação.
Mãe
Parte I – Exaltação e Depressão
Ah sim!
Acordo leve após vinte anos
Seguro e confortável, após acordar-me.
Uma gostosa conversa de vinte anos
Atrás.
Em cantigas de ninar
Vinte anos eu mergulhava
A densa vastidão da humanidade
Curiosos mistérios inefáveis,
Infantis, bolas de gude.
Hoje,
Não ouço mais cantigas pra embalar
E nem verto mais lágrimas,
se as vertesse, as ferveria para um bom chá.
E cantaria:
"-Aqui jaz um espectro de poeta,
Um pesado perdedor sem vínculos.
As dúvidas existenciais me deixam louco;
São como uma nuvem de mosquitos – e tento de espantá-los
E nessa nuvem
existe uma fada que carrega um pote, de voz bem doce
Que cantava algo assim:
algodão-doce, caramelo! marmelo!"
Parte II – Aos Pais – Dor e Expiação
Há vinte anos disserdes-me:
Obedeça.
Desobedeci.
Arrependi-me.
Prometo que vos amarei
Na distância, ternura e amargura,
Sempre.
Prometo que vos honrarei
No Céu e na Terra
e que vos obedecerei
Em júbilo e contrariedade
Nunca é tarde.
Vosso eterno devedor suplica
A minha angústia leva embora
nas horas de apatia
Não quero cair em desordem
Nem em rebeldia
Fui por vezes muito ingrato
Mas sempre vos amei
E se necessário for
Morrerei por vós
Pais da Terra,
Obrigado.
Parte III – Mãe.
Nos devaneios mais sombrios
Afugentando os mosquitos
Para longe do meu coração
em dúvidas
Encontrei-te
Estava atormentado, ansioso, aflito
Deste-me de beber, pois estava com muita sede.
E prostrei-me, como nunca antes.
Mãe, manhã de orvalho.
Sou teu bebê que ainda balbucia no berço
Sou tua luz tão forte que me aquece!
sábado, junho 14, 2008
Amandinha Vomita
Seca, débil, abatida, raquítica,
Pele, osso, desfigura fodida
Segue Amandinha, afoita e faminta,
Tirando de sob a cama a comida,
Seu voraz, incontrolável instinto:
Come, devora, orgasma a papila
Degusta coa língua prazer negado,
Júbilo que a caloria reclama,
Felicidade que o espelho rouba,
Contentamento que a balança afana
Mas, passado curtíssimo flagrante,
Qual centelha que de queimada cessa,
O devaneio e o riso, num instante,
Se fazem pranto, se fazem promessa
De que aquela aventura proibida,
Gustativa, obscena, pecaminosa,
Jamais seria, jura, repetida.
É com vagar de ré que se levanta e,
Tal como humílima escrava, que é
Oferece à balança, ao espelho
‒ Senhores do engenho do corpo ‒,
O sacrifício que já lhe é velho:
Força contra a goela dedos-ossos,
Engasga e descarta, com bolos grossos
De alimento, doses diárias de
Seu sorriso, sua alma, sua vida.
segunda-feira, junho 09, 2008
guerra fria
você fica feliz quando seus filhos voltam da escola ?
você sofre nas longas noites longe de sua família ?
você conta cada segundo do seu trabalho até poder voltar pra casa e ver os entes que tanto ama ?
você dá beijo de boa noite nos seus filhos ante deles dormirem ?
você regozija ao ver suas crianças brincando sorridentes por ai ?
você se sente o homem mais feliz da face da terra quando vê a sua amada ?
você já sentiu o imenso prazer que é passar um domigo de sol em casa com a familia ?
você ama sua mãe ?
então não aperte este botão
Louco é
Fraco é sempre louco, rouco está meu pescoço, o forte de todo louco.
Todo maluco é querer ser enorme, disforme, diferente.
Todo idiota quer um agiota que lhe roube o fundo,
O fundo do seu mundo.
Fraco é sempre louco porque louco é sempre um marco,
Cansa o imóvel, insensível corpo.
sábado, junho 07, 2008
Escrever minimamente sobre o contexto que pouco refresca
Sou o refresco.
Escrevo mínimo,
Sou o contexto.
