terça-feira, fevereiro 19, 2008
Tentativa: Akira I
_____Sobre a cama circular, posta debaixo de um enorme espelho e ricamente rendada, via-se uma mulher. Deitada, ainda gemia. Espalhados pelo quarto, partes de uma lingerie preta e vermelha, sugerindo o modo como ela estaria vestida há algum tempo. Seus cabelos ligeiramente ruivos ondulavam delicadamente.
_____Contrastando com a sensualidade diabólica da figura feminina, um homem sentava-se ao seu lado. Seu rosto era um tanto infantil - seria erro chamá-lo de homem? Não trajava roupas, mas a calça militar estirada adiante da cama - atirada por alguma mão excitada - seguramente lhe pertencia, tal qual o coturno negro jogado displicentemente ao seu lado.
_____Desafiador, observava os resultados de suas habilidades e truques nas expressões da mulher. Seu semblante era se satisfação. Desviou momentaneamente o olhar para o lado de seu travesseiro: lá havia um maço de cigarros. Pegou um e acendeu. A mulher levantou-se, ainda imersa em êxtase, e beijou-o. Após aceitar o afago, mudou de idéia e virou o rosto.
_____-Acabou, Sharon. Vá embora.
_____Grosseiro e insensível. Era assim que ele gostava de ser visto. Capricho? Talvez. O fato é que não pretendia envolver seu coração com sentimentos como o amor. Nada sentia por aquela pessoa com a qual compartilhava a noite. Nenhum frio na espinha. Respiração mais rápida por motivos meramente biológicos. A mulher não parecia abalar-se.
_____-Fala como se tivesse pago um programa comigo! Enfia nessa cabecinha oca que eu te amo!
_____-Não mesmo. Vai embora, Sharon.
_____-Me tratando como objeto... Akira, assim fico com mais vontade de não ir...
_____-Não enche.
_____Akira levantou-se e jogou fora o cigarro. Pegou a calça e vestiu-a. Ouviu um suspiro. Virou-se. Sharon deixou escapar uma lágrima. O homem viu-a deslizando por sua face. Sharon nunca chorara.
_____-Desculpe. - ela começou a chorar mais. - Sharon, não chora!
_____Estragara tudo então? Ela nunca havia chegado a tal ponto. Seria o sofrimento dela pela sua falta de tato tão grande assim? Ele não suportava ver mulher alguma chorando. Subiu novamente na cama e abraçou-a.
_____-Não chora... por favor...
_____Abraçou-a mais forte. Após segundos, ela correspondeu. Se encararam. Ela estava frágil, fraca, desamparada, mas absolutamente divina. Delicada como as pétalas de rosas brancas. Seu coração bateu mais forte. Não queria amá-la. Mas seria amor confortá-la numa só noite? Suas mãos deslizaram pela cintura dela. Passou-as por lugares proibidos. Ela parou de chorar. Entregara-se àquele amor, tão brilhante e verdadeiro em sua mente, tão obscuro e falso pelos olhos verdes de Akira.
_____A noite ainda não acabara. A rosa branca acabara de tornar-se vermelha.
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Primeiro texto depois de algum tempo sem escrever. Akira é meu personagem preferido, acho que escreverei mais coisas sobre ele... e acho que arrumei uma forma de colocar parágrafos aqui xD~
Até o/
segunda-feira, fevereiro 18, 2008
Acontecimento enquadrado
Em suma, a repressão de um padre é compartilhada pelo cientista louco, pelo garoto maroto, pelo homem matemático e o jovem ajuizado, além dos drogados. Não somos nós, mas nossos tipos, esculpidos e emoldurados.
domingo, fevereiro 17, 2008
Chesil's Favourite Poetry
O que acham? É um site bem interessante. Pensei em criarmos um, vinculando-o ao TBW, com o intuito de: a) aumentar a leitura de poesia em português, b) facilitar o acesso à mesma, disponibilizando vários autores, c) chamar a atenção para cá, atraindo maior número de leitores.
Eu tenho um espaço considerável da minha biblioteca recheado com poesia, e sei que outros aqui também. Podemos colocar conteúdo aos poucos, dividindo tarefas, facilitando para todos. E, claro, não tem porque deixarmos de colocar autores que escrevam em francês, espanhol (Pablo Neruda!), alemão, italiano, latim (algumas Odes de Horacio merecem...) e todas as outras línguas.
O site pode falar sobre os encontros literários organizados ou não por nós, dar uma pequena "cobertura" dos ocorridos - e para isso conto com a ajuda do Pedro, o jornalista daqui. Gostaria de também deixar um local no site para enviarem-nos seus poemas e afins, sempre tem alguém que escreve e não sabe com quem falar. Mas esse último parágrafo não é necessário, a estrutura principal tem por carácter ser um banco de dados poético, como o site do Chesil.
E eu não entendo praticamente NADA de montagem de sites, layouts (tome como exemplo o 'belíssimo' layout pré-montado que uso no meu blog) e afins. Precisaria de alguém mais capacitado para isso.
Idéias, sugestões, opiniões?
sábado, fevereiro 16, 2008
Expanda-se
Na intensidade que o tempo
Trás transcorridas todas
As tuas tentativas
Escreva se sabe pensar
Se sabe escutar tua voz
Se sabe suspender
O saber sem sentido
Mas toma a meditação
Uma componente de teu poema
E recomponha teu pensamento
E então escreva, concerte
Soe, desespere-se,
Versifique, poemize
domingo, fevereiro 10, 2008
Poeta, Ourives.
que rimam com quero-quero,
que semeiam raízes de olvido,
Que não desabrocham;
encolhem-se com a falta de esmero.
quinta-feira, fevereiro 07, 2008
Lia um conto de Sagarana quando uma menina sentou-se: portava um livrinho destes que fazem sons ao abrir; lia em voz alta, com dificuldade, cada frase. Formava parágrafos devagarinho. Vi e revi a pequena. Em volta, uma roda de adolescentes reclamava, as pessoas reclamavam, eu não: estava maravilhado com a garota lendo um livro com gosto, paixão.
Meu primeiro livro veio à cabeça: uma coletânea de contos infantis. Desde La Fontaine até autores desconhecidos. Muitas, muitas histórias... magia, ladrões, valores, gigantes, princesas. Li-os todos, diversas vezes. Primeira obra! Dormi tarde várias vezes graças à leitura. Adorava ler uma história duas vezes, sempre mudava um pouquinho – o mesmo efeito da poesia hoje.
Era bom: não havia mal que me atingisse. Briga com minha mãe se remediava lendo. Devo muito a este livro: sem ele, não sei como seria meu gosto pela leitura; com ele, criei interesse em adentrar a bibilioteca de meu pai e lá me instalar sempre que possível. Meu melhor presente, sem dúvida.
A menina se foi, continuei lendo Sagarana e seus contos nas almofadas da livraria, mas não sem a boa lembrança dos dias antigos na cabeça. Obrigado, menina! Obrigado, meu livro!
03/11/2007
Escrevi isso há um bom tempo. Verídico.
Encontro Positrônico
Bem, este é um dos casos... Suponho.
Data-se de um encontro, realizado num certo dia da semana. Presenciavam o encontro alguns escritores e outros entusiastas das palavras.
Lá, o assunto não era diretamente direcionado, como algo premeditado, mas fluía mais livremente. Quiçá isso tenha feito mal a algumas pessoas que tinham como motivo principal a discussão literária, mas isso é apenas uma mera conjetura.
Rumou-se assim por duas horas, mas a terceira pessoa do autor o impede de dar maiores detalhes acerca das duas horas iniciais, já que este chegara com um 'pequeno' atraso de um sexto de relógio.
Foi muito interessante no tópico de se conhecer pessoas novas. Pessoas que já escreviam há tempos, todavia nunca se encontraram pessoalmente - convém salientar que algumas pessoas acabaram por não ir, porém são desconhecidos seus motivos e não vem ao caso do autor comentá-las.
Chegou. Cumprimentou o pessoal. Tomara nota do que já fora comentado.
Estava chovendo, a chuva impedia o chão de manter-se seco. As vidas não são tão secas assim, ou seriam?
É, não foi um encontro de literatos, até porque nem todos os eram. Foi mais um encontro de amigos... Amigos? A gravidade faz seu papel, sempre fez.
Em suma: uma colisão pósitron-elétron que liberara muita energia, esta foi convertida em forma de calor até causar queimaduras.
OBS: Texto antigo.
quarta-feira, fevereiro 06, 2008
Inesperado
Que sentiu a vida
Passar pelo ouvido
Na voz do destino
Virou numa escolha
Que disse o futuro
Entregue à tentativa
Do olhar mais adiante
Uma ação que ditou
Os passos do coração
Sem nenhuma razão
Foi um desejo
De todo inesperado
Mas de todo escutado
Antologia?
