sábado, outubro 11, 2008
Hallucinogenas
Posso ver em seu olhar
O monstro que machuca gente
Sem um momento de paz
Confusão e indecisão
Pobre valentão
Sem dó, exigente.
Mãe amada
Recomeçou
Repetirei mais uma vez
Seu mundo – meu mundo
O suplício da indecisão
Decisão atroz, incompetente
Incompletude inadimplente
Estado de desânimo
Uma loteria, uma lástima
Esta espada, o amargor.
Não guardo remorso
Posso enxergar e não posso ler
Posso andar e não posso mover-me
Afundado na cama, os escombros
O grito da alma mutilada
Ecoa na folha de poesias
Pelo que eu fiz
Visito o exílio
Simpático, esboça riso.
Já é mais do que tarde
Ventos do exílio
Curvam-se, polêmicos
Dobram palmeiras, araucárias
Ingazeiros, Flamboyants e Ipês
Verde à mercê
Para voltar atrás
À força engastado
Em campos belicosos
Carniças ardem com o fogo
Que a ira ateou
Os ventos do exílio levam
Devagarzinho
O Sombrio Lamento
Que seja capaz de semear a tristeza
Que congela a vingança
A que horas virá?
Sempre esperei por ela
Quando todos que encontrei
Esqueci de quem devia lembrar
E procurar, o que mais?
Faltam os remédios!
...eles me divertem...
Liquidam as sensações.
Eles vão
Nada restou, apenas uma história sem mãe
E a dor desta noite punge
Dizendo maliciosa:
“Tome um banho de sangue”
E a vingança charmosa
Chamusca o peito do jovem refinado
Fumegando a dor do exílio
De suas próprias lembranças
Eu esquecerei de quem procuro
Mamãe por favor, me ajude
Não a verei mais
Um por um
Tenho pouco tempo
Antes de dormir a ilusão dos séculos
Onde corpos jazem em receptáculos minúsculos
Comida dos cães
Bebi seu sangue, comi seu corpo!
E minhas lágrimas ainda não secaram!
Embrulharam-me o estômago.
Seus olhos
Quando
As outras víboras lhe levarem
Cave seu túmulo
Já não intercederei mais
Seus pálidos olhos frios
Despojado do próprio rosto
Por sua vontade cometi seus melhores erros
Todos que encontro ouviram seus lamentos
Através do vento do exílio
Ignorando as lembranças do passado amargo
Arrancaram-me da pele pesada chaga
Todas as crianças
Vomitei seu vômito e ingeri sua bílis
Mas ainda esqueço o teu nome
Nome de salvador
Recordar-me de sua face, nem nos sonhos
Por sua glória
Cuidado com sua própria virtude
Tombam as máscaras, deitam por terra os medos
Mas o calafrio ainda persiste no lamento
Aquele vento vivo,
Que dobra as árvores
Devagar marcham
Em fuga desconhecido
Descontrolado
Mordi seu braço
Andei sozinho
Tentando ao máximo não esquecer
De quem eu era
Para a morte
Quem, por estas chamas
Por capricho do precipício
Puxou-me do salto
De planar rasante
Todas as suas crianças
Preferi não consolar a morte
Mas estão me privando
Da consciência
As complicações e falta de sossego
Dores de cabeça
...minhas amigas
Perderam-se
Faltam remédios
--- esqueci de seu rosto mais uma vez
Olhe por onde anda
O grito da alma ensandecida
Rasgou a goela do tempo
Faz pingar o escarlate
Do passado
Calcinado
Pois vai perder-se também
As pessoas apavoram, e olham
E não estão mais aqui
Mas sinta! Os gritos ainda ecoam
É melhor aproveitar
E concordar a sofrer as conseqüências
Faltam remédios, sim, faltam remédios
E o suplício ainda não decide a angústia
À primeira vista pode faltar amor
e os grilhões invocam a dor
Faltam remédios, e eu suplico ao grito
Levante meu vento!
Não há mais
Fingir problemas que não comigo
Nadar no rio onde desovam peixes triviais
Camões entulha-me de superficiais
Vil contratempo
É Contra o vento
tempo
Choca meu lamento
Através dos tempos
Chega ao destino
E desafina
Não há mais
Se há uma coisa que não admito
É desarmonia
tempo
Espatifa-se – tiraram-me a voz
Sobrou o murmúrio das árvores
Que dobraram o vento
Vejo coisas
Estou no comando
Segurando
Todas as cordas
Dos movimentos das marionetes
Dos perdedores
Em suas mãos de assassino
Que não se cansa de prejulgar
E cometer sacrifícios ousados
Porque o grito que alerta a alma Que já perdeu tudo
Ainda te causa dor
demais
Mas não fique preocupado, apenas deixe-me daqui sair
Ouve este sussurro? Para além do verde distante e pálido
Merece um outro olhar
Eu digo – isso é bloqueio
Uma perversidade
Deles, que estão por toda a parte
Vigiando os sentimentos e rendendo toda gente
Vejo coisas
Exilaram meus movimentos
Momentos partiram-se em pedaços
Cansado, dormi em seus braços.
Demais.
quinta-feira, outubro 09, 2008
Pátria amada, Brasil!
Teu espírito, senhoril,
Respira um ar pueril.
Seu moleque senil!
quarta-feira, outubro 08, 2008
cenidistante
enquadrados no silêncio
tique taque de seu peito
és uma máquina, é verdade
mas tão verdadeira
quanto o lobo e a coruja
asinhas delgadas,
fitas de silêncio
pouca voz e sorriso.
energias na espinha
hostis
sinto-me no escuro
tétricas,
horrendas
és prática
rotina fatal -
queima-me as retinas
por um relance de amor
queima, queima,
como agulha na brasa
os minúsculos pontinhos
encarnação da derrota, um fiasco.
domingo, outubro 05, 2008
már
morrendo à noite
na beira da praia
engolindo as estações
o estrondo de àgua
castigando os rochedos
fustigando os sentidos
fugindo em asas delta...
sibila o vento - enreda os pés
na areia de diamante
nos cabelos o torvelinho
saltado das falésias
o mar está morrendo
e você ainda sonhando...
poema sobre experiência
o amado leito de morte
decorado com algodão-doce
e atroz bílis, o açoite;
estende seus lençóis, garras
ágeis e senis
Na face, de lado a outro
risca altivo, um esgar
brota mais sorrisos frios
tão distantes deste débil
vestindo trapos de Brasil.
sexta-feira, outubro 03, 2008
Descaminho
Sistemas, distrações, reinvenções.
A criatividade implodida,
O coito interrompido.
sexta-feira, setembro 26, 2008
caminho
mapa, bússola, sextante, GPS, navegador
pra que antever meu caminho
se o meu nariz sempre aponta onde devo ir ?
segunda-feira, setembro 15, 2008
A harmonia da transcendência
Ou o sintético,
Fazendo o surdo,
Ou o patético,
A lisergia e a orgia
Racional continuarão.
Pelas cordas vibrantes,
Pelas nuances ondulantes,
Eu permito ao diamante louco
E insano o brilho profano e puro
Das minhas teclas espaçadas,
Do meu teclado harmônico.
Pelas notas inseridas e tocadas,
Faço você sentir o paraíso,
Procuro o riso contido
E seu choro mais desgraçado.
Vamos juntos viajar
Nesse mar de nuvens cor-de-abórbora,
Na abóboda do seu festejar.
Entendo em três sentidos
quarta-feira, setembro 10, 2008
Velkinta Kadavro
Por linda forma, num branco vestido,
Ofuscava a tudo enquanto o lindo sorriso
Brilhava, rutilante; Dizia eu: preciso!
Preciso vê-la, logo ali, adiante
Tão longe, inalcançável... Tão distante...
Dois passos, um universo interminável...
Esplendorosamente inigualável!
Imóvel como estátua, enevoada,
Parada ao longe apenas observando,
Entre as nuvens do céu admirando,
A alma triste que soluça, desgraçada.
Pobre ser que não pode fazer nada,
Que sente a vida para sempre malograda:
A essência do mundo que o conforta,
Jazia em sua frente pálida... Morta...
quinta-feira, setembro 04, 2008
o livro
Autor: Francesco Petrarca
Texto: Meus amigos
Livro: A paixão pelos livros
Ano: 2004
p. 51.
Editora: Casa da palavra
quarta-feira, setembro 03, 2008
Saudade
Antes tudo, tão próximo
Mas a distância do espaço
Gerou a distância do tempo
Esqueço de qualquer imagem, realidade
Quem é esse que me abraça
E me esqueço?
Imagem que sigo, esquecida
Tão protegida, e de tanto, bloqueada
Um ídolo que sigo e nao vejo
Admiro-o sem lembrar
Uma infância perdida...
Em apenas doze horas de distância
Inspiração
Que nunca me deixa só
Uma imagem cobre-me a lembrança
E não me deixa ver além
Respiro saltitante
Coração palpitante
Por que me afundas
Em mares de saudades?
E tão logo recobro a consciência
Ainda inquieta e saudosa
Repasso-te em pensamento
Papel, tinta ... escrevo
sexta-feira, agosto 29, 2008
Escultura
Andai por caminhos torturantes, tortuosos
Todos lotados, cheios disso tudo!
Passa não passa, passa não passa!
Para onde vais com tanta pressa?
Se muito parado estás?
Estática Cidade, cresce um porém!