Mínimo refresco e
Pouco contexto.
sexta-feira, junho 06, 2008
Versos à solta!
Estrofados, escansionados, livres, de qualquer jeito
Recompensa: R$POESIA,00
Família Real
De comida e cadeiras apenas
Todos vêem a janta
Na real novela
Todos estão na televisão
E a família jaz
Na mesa virtual
Só vêem o que está longe
E sentem o sofá próximo
Jaz a família virtual
Invenção Psicomorfotrópica de Mulher
Que mistificaram minhas pernas
Construíram varizes, fístulas hilárias
Contrataram horrores divinas filárias
E pulsava a vulva vívida,
depreciativa luva bífida
Incidindo seus filetes suprarenais
Adjacência de corticóides
E eu com um asco estranho
Mas que vontade de lamber!
Que jovem fartura, desfigurada
Balançando ávida na maca
exibindo as hemorróidas
carcinomas uterinos, sarcomas da endocérvice
cistos ovarianos, líquen labial
numa posição vil à la papanicolaou
Sou a Deusa do Abscesso
vulvovaginite em excesso
e tudo o que preciso ó Doutor
são dois comprimidos pra dor.
quinta-feira, junho 05, 2008
Aquilae Volant
ofuscam-me os olhos
quuando os volto para o céu
observando os grandes borrões
majestosos
voem reis predadores
voltem para seus ninhos
com alimento ao dispor
voem aves magnânimas
carregando proeza em seus bicos
incautas
serão depenadas (?)
"post nubila, iternum"
quarta-feira, junho 04, 2008
sábado, maio 31, 2008
Há dor nos casados...
Levei-te flores, lembrando quando existias;
Levei-te flores depois dos pavorosos dias,
Levei-te flores e condolências, todos seus direitos.
Não foi minha culpa se estavas de fronte a mim,
Estoquei minha adaga, sangrou-te líquido carmim,
Caíste no chão em brados roucos, polvorosa,
Vi tornar-se branca a face linda de outrora rosa.
É uma pena despedir-me de você de jeito tão cruel,
Minha paixão perdida, de jeito afável e doce como o mel;
Agora nada mais és, visto que se encontras em sepultura,
És minha musa morta cujo corpo repousa em inerte friúra.
domingo, maio 25, 2008
Adornos Casados
Dei adornos em cores, elas murcharam horrores.
Hoje tateio suas pétalas,
Saboreio todos nossos namoros,
Degusto fotografias, caligrafias
Dos nossos filhos, sépalas da
Vida.
quinta-feira, maio 22, 2008
O sabor do saber
Tudo é tão rápido e dura tão pouco. Vomitam-se lançamentos de produtos, seja de qual linha, estilo, ou utilidade for. Um detalhezinho altera o preço do produto e joga o recém-lançado na vala do ultrapassado. Consome-se muito em tempo recorde. Não se digere nada. Tem-se não para usufruimento próprio, mas para apreciação coletiva. A imagem vista aos olhos de outrem é a mais importante de se preservar. O interno perde espaço para o externo. A vida particular escancara as portas para o “Grande irmão” sempre presente. Não se pode ficar de fora do padrão social: beleza, pertences, saberes.
Vivemos em uma sociedade anoréxica. Não é só a comida regurgitada visando a um padrão de beleza. Regurgitam-se sentimentos e notícias. Ficamos com um aqui, com um outro ali. Um morre aqui e é anunciado no jornal, o outro é preso com drogas no bolso, e amanhã ninguém mais se lembra de nada. Já temos novos “ficantes”, novos mortos para não fazer diferença, novos presos para serem soltos.
O saber é regurgitado também. Não tem sabor este saber do qual fingimos fazer uso. Não há como bem fazer uso do mesmo. Em tão poucos minutos ele já está defasado. Tudo é simplificado para rápida absorção. Saber podre. Saber que, digerido, torna-se rapidamente escasso.
Há necessidade de se sentir o sabor do saber. Há necessidade de se degustar cada palavra apreendida, cada significado incorporado, cada sentimento correndo a pele. Caso contrário, a fugacidade do viver continuará ditando seu impiedoso ritmo, comprometendo, com isso, nossa rara sensibilidade, e nossa capacidade de apreender.