Pensando nisso, a Mar de Idéias lançou em 2006 a Antologia Poética “Novos Poetas, Novos Talentos”, seu primeiro concurso de literatura para auxiliar aos escritores, principalmente aos que não costumam ter acesso fácil a grandes editoras, que publiquem seus livros, sem que precisem gastar quantias muitas das vezes inatingíveis para a maioria da população de nosso país.
Fruto desta seletiva, o autor Pedro Jorge publicou pela Mar de Idéias Editora o livro “A vida em Poesia”, em setembro de 2007.
No mesmo ano a Mar de idéias publicou a I Antologia Internacional de Poesia “Mares Diversos, Mar de Versos”, uma coletânea que também contou com a participação de autores de Portugal e Estados Unidos.
Agora, o próximo passo segue na direção da II Antologia Nacional de Poesia “Novos Poetas, Novos Talentos”.
Muitos grandes talentos podem se perder se não tiverem a oportunidade de mostrar o que sabem, e quantos grandes artistas, escritores, cientistas e gênios podemos estar perdendo todos os dias porque não tiveram uma oportunidade de divulgar seus trabalhos? Por isso mesmo, a Mar de Idéias Editora busca juntar talentos que poderão sair do anonimato e se tornarem conhecidos, proporcionando aos leitores novas obras, e à literatura novos caminhos, novos horizontes, nova idéias.
Original.
Pretendo tentar participar, as despesas não são altas, ainda mais porque você só paga caso seja chamado. Gostaria de convidar a todos daqui para tentarem também, vamos comemorar caso pelo menos um de nós seja chamado!
Opinem.
domingo, fevereiro 03, 2008
Não precisam nos valorizar (tanto)
Convido-te para uma reflexão. Nada muito profundo, talvez algo mais bobo que o normal.
O alfabeto latino ocidental tem cerca de 24 letras.
Há inúmeras combinações compartimentadas em palavras em diversas línguas.
Poderia colocar a quantidade de palavras que podem ser formadas aqui, em todos os idiomas.
Seria alguma estatística para dizer "uau". Mas não provocaria outros efeitos.
Agora, reflita.
Como o escritor pode ser exaltado por, simplesmente, digitar ou escrever o que deve ser feito?
Como se pode glorificar uma pessoa que faz algo que já está previsto nas combinações de palavras, nas combinações de expressão e no número de letras?
Há médicos heróis, que salvam vidas. Há advogados que salvam pessoas inocentes, além dos engenheiros que se esforçam pelo meio ambiente, em criações mirabolantes.
Não puxe tanto o saco do escritor, pois ele é um ser vaidoso por natureza.
Assim como todas as profissões, claro. Mas é vaidoso por fazer algo que já é previsto.
A única coisa que não se prevê nos livros e textos é uma, uma só.
O leitor.
O leitor pode fazer revoluções embalado por livros. Pode renovar a si mesmo.
Pode se questionar, pode se contradizer, pode se tornar tão vaidoso quanto seu autor predileto.
O leitor deve ser o real objetivo de um escritor. É delicioso e praticamente eterna a situação de criar um texto, mas ele é submetido em uma medida e em um código com limites.
O mundo sem fronteiras só existe em dois casos: na cabeça do leitor e no tamanho do texto.
Mas texto enorme por ser enorme é chato demais (...).
Ela*
Mas a fome não passava, a dor prosseguia, e Teresa aprendeu a colher com a mão sua fruta desejada.
Saciada sempre, ela agora tinha sempre as mãos doces e as punha na boca para deixar o fiapo nos dentes e fazer escorrer suco pelo umbigo.
Mas Teresa tinha ânsia de ter fome novamente, só que não mais podia desaprender.
*Também no blog.
Ensaio egocentrista.
Sou amante também.
De mim, apenas.
Preso no centro do ser(eu).
Importância tua, do que falas ou sente.
Não há.
Suas teorias
Embalam meu sono.
Sua realidade não tem valor.
Ao meu paradigma, o verdadeiro.
Preso, em cárcere amável.
Confinado, no devaneio do absorto.
Sigo, por caminho que não se vê.
Por descuido: não preciso vê-lo.
Maior interesse em uma mente perdida.
Egoísta e despreocupado.
Fingindo inspiração ou dor.
Isolo-me com gosto e desprezo.
De tudo que não é fogo ou flor.
(Poesia escritas nas brumas do sono, depois de lembrar um pouco de Artaud. Apenas para não enferrujar e para afirmar minha participação no blog.)
sábado, fevereiro 02, 2008
"Non, je ne regrette rien" - O Presente Absurdo e o Passado Surdo ou Os Relacionamentos
Rien de rien...
Non !
Je ne regrette rien
Ni le bien
Qu’on m’a fait,
Ni le mal,
Tout ça m’est bien égal !
Non!
Rien de rien...
Non !
Car ma vie,
Car mes joies,
Aujourd’hui,
Ça commence avec toi !"
Non, je ne regrette rien, música de Édith Piaf.
Não, não me arrependo de nada,
Nem do epígrafe da poesia, nem da asa
Descoordenada dos meus sonhos,
Do meu pé amargo na terra movediça,
Nas minhas palavras que cortam a caça.
Não, não me arrependo de nada,
E, mesmo quando tenho ressentimento,
Algum tipo de arrependimento,
Faço para não ser fracassado,
Faço para não orgulhar os outros,
Faço para orgulhar meu rosto, meus atos.
Não, não me arrependo de nada,
Nem da falta de diálogo, nem do texto
Mal-entendido, sempre há um amanhã
Com esperanças, que vai além da vã
Crença no destino, no otimismo doente.
Não me arrependo de te ver, sentir você,
Sentir o doce correndo nos fluídos diversos,
Não me arrependo de ver o que pude, ajude
À si mesmo em seus lamentos, ressentimentos,
Relacionamentos não são termináveis, nem maleáveis,
Mas transformados, o tempo todo, todo mudado.
Caeirismo
Que interpretam, relê o que se trabalha,
Deixa o papel entulhado para roedores
Decompositores, compositores de obras
Mortas, mortalha artística.
Somos um grupo de escritores,
Rastreadores de assuntos,
Criadores de ligamentos
De significados, dos personagens
Que devoram nossos miolos,
Que impedem as passagens.
Queremos achar significados
Em nós, em sua declaração e voz,
Queremos dar sentidos
Aos mares descomedidos,
Às tempestades terminais,
Aos contatos viscerais.
Somos o que não somos,
Buscamos o ser onde não há ter,
Será e terá conseguido um querer?
Nós, vós, eles?
Nossa geração não acabou,
Somos filhos bastardos do que se renovou,
Sem revoluções ou constituições,
Temos um linguajar incomum das continuações,
Um começo numa história indeterminada,
Inerente, totalmente inseparada.
Nossa geração não vive de pseudônimos,
Ou personagens fixos, heróis sem prefixos,
Temos personagens de várias linhagens,
De várias origens, de um fim em vertigem.
Alberto Caeiro ficaria um pouco feliz
Com a natureza humana que aqui se diz,
Que meus companheiros, meus parceiros,
Insistem em chegar, sem hesitar.
Alberto Caeiro ficaria um pouco feliz
Pelas poucas vozes, pelas mudanças menos ferozes,
Ficaria impressionado com nossa capacidade lenta, nossa
Vida por triz, nossa melodia de atriz.
Estamos próximos da verdade,
O que não quer dizer vaidade,
Tampouco sensibilidade.
Estamos próximos da verdade,
E da diversidade.
Ficamos absortos. Somos um aborto.
--
Inspirado em conversas com Sir Varios (William Gnann).
quinta-feira, janeiro 31, 2008
Amor... Vazio?
De vasos e laços frios
Amor pungente e vazio
Cuja melhor rima é a dor
Amor, estranho amor
Que mais fere do que deixa aferir
A quimera dantesca que nos faz imergir
Pitoresca essência do sincero terror
Amor, carbônico amor
Fruto apenas de uma bioquímica cerebral
Como pode algo tão pequeno fazer-nos tão mal?
Como esses bárbaros versos de texto sem cor...
Palavras Vazias
Quando o branco do papel
Se torna algo mais belo
Que qualquer idéia
A vontade transcende
O poder de escrever
O quanto és linda
Aos meus olhos
E essas palavras a mancharem
Algo mais belo que escrevo
Contrastam com minha vontade
De dizer que te amo
Num mundo de papel
E tintas vazias
terça-feira, janeiro 29, 2008
Etilismos
ridiculamente sublime,
sem consciência do que faz,
sem sofrimento pelo que é.
Eu também cambaleio
pendendo para o lado,
cambaio para o esquecimento,
sentindo o mundo como ele é
ou talvez como poderia ter sido,
quiçá como gostaria que fosse.
Imerso nos sentidos e sensações
sequer ouso pensar em algo,
receoso de afugentar essa alegria
etílica e artificial, é verdade,
mas muito mais espontânea que
essa carapaça de sombra e sarcasmo.