Algo não sai, não floresce
Mas está perto, está sob o solo
Nasce a crise, estática crise!
Permanente crise, crise cheia!
Estamos cheios disso tudo!
domingo, agosto 24, 2008
Podresia
Não necessariamente poética,
Que não possui uma rítmica bem formulada.
A podresia é aquela poesia morta,
Não necessariamente aritmética,
Que descreve vasos em versos decassílabos.
Ela também não é paralelística,
Mas nunca se encontra com seu significado.
Ela não possui significado,
É uma poesia corroída,
Mas não ao ponto de tornar-se vendida.
Na realidade, é uma poesia vadia,
Totalmente mal-escrita, sem cuidado,
Feita por não-poetas às pressas,
Com letras grudadas, bem presas.
A podresia é um lirismo de palavras vãs,
Todas presas ao nada e jogadas ao vento;
É à poesia e à arte um imundo desalento.
Desprezível e mefítica reunião de palavras,
Que apenas toma o tempo curto do leitor,
Obnóxia abjeção feita com o inverso de primor.
É uma a-poesia que nada contesta;
A charneca literária oriunda do marasmo,
Onde verso atrás de verso é um inútil pleonasmo,
Mais mal feita que a podresia... Só existe esta.
sexta-feira, agosto 22, 2008
alguma coisa de muito diferente

fiz a leitura de De repente, nas profundezas do bosque, do escritor israelense Amós Oz, e, novamente, durante e após a leitura, o sentimento de que a literatura provoca no ser humano algo que foge de sua compreensão me invadiu. é uma sensação muito boa, alguma coisa de muito diferente de todo o resto. ainda bem que não consigo mais viver sem sentir isto. um livro após o outro. um sentimento que complementa o outro.
uma fábula muito gostosa, sem maiores enrolações, escrita com leveza. os capítulos são, em sua maioria, curtos. não são todos os capítulos que terminam fazendo alguma ponte direta com o próximo. não há essa necessidade.
em uma aldeia pacata não há bicho algum. o que seria um mistério, é tratado com certo descaso pelos adultos. não por algumas crianças. poucas. três ou nove. o mergulho delas em tal mistério é o fio condutor da narrativa. elas sentem que há algo a mais naquele bosque. seus olhos imploram por novas imagens. elas não recuam. e... (é fazer a leitura e descobrir o que elas descobrem; ou não).
nunca havia lido nada do escritor israelense. se a primeira impressão é a que fica, esta é muito boa. é um livro infanto-juvenil. desconheço se o único do autor para essa faixa etária. independentemente desta categorização, é um livro para todos aqueles que se dispõem a se aventurar por entre árvores e personagens, mergulhando no mistério da solidão humana e animal.
í.ta**
domingo, agosto 17, 2008
Silêncio, ruído e comunicação
Há uma verdade rejeitada,
Há uma inércia involuntária,
Há uma manipulação inventada.
Há vozes, simples ruídos,
Há um silêncio constrangedor,
Há um interloculor medroso,
Há um mundo tenebroso.
E há, quando saímos de chiados e paralisias,
Quando a voz assume timbre e rítmica,
Uma breve comunicação.
De resto, tudo é apenas sons e vácuos.
Ideologia
Enquanto o conservador repete um discurso conhecido,
Enquanto os embates ficarem na revisão do conhecido e público,
Eu vou querer que a ideologia se exploda, esse mal bem recebido.
Não vou sonhar utopias,
Não vou fixar pernas em uma realidade momentânea,
Vou caçar um pensamento e uma filosofia contemporânea,
Vou unir rebeldes e tradicionais, orgulho e revolta,
Eu vou ser completo nas minhas alegorias.
segunda-feira, agosto 11, 2008
sábado, agosto 09, 2008
Paralogismo
Do falar prolixo
E do olhar em riso.
Gozação, piada, mentira
Do discurso, do impulso até a alucinação.
Silogismo
Do meu terço, que oro,
Frases estão avulsas, coro,
Estamos no seio do meio
Que nos indica ao finalizado.
Começo, meio, fim.
Do sujeito-objeto
Aos detalhes do trajeto
Que guiam o fim completo.
Prosa Idiota I
Me desloco um pouco, a paisagem, ela está deserta.
Noto que a choupana que se situava ao fundo, ao lado da colina, não emite mais a doce fumaça da lareira que esquentava seus moradores.
Nossa! Haviam moradores, mas... O que lhes ocorreu?
Fui averiguar... Abri a porta, noto uma ossada totalmente decomposta; vermes banquetearam naquela casa. Mas... O que faço eu num lugar tão longe? Não devia estar na cidade? O que vim fazer por aqui?
Existe cidade?... De onde me veio esse conceito: "cidade"?
A neve está acinzentada. O que está havendo nesse lugar?
Noto o céu, há uma lua brilhante, mas contracenava com a tenra luz do dia de sol tímido de inverno. Esse lugar, não me faz sentido...
Alguém, há alguém por aqui? Há?
# ## # ### # # ## ## # ### #
Que barulho é esse?!
# # # ### # ## # # # # ## # #
Alguém me respondeu, mas é um crocitar!
Há um corvo nessas imediações... Não só um corvo, as árvores, elas não desfolharam somente, elas estão mortas.
Está se adensando uma névoa obnóxia, ela me sufoca, me faz querer correr.
Pusilânime, não consigo. O tremor me faz evitar os movimentos.
...
Existe! Existe! Existe!
Olho ao meu redor. Há cinzas, não neve, ela se acinzentou cada vez mais.
O céu está numa vermelhidão, cor de sangue, uma atmosfera escarlate.
O ambiente está cada vez menor, as árvores estão se contraindo, há forças ocultas atuando sobre nossos corpos.
Uma atração gravitacional, eu suponho... O que é gravidade?...
A família! Ela morreu, morreu de peste!
A choupana, a choupana exalava um doce aroma de lareira porque eu morava lá.
Por que eu não moro lá?
Por que morreram?!
Por que eu estou vivo.
Eu NÃO estou vivo...
Este é o ...
...
quinta-feira, agosto 07, 2008
Tres Haicais
Decreto
força de sol maior
desce a corda até fá
mas esquece mi
Morte
Espero que seja
rápido e indolor
o disparo
Derreto
Olho para a névoa
de linho branco
derreto n'água
Terror
Nos olhos esbugalhados
Que a admiração embrulhada
Conjuga com os estômagos contorcidos.
Terror roto em terremoto,
Rosto ligado ao pescoço rouco.
Comédia
Enquanto as caretas dizem,
Decididamente,
Que a realidade é uma farsa,
Pois o coração está nas traças.
Drama
Enquanto o mundo roda, enquanto o vivo se aloja
Nas impressões individualizadas.
Nossas caretas ficam eretas,
Nossas palavras ficam suspensas,
E a falta de verbalização deixa a situação
Menos picareta.
Drama é tensão,
Mas o tenso não vive sem o líquido
Racionalizado, pensamento.
Tragédia
Sorrir sabendo do lacrimejar,
Acabar a melodia depois de solfejar.
Trágico é ser homem,
Criar e destruir deuses,
Pegar fiapos e soltar o sentido,
Crer no eterno
Enquanto nossas impressões somem.
Morte certa e errada
Na mente que sente a lente de repente,
A visão obscura, a perda latente.
Morre-se muito, morre-se todas as vezes,
Morre muito nas vezes em que as fezes
São os restos de gente.
Morreu de câncer, morreu no lance
De sacada, na bancada do hospital,
Sem as amarras do pecado capital,
Morreu feliz, morreu por um triz,
Podia viver sempre.
Morreu na batida policial,
Na colisão frontal, na corte marcial,
Morreu bestamente, morreu subitamente
Da morte mais morrida de todas,
Na queda mais sofrida de todas.
Morre-se de um jeito, morre-se de outro,
E, na real, a vida é só uma morte sem sentido,
Uma observação positiva, um medo destemido,
A vida é a morte que a morte nunca teve desejo.
domingo, agosto 03, 2008
Teu medo
De balas perdidas, de corrupção incessante,
de mosquito egípcio, de crise permanente?
E fazes o quê? Choras?
Choras o sangue espirrado, o dinheiro perdido,
a doença-epidemia, o futuro esquecido?
De medo fazem tua cabeça
uma bagunça covarde e reprimida!
Mas, o caos do dia é mantido.
E ainda te dizes correto?!
Por sentar e esperar,
por dizer e sentar!
As desculpas correm, o moedo fica.
Culpas e te desculpas.
Pobre de ti, que hipócrita sê na vida!
Medo está em mudar.
És estático!
És obsoleto!
Muda e transforma!
Se tudo está assim,
tu és isso tudo!
segunda-feira, julho 28, 2008
Sob o signo sem ver.
Solene atina,
O hábito de sofrer.
Igual fruta caída,
Hesita em amadurecer.
Queda, distante,
Qualquer sonho a ter.
Insone, sente a manhã.
Incólume, insípido amanhã.
Descompasso, todos compromissos.
A sua vista outros iludidos.
Como homem que é.
Transeunte ou altaneiro.
Altíssono compadece.
Mítica simbiose
De ser e desespero.
sábado, julho 26, 2008
Silêncio ou a Tentação do Não-Falar
Pensar fugiente como jamais visto antes;
"Por que falar?" dizia, "Para que dialogar?"
Não faz mais sentido o ato de conversar.
Incomunicável, é o que o fato parece
"Comunicação não! Falar não me apetece!"