Saborear o saber aos poucos, eis o caminho nessa falsa fome de cultura. Um livro pode oferecer isto. Um poema também pode. Uma imagem, mais ainda, uma vez que as cores atraem muito mais do que o preto e branco das palavras e do papel. O ato de ler, independentemente do que se lê, é um caminho frutífero em possibilidades para esse enriquecimento gustativo e cultural.
O ser humano, ao fazer uso constante da leitura, passa, com o tempo de prática, a desenvolver em si virtudes e aptidões conscientes, tudo isso pelo fato de que, ao adotar a leitura como atividade de prática constante em sua vida, ele, ser humano, passa a melhor conhecer-se e a compreender-se, assim como a compreender o mundo e o que realmente quer significar esse ato de ler que ele pratica. Compreensão é fruto de leitura, assim como consciência crítica. Elementos indissociáveis; alimentos do espírito para o humano.
Bom apetite para nós.
terça-feira, maio 20, 2008
sábado, maio 17, 2008
Um e Todos
terça-feira, maio 13, 2008
Sobre Filosofia Barata
Não questionam a matemática de botequim, que erram cálculos e geram aberrações, deformações provadas, alucinações. Não questionam a biologia bêbada, das mutações pernetas, ou a química drogada, jogada nos vãos das baratas. Não falam do jornalismo tonto, dos advogados bobos e fáceis, dos juízes retráteis, corruptos incuráveis.
Não reparam no administrador ambicioso, um imbecil irresponsável, um controlador irrecuperável.
Sequer questionam as estatísticas do especialista contorcido em mentiras. Não contam e sequer reparam nas indagações do economista, palpiteiro do dinheiro sujo inventado, inflacionado e dito como fundamental.
Por fim, resta o político mal-educado, justificado por condição precária e discurso que parece dente com cárie. Falemos sobre os podres do filósofo, então?
domingo, maio 11, 2008
Ressalto que...
domingo, maio 04, 2008
O dia.
Em que me falte de tudo
Falta de ar
Falta de dados
Falta de senso...
Faltou alguma coisa
Algo insincero
espremido
sábado, maio 03, 2008
Amedrontar
Subjugou seu mundo em vão,
Submeteu seu corpo à calma
Caótica do além-limite da razão.
O medo murchou seu coração,
Secou sua vontade-essência;
O corpo agora é violência
Em elevado estado de putrefação.
Observa-se o verme corroendo,
Aquilo que outrora foi um osso,
Agora já não passa de um esboço
Do ser de medo, do despiciendo.
Carne amedrontada apodrecendo
Que ainda assim possui sopro de vida,
Múmia se remexendo na jazida?
Estremecimento visceral estupendo!
Pequeno amarelado sentimento
Que cobre esta alma desgraçada,
Mutila, zurze com vil contentamento
O dono desta alma condenada...
sexta-feira, maio 02, 2008
Não
A nebulosa multidão dos medos
Sufocam as paixões mundanas
Que evadem a imensidão incontável de janelas
Sufocação
Agonia
A fala sem razão se confunde com a não fala
A falta de planos, de realização dos planos.
Necessidade de ação, de quebra
Busca do futuro
Construção
Caminho
NÃO!
Inércia, inércia, inércia, inércia, inércia, inércia, inércia, inércia, inércia, inércia, inércia, inércia, inércia, inércia, inércia, inércia, inércia, inércia, inércia, inércia, inércia...
Órfão
Não falo isso em estado péssimo, faço melodia,
Estou refletindo um fato, uma filosofia
Que se confere com dados.
Os órfãos de nome já a vivem
E nós viveremos com a partida dos pais,
Os órfãos choram ou coram,
Os filhos hão de se lamentar, o cais
Se enche na partida deles,
Os pais.
Para alguns, o tempo nunca veio,
Para outros, o tempo já passou,
Para quem vive, resta o receio,
Para quem viveu, o bom foi passageiro.
Mas os momentos são eternos,
Basta ver e crer,
Os serenos são sinceros.