Evito pensar na vida, pensar em algo,
pois a felicidade é a aptidão natural
de quem não pensa nem se preocupa.
Tento guardar meu rebanho de idéias negras
minha floresta de de sonhos inconjuntos.
Fracasso. E escrevo esse poema.
início
Meu nome é Ítalo Puccini, sou acadêmico do curso de Letras Licenciatura da Univille (Joinville-SC) e professor de Literatura para as séries finais do Ensino Fundamental.
Tenho um outro blog, no qual rabisco algumas coisas e apresento outros textos e frases que me tocam.
Meus escritos por aqui serão umas croniquetas (ou quase isso). Também um artigos de opinião e umas tentativas de ensaios serão possíveis. Nada profissional. Tudo experimentação, como acredito que seja a proposta deste blog.
Segue o primeiro post.
______________________________________________________________
Quando vou a sebus e/ou livrarias, empilho em minhas duas mãos tudo o que considero interessante levar para casa, seja para uma leitura imediata, seja para uma leitura futura. E por lá fico, estante por estante, livro por livro, sumindo por trás de suas formas, cores e palavras, até o momento em que encerro minha visita. É quando relembro tudo o que peguei, folheio cada livro para melhor conhecê-lo, equilibro o pensamento entre a necessidade, o desejo e a exceção (além dos recursos financeiros que me acompanham no momento), e faço uma dolorida triagem, acabando por levar sempre menos da metade do que gostaria. Nas primeiras vezes esse momento era mais difícil. Agora me resigno a ele, ajudando-me para isso a memória, trazendo à mente os livros que ainda me esperam em casa, saudosos de um contato mais próximo com minhas mãos e com meus olhos.
Dor foi o que senti ao organizar meus livros em casa, espalhados que estavam pela prateleira que tenho sobre a cabeça aqui onde escrevo e pela cama que sobra em meu quarto, útil justamente para acomodar meus materiais de pesquisa e de leitura. Mas foi uma dor gostosa de sentir, e aqui o paradoxo é proposital por refletir o que foi sentido.
No dia anterior mexi e remexi em meus cd´s e dvd´s. Todos organizados por aproximação, no que diz respeito aos estilos musicais. E, empolgado pelos momentos ali vividos, encarei uma reorganização dos livros, já ciente de que a entrega emocional seria mais intensa.
Gosto de olhar para meus livros. Gosto de senti-los pelo tato. Gosto de folheá-los e de relembrar o exato momento em que foram lidos ou comprados, sendo que de alguns ainda não conheço seus interiores, seus poros de vida, os espaços entre palavras – e as próprias palavras – que os fazem ser o que são, para as quais construo os significados que me tornam quem sou.
Nessa breve atividade de fim de tarde (ainda não tenho tantas estantes e tantos livros espalhados pela casa) voltei aos meus 14 anos, com a leitura que fiz de “O rádio, o futebol e a vida”, de Flávio Araújo, e de “Zico, 50 anos de futebol”, num mês de julho, na praia de Itaguaçu, durante as férias escolares de meio de ano, durante manhãs e tardes chuvosas e frias, enrolado entre cobertas e travesseiros, numa época em que eu respirava futebol.
Memórias mais recentes também resgatei. Ao passar o pano em “O inventor da solidão”, de Paul Auster, comprado despretensiosamente numa feira do livro de Joinville; ao reler algumas crônicas sensíveis e marcantes de “Por que os homens não voam?”, do sensível e marcante Pablo Morenno; e ao encaixar “Uma história da leitura”, de Alberto Manguel, sempre tão recorrente aos meus textos sobre leitura, num novo lugar na estante, rodeados por novos livros sobre práticas de leitura, e com um espaço ainda disponível aos que no momento leio para o término de minha atual pesquisa, que daqui a pouco rumarão aos seus novos lares em meu quarto.
Costumo dar aos livros, em meus escritos e falas, tratamento de como se tivessem personalidades e vidas próprias, pois acredito muito em que eles tenham, sim, suas vidas próprias, suas personalidades que os caracterizam como livros (sem contar as especificidades de gênero às quais eles dão vida e das quais recebem vida). Mais vivos ainda eles se tornam quando em contato com os olhos, a boca, os ouvidos, o tato, e todos os sentidos do ser humano, que a eles dá novos significados, que a partir deles forma-se enquanto ser humano e cidadão social, que sem eles e seus registros (ficcionais ou não) não existiria.
Nessa breve atividade de fim de tarde ainda fiz uma pilha da qual irei me desfazer. Sem choro, sem lamentações. Livros espíritas, romances água-com-açucar, receitas de auto-ajuda. Já tiveram sua importância. Já encerraram seus ciclos por aqui. Agora seguirão adiante, conhecendo novos donos, novas prateleiras, sentindo novos cheiros, oportunizando novos aprendizados. Assim ocorre conosco, pessoas de carne, osso e cérebro. Assim ocorre com os livros, alimentos da mente humana.
segunda-feira, janeiro 28, 2008
Título
Não há pressa no escrito
Já há muito existido
É uma força que o move
Que o rasga,
Que o contorce
Espera no escrito
Da folha branca
Nas sombras sem vida
Num espaço, num canto
Passa pelo nada
Descreve um ciclo:
Pensa, escreve,apaga,
Rasga, dobra, escreve,
Lê e se gosta
Escreve os versos
Escreve as estrofes
Escreve a poesia
E os guardam na gaveta
Usa de tudo
Da inspiração à expiração
Da imagiação à metalinguagem
E pega outra folha
E pega outro lápis
Título
domingo, janeiro 27, 2008
Saudações opacas
Contato
-Puxa, é uma falta de respeito eu ter que pagar pra sentar! Não é?
[E, nessa pergunta final, dirigia-se a mim com a cabeça, meio sem jeito. Talvez houvesse encontrado uma cumplicidade ou facilidade no meu jeito; às vezes me sinto como um velho padre de paróquia, mas sem infligir temor nos outros.]
-É sim...
[respondi com um meneio leve de cabeça; Não me interessava muito falar com ela. Estava ocupada agora com a contade de pegar meu livro na bolsa e lê-lo sem desviar os olhos até o fim do meu destino. Mas a senhora continuou:]
-É que não saio muito, não costumo pegar ônibus sempre...
-Ah, sim... Olha, quando for assim, a senhora deve pedir pro motrista parar, e é só entrar pela portinha de trás; aqui também tem cadeiras reservadas...
[Tentei parecer delicada, mas me sentia um pouco constrangida.]
-Aahh, brigada, minha filha...
-Nada!
-...Sabe? Você se parece muito com minha neta... Parece sim! Ela é bonita e nova assim também.
[Os olhos dela brilharam.]
- Ah, é? Brigada...
- Sabe? Eu gostava muito de conversar com ela, mas ela agora está em São Paulo, estudando...
[Seu rosto, por um átimo, se abriu num abismo triste, disse 'estudando' como um lamento que fosse também uma censura.]
-Ah, sim...E a senhora mora com quem?
[Ela suspirou.]
-Moro sozinha, minha filha. Desde que meu marido morreu
[parou como se quisesse continuar, esperando uma resposta.]
-mmm, que pena...
[Nunca sei o que dizer nessas horas, e sempre acabo dizendo algo que me parece idiota. Talvez tudo seja idiota perto da morte. Talvez tudo seja idiota.]
- Mas já faz muito tempo...
[Abanou os pensamentos com a mão e sorriu novamente.]
Nessa altura, alguns "pombos" nos fixavam os olhos, isso me deixava um pouco nervosa, me fazendo mexer na bolsa de vez em quando. Talvez nossa conversa fosse uma ameaça, provava que os outros também poderiam sair das carapaças e conversar entre si. Isso devia deixá-los assustados, assim como me deixava nervosa sentir que eu perturbava o estranho equilíbrio de ações e vozes desconjuntadas do ônibus.
- A senhora é bem bonita, viu? nunca pensou em encontrar alguém de novo?
[Risos largos dela.]
-Nãão...Já estou velha pra essas coisas...
[Calou-se, fazendo um não com a cabeça, sorrindo romântica. Vi castelos no ar em seu redor.]
- Verdade! Queria ser como a senhora se tivesse sua idade!
[ Não era bem verdade, sempre imaginei morrer antes dos 40.]
- Brigada, você é uma mocinha muito gentil.
(...)