Fome por dizeres, o anseio, a expressão...
Não complementam mais minha alma da razão.
Resta para todos apenas o silêncio,
Silêncio que amarga os tão controversos versos
De significados paradoxais, dispersos.
Resta para todos apenas o silêncio,
Não silêncio surdo, que é apenas ignorado,
Mas silêncio mudo, dum agora calado...
Pensamentos sobre a Filosofia do Jornalismo #2
O terror mais sincero e duro
É ser o momento.
Tormento puro.
Pensamentos sobre a Filosofia do Jornalismo
Quando a notícia abandona o formato digitado,
Eletrônico,
A informação passa a trafegar em pé,
Separar-se de forma, ser um além
Dos formatos, passa a ser contato.
Eis que surge o indivíduo jornalístico. Ele não é uma colagem de revistas, nem jornais. Ele não é um chip de informática, nem é notícia que respira e sobrevive. O jornal, o diário, o cotidiano, o ordinário é o imediato, o sensato, o esclarecedor. Ele carrega e não carrega as incoerências do cotidiano. Nenhum cristianismo, nenhum mito e nenhum cientificismo encostou no homem-jornal. Nem mesmo o super-homem do bigodinho.
O jornal
Carrega as incoerências
Sem apelar para a demência,
Sem cair na dependência,
Ele não é Deus,
Ele não é homem,
A atualidade é a metamorfose,
Aquela não podemos deter, a simbiose
Da osmose que é não poder se controlar,
Não poder se tocar.
Indivíduo jornalístico irá compreender o panorama.
Irá investigar as minúncias,
Desmontando o programa.
Indivíduo olhará para a história,
Perdoando os assassinos,
Julgando apenas os erros
Disciplinares, as linhagens
Dos traidores.
O culpado pedirá pela morte,
Pedirá pela tortura, um forte
Sentimento masoquista,
E o indivíduo jornalístico
Corromperá com sua palavra.
O jornal penetrará no ser humano,
Não mais com número limitado de espaço,
Nem com gênero categorizável,
Será comunicação pura e mudança madura,
E todas as palavras terão sentido,
Ungido pelo terror que é a esquizofrenia.
O homem-informação,
A desinformação declarada,
Será um arauto a ser temido,
Por seu olhar, que é um cupido.
Apaixonado,
O ordinário homem compreenderá que
Diante do indivíduo jornalístico,
Não há basilisco
Da criação humana como arma.
Verás, por esse indivíduo,
O fim da imaginação,
Fim da sua personalização.
Pois o presente como verdade,
O duelo da ascensão,
Revelará todo resto como simulação.
quinta-feira, julho 24, 2008
Estudos Poéticos 2
espero que gostem :)
-------------
Adágio
Dor. Por ela, o violão chora.
e seu braço deita
Lenta e dolorosamente
Verruga
Ò verruga, serei capaz
Passar uma dura
à saliência tão desnuda
Canora
O cantador no peitoril
Cita arpejos, preso:
Liberdade, que já voou.
quarta-feira, julho 23, 2008
terça-feira, julho 22, 2008
sobre a poesia
1ª lição
Rosa daninha:
Você quer que eu te ensine poesia e se confessa envergonhada da própria ignorância. Mea Culpa, Rosante! Não te ofendo por ruindade, mas de leviano que sou. Teus versos são maus, mas puros – o que é uma qualidade. Falta informação, cultura a você – sensibilidade você tem de sobra. Ler O Estrangeiro do Camus e gostar, na tua idade e com a tua formação, é algo admirável por si só. Entretanto, você acha Drummond um chato, o que é um crime de lesa-pátria. Certas coisas são sagradas, Rosinha. Não existisse Drummond e hoje eu seria um próspero vendedor de ações. O mal dele é que encalacra na gente, como certa menininha, princesa de castelo, que eu conheço. Às vezes escrevo versos e percebo que há mais alguém participando da tarefa – esses malditos fantasmas, grandes demais para caberem no túmulo. Vivem se metendo na obra alheia.
Mas vamos à aula de poesia.
Artigo único: poesia não se ensina.
Está encerrada a lição. Mas, para não decepcioná-la por completo, falarei da poesia em geral, já que não posso ensiná-la. Antes de mais nada, dê uma folheada em algum manual de literatura (serve enciclopédias, daquelas que o teu pai compra em metro) para familiarizar-se ligeiramente com a História. Itens de pesquisa: Homero – Classicismo – Barroco-Arcadismo (ou neo-classicismo) – Romantismo – Parnasianismos – Simbolismo – Modernismo – Concretismo.
Pronto? Ótimo. Se não entender alguma coisa, não faz mal: esse pessoal todo já morreu, e em geral eram muito chatos. Conclusão primeira destes três mil anos:
- a poesia não é rima
não é forma
não é metro
não é papel cuchê de primeira
não é assunto
não é necessariamente música
não é estrofe
não é profundo mergulho na individualidade humana
não é uma borboleta voando
a poesia não é nada.
ou seja
que porra é a poesia?
Conclusão segunda da revisão histórica (preste atenção, Rosânida!):
- como não há mais nenhum discípulo de Homero e a Grécia virou uma bosta, como os clássicos da Renascença eram muito posudos, como os barrocos faziam piruetas, como os árcades só cuidavam de ovelhas, como os românticos morreram todos tuberculosos, como os parnasianos eram a última raspa do tacho da boçalidade acadêmica, como os simbolistas compensavam a falta de assunto com Iniciais Maiúsculas, como os modernistas envelheceram, como os concretistas, práxis, poetas-processo e suas cinco milhões de dissidências cooptaram todos pelas agências de publicidade:
ESTAMOS LIVRES!
HIP! HIP! HURRA
Não é um alívio, Rosaflor?
Isto facilita as coisas. Por que buscar um fio de meada que talvez tenha se perdido para sempre? Ora, a solução é cristalina. Não existe a meta-poesia?
Pois acabo de inventar a mata-poesia.
A mata-poesia (nada a ver com ecologia!) propõe o assassínio da Poesia. O Esquadrão Matapô não terá piedade: matará, estraçalhará, estrangulará tudo o que aparecer por aí sob o codinome de Poesia. O filho da puta do poeta que aparecer com textinhos mimeografados, com vanguardas obsoletas, com tiradas de cinco estrofes, com rimas ou sem rimas, com vaguezas sonambúlicas, comícios e aquilhos, saudades, dores, fragmentação do ser, trocadalhos e poemas em geral, estes comerá o pão que o diabo amassou. Para se filiar ao Matapô basta ser poeta e colocar seus préstimos a favor da destruição final da poesia. Vamos extirpar de vez esta vergonha nacional, esta horda de mendigos bem nutridos. Ofereçamo-nos em holocausto. Ave!
Rosance, essas cartas me estimulam! Refaço agora o título da aula: onde se lê A POESIA AO ALCANCE DE TODOS, leia-se A POESIA AO ALCANCE DO BRAÇO DE TODOS.
Porrada nela!".
Livro: Trapo
Autor: Cristovão Tezza
Editora: Brasiliense
Ano: 1988
pp: 113, 114, 115.
terça-feira, julho 15, 2008
Como matar Deus (e se matar)
Refutar a garra que me agarra
Na masmorra que é vida, armadura.
Primeiro veio o homem,
Ou o homem veio a si, primeiramente,
A existência veio do sêmen
Nadador e penetrador do óvulo, somente.
Humanos olhos que enxergam,
A mente que fala, a esquizofrenia
Que trepa com nossos genitais,
Resvala nos pensamentos difusos,
Nasce uma imaginação.
Imaginação é senso,
Senso em conjunto vira consenso,
Imaginar é ser tenso,
É deixar de ter um olhar tenro.
Surge o superior,
O que fica abaixo e o interior,
Pode ser um homem de barba branca,
Ou uma pomba retardada, também manca.
Deus dialoga com o homem
E este apenas fala consigo,
Não porque é pecador,
Mas porque é amador.
(de si próprio, iniciante e penitente)
Dentro de tantas mitologias,
Transpassando as igrejas e as mesquitas,
A herança final do rito é o grito da razão,
E a esquizofrenia duplica, é a cisão
Dos saberes, a desapropriação
Desproporcional, idéias em suspensão.
Veio o sangue pelo nome divino,
Veio o equívoco científico,
(Cruzados e Bombas Nucleares, qual é o pior?)
Dormem os meninos entorpecidos,
Vieram todos os símbolos e todos os fantasmas,
A humanidade se revelou no miasma.
Surgiu um bigodinho maroto
E disse que Deus estava morto,
Surgiu um turbilhão de fragmentos,
O homem voltou a viver o momento.
Da apneia dos conflitos,
Surgiu a mais atéia das composições,
E a mais religiosas das confusões.
Ateu, tua religião é um Deus
Da negação, uma afirmação,
Uma admiração inimiga.
Negar o superior virou desculpa
Para selar a catapulta
Do assassinato,
Para quebrar a crença
Com o tesão cético.
Não se desacredita em Deus por vontade,
Mas deixa-se de acreditar por maldade.
Vingança é o credo do ceticismo,
Matança de seus órgãos internos,
Cínicos.
(onde foi parar o fim da Igreja?
vocês fundaram um ritual da suspeita,
um terrorismo de nascença,
não é um Deus tão temido
quanto o mais antigo?)