Mas há esse medo. Medos.
quinta-feira, maio 01, 2008
Vê o Sol!
dia após horizonte
vasta trilha brilhante
acordam casas e casas
em abismal cadência
infinitas visitas
com um só olhar...
quando a alvorada resplandece
nas montanhas geladas do Alaska
ou das dunas áridas do Saara
o fulgor amarelo traz calor e luz
para os lares do mundo
sul e norte
Vê o Sol!
Comecemos...
Em segundo, justifico minha relutância em participar deste grupo por achar que a capacidade deste belo grupo está muito além das minhas, pois não passo de uma relutante amadora na arte de escrever.
Porém agora que muito bem persuadida por este ser fantástico que eu tanto admiro, espero poder contribuir de alguma forma com este incrível acervo do qual sou fanática leitora.
Agradeço a todos por me acolherem entre vocês, espero que minha participação possa contribuir em algo.
Gostaria de iniciá-la com algo inédito, mas infelizmente meu computador não ajudou apagando por duas vezes poesias recem escritas, portando vou postar algo já antigo que no entando tem forte significado pra mim.
Meus passos rápidos
Devaneios
Fantasias
Pensamentos apenas
Objetos figurados
Sonhos toques
Cheiros
Misturando fantasia e realidade
A minha vida como um passeio lunar
E como tudo que existe
Vejo o tempo passar
Com a certeza de que não retrocede
E a sabedoria de não tentar pará-lo.
Viver as viagens do vento
Os sorrisos do sol
As lágrimas da chuva
O sonho das flores
Ao sentir cada um deles tocando a minha pele
E a minha falsa realidade tão natural
Mostra o quanto falo em passos falsos pelo mundo
E a as minhas lutas únicas
Solitárias
São minha alma
Se não houvesse a crença
Estaria vazia
Só, dentro de meu próprio vácuo.
Novamente obrigada.
E você meu amigo, te amo.
quarta-feira, abril 30, 2008
Águas da Musa
De memórias amorosas vividas
Em um não sei o porquê escondidas
De toda sufocada fez-se aurora:
Vagando em momentos a mente estoura
A imaginar futuro deslumbrante
Que sentem a vida contagiante
De mudar uma vontade estouva
Ruidosas as águas da inspiração
Cantam um sublime momento a Musa,
E inundam os pensamentos caóticos
Fazendo-se em turbilhão de emoção
Que sentem contagiante uma vida
Renovar-se em palavras esquecidas
quinta-feira, abril 24, 2008
O escrever: por e para mim
E se hoje (elemento dêitico temporal para especificar o momento dessas observações) escrevo é por timidez, porque meu ser me impede de expressar através da fala, com um mínimo de desenvoltura, o que penso e sinto.
terça-feira, abril 22, 2008
uma dica:
não ame seu pais
porque ele foi uma invenção arbitrária
não ame sua pátria
porque ela foi inventada sem motivo
não ame sua bandeira
porque ela não passa de um pedaço de pano
não ame sua terra
porque ela não passa de pó
não ame seu governo,
porque ele jamais foi digno
ame apenas seu povo
porque,
bem ou mal,
familia é familia
domingo, abril 20, 2008
uma inocente pretensão
tão fundo, profundo
vejo-me assim
quebrando todos os
objetos
atirando todos os fragmentos
em um lugar que não existe
caótico, colérico
perverso até demais
parido ao contrário
debaixo d'uma maldição materna
não escondo meu sorriso
as minhas desculpas
não escaparão
meu esgar culpado
traz marcado
a prova da competência
há algo alem desta urbe
que me segura
quando o descontrole não responde
quem está no volante?
se você me forçar
acho que vou saltar do terraço
e cair num toldo
sou um surdo pastor de ovelhas
um áugure desafortunado
que vigia o rebanho a pastar
e atenta aos outros
com palavras de destruição
é melhor você não falar
se veio aqui pela resposta
deixarei-te na penumbra
fria como a praga que te aguarda
antes digno de graça
pernicioso me tornei
com tão brutal semântica
atravessada na garganta
com um sorriso mais do que frenético
não escondo minhas mãos cheias de culpa
meus pecados
não irão embora
sou a atormentada cria eterna
sob uma maldição materna.