A conversa seguiu nesses termos afáveis e foi se aprofundando. Fiquei sabendo de sua filha, morava em Minas mas sempre costumava visitá-la, isso quando a casa era ainda cheia, quando o marido era vivo e os dois filhos ainda não haviam partido para outras cidades. Justamente a filha dessa filha era a neta que se parecia comigo. Entendi, então, o peso das palavras trocadas naquele ônibus com aquela senhora, como eram importantes para ela, saída de uma toca em busca de alguém da mesma espécie. Quando percebi a importãncia do momento, me senti um pouco culpada por não sentir nele a mesma importância. Essa culpa me deixou, ou me obrigou a parecer, mais solícita e interessada na conversa. Ela deve ter percebido isso, pois nessa hora me passou o telefone de sua casa, junto um convite para ir visitá-la logo que ligasse. "Você vai ver minhas plantinhas!" Ou talvez tenha percebido meus olhares para a janela, dizendo que logo eu teria que descer, e me deu seu número com receio de retornar ao silêncio; seu telefone como uma luz no fim do lusco-fusco a que se acostumara na casa vazia; fézinha. Peguei o papel e o guardei no bolso interno da bolsa, já lotado de papéis de bala, tíquetes, cupons, outros telefones e até um chiclete mastigado envolto num pedaço de uma prova da faculdade. Estava com pressa, os movéis baratos sinalizavam a proximidade da minha parada, deixando-me naquela agitação superior de quem se sente em casa. Disse enfim àquela senhora que eu tinha que ir, dei-lhe dois beijos nas bochechas, que mal e mal consegui acertar naquele balanceio, puxei a cordinha para dar o sinal e desci naquela esquina tão minha conhecida. Depois fiz coisas simples que sempre faço: passar na locadora, cumprimentar o bêbado do bar, pagar minhas contas atrasadas... E cheguei em casa. Pensava no dia, naquela velhinha doce e só, deseperada e quieta até o desespero levá-la a procurar umas palavras amigas. Quem sabe eu me tornasse uma velhinha igual e, como ela, encontrasse uma pessoa como eu, displicente, que me escutaria por um misto de polidez, vontade e dó? Talvez eu a seja neste momento, desmascarada a juventude, os afazeres com ares importantes, as pessoas em redor, estou tão só quanto ela. Nisso eu pensava enquanto vasculhava a barafunda de papeizinhos à procura do dela. Nada. Seu telefone havia sumido, se extraviado enquanto eu voltava à minha vida de sempre, como se nunca houvesse existido. Senti-me mal. Uma estranha sensação de ter escolhido aquela perda, uma culpa. Mas um alívio também. Uma pontada na cabeça me dizia que se o houvesse encontrado, jamais ligaria.
sexta-feira, janeiro 25, 2008
demais
palavas demais
informação demais
conversa demais
pensamentos demais
conhecimentos demais
técnica demais
rebuscamento demais
o mundo é grande demais
é complicado demais
e humildemente eu peço
menos
quinta-feira, janeiro 24, 2008
Sobre o Encontro do TBW, dia 20/01
Ly^^ [CLW] Acho que vou começar a CLL... HAUAHAUHAUHAUHA!!! diz:
LOL nao dxa d escrever as frases célebres:
Ly^^ [CLW] Acho que vou começar a CLL... HAUAHAUHAUHAUHA!!! diz:
"Lylla, seu pai eh efervescente?"
Ly^^ [CLW] Acho que vou começar a CLL... HAUAHAUHAUHAUHA!!! diz:
"Tá todo mundo vivo aí???" (by random mendigo)
Pedro :: The Passenger, Iggy Pop diz:
XD
Pedro :: The Passenger, Iggy Pop diz:
nessa frase do mendigo, eu acrescento um pensamento meu
Pedro :: The Passenger, Iggy Pop diz:
"Não, você tá morto, filho da puta =D"
Pedro :: The Passenger, Iggy Pop diz:
XDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDD
Ly^^ [CLW] Acho que vou começar a CLL... HAUAHAUHAUHAUHA!!! diz:
ahuahauhahuaauh XDDDDDDDDDDDDDDD vc tinha q copy e paste esse nosso histórico no post HAUAHAUHAUHAAUH!!! XDDD
quarta-feira, janeiro 23, 2008
Queria ter nascido assim eterna criança
Criei-me na tristeza por meu sangue de vileza
Não sei o que é ter certeza de estar triste
Pois sou beleza que não se põe à mesa.
Calo-me, virtudes não me são necessárias
Sem expressão, ser sem mão
Rastejando em ruínas de ruídos
cheiros, gostos, esboços, coisas
texturas atritos, aflitos gritos
lembranças de tortura de crianças
Mas não sei o que é estar lúcido
Mas não sou maluco, beleza?
Sou apenas
Um inocente quase vivo
À frente um cortejo de doentes
Meu funeral é sacramento,
só me esperam no cimento.
Um indigente quase digno
Em um mundo de dureza,
crudeza, pureza, rudeza, beleza?
E talvez um dia você se lembre
Desta extensão de ser humano.
Eu queria ter nascido assim, eterna criança
Ser doce, doce sempre, mesmo lambuzado em fel
Não sou nada perto
Sou tudo longe.
terça-feira, janeiro 22, 2008
Anti-Euclidiano
Embrulhos que me limitam,
Pareço presente no entulho.
Um estômago estridente azedo
De ácidos muriáticos, medo
Da digestão indigesta, do embrulho.
Embrulho, disfarço
No estar do braço,
Me limito a fingir.
hermeticamente, e mais
nenhum advérbio - setinhas
voam em um céu nublado - há de haver!
As setinhas, o barulho e meu estômago
Embrulham meu pensamento,
Que digere o conteúdo aberto
Do mundo diverso.
Escuto o discurso entricheirado
Das vozes aparentemente caladas,
Sumissas ou mal-cheirosas.
A seta vermelha incorpora um bicho
e discute com a amarela, a branca,
e mais outra qualquer: o vento está forte.
É um farol de sinais, uma indicação sem finais,
Objetivos, signos, sentidos.
A setinha sentia, setinha sem tia,
Orfã, de origem vetorial,
De resultante perdida, informal.
Setinha, do vetor velocidade,
Do móvel que vê-lo, a cidade
Veio ser incrementada, por produto escalar normal.
Cidade, a matriz do sistema,
Cidade linear, unidimensional,
Cidade produto de equações e esquema
De uma verdade aritmética,
Mas incerta como eutética
Ou azeotrópica mistura,
Ponto difuso de fusão e fervura...
- E dentro da legalidade
desfez-se a seta-rei -
Seis sinais retangulares:
Esquerda, esquerda, centro, direita, direita, muito direita.
Arquitetura do centro de cultura,
Uma textura desenvolvida em argila,
Uma tontura previamente calculada.
Estávamos apenas andando, molhados,
Despidos de idéias, ocupados
Nas sinalizações dos canos,
Nos encantos jogados.
Postado por:
Pedro Z. de A.
SirVarios
Carlos Onox
Carlos Antonechen
Em 20 de janeiro de 2008, no Centro de Cultura de São Paulo.
Às 19 horas e 30 minutos.
--
Poesia feita em conjunto, com muita reflexão bizarra e risadas sobre quem ler isso, durante o encontro realizado entre integrantes do TBW.
domingo, janeiro 20, 2008
25 de janeiro de 2007
Comemoração do aniversário de São Paulo
Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura
Para comemorar o aniversário da nossa cidade, a Casa das Rosas –
Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura convida a todos para
um dia de apresentações poéticas e musicais com a participação de
algumas das mais importantes vozes poéticas de São Paulo, incluindo a
sua! Venha participar e apresentar o seu poema sobre a nossa Paulicéia
Desvairada!
14:00h – Água: entre o rio e o mar
Recital de Átila Almada, jovem poeta paulistano cujo trabalho se volta
para a reflexão sobre o cotidiano nesta grande metrópole. Nesta edição
do Sampoemas, os poemas apresentados abordam primordialmente a questão
da água, um dos tópicos mais relevantes para o futuro da humanidade.
15:30h ¬– O Último Canto da Cigarra
Lançamento do último número da revista A Cigarra,
publicada por Zhô Bertholini e Jurema Barreto de Souza desde 1982.
Esta edição, de número 42, conta com a colaboração de, entre outros,
Glauco Mattoso, Augusto de Campos, Arnaldo Antunes, Alberto Marsicano,
Cláudio Daniel, Júlio Mendonça, Tom Zé, Jomard Muniz de Britto,
Ronaldo Azeredo, Marcelo Montenegro e Walter Silveira. O recital conta
com a presença confirmada de Hélio Néri, Fabiano Calixto, Beth Brait
Alvim e Tarso de Melo.
17:00h – Perseptom Banda Vocal
São sete vozes apenas, mas que têm a sonoridade de uma banda inteira.
É na voz, com a técnica do beat box e da percussão vocal, que eles
trazem a bateria, o pandeiro e os chocalhos, além de todo o
preenchimento harmônico. Trabalho internacionalmente reconhecido, são
o segundo melhor grupo vocal do mundo na categoria World Álbum (Melhor
CD) e World Song (Melhor canção), segundo a CASA (Contemporary A
Cappella Society of America) dos EUA. Também no Brasil alcançaram o
reconhecimento do seu trabalho diferenciado, estando entre os três
finalistas do Prêmio TIM 2007 na categoria Melhor Grupo de MPB.