(homem sempre cria ´Deus´
nem sempre com um nome, nem sempre como um dos seus,
mas imaginar, enlouquecer e admirar são o crer e o cegar)
(somos estrangeiros, somos extraterrestres,
crentes ou desordeiros,
estamos sempre a pensar, ser.)
Estudos Poéticos
É tão doce
Que o vento soprou
É assim que sei
O som
Sabe
A saudade me seca
Suspiro e silêncio
Ouça
Esta solidão
Será serenata?
É só sensação...
----
Música para ser ouvida:
Revèrie - Claude Debussy
Enjoy!
domingo, julho 13, 2008
A Floresta
Fadiga
Dos retardos constantes
Em mi, fá, sol, lá, lá em casa,
Na morada dos párias,
A fadiga diária.
Casa do violão, da guitarra,
Imprecisão da garra, cãibra,
Barba ralada, casa com o nada.
Pouca poesia
Que assopra no teu peito,
Que proseia no anseio
De te ver sem meio termo.
Lança a enzima
Da palavra, a esgrima
Da frase, da oração, do verbo,
De tudo o que for concreto e curto,
De tudo o que for ação no escuro.
E me anima.
O Templo das Pedras
o sábio
cria astuto enigma
é ilusão má
Ecoa o tempo e as tênebras
e roda
força os eixos e pára.
mental
Paranormal, é mistério
e solução
Uma mística reclusão
um labirinto
As asas presas a correntes
nem cera
Restitui a liberdade
ainda falta
metade do quebra-cabeças
quinta-feira, julho 10, 2008
Aqueles versos
Sorrindo tudo azul
Há um colar de bonecas
Rodeando duas canecas
Você quer mais o quê? Um bidet?
Um beijo gorgolejante,
Panquecas e CD's?
Construir um palácio despidos em um tanque
E depois nos afogarmos
Para o bem do bebê
Amanhã já foi descoberto
Porque nunca saberá o que é pena
De reunir tantos versos
Para um quadro azul
Deram-me um corpo
mas é de papel
Naufragam, os barcos
Tombam lânguidos, dentro do tonel
(ah!)
Louco com uma águia
Pena de bordel
Machucam toda noite, olho para o teto
lambuzo o céu
Peço-lhe que remende
Aqueles traços infantis
É tão decadência
Vejo:
Cabeças em alfinetes.
E a platéia aguarda-me com um atraso
E mais uma vez
Deslumbro decotes com simpatia
Todo mundo consulta seu relógio
é a ponte que liga
esperançosamente à pieguice
Oh, falta-me um inconsciente de uso
Falta-me um consciente humano
Falta-me uma dúvida munida
De pontuações descabidas
Falta-me luz e sombra, ser cruz e tumba
Falta-me uma graça perversa, à sombra dos fracos
Falta-me perversidade graciosa, prepúcio e bunda.
domingo, julho 06, 2008
feia escura e morta
muito abaixo
num pequeno beco entre duas ruas desertas
um saco plástico
negro como a noite, a escuridão, e a morte
ele brilha fugazmente sob o luar com com belos nuances e tons de branco reflete fiel e disconexamente a luz das estrelas, que são suas guias, as únicas e caladas testemunhas daquele triste fato
por dentre muitos desses sacos, que sobre o frio e estéril concreto repousam em seu descanço
está pousado wachintom
o jovem garoto está magro, seu olhos estão secos, e em sua boca, junto à várias escarras de infecções, pousa um sorriso pleno
o sorriso pleno, sorriso pleno daquele que é amado, aquele que é feliz, aquele que tem tudo que sempre quis, e mais nada deseja, sorriso de satisfação, felicidade e plenitude
em suma, o sorriso que muitos poucos podem ter, que só os têm no momento junto à morte
calmamente, fria, e sorrateiramente, o hálito quente da vida escoa de seus pulmões, corre pelo chão sem caminho, e sem destino, perdido num universo q eu não é dele, até que é devorado pelos ratos que por ele ansiavam desesperadamente
de seus magros dedos da mão direita cai um pequeno saquinho transparente, com um liquido amarelado e grudento, o único amor daquele garoto, o único motivo dele existir, e ter vivido até agora, seu caminho, o caminho que ele escolheu, o caminho mais fácil, o único caminho feliz
os ratos andam, e encontram o garoto, e por cima dele perambulam, procuram um lugar para morder, e seguir sua vida. mas até os ratos têm nobreza, e respeitam um cadáver jovem em seus primeiros momentos, além do mais, a carne só tem o melhor gosto após 3 dias
se vão na sua luta por uma vida, apenas isso, apenas uma, e apenas vida
do outro lado dos sacos, um casal e namorados anda pela rua, felizes, seu amor contagia, seu amor de carinhos, atenção, dedicação e felicidade, o típico amor que emigra ao nascer do sol
as pequenas folhas de grama no concreto não sabem, se sorriem e contemplam o amor, ou se se contentam em ser as únicas nesse mundo à guardar luto pelo jovem wachintom.
mas, eis que, não por milagre, desgraça, ou destino, mas apenas por coincidência, o brinco da jovem que na parede mais próxima segura ao seu amor, cai, e rola para os sacos
ela o procura, e encontra wachinton, com sua pele negra como muitos, sofrida como tantos outros, e horrível como poucos. olhando em seus olhos, com sua mão esticada parecendo uma garra, e pedindo por carinho
a moça, em sua ignorância juvenil, grita aterrorizada, e corre, seguida de seu consorte, abandonando o pobre e solitário defunto
ao longe, um grande urubu se alimenta no grande lixão da zona norte da cidade, ele ouve o grito, e sente em seu coração o terror, e logo sabe que ali está a morte. e levanta vôo buscar os restos deixados pela bela dama
ele pousa sobre a cama de sacos
olha o garoto com seus velhos olhos, e diz:
acabou garoto, não adianta mais ficar ai abaixado e chorando
não adianta, procurar por seus saquinho, você não pode tocá-lo, nem sentir seu efeito
o garoto diz:
calaboca, me deixa em paz, eu preciso de mais, preciso do meu amor, preciso sentir de novo, preciso sentir a felicidade em mim de novo, preciso de quem me ama e me entende. preciso pra saber de novo que os homens não são nada além de cachorros, que só precisam do seu saquinho que ama
o urubu baixa seu bico, suspira, e fala:
garoto, você não entende, isso não é amor, é cola, ela não te faz feliz, só te dá uma sensação boa, e te faz esquecer como a vida é dura. isso é para os fracos, eu conheci muitos garotos como você, e você é o único que não morreu de tiro. agora me ouça bem, você está morto, não pode cheirar, não pode fugir, não pode dormir, ou sonhar, a vida é o aqui e o agora, e aquilo que você vestia, onde você vivia, agora é minha comida da próxima semana inteira, agora saia daqui, e me deixe comer sem seus resmungos, pois logo outros maiores e mais jovens virão, e eu poderei ficar com fome
o garoto começou à chorar, o urubu pousou sobre o seu peito; onde um coração ainda insistia em bater fracamente, à despeito da morte de todo o resto; e bicou seus olhos que ao vazio pediam alento. o garoto saiu correndo, frio, vazio, e sem forma, aos soluços tropeçou e nas sombras se perdeu
(inspirado tropicália, de caetano veloso ( http://letras.terra.com.br/caetano-veloso/44785/ ))
sexta-feira, julho 04, 2008
Academia
Recrudescimento de vocabulário,
Reclusos alunos no calvário,
Ensinamentos totalmente arbitrários.
Uma misantropia manifesta,
Uma sociologia dispersa,
Universidade sem faculdade,
Faculdade universa.
Frases do fim do começo do dia.
Estavam eu e meus vinte anos. Cansados e com as pálpebras piscando involuntariamente - cabeça doendo - crianças gritando nas têmporas. Qualquer frustraçãozinha era motivo de quebrar copos, rasgar livros, entortar os óculos e cheirar meias sujas de ontem. Eu procurava soluções dúbias para uma produção procrastinada há muito tempo. Contemplava com o olhar desfocado o quarto imenso, mergulhado em um prato cheio de cores e possibilidades. Várias são plangentes a ponto de desviar-me da minha tarefa principal - aquela tela quadrada, cujas letrinhas pareciam me desafiar a cada momento que eu desafiava a continuar acordado. Eu versus o relógio. Ora, eu já havia gritado antes muitas vezes com Deus, pedindo para que esticasse só um pouquinho a duração dos dias... mas antes que eu novamente me distraia a ponto de perder uma frase genial para este texto, é importante mencionar que a Internet era safada e maliciosa. O Youtube te tragava para uma vastidão surreal de possibildades. A Wikipédia era uma biblioteca indócil, consumidora maldosa de horas. Ah, como eu gostaria de funcionar 24 horas em total lucidez, sem pausa para sono. Eu queria dormir. Maldito botão editar!
sexta-feira, junho 27, 2008
Carcereira
Que nos torna pequenos
em nossa prisão de sentimentos.
Egoístas solitários!
Vemos apenas o desejado.
Cegos compulsivos!
Não vemos sequer o mundo.
Não és tão grande quanto imaginas:
se nos destróis em tua ira,
morres em tua solidão!
Mas, de toda teimosa
Sustentas nossas asas de Ícarus.
E há o dia em que derreterás
com nossas asas
tão efêmeras quanto a argila.
A realidade queima à verdade,
e o mundo que não víamos...
desmorona.
terça-feira, junho 24, 2008
Entendimentos
O entendo, mas não o sinto.