Integrantes: Eloíza, Estela Paixão, Cristiano Alberto, Aníbal e Valter
Macário, Diego de Jesus e Du Machado.
18:30h – Especial Roberto Piva
Récita e entrevista pública com Roberto Piva, um dos poetas
paulistanos que, desde a década de 1960, mais e melhor cantou a nossa
cidade. Segundo João Silvério Trevisan, "Piva mora em São Paulo,
cidade que lhe parece apocalíptica, exemplo do que não deve ser feito
contra o meio ambiente, mas que forneceu todo o pano de fundo para sua
obra poética."
A entrevista será conduzida por Roberto Bicelli e Cláudio
Willer, grandes poetas e companheiros de geração de Piva.
20:30h A Meditação sobre o Tietê
O ator Pascoal da Conceição explora sua semelhança física com o
escritor Mário de Andrade (1893-1945) na interpretação do seu último
poema, "A meditação sobre o Tietê", no qual o autor de Macunaíma
colocou o ponto final 13 dias antes de sua morte. A leitura terá o
acompanhamento musical de Luiz Gayotto, Maria Alvim, Paulo Padilha e
Marcelo Ferretti.
21:00h Saraokê Sampoemas
Mais uma edição do já famoso "Saraokê" da Casa das Rosas, em que o
público é convidado a apresentar poemas com o acompanhamento dos
talentosos músicos Luiz Gayotto, Maria Alvim, Paulo Padilha e Marcelo
Ferretti. Nesta edição especial do aniversário de São Paulo,
intitulada Sampoemas, os participantes são convidados a declarar seu
amor pela cidade, seu ódio, seu carinho, sua indignação... Em suma,
sua emoção. Participação especial do Grupo Rascunhos Poéticos e de
todos que queiram transformar tudo o que sentem por São Paulo em poema
e mostrá-lo ao som do improviso dos nossos músicos no Saraokê
Sampoemas!
E mais...
Exposição "Fotografando o Poema", de Selma Fernandes
Coquetel de abertura, 8 de janeiro às 19h
Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura
Casa das Rosas
Av. Paulista, 37
01311-902 São Paulo SP
Fs: 3288-9447 ou 3285-6986
.
Pois é, recebi por e-mail o aviso e gostaria de repassar a vocês. Talvez eu não vá, não sei se vou ao Animedreams mesmo, que horas saio, simplesmente não sei; mas podem marcar algo, irem, talvez até recitar algo de vocês. Gostaria de falar algo meu se fosse...
Qualquer coisa, falem por aqui, no orkut, MSN ou deviantART. Abraços!
sábado, janeiro 19, 2008
É um acontecimento. Um cimento.
sexta-feira, janeiro 18, 2008
Papel sem Sombra
Que pede a voz
Numa linha estreita
Em silêncio vibrante
Espera escutar
Aquela imagem
Que se contorce
Sem seu som
Esconde no silêncio
A sombra da palavra
Que veste de preto
A folha nu
Sem sombra
Sem palavra
quarta-feira, janeiro 16, 2008
1º Encontro dos Escritores do TBW
Horário: 14:00 (quem se atrasar, pode chegar depois, contanto que não atrapalhe ninguém ao chegar)
Local: Centro Cultural São Paulo, próximo à estação Vergueiro de metrô (com saída)
Encontro: Catracas do metrô (depois das 14:00, dentro do próprio CCSP)
Favor, quem quiser contato comigo, pode pedir contato via comentário ou pelo meu e-mail, pedrosolidus@gmail.com.
E quem tiver alguma objeção/sugestão sobre o encontro, continue comentando.
segunda-feira, janeiro 14, 2008
Hora Infértil
Hora Infértil
Sentimentos que conspurcam incendeiam
Alma de pecadores, traidores infiéis
Adicionados a dedo longo em listas
Que ocultam verdades suspensas por uma corda
Contemplem hereges
As pernas balançando loucas
A etérea morte que não afrouxa
Assistida pelo terror roxo
Vemos as mortalhas da infâmia espalhadas
Neste chão afável que consome a embriaguez
Veja você, perecível infrator
Quem não pisa no patíbulo
Gira e vive no olvido.
sexta-feira, janeiro 11, 2008
terça-feira, janeiro 08, 2008
quinta-feira, janeiro 03, 2008
Para começar 2008 - Um encontro do TBW
Temos alguns problemas para reunir o pessoal, três, para ser exato:
- As provas do vestibular da FUVEST que vão até dia 11;
- As provas da UNICAMP que vão até dia 17;
- Alguns dos integrantes que moram no Rio (Carol "Shadow"), Jaraguá do Sul (Guilan) e Mogi das Cruzes (Carol "Mozão").
Com esses três empecilhos, e mais algum, se eu esqueci, proponho que, nos comentários desse post, discutamos uma data, se possível ainda em janeiro, para reunir o maior número de pessoas possíveis dentro desse blog.
Por favor, entrem em consenso e fiquem livres para conversar aqui. Peço só que não briguem.
Grato pela atenção,
Pedro Zambarda de Araújo.
terça-feira, dezembro 25, 2007
domingo, dezembro 23, 2007
sábado, dezembro 22, 2007
O Grito do Confinado
O azul púrpura agora brilha vermelho
Tive palavras para serem ditas
Mas tuas más ações criaram feridas
Eu estaria melhor se o Sono Eterno me acordasse
Porém ainda me queimo neste inferno verbal
Que há de tão mau em falar mal
Brilha negro meu plácido lamento, vulgar.
Não há espaço para o azul quando todos gostam do vermelho
Sem opção eu ando a esmo, um pouco mais para baixo
Vagando nas margens dum rio, solitário de frio
Ávido, sacio minha sede com palavras importantes
Eu estaria melhor se a Morte me consolasse
Mas minha trajetória precisa estar nas alturas
Espalho meus pedaços por aí, após esquartejado
E quero que contemplem tais bravuras
Meu sorriso se assemelha a uma máscara vasta e vazia
Gostaria de arrebentar este riso que me deixa preso
Sobrepujar com mil socos este caráter jocoso
Que me sufoca, nauseabundo, dentro do meu próprio gozo!
Eu estaria melhor se esta foice me ceifasse
E com soberbos modos finalizo a aventura
E deixarei recados para amigos, saudades
A todo resto reservo um cauteloso silêncio.
quinta-feira, dezembro 20, 2007
Anjo de Antenas
Formado por circuitos integrados
Componentes de elétrons namorados
Anjo d'asas feitas de fina prata
Suas antenas são pontos de acesso
De emissão, de alta tecnologia,
Onda eletromagnética envia
O atual expoente do progresso!
Anjo de Antenas, milagre veraz
Capaz de processar o mundo inteiro
Capaz de reunir os mais distantes...
Bom anjo que me traz em um instante
Notícias de lugares derradeiros
Como nenhum outro pode eficaz!
quarta-feira, dezembro 19, 2007
Anjo de Atenas
Desciam os dedos deslizando ágeis, em sua lira
Compleição divina, mestre dos gracejos
Seus inimigos fulminava, caprichos de sua ira
Das tênebras pavorosas emergiu sátiro flautista
Ao ver o Anjo empoleirado na mais impávida pilastra
Satirizou a gabolice sádica do empolado lirista
"Atire-se daí, demônio louro de cabeleira basta!"
Quanto mais o flautista gingava, o Anjo tocava
Maldosas canções angélicas que emanavam graça
"Este sátiro ousado está pedindo reza brava"
O que é isso? Voe para o inferno, esterco de harpia!
terça-feira, dezembro 18, 2007
Teoria ou "ponto de vista"
Jovem é estuprada durante uma passeata pela paz, na Rua Brigadeiro Faria Lima, travessa da Avenida Paulista, no último dia 12. A depravação aterrorizou por ter sido cometida à luz do dia, sem nenhum conflito com a polícia e com diversas testemunhas. O criminoso permanece foragido.
Relato de um estudante do curso de Letras da Universidade de São Paulo:
Eram onze horas. Onze e poucos. Os ônibus vindos da Cidade Universitária estavam todos atrasados, meus olhos estavam bastante irritados, meu físico estava um caco, mas o propósito guiou minha motivação, meus passos.
Marchei algum tempo com as pessoas, em uma caminhada irregular, em algumas esperas. Vi o alvoroço nas ruas, as caras estáticas, as tábuas pálidas e os rostos indecifráveis. Via a moça berrar de dor, gemer por sua vida, enquanto ninguém fazia nada.
Gravação de uma senhora de setenta anos:
A passeata sempre foi um costume aqui em São Paulo, por isso sempre tentei ir quando pude, quando minha saúde permite. Últimamente tem sido perturbador. Andar na cidade é um filme de horrores, não é como meu tempo, ah, aqueles anos (...)...