Sou cega
Sou surda
Muda
Da alma que mais entendo
Dos olhos que mais me dizem
Fechados
Fugidos de mim
Como posso me ser o real?
Se na minha confusão ilusória, perco meus freios?
Explosão!
Provoco o turbilhão das faces, minhas caretas.
Somente para confundir teu olhar
Para não me veres jamais
Para que não me entendas
Para que não veja além do espelho,
superfície de meu profundo lago.
Homem amado meu
Passado meu
Futuro meu
Humanidade
Menos humana de meu sangue
Lê os meus sonhos?
Os meus lábios?
Enxerga os meus olhos?
Como podes, então, não ver o meu olhar?
Posso acabrunhar minha mente.
Isolar meus desejos
Fingir-me una
Mostrar-me muitas
E, no entanto, todas suas.
Rivais e amantes
Pesadelo
Sonho
Paixão
Temem estes todos?
Eu já não.
quarta-feira, junho 18, 2008
Roda Cutia
austera verborragia de poeta molenga
pois bem, entoarei cantoria indígena
ao meio-dia, nesta ermida
prosa alquebrada, toda malfeita
atroz frenesi com iguaria suspeita
imagens de arcanjos desconexos
promovem bacanais nesta capela prístina
e os ébrios comandam o ritmo
dançam e giram em um só pé
com selvageria de um só pã
anjos e demônios sibilam nas pautas
que transcrevem valsas homéricas
e a siringe causa flutuar
toda a súcia que parasita as épocas
eis que chega aquela freira cética
toda faceira em moda de buda
todos os mantras da ayurvédica
ela tira no saltério, delírio da platéia
eis que chega Grandão-Mor, convidado de luxo
é sapiente, vossa onisciência máxima
não resiste à música, e entra na dança
e toma a mão da freira, ao amor se lança
aquele ateu vizinho, mal humorado
convida a polícia fazer parte da festa
eles expulsos da Igrejinha; acabou-se a dança
desligou-se a música, apagaram-se as luzes.
----
uma das parlendas que eu mais me lembro de quando era criança era a Roda Cutia.
Roda Cutia, de noite e de dia, O galo cantou e a casa caiu.
segunda-feira, junho 16, 2008
Relâmpago
um
conto
falido
em intensidade
Sou divindade
Procuro
estar mais perto
o que é?
vislumbro.
Acontece
Aconteceu aqui, aconteceu lá.
Acontece tudo
Em toda a parte
Eu não percebo
Mas lhe contaram
Acho que sou surdo
Não me acontece, mas aconteço.
Acontece, e se resume a isso?
Uma eterna inquietude?
---
Acontece aqui, acontece lá
Acontece tudo
Em toda a parte
Eu não me dou conta
Estou surdo
A vida se resume a isso
Uma eterna inquietação.
Mãe
Parte I – Exaltação e Depressão
Ah sim!
Acordo leve após vinte anos
Seguro e confortável, após acordar-me.
Uma gostosa conversa de vinte anos
Atrás.
Em cantigas de ninar
Vinte anos eu mergulhava
A densa vastidão da humanidade
Curiosos mistérios inefáveis,
Infantis, bolas de gude.
Hoje,
Não ouço mais cantigas pra embalar
E nem verto mais lágrimas,
se as vertesse, as ferveria para um bom chá.
E cantaria:
"-Aqui jaz um espectro de poeta,
Um pesado perdedor sem vínculos.
As dúvidas existenciais me deixam louco;
São como uma nuvem de mosquitos – e tento de espantá-los
E nessa nuvem
existe uma fada que carrega um pote, de voz bem doce
Que cantava algo assim:
algodão-doce, caramelo! marmelo!"
Parte II – Aos Pais – Dor e Expiação
Há vinte anos disserdes-me:
Obedeça.
Desobedeci.
Arrependi-me.
Prometo que vos amarei
Na distância, ternura e amargura,
Sempre.
Prometo que vos honrarei
No Céu e na Terra
e que vos obedecerei
Em júbilo e contrariedade
Nunca é tarde.
Vosso eterno devedor suplica
A minha angústia leva embora
nas horas de apatia
Não quero cair em desordem
Nem em rebeldia
Fui por vezes muito ingrato
Mas sempre vos amei
E se necessário for
Morrerei por vós
Pais da Terra,
Obrigado.
Parte III – Mãe.
Nos devaneios mais sombrios
Afugentando os mosquitos
Para longe do meu coração
em dúvidas
Encontrei-te
Estava atormentado, ansioso, aflito
Deste-me de beber, pois estava com muita sede.
E prostrei-me, como nunca antes.
Mãe, manhã de orvalho.
Sou teu bebê que ainda balbucia no berço
Sou tua luz tão forte que me aquece!
sábado, junho 14, 2008
Amandinha Vomita
Seca, débil, abatida, raquítica,
Pele, osso, desfigura fodida
Segue Amandinha, afoita e faminta,
Tirando de sob a cama a comida,
Seu voraz, incontrolável instinto:
Come, devora, orgasma a papila
Degusta coa língua prazer negado,
Júbilo que a caloria reclama,
Felicidade que o espelho rouba,
Contentamento que a balança afana
Mas, passado curtíssimo flagrante,
Qual centelha que de queimada cessa,
O devaneio e o riso, num instante,
Se fazem pranto, se fazem promessa
De que aquela aventura proibida,
Gustativa, obscena, pecaminosa,
Jamais seria, jura, repetida.
É com vagar de ré que se levanta e,
Tal como humílima escrava, que é
Oferece à balança, ao espelho
‒ Senhores do engenho do corpo ‒,
O sacrifício que já lhe é velho:
Força contra a goela dedos-ossos,
Engasga e descarta, com bolos grossos
De alimento, doses diárias de
Seu sorriso, sua alma, sua vida.
segunda-feira, junho 09, 2008
guerra fria
você fica feliz quando seus filhos voltam da escola ?
você sofre nas longas noites longe de sua família ?
você conta cada segundo do seu trabalho até poder voltar pra casa e ver os entes que tanto ama ?
você dá beijo de boa noite nos seus filhos ante deles dormirem ?
você regozija ao ver suas crianças brincando sorridentes por ai ?
você se sente o homem mais feliz da face da terra quando vê a sua amada ?
você já sentiu o imenso prazer que é passar um domigo de sol em casa com a familia ?
você ama sua mãe ?
então não aperte este botão
Louco é
Fraco é sempre louco, rouco está meu pescoço, o forte de todo louco.
Todo maluco é querer ser enorme, disforme, diferente.
Todo idiota quer um agiota que lhe roube o fundo,
O fundo do seu mundo.
Fraco é sempre louco porque louco é sempre um marco,
Cansa o imóvel, insensível corpo.
sábado, junho 07, 2008
Escrever minimamente sobre o contexto que pouco refresca
Sou o refresco.
Escrevo mínimo,
Sou o contexto.
Mínimo refresco e
Pouco contexto.
sexta-feira, junho 06, 2008
Versos à solta!
Estrofados, escansionados, livres, de qualquer jeito
Recompensa: R$POESIA,00
Família Real
De comida e cadeiras apenas
Todos vêem a janta
Na real novela
Todos estão na televisão
E a família jaz
Na mesa virtual
Só vêem o que está longe
E sentem o sofá próximo
Jaz a família virtual
Invenção Psicomorfotrópica de Mulher
Que mistificaram minhas pernas
Construíram varizes, fístulas hilárias
Contrataram horrores divinas filárias
E pulsava a vulva vívida,
depreciativa luva bífida
Incidindo seus filetes suprarenais
Adjacência de corticóides
E eu com um asco estranho
Mas que vontade de lamber!
Que jovem fartura, desfigurada
Balançando ávida na maca
exibindo as hemorróidas
carcinomas uterinos, sarcomas da endocérvice
cistos ovarianos, líquen labial
numa posição vil à la papanicolaou
Sou a Deusa do Abscesso
vulvovaginite em excesso
e tudo o que preciso ó Doutor
são dois comprimidos pra dor.
quinta-feira, junho 05, 2008
Aquilae Volant
ofuscam-me os olhos
quuando os volto para o céu
observando os grandes borrões
majestosos
voem reis predadores
voltem para seus ninhos
com alimento ao dispor
voem aves magnânimas
carregando proeza em seus bicos
incautas
serão depenadas (?)
"post nubila, iternum"
quarta-feira, junho 04, 2008
sábado, maio 31, 2008
Há dor nos casados...
Levei-te flores, lembrando quando existias;
Levei-te flores depois dos pavorosos dias,
Levei-te flores e condolências, todos seus direitos.
Não foi minha culpa se estavas de fronte a mim,
Estoquei minha adaga, sangrou-te líquido carmim,
Caíste no chão em brados roucos, polvorosa,
Vi tornar-se branca a face linda de outrora rosa.
É uma pena despedir-me de você de jeito tão cruel,
Minha paixão perdida, de jeito afável e doce como o mel;
Agora nada mais és, visto que se encontras em sepultura,
És minha musa morta cujo corpo repousa em inerte friúra.
domingo, maio 25, 2008
Adornos Casados
Dei adornos em cores, elas murcharam horrores.
Hoje tateio suas pétalas,
Saboreio todos nossos namoros,
Degusto fotografias, caligrafias
Dos nossos filhos, sépalas da
Vida.
quinta-feira, maio 22, 2008
O sabor do saber
Tudo é tão rápido e dura tão pouco. Vomitam-se lançamentos de produtos, seja de qual linha, estilo, ou utilidade for. Um detalhezinho altera o preço do produto e joga o recém-lançado na vala do ultrapassado. Consome-se muito em tempo recorde. Não se digere nada. Tem-se não para usufruimento próprio, mas para apreciação coletiva. A imagem vista aos olhos de outrem é a mais importante de se preservar. O interno perde espaço para o externo. A vida particular escancara as portas para o “Grande irmão” sempre presente. Não se pode ficar de fora do padrão social: beleza, pertences, saberes.
Vivemos em uma sociedade anoréxica. Não é só a comida regurgitada visando a um padrão de beleza. Regurgitam-se sentimentos e notícias. Ficamos com um aqui, com um outro ali. Um morre aqui e é anunciado no jornal, o outro é preso com drogas no bolso, e amanhã ninguém mais se lembra de nada. Já temos novos “ficantes”, novos mortos para não fazer diferença, novos presos para serem soltos.
O saber é regurgitado também. Não tem sabor este saber do qual fingimos fazer uso. Não há como bem fazer uso do mesmo. Em tão poucos minutos ele já está defasado. Tudo é simplificado para rápida absorção. Saber podre. Saber que, digerido, torna-se rapidamente escasso.
Há necessidade de se sentir o sabor do saber. Há necessidade de se degustar cada palavra apreendida, cada significado incorporado, cada sentimento correndo a pele. Caso contrário, a fugacidade do viver continuará ditando seu impiedoso ritmo, comprometendo, com isso, nossa rara sensibilidade, e nossa capacidade de apreender.
Saborear o saber aos poucos, eis o caminho nessa falsa fome de cultura. Um livro pode oferecer isto. Um poema também pode. Uma imagem, mais ainda, uma vez que as cores atraem muito mais do que o preto e branco das palavras e do papel. O ato de ler, independentemente do que se lê, é um caminho frutífero em possibilidades para esse enriquecimento gustativo e cultural.
O ser humano, ao fazer uso constante da leitura, passa, com o tempo de prática, a desenvolver em si virtudes e aptidões conscientes, tudo isso pelo fato de que, ao adotar a leitura como atividade de prática constante em sua vida, ele, ser humano, passa a melhor conhecer-se e a compreender-se, assim como a compreender o mundo e o que realmente quer significar esse ato de ler que ele pratica. Compreensão é fruto de leitura, assim como consciência crítica. Elementos indissociáveis; alimentos do espírito para o humano.
Bom apetite para nós.
terça-feira, maio 20, 2008
sábado, maio 17, 2008
Um e Todos
terça-feira, maio 13, 2008
Sobre Filosofia Barata
Não questionam a matemática de botequim, que erram cálculos e geram aberrações, deformações provadas, alucinações. Não questionam a biologia bêbada, das mutações pernetas, ou a química drogada, jogada nos vãos das baratas. Não falam do jornalismo tonto, dos advogados bobos e fáceis, dos juízes retráteis, corruptos incuráveis.
Não reparam no administrador ambicioso, um imbecil irresponsável, um controlador irrecuperável.
Sequer questionam as estatísticas do especialista contorcido em mentiras. Não contam e sequer reparam nas indagações do economista, palpiteiro do dinheiro sujo inventado, inflacionado e dito como fundamental.
Por fim, resta o político mal-educado, justificado por condição precária e discurso que parece dente com cárie. Falemos sobre os podres do filósofo, então?
domingo, maio 11, 2008
Ressalto que...
domingo, maio 04, 2008
O dia.
Em que me falte de tudo
Falta de ar
Falta de dados
Falta de senso...
Faltou alguma coisa
Algo insincero
espremido
sábado, maio 03, 2008
Amedrontar
Subjugou seu mundo em vão,
Submeteu seu corpo à calma
Caótica do além-limite da razão.
O medo murchou seu coração,
Secou sua vontade-essência;
O corpo agora é violência
Em elevado estado de putrefação.
Observa-se o verme corroendo,
Aquilo que outrora foi um osso,
Agora já não passa de um esboço
Do ser de medo, do despiciendo.
Carne amedrontada apodrecendo
Que ainda assim possui sopro de vida,
Múmia se remexendo na jazida?
Estremecimento visceral estupendo!
Pequeno amarelado sentimento
Que cobre esta alma desgraçada,
Mutila, zurze com vil contentamento
O dono desta alma condenada...
sexta-feira, maio 02, 2008
Não
A nebulosa multidão dos medos
Sufocam as paixões mundanas
Que evadem a imensidão incontável de janelas
Sufocação
Agonia
A fala sem razão se confunde com a não fala
A falta de planos, de realização dos planos.
Necessidade de ação, de quebra
Busca do futuro
Construção
Caminho
NÃO!
Inércia, inércia, inércia, inércia, inércia, inércia, inércia, inércia, inércia, inércia, inércia, inércia, inércia, inércia, inércia, inércia, inércia, inércia, inércia, inércia, inércia...
Órfão
Não falo isso em estado péssimo, faço melodia,
Estou refletindo um fato, uma filosofia
Que se confere com dados.
Os órfãos de nome já a vivem
E nós viveremos com a partida dos pais,
Os órfãos choram ou coram,
Os filhos hão de se lamentar, o cais
Se enche na partida deles,
Os pais.
Para alguns, o tempo nunca veio,
Para outros, o tempo já passou,
Para quem vive, resta o receio,
Para quem viveu, o bom foi passageiro.
Mas os momentos são eternos,
Basta ver e crer,
Os serenos são sinceros.
Mas há esse medo. Medos.
quinta-feira, maio 01, 2008
Vê o Sol!
dia após horizonte
vasta trilha brilhante
acordam casas e casas
em abismal cadência
infinitas visitas
com um só olhar...
quando a alvorada resplandece
nas montanhas geladas do Alaska
ou das dunas áridas do Saara
o fulgor amarelo traz calor e luz
para os lares do mundo
sul e norte
Vê o Sol!
Comecemos...
Em segundo, justifico minha relutância em participar deste grupo por achar que a capacidade deste belo grupo está muito além das minhas, pois não passo de uma relutante amadora na arte de escrever.
Porém agora que muito bem persuadida por este ser fantástico que eu tanto admiro, espero poder contribuir de alguma forma com este incrível acervo do qual sou fanática leitora.
Agradeço a todos por me acolherem entre vocês, espero que minha participação possa contribuir em algo.
Gostaria de iniciá-la com algo inédito, mas infelizmente meu computador não ajudou apagando por duas vezes poesias recem escritas, portando vou postar algo já antigo que no entando tem forte significado pra mim.
Meus passos rápidos
Devaneios
Fantasias
Pensamentos apenas
Objetos figurados
Sonhos toques
Cheiros
Misturando fantasia e realidade
A minha vida como um passeio lunar
E como tudo que existe
Vejo o tempo passar
Com a certeza de que não retrocede
E a sabedoria de não tentar pará-lo.
Viver as viagens do vento
Os sorrisos do sol
As lágrimas da chuva
O sonho das flores
Ao sentir cada um deles tocando a minha pele
E a minha falsa realidade tão natural
Mostra o quanto falo em passos falsos pelo mundo
E a as minhas lutas únicas
Solitárias
São minha alma
Se não houvesse a crença
Estaria vazia
Só, dentro de meu próprio vácuo.
Novamente obrigada.
E você meu amigo, te amo.
quarta-feira, abril 30, 2008
Águas da Musa
De memórias amorosas vividas
Em um não sei o porquê escondidas
De toda sufocada fez-se aurora:
Vagando em momentos a mente estoura
A imaginar futuro deslumbrante
Que sentem a vida contagiante
De mudar uma vontade estouva
Ruidosas as águas da inspiração
Cantam um sublime momento a Musa,
E inundam os pensamentos caóticos
Fazendo-se em turbilhão de emoção
Que sentem contagiante uma vida
Renovar-se em palavras esquecidas
quinta-feira, abril 24, 2008
O escrever: por e para mim
E se hoje (elemento dêitico temporal para especificar o momento dessas observações) escrevo é por timidez, porque meu ser me impede de expressar através da fala, com um mínimo de desenvoltura, o que penso e sinto.
terça-feira, abril 22, 2008
uma dica:
não ame seu pais
porque ele foi uma invenção arbitrária
não ame sua pátria
porque ela foi inventada sem motivo
não ame sua bandeira
porque ela não passa de um pedaço de pano
não ame sua terra
porque ela não passa de pó
não ame seu governo,
porque ele jamais foi digno
ame apenas seu povo
porque,
bem ou mal,
familia é familia
domingo, abril 20, 2008
uma inocente pretensão
tão fundo, profundo
vejo-me assim
quebrando todos os
objetos
atirando todos os fragmentos
em um lugar que não existe
caótico, colérico
perverso até demais
parido ao contrário
debaixo d'uma maldição materna
não escondo meu sorriso
as minhas desculpas
não escaparão
meu esgar culpado
traz marcado
a prova da competência
há algo alem desta urbe
que me segura
quando o descontrole não responde
quem está no volante?
se você me forçar
acho que vou saltar do terraço
e cair num toldo
sou um surdo pastor de ovelhas
um áugure desafortunado
que vigia o rebanho a pastar
e atenta aos outros
com palavras de destruição
é melhor você não falar
se veio aqui pela resposta
deixarei-te na penumbra
fria como a praga que te aguarda
antes digno de graça
pernicioso me tornei
com tão brutal semântica
atravessada na garganta
com um sorriso mais do que frenético
não escondo minhas mãos cheias de culpa
meus pecados
não irão embora
sou a atormentada cria eterna
sob uma maldição materna.