Vi a pobrezinha pedir por ajuda, vi alguns senhores tentarem abrir passagem para fazer alguma coisa, mas o nojo, o asco de ver aquela situação constrangedora, aquele ato desumano, me fez apertar o passo, com medo que aquela aberração acontecesse também comigo. Temi por minha vida.
Diário de um psicanalista:
Estava colado com a garota que foi estuprada no dia 12 desse mês. Poderia ter feito algo, poderia ter impedido que ela tivesse sido violada pelo homem, mas, de alguma maneira, o criminoso era extremamente sedutor, com uma falta de pudor que paralizou todas as pessoas. A própria garota, embora gemesse por sua integridade moral, gemia por um certo prazer. O nosso próprio terror é um tipo de regozijo que, por mais que neguemos, está presente em nosso corpo.
Aqueles que estavam olhando nos olhos do assassino da ética, sem estar embolado na multidão, eram contagiados por sua malícia e sua precisão. Ele nos chocou, nos atraiu, violentando a moça e saindo sem nenhuma conseqüência para si. Fez isso tudo, isso poucos jornais noticiaram, portando uma faca do tamanho de um canivete. Um pedaço de ferro legitimou o ato sexual dele.
Gravação de um pai de família, por volta dos trinta anos:
O estuprador apareceu, sacou um revólver, deu três tiros para cima e raptou a moça. Meteu nela umas sete vezes, gemendo ameaças em seu ouvido. Pensei em proteger minhas filhas, já que a polícia estava à caminho.
Depoimento de um jornalista presente na rádio local:
Foi uma indignação presenciar aquela cena, onde o estuprador usava uma granada para afastar as pessoas. Violentou a moça, mas foi retirado à pontapés pela multidão. Como a Paulista é enorme, não foi difícil para ele fugir.
Pequeno texto embaixo de um desenho de Jonathas, 8 anos, em seu colégio:
Vi a moça e o moço se mexendo na parede, soltando barulhos esquisitos. Ao redor muita gente gritava, muita gente xingava, meu pai falava, minha mãe chorava. Os que tava mais perto arregalava os olhos, mas pareciam como na missa do padre, meio sérios.
segunda-feira, dezembro 17, 2007
Propaganda descarada sobre textos não tão sérios
Weblog que formei com um colega para falar sobre assuntos inúteis, pensamentos desconexos e várias citações de outros sites.
Uma idéia bonitinha para limpar o restante das merdas.
sábado, dezembro 15, 2007
Ainda estou
(...)
Fechada neste apartamento. Já não sei, porém, quem o escolheu; se eu, outros ou as circunstâncias. Já não sei se a escolha foi como o testemunho de um torturado: feito para que a dor cesse. Aqui a respiração às vezes me parece faltar e, então, quando sinto haver uma caixa apertada nos pulmões e nos olhos uma ardência, vou à janela, única aqui, ver as pessoas e ouvir o que diz o vento. Isso me excita e faz voltar o ar, como se o coração precisasse de saber existir outros para continuar bombeando. E o excitamento não ultrapassa o que poderia comprometer minha decisão de claustro, vem na dose certa, com a alegria calma do que é apenas necessário. Mas uma vez, ao ver um casal se enroscando por ali, na madrugada da rua, senti espasmos intensos de vontade e de medo da vontade. Quase abri a porta, vi-me fazendo-o, até; consegui me segurar fechando a janela, e fiz um bolo. Tenho por cá tudo de que necessito. A minha linha com a fome é o número de telefone do mercado. Geralmente uma voz fanha atende, eu lhe digo meu nome e os das compras. Ela mas manda pela mão que recebe o dinheiro por baixo da porta; deixa tudo ali, para que eu pegue depois; já devidamente instruída, a mão. E a casa fica sempre limpa, com cheiro do desinfetante que eu sempre compro o mesmo. Há o velho. Ele também está na minha janela, e vejo-o da janela de sua casa: passa a maior parte do tempo que está nela balançando-se na cadeira enquanto assiste a televisão; enquanto assisto a ele. Às vezes se masturba, sei apenas pelo braço frenético – não consigo vê-lo de frente quando se senta, nem a tevê denuncia: já fez vendo um programa de auditório . Gostaria de ver-lhe a expressão. Aposto que não sorri ao se masturbar. Durante os primeiros dias me impressionei com ele, senti pena, depois veio isso, misto de sentimento e aquilo que um animal sente ao ver outro da emsma espécie. Lembro-me de quando uma mulher e uma criança vieram visitá-lo. Ficaram muito pouco; a mulher sorria muito, como na propaganda daquela margarina ruim, que uma vez puseram ali na rua. Eu não conseguia ver o anúncio todo, mas a mulher sorridente estava lá, com pães e bolinhos no prato. Ela me fazia sentir mal, como se quisesse culpar com seu sorriso nossa falta de riso, apesar de parecer gostar dos bolinhos docemente; última coisa na vida dela, os bolinhos. Ela durou muito mais tempo ali do que a outra na casa do velho. Depois da visita, ele pegou a cesta de frutas dada pela mulher e pela criança – seus filha e neto, creio – e comeu uma maçã, enquanto na televisão um homem caía de um muro repetidas vezes a mesma queda.
Houve vezes que desconfiei dele me saber aqui, vendo-o, estando, lutando com estas paredes das quais necessito – elas são minha libertação porque me subtraem o vício. Ele ficou como eu tantas vezes estivera: plantado com os olhos tranquilos mas intensos, invaginando por aquele buraco lento de comunicação com o alheio, tomando aos poucos contato tangente com aqueles poros de ações expelidas como pus. Vez em quando meu vício parece retornar, emsmo sem aquele exterior todo que me ensinava eu ser louca. Aqui posso ser louca, mas não saberei disso, porque não verei minha loucura nos olhos dos outros. Aqui minha loucura é lei, sem outros se apropriarem dela como vício. Os olhos do velho, umas vezes, essas vezes, parecem mesmo tocar nos meus, como quando se põe o indicador na retina para senti-la, e fico brilhando e me esquentam as órbitas de choro morno. A partir daí, comecei a escrever, não sei se por descontrole da minha solidão ou se para assinar minhas próprias leis – porque é isso que ocorre agora; não é o seu mundo, nem o do velho ou o da mulher-manteiga, mas o de todos, que eu posso ter inventado e até nos inventado. Talvez nem haja este apartamento, nº 304, nem este próximo ponto final. Todods invenções da mão que me entrega sabonete ovos café em pó biscoitinhos peixe arroz desinfetante o mesmo sempre, viu, dona fanha? Mas não importa muito. Precisamos continuar, chegar a uma palavra final que fique e se vá e retorne, mas com a segurança de ter sido e de término – um Amém.
(Certa vez tive um sonho. Quando acordei, não sabia se deveria continuar. Por que os sonhos não têm fim? Pois isso me angustiou. Fiquei em dúvida se a vida era vida ou se um onírico seguimento. Abri a cortina, era cedo e o gasto homem não estava do outro lado, só foi aparecer depois de meio-dia. Tentei me recordar bem do que sonhara: um bolo grande, suculento, interminável. Era terrível! Ele precisava da cobertura, mas não havia manteiga suficiente. Eu ia escalando aquele gigante, gritando, Manteiga!, Mais manteiga!, dona fanha! Então, acordei, acho. Último sonho do qual me lembro bem em anos. Ou pesadelo. Ou algo não-real apenas porque acordei?)
Quando cheguei por aqui, os primeiros dias foram limpos e obcecados. Passei a amior parte do tempo organizando o lugar. Depois, revivendo alguns momentos, falando com fantasmas daquele mundo do qual só me restaram memórias, ferimentos – o olhar delecom um largo horizonte de nãos pelo rosto, depois os histéricos “Louca! Louca!”, gritados para seres imaginários de grande sanidade, supus. – dores que me puseram aqui. Preciso me salvar. Vou levar o velho comigo. Sei que ele sabe. Entende. Criaremos um mundo sem filhas sorridentes e maridos tiranos. Iremos além dos pesadelos, criando finais e finais sem nunca faltar manteiga e frutas e masturbações e letras, até, sim, o fim poder chegar. Não vamos nos inacabar por faltas. Maridos, filhas, netos, namorados, mãos, fanhas, todos enrolando caminhos, dizendo para não se calarem, movendo-se por leis abstratas tão rígidas! Você quebrou, Elisa, a regra do infinito sem saída! Disse à senhora na festa: habitei os campos elíseos, sou elisão e alívio – porque queria dizê-lo. Disse verdades suas, findas ali, queridas no momento. Quiseram-na engolinda nos bons-dias, nas conversas de moscas, zumbidas todas. Não podia dizer como gosto de sangrar embaixo da água; a fonte de pêlo e carne fazendo uma aquarela nos ladrilhos amarelos, levando de mim o necessário para a linda visão existir por uns instantes. Ninguém pode saber disso. Ninguém pode dizer realmente. A não ser para si mesmo. Por isso eu me digo e sinto e vivo as minhas verdades a mim, aqui é lei e deve ser assim até eu esquecer que houve outra. Então, já não haverá escrúpulos, ordens, exteriores, porque o meu tudo estará em mim, o que me importa será o importante. Mas ainda não é assim; tenho o vício de me conter, de satisfazer os mesmos seres imaginários dele, com termômetros nas mãos a medir sãos e enfermos, martelos de juízes magnânimos onipresentes.