Escreva sempre
Poesia em três passos
E não saiba como, se perca como um todo,
Cultue a vadiagem.
Em segundo lugar, transforme o ócio
Em semente do ódio, em carvalho
Moralista, em metáfora naturalista,
Cultive a imaginação, a curtição,
A utilização.
Finalmente, mexa os ingredientes,
Erre nos textos, mude os terços,
Faça versos vazios e certeiros,
Faça versos cheios e pequenos,
Não se preocupe com alheios,
Observe o cosmo nesses olhos,
A luneta dos homens cheios.
Crises Estomacais/Intestinais.
No embaraçoso e serpentado caminho
Do meu intestino delgado.
O estômago contrai, o corpo
Esterlizia seus dejetos
Em um vaso oval, trajetos
Que vão ser descartados.
Esse presente de grego
É um desespero, um emprego
Pra masoquista, uma oportunidade
Às palavras entaladas, palavrões.
Fôlego
Ela já foi escritora, já foi pensadora de seu ideal, foi reflexo do seu olhar mais sincero e concreto.
Hoje ela diz que tudo o que produz é descartado, que a teoria suprime seu gosto criativo.
Eu, ao contrário, prefiro manter as produções, pretendo renascer a cada segundo, com várias dores, vários cortes profundos.
E ser o que eu sempre quis, ou, ao menos, se atirar pelo ar.
Até o pulmão estourar.
quarta-feira, abril 16, 2008
Vento no litoral
Í.ta**
domingo, abril 13, 2008
Cabelereira Crespa
Aos olhos alheios,
Aos comentários pentelhos.
Chapinha tá na moda,
Carequice, apesar do frio,
Dá e sobra.
Sou de cabelo retrógrado,
Com pão sou Jesus alado,
Com guitarra sou róquenrou
Irado.
sexta-feira, abril 11, 2008
Abelha Rainha
o que perscruta a mente insana
que redime a mente sã?
era uma pérfida abelha-rainha
perdida nas austeras horas
daquela longa e devassa noite
voava pelos becos escuros
a bisbilhotar prostíbulos
ferretreando proxenetas
enlouquecendo as mulheres
que exercitavam as (...?)
desenhava ganchos em linha
na parede das passagens
perscrutando à luz de velas
um labirinto de esfarrapados
perfura gargantas incômodas
despedaçando insolências
e de vão em vão
estalava o ferrão
mas por inexata
razão
com a violência de um peteleco
despedaçada foi-se então.
sinto falta do zunzum
das asinhas agitadas
enxeridas e afiadas
acho que tornei-me
mais um daqueles.
o que perscruta a mente má
que redime a mente vã?
Realidade insana
povoada pela limitada lógica,
emergem as destruidoras dúvidas,
que aquela realidade circundam.
De nós nunca antes desmatados,
agride à loucura humana
aquela força toda interna,
que a vida externa não explica.
E a coexistência de dois mundos;
o dele, que a consciência fere,
e o dela, que chora a verdade;
jamais um elo constituem
até que aquele desapareça
no complexo infinito do outro.
segunda-feira, abril 07, 2008
Tentação do Não-Conseguir
Não é o desespero, este
Ao contrário do que se possa ouvir
Não é o não-esperar.
Impregna nossa mente, uma peste
Com pensamentos desconexos:
Vermelhos, azuis, homicidas...
De fogo e substância ácida
Com inúmeros venenos anexos
Vontade de ferro, de vagar.
Vontade de apagar,
Apagar-se ao desespero,
Desespero é escuridão,
Obscura voz muda em vão
Que grita atroadora
E nada e ninguém toca...
É como um oboé quebrado
Em ver sos li vre s,
Que esganiça as notas
À aguda baforada de seu musicista
Não é o desespero, sua música
É a música sua conquista...
Mas o desespero recorrente
Senóide...
São palavras descontentes
Sentimentalóides...
Palavras não pertinentes
Implausíveis...
Impossíveis...
Inacessíveis...
Irreconhecíveis...
Decibéis infinitos soprados ao além
Vociferações mortas vistas por ninguém.
É a sala escura e o desespero plangente,
O momento triste de se virar gente
E deixar o mundo de Alice no lado escuro da Lua;
Hora de vagar, de ir enfim pra rua...
(E não conseguir
N'infinito porvir
D'incessante fracassar)
domingo, abril 06, 2008
Blasé
Feições do vaso,
Vernizadas e maleáveis
Como papel almaço.
Tudo se fala,
Pouco se resvala,
Pouco revela.
Reticência armada,
Ares de cilada
Perseguem a cena
Filmada e, teoricamente,
Falada.
Não ter um porquê,
Ver a pomba no fio do poste,
Uma velha sem laquê
Apavorada com diversões
E porre leve de champanhe.
Blasé, saber para quê?
Espere outro anoitecer que vaporize os ares
E venha me dizer histórias, os lares
De quem fez muito,
Ou de quem se omitiu e foi inútil.
Beicinho pra frente,
Cara de quem entende
E o jeito idiota, de repente.
Borboleta Amarela
Que apenas voa
Mas nunca passa
És em contraste linda
Na liberdade amarela
E na sombra voa
E na névoa passa
É de toda bela
Essa borboleta que voa
Mas nunca passa
sábado, março 29, 2008
Declarações de amor
Aos práticos, digo que existe um texto. Não interessa se você não gosta de palavras, a letra nem precisaria existir para haver um texto. O código é o fundamento disso e a codificação se faz pela necessidade alheia de atenção. Há um observador e um curador, um arauto do seu segredo que, paradoxalmente, nunca o saberá por completo, seja seu amor ou seu leitor.
Aos teóricos, peço que provem o gosto da saliva, a sina dos amantes inconsoláveis. Não é nojento como falam, é combustível dos mais renováveis. É uma consumação de magia, uma religião da sacristia dos pagãos.
quinta-feira, março 27, 2008
Vida escolar
A escola de uns é uma etapa. E a etapa de outros é a escola de muitos.
domingo, março 23, 2008
trecho 5.
num castelo muito antigo
há uma pintura que deveria ter sido bela
porque as pessoas não param de olhar para ela
e sentar-se ao redor
para ouvir histórias
essa pintura está muito feia
gasta pelo tempo
muito velha
a minha mãe não iria deixar que eu a trouxesse pra pendurar em casa
o artista pintou um Cristo
de braços estendidos
todo espasmos
sofrendo o martírio mais cruel da época
A dor era grande, mas Cristo sorria
e contava muitas histórias para quem chegava ali
alguns adormeciam embalados no torpor
e outros escutavam vidrados - ou desconfiados
e enquanto eu ouvia
via vultos arrastando-se como traças
ao redor do corpo de Cristo na parede escura
ladeado por seus pobres apóstolos feitos de pastel
e sua mãe que pranteava inconsolada com a perda
a angústia eternizada em seu rosto lacrimoso
exultantemente devorado por um verme
que encontrou uma iguaria excepcional
que mistério doloroso na história sobre a cruz!
os buracos, segundo me disseram
deixaram de ser furos há séculos
são grosseiros rombos sem remendos.
eu visitei o quadro na parede escura
querendo afastar uma dúvida
que sufocava meu coração
e Cristo disse-me assim:
-volto em 3 dias, qualquer coisa deixe seu recado com Maria Madalena.
Aí fiquei puto da vida. Respondi assim:
olha, Sr. Cristo, eu prefiro que o senhor volte com uma história melhor...
Feliz Páscoa pra vcs :D
sexta-feira, março 21, 2008
Somente esta
do grande mar de espinhos,
como ondas que vão e voltam;
como o retorno do mar
que prenuncia a tsunami.
Os versos ferem meu dia
que fica assim, todo
difuso. Ferem no ônibus,
ferem numa conversa,
numa caminhada, numa leitura.
E tudo se esvai, some.
Desaparece no mar infindo
das palavras de um
poeta, que não pode a
todas contemplar e atender.
Borboletas e pássaros
pedem a voz em
linhas estreitas.
E voam expulsos
pelo exagerado tempo.
Que esperem as vis
palavras, diante das
eternas idéias! Pois
em linhas tão estreitas,
somente esta entrou.
domingo, março 16, 2008
Olhares atentos para o mundo que transborda de si
Após dois livros de poesia publicados, Campo Avesso (2001, Letra d´água) e Casa de paragens (2006, Editora da UFSC), o escritor de Joinville (SC) divulgou sua produção em outro gênero literário, o da crônica, e lançou um livro com algumas das que escreveu entre fevereiro de 2004 e março de 2007 para o caderno Anexo, do jornal A Notícia, onde publica todas as quartas-feiras.
Para mim, e creio que para muitos outros leitores, são releituras a se fazer das crônicas presentes no livro. Ora mais densas, ora mais suaves, ora críticas ora não, ora mais poéticas ora mais objetivas em determinados assuntos, ora também quase-contos, transbordando sensibilidade e poesia, as crônicas foram separadas no livro em quatro diferentes partes, com as últimas crônicas de cada parte dando nome à mesma correspondente: Os animais dentro, Olho vigiador, O corpo da gratidão, O morador das palavras, que bem estariam encaixadas se não houvesse divisão, uma vez que a escrita em si do autor apresenta um traço muito bem caracterizado, sendo possível reconhecê-la à distância, encontrá-la, por exemplo, nos poemas-aço que formam sua Casa de paragens: nos cômodos da sua casa-corpo, nos mínimos detalhes da natureza, e nos animais-moradores-de-seu-corpo: na dor corpórea da alma; na fragilidade de ser humano.