Respirei e me intoxiquei de toda ladainha daquele mundo.
(Acabei de tomar banho. Meu corpo nu permanece nu – ainda a vergonha deles me observando -, espero o dia em que seja só o corpo.)
Aqui é como um internato para fugir aos internos. Os internos estão lá fora. Só aqui poderei me libertar. Só.
Bebo bastante água. Acostumei-me a isso quando a vontade de comer, não a fome, vinha por tédio. Tomava copos e copos; depois, mijava-os. Uma boa sensação: corpo-cano, tubulação; assim sentia concretamente minha existência, sem intervalos, o que fazia mais difícil o próximo passo. A aprendizagem é lenta. Nem aprendizagem; tento esquecer-me como uma julgada, devo me ver sem ser pelos olhos dos outros. Hoje a água é ritual. Sem solenidades, porém. Solene o bastante sou eu viva bebendo o que me atravessará. Isso sim é excitante, mas não deixaria meu vizinho onanista de pau duro. Diferente dele, prefiro o interno ao me excitar. Antes de dormir, sinto o calor do corpo e encolho-me ao máximo pra retê-lo. Volto ao útero enroscando-me no meu próprio. Já o velho tem a tevê. Mas sei que ele não a percebe. Só abraça uma cena para engoli-la e fazê-la sua. Ele precisa da calma de fazer parte de uma cena. Assim como preciso do calor.
(Este papel me transtorna. Não sei bem o que dizer com isso. Ele me faz não perceber minha respiração, me vou abrindo nele como um origami se desfaz: perde a forma e o sentido, no fim, já não tem o mesmo nome; é outro. Sinto que sou, aos poucos, outra. Ou que deixo a outra para trás.)
Desenho na garrafa de água recém tirada da geladeira. Desfaço seu vestido de suores em gotículas que se vão ajuntando, crescendo, comendo-se até não aguentar o peso de serem muitas, e rolarem para baixo, amontoando-se no pequeno mar de gotas desistentes. Eu desisti de desistir. Sou agora como a gota na superfície do recipiente que lá permanece. Não me junto às outras. Irei secar aos poucos, sem perpetuar os sísifos carregadores de outros sísifos, e deixarei onde estive uma leve sombra com a minha forma. Talvez na tinta.
(...)
terça-feira, dezembro 11, 2007
História da Filosofia
Ou o nada passou para algo,
Talvez tudo fosse um grande lago,
Uma água, um reflexo sem traço.
Surgiram coisas,
Sumiu a sabedoria,
Nasceu o homem, na alegria,
Na triteza, na dor
De suas conseqüências.
Pesado em seus atos,
O homem se elevou aos autos
De sua comunicação invisível,
Criou a capacidade de pensar
Achando que Deus havia criado,
Sem sequer duvidar.
Pensou um homem,
Pensou as coisas que homem via,
Pensou os símbolos de cada dia,
Pensou nos símbolos de outrem,
Pensou em seu começo, amém.
Pensou, pensaram muitos,
E não pense você que foi sentado
Ou desocupado, pensaram sob ruído.
Pensaram vários tempos,
Pensaram alguns, ambiciosos,
Pensaram em sobreviver nos adversos,
Uns pensaram em se tornar perversos,
Outros pensaram em unir inversos.
Pensa-se hoje, pensa-se em não saber o que pensar,
Pensamos com muito pesar, pensamos em Deus,
Em Zeus, seguramos no raio e nos perdemos no mar.
Pensamos como templários, esquecemos do banho,
Juramos lealdade, nos rebaixamos à condição de rebanho.
Pensamos como nilistas, militaristas e até analistas,
Penso eu como artista, tento pensar.
Penso história, penso comunicador, penso em contas,
Penso dados desconexos e crio pontas, perco a conta.
Pensaram todos os homens uma filosofia,
Quando a filosofia era o veneno de sua história,
A realidade da sua trajetória.
A casa desarrumada e o cobertor
It's less dangerous
Here we are now
Entertain us
I feel stupid
and contagious
Here we are now
Entertain us
A mulatto
An albino
A mosquito
My libido"
quinta-feira, dezembro 06, 2007
Sobre Ignorantes - Conversa de MSN
Será que quanto mais você fala menos as pessoas te ouvem?
Pedro :: Videotape, Thom Yorke diz:
eu tenho certeza que é assim.
Pedro :: Videotape, Thom Yorke diz:
eu tenho a impressão que vou morrer e ninguém vai me entender.
Will "Foi-se." diz:
É incrível.
Pedro :: Videotape, Thom Yorke diz:
mas, essa impressão minha é a prova de que não entendo os outros.
Will "Foi-se." diz:
Faz 10 minutos que eu mando um link para um amigo meu e ele não se ligou que o que ele queria estava lá.
Pedro :: Videotape, Thom Yorke diz:
já deve ter acontecido entre eu e você, não?
Will "Foi-se." diz:
Não assim.
Will "Foi-se." diz:
Mas hoje foi o the best.
Will "Foi-se." diz:
Quanto mais eu falo, menos me entendem.
Will "Foi-se." diz:
Acho que eu devo parar de falar.
Pedro :: Videotape, Thom Yorke diz:
sim, pare. Mas não fique com a ilusão que a situação vai mudar por conta disso
Pedro :: Videotape, Thom Yorke diz:
e, não sei por quê, fiquei com vontade de postar essa conversa no TBW.
Will "Foi-se." diz:
Sinta-se livre.
Will "Foi-se." diz:
Arte é apenas a livre expressão.
Will "Foi-se." diz:
Nada além disso.
Pedro :: Videotape, Thom Yorke diz:
Não é que essa conversa seja arte, mas, dentro desse problema pessoal, está o problema da arte e das demais coisas, creio.
Pedro :: Videotape, Thom Yorke diz:
por mais que eu admita que eu vá morrer, que tudo é delicado e frágil, eu não consigo assumir isso.
Pedro :: Videotape, Thom Yorke diz:
Nem você. Mensagens nossas não são entendidas e, mesmo assim, nos indignamos, continuamos tentando nos afirmar.
Will "Foi-se." diz:
Como assim: "delicado e frágil"?
Will "Foi-se." diz:
E qual o problema com morrer?
Pedro :: Videotape, Thom Yorke diz:
se as coisas não fossem delicadas, não causariam emoções
Pedro :: Videotape, Thom Yorke diz:
morrer é deixar de entender, de certa forma.
Will "Foi-se." diz:
Ih, esqueceram de me enterrar. xD
Pedro :: Videotape, Thom Yorke diz:
hahahahaha XD
Pedro :: Videotape, Thom Yorke diz:
somos dois XD
A verdade é que essa conversa ocorre uma, duas, três, cem, duzentas, vezes que eu esqueço de contar. Sempre é mentira quando dizem que isso tem solução. Solucionar isso seria resolver talvez um dos maiores males da humanidade, descrito com exatidão no título.
E cá pego uma citação de Carlos Heitor Cony, no 1º Salão do Jornalista Escritor, mês passado: "Pessoas felizes não são escritores. O homem que está na felicidade completa não vê necessidade em escrever".
Sem mais. E sem fazer drama à toa.
Fila
A mulher entrou no carro outra vez, bateu com a mão na testa como quem acaba de lembrar qualquer coisa e saiu, de novo.
Andou depressa de volta à loja, aquela loja enorme. Entrou de cabeça baixa, como quem se esconde; desnecessário: certamente ninguém a observaria.
Espremeu-se por entre o povo, o estabelecimento lotado dos que deixaram o presente para a véspera. Andou um pouco por entre as prateleiras, ansiosa. Pegou qualquer coisinha pequena, só para disfarçar. Dirigiu-se apressada em direção aos caixas e meteu-se na maior das filas. Apreciou por um momento a distância a ser percorrida, deleitou-se com a espera enfadonha que teria, era certo.
A excitação era absurda, tamanha a lentidão com que se deslocava, tamanha a zanga dos que estavam atrás. Passados quinze minutos, meia-hora, ainda era enorme.
Tentava conter-se, permitiu-se apenas alguns sorrisinhos disfarçados. A intervalos regulares, moldava uma carranca e resmungava a lentidão, amaldiçoava o gerente, só para se misturar ao coro da multidão.