Um olhar sempre constante nas crônicas do livro (e também nos poemas do Casa) dirige-se aos animais. Estão eles dentro do escritor Rubens, ao redor, nos olhares, nos sonhos, na memória. As crônicas de Os animais dentro trazem um pouco dessa relação, assim como duas outras crônicas, localizadas em outros compartimentos do livro, como a crônica “Antologia”, presente junto às crônicas de O morador de palavras, na qual Rubens afirma serem os animais “poemas de Deus”, e os compara brilhantemente a diferentes formas de poemas: a borboleta é o hai-kai, “mínimo e preciso”; o cavalo é o soneto, “a elegância poética”; o tigre, poema perfeito, sendo “Um tigre preso num zoológico, ou circo qualquer, o poema de arrependimento de Deus por ter escrito o homem”.
Também, a crônica “Os observadores”, localizada junto às crônicas em O corpo da gratidão, em que o cronista afirma falar muito dos animais em seus textos: “são imagens recorrentes, já que ainda não descobri elementos mais poético na natureza e mais propício às buscas metafóricas que pratico”.
Ainda, nas crônicas de Os animais dentro pode-se encantar com outros modos de ser animal, com o ser humano e suas formas de pensar, sentir e agir. O encantamento que se tem com Miguel, o menino que fugiu com o vento; com a solidão, abandonada em um sapato qualquer estirado sobre o asfalto; com o retrato descrito do Rubens que se era e do Rubens que se é, pouco diferente por fora, corroído pelo tempo-humano por dentro, um homem do seu tempo, mas carregando uma alma ancestral ao caos moderno; com a mulher que se salga por dentro para se libertar e com a que goza ao cheirar as pedras que separam as praias de Itaguaçu e Ubatuba; com a mulher-fortaleza derrubada pela paixão; com o menino envolvido em seu universo, “um barranco cheio de buracos mais argila”; com o cão no ponto de ônibus, perturbando a rotina do homem; e com Dona Ernestina, a poeta que “não cresceu e por isso ficou maior que tudo”, a poeta que sopra hai-kai como “por entre as nuvens, o sol caiu no lago, saiu molhado”
Nas crônicas de Olho vigiador, Rubens da Cunha apresenta seus olhares “adestrados na busca de pequenos absurdos humanos”. Olhares atentos para os habitantes e para a sua, até o momento, casa de paragem, cidade na qual nasceu e em que vive. Os chapas, “fantasmas diurnos”, uma vendedora de cocadas, com “a fome atravessada nos olhos”, o malabarista, que “finge o tropeço, finge o riso, finge o agradecimento”, o jovem que “quer trocar 1 Real por duas canetas”, os “indiferentes na indiferença urbana”: “Há neles agonias impossíveis às palavras”.
Pela cidade também que o Rubens cronista busca o assunto para suas crônicas semanais. Nas manhãs de domingo, em que “tudo que é normal dorme, tudo que é banal está fechado”, nas pessoas por quem passa, nas vozes e meias-conversas que ouve, ficando sempre “um pouco mais repleto de fascínio que a cidade lhe oferece. Seja nas imagens, seja na fala anônima de sua gente. (...) que revelam instantes vastos de poesia, ainda o melhor antídoto contra a cegueira medíocre que nos atinge a vida continuamente”.
O corpo da gratidão qual será? Um lobo em dia de caça, o domingo de visita dos netos, o sorriso, os transplantes, um rio despoluído? A gratidão é a mãe, é a noite, é um poço de contrários, “é uma inutilidade feita apenas para agüentar o peso do mundo: um poema perdido entre os cadernos; flores nas beirais das casas; fotografias”.
As crônicas que formam esse corpo da gratidão revelam ainda mais disso que ela é para o cronista. A natureza, recoberta de poesia, que, “sem avisar, põe sobre a cidade um lençol branco”; o vento, “Espada solar”, aquele que “veste de umidade a carne urbana”, que “Nas madrugadas volta, amante sorrateiro”, e então é possível ouvir as palmeiras gozando novamente; os eclipses e arco-íris, “choques de loucura, (...) retornos, lembranças que acontecem para nos animalizar de novo”; o olhar atento do pai para o filho recém-nascido, ainda frágil para a ação do verbo viver; a revolução da delicadeza, mesmo sendo “bem mais fácil matar alguém toda manhã do que descrescer”.
A gratidão também moldada pelo fluxo inexorável da vida cotidiana passando por cima do tempo e do espaço, de amizades antes fortalecidas; pelas “pequenas desafinações no ritmo monótono da vida”, os inusitados presentes no dia-a-dia, como um beija-flor entrando numa sala por engano, um poema anônimo dentro de um livro, um pensar em alguém e esbarrar com esse alguém na próxima esquina; pela conjunção “se”, “Palavra-abismo”, reveladora da eterna condição de metade do ser humano; pelo tempo (cabeça-passado, tronco-presente e membros-futuro); pelo sentir que animaliza o humano; pela contradição, a “máquina raio-x da vida, que diz aquilo que somos, que nos humaniza pela fragilidade”.
As últimas crônicas do livro, morando no capítulo O morador de palavras, são as que melhor retratam a relação do poeta e cronista Rubens da Cunha com aquela que é sua ferramenta de trabalho, senão diária, quase que isso: a palavra, e as ramificações que ela faz existir: a língua, a leitura, a escrita.
Presentes nas últimas crônicas encontram-se reflexões sobre a língua portuguesa, a qual, segundo Rubens, é no erro que se torna poesia: “puta de esquina, freira de claustro, mulher amarga e doce, barroca lavadeira esfregando-se mundo afora”; sobre a poesia, para o autor tão parecida com o bambu, este também “pouso de pássaros, criadouro de sombras, paragem do vento”, a poesia também mãe deste filho poeta e cronista, que mais do que tudo deseja ardentemente sempre “Sentar naquele sofá-estrofe no canto da página. Beber um verso-café feito na hora e nada ouvir além da chuva teimosa compondo um outono frágil”; sobre o analfabetismo que carrega dentro de si, o musical, restando a ele apenas metaforizar músicas e instrumentos, sendo Beethoven, por exemplo, um rio de águas negras, e uma orquestra sinfônica uma tempestade às seis horas da manhã; e sobre a leitura, esta abortada pela velocidade cotidiana, e o ato de ler, a ação de “vencer o medo de afogar-se e nadar onde não encostamos os pés no chão. (...) Ler é doar-se em solidariedade consigo mesmo. Ler é difícil”.
Nas últimas crônicas também é apresentado ao leitor o Rubens da Cunha escritor. O morador da palavra exílio (ou seria apenas mais um dos personagens marcantes no livro?). O escritor por prazer, por sentir o sangue correr em seus abismos, pela águia, fazedora de poemas, quando voa, melhores que os seus. Escritor “para que a alma retorne ao corpo”. Pela dor: “O papel me dá seus ouvidos e demais buracos gratuitamente. O papel é uma prostituta apaixonada. Escrevo para gozar e porque tenho bom vocabulário”. Pelo poder de ser escritor, pelas máscaras que colocam sob os escritores. “Por aquilo que não explico quando olham para meu texto e dizem que eu escrevo difícil. Escrevo porque é fácil ser difícil. A simplicidade é para os gênios. Eu não sou gênio. Sou mais um cego teimoso”. Escritor por maldade, por instinto, por covardia, por alegria, “por estar preso nesse cárcere e porque aprendi a mentir desde cedo”.
Bom se existissem mais mentirosos assim.
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Resenha publicada na edição de março da revista virtual de literatura e arte, GerminaLiteratura.
Í.ta**
quinta-feira, março 13, 2008
A se dizer
Nada a proferir a auto-contento
Só resta apenas o vazio silêncio.
Silêncio duma mente que não pensa
Mente que à vida é inreativa
Alma que vagueia ao mundo passiva.
Mente entrecortada por pensamentos
Corpo paralizado na indolência
Mente que com o corpo é ausência
Corpo que à mente é aborrecimento.
Substantiva e substancial
Matéria que com a mente constitui
A essência que em alma se dilui
Com'átomos em vazio espacial
Mente e corpo nada são afinal...
sábado, março 01, 2008
É pau, é pedra, é começo...
O Jobim no piano, no soprano
Que dedilhava no violão,
Que eram águas de março
Fechando o verão,
A promessa de vida
No teu coração,
A música, a melodia,
A cantiga da minha
Solidão.
Era pau, era pedra, era começo
Do toco queimado, do pescoço
Degolado.
É pau, é pedra, é Elis cantando
MPB, é rapaz sambando
A cultura brasileira, a conversinha mineira,
Os miseráveis nordestinos, o papagaio altivo.
É pau, é releitura da pedra
Da cultura brasileira, que agride
A selva interna, a relva que espera
A onça estrangeira.
As águas na estação
Sujas pela poluição,
É a promessa política
Do Brasil sem perdão.
Obrigado Tom Jobim pela composição que inspirou essa poesia, totalmente.
Essa é a realidade bizarra que vivemos (...).