Passada uma hora, talvez, o calor já insuportável pareceu piorar. Alguém ali atrás disse que o aparelho de ar condicionado parara. Rugiram palavrões gerais. O suor fedia, a umidade somava-se à pressão dos corpos. Era demais; a mulher precisou dar uns pulinhos de satisfação, que não arranjou desculpa para camuflar; indiferentes, ninguém reparou.
O aroma denunciou um pum. Os mais próximos amarraram a cara, pediram uma gota de respeito. A mulher entrou em êxtase; esta, sem dúvida, estava sendo a melhor espera do dia.
À medida que se aproximava mais e mais do caixa, a agitação se moldava em ansiedade. Ela procurava ocultar seus tremores, rangeu um tanto os dentes. A mulher do caixa a chamou, ela fingiu uma surdez muito mal. Chamou outra vez, mais alto. As pessoas atrás já a empurravam, não era mais possível postergar. Deixou que passasse o produto na máquina, pagou no cartão e saiu, a cabeça baixa.
Abriu a porta do carro e entrou, jogou o produto de qualquer jeito no banco de trás, junto aos outros treze. Agarrou o volante com as duas mãos e tamborilou, tentando se convencer de uma calma que não tinha. Mirou a loja, fechou os olhos com força. “Só mais uma vez, só mais uma”, pensou. Olhou para os lados, bateu com a mão na testa como quem acaba de lembrar qualquer coisa e saiu, de novo.
quarta-feira, dezembro 05, 2007
Palavras da Condenação (Glória a vós Senhor)
uma palavra é tragédia.
O carrasco é a língua
pedaço de carne nojento.
As vibrações agourentas
sons mais letais que cicuta.
Músculo da perfídia
dono de um belo filho da puta.
Está na escuta
sentencia a pena deste dia.
A arma mais arguta
não há necessidade de mais esguia.
Líquido
Devo ter engolido um pouco deste ungüento.
É,
Derramei um xarope que derretia mãos
Esburacando o chão com gotas gordas, disformes
Parecia uma super-diarréia, vazando por falsos buracos
Era produto tóxico de uma mente ofegante, fumegante
Os pés mesclavam-se àquele solo lunar, cheio de crateras
Convoco esfregão augusto para limpar a textura desta meleca
Aproveite e venha saborear estes restos de moela, crua
Eu prometi matar, no entanto
Você precisa beber este líquido, amaro conteúdo
Perfunctório xorume escorregando por esta torneira
Líquido hediondo originário do mais sublime morgue
Concretize nosso pacto infecto, mãos de acetato
Sorva meu destilado lixívio
É,
um alívio.
a mentira
nada do que te dizem é verdade. nada do que você vê é verdade. nada do que você sente é de verdade. nada é mais verdade do que uma mentira.
(inspirado num textículo que fiz no fotolog e em um texto do Ladislau, que não por acaso se chama "a verdade". Obrigado pelo incentivo bem simples)
Confissão
É uma reticência que sussurra na minha circulação, trava minhas ações.
Ele abusa da tinta, serra caules de selvas, macha minhas olheiras,
Definha meu rosto, embora cause um sorriso repentino, quase doentio.
É, não adianta. Eu não descanso nunca mais.
Ele me atirou numa sopa de letrinhas, me sepultou numa imprensa,
Me crucificou num texto, é vago como maresia
E se chama poesia.
terça-feira, dezembro 04, 2007
Meu Mundo Vaidoso
Sou antipático, mais um lunático
Ser maléfico, clorídrico, acético
Tive abraços para dar, mas não os dei - vendi
Chorei; perdi
Por favor, onde guardo meu pudor?
Ressentido de pavor,
Eu, cínico, vergonha venceu o amor
Mas, deixo meu coração executar
Um passo magnífico, jocoso atípico
Todo enfático, lírico
Neste mundo tão frio, eu divido meu pão
Um pedaço de chão, um estender de mão
Salutar é tão, o precioso cifrão.
http://guilan.deviantart.com/art/Meu-mundo-Vaidoso-71311496
domingo, dezembro 02, 2007
Vida ácida
Em álbuns amarelados, em pedaços
Entregues aos vermes que marcham
Contra a vontade de sobreviver,
Passo a mão no toco do charuto
Cubano que asfixia o escritório.
Pela lente ocular externa,
Vejo meus próprios atos,
Pela minha mente em caminhada
Lenta, vejo meu significado,
Meu exercício filosófico, minha vigilância
Constante, a tentativa em vão de colocar
Sementes na estufa.
Uma estufa de maconha, as idéias estocadas,
Arquivadas, a lua que não mais consola,
Os sóis sem nenhuma escola,
Não acordo mais para aprender.
Digressão, ondulação das estatísticas,
E a vida vive a ser observada,
O calor queima suas folhas, suas amostras,
Estamos nos consumindo sem
Nem nos entorpecer.
Ondulação, ascensão, locutores expressam
Seus roteiros, acho que agora entendo,
Estou deslocado do meu corpo,
Estou retorcendo minha alma, minha ama
Escrava, estou embaçando meu vidro.
A plantação derrete sobre o ácido de minhas indefinições.
Vivo de escrever, vivo de criar textos e guias para perdidos,
Sendo que os mais desorientados são meus olhos escritos à caneta.
terça-feira, novembro 27, 2007
Voz
Atraiu as atenções insones,
Os olhos insossos de uma geração
Sem nenhum rosto, sem nenhuma
Frase de efeito, só robôs sem nome.
Cantou uma canção que não era nem
Apocalíptica, nem angelical ou ideal
Para festas daquele tipo, era um réquiem
Ateu para seu próprio espírito,
Era um suspiro, um soluço
Dos traumas que o circunscreveram
Por toda sua vida.
Um homem pegou um microfone,
Tinha a voz metálica de um distúrbio
Avançado, de um martírio acuado.
Sua voz de máquina estava recitando
Poesia aberta, tal como o sangue
Respingando em sua saliva,
O excitante sofrimento interno.
Não se ouviu guitarra
E nem piano, naquela noite,
Só uma voz rasgada
De quem perdeu sua própria
Morte.
O muro
Surgiu sem alvoroço
sem ser requisitado
sem sequer avisar.
Foi construído à noite,
soturno, sem testemunhas.
No dia seguinte
ninguém notou.
Para todos
o muro sempre esteve lá.
II
“Não pule o muro” diz a placa.
“O muro é para sua segurança” diz a lei.
O muro é só mais uma barreira,
nos diz o espírito.
Separando, dicotomizando,
privatizando o que devia
ser de nós todos.
III
Separa-se o corpo,
talvez até a mente,
mas a alma, a alma é superior.
O que é um muro
frente aos leões do dia,
aos venenos da noite?
O que é um muro
para alguém com
asfalto debaixo das unhas,
fuligem correndo nas veias?
Para quem aprendeu
a contar com os centavos
e a ler com os cartazes?
O muro é só argamassa,
a alma é algo mais.
segunda-feira, novembro 26, 2007
Ritmas do Artista
Um tanto escrachado ajeitei minha postura
Para debilmente aspirar aos poetas de cima
Magnetizei o monitor com tão pungente candura.
Minha rima pode ser áspera
Contudo carrega consigo a riqueza
Com tamanha beleza que acode na véspera
Da ocasião que sempre mantive a poesia acesa.
Meu ritmo também pode ser de pobre
Sendo escuro e bruto, puro chumbo
Aos meus olhos porém, será como cobre
Material travesso que ilumina o mundo.
Minha poesia é tal qual Grande Águia
Austero símbolo de liberdade
Para mim, madame,
A métrica não é toda verdade.
Contato amoroso ou O surto
Francine, diga para minha namorada que, mesmo ocupado com toda essa papelada, com a minha mente insaciável, com minhas mãos trêmulas e distantes, que meu espírito está sempre com ela. Estamos juntos não por causa das metades das laranjas, mas por conta dos grãos de nossos seres, das migalhas que nos deixam malucos. Não desligue, Francine. Não, eu ainda não acabei. Diga a ela, desculpe ser chato, que eu não penso nela todas às vezes, mas toda a vez que eu movo minhas inspirações, até quando estou na companhia de outras mulheres, sinto a voz dela na minha, integralmente. Não somos um, somos mais do que isso. Somos compartilhados, somos simbiontes, somos o microcosmo de um macrocosmo que todo mundo esquece, que todo mundo apazigua. Nunca fui defensor de monogamia, mas com ela vale a pena. Valeria a pena ser celibatário só pelo sorriso dela, mesmo cuidando de mim, mesmo pensando no meu próprio ego. Valeria viver cinco mil vidas porque vi uma que é especial. Descobriria outras especiais com ela, pode falar isso. Eu não morreria por ela, mas ela encanta minha vida. Com o amor dela, vejo até simpatia nas suas palavras, Francine. Mesmo que você se emburre com meus devaneios, quero que saiba que te amo também. Fale para ela que, além de amá-la, eu tenho vontade de me alojar nos atos dela, de transmitir a herança que filho nenhum pode me dar. Não há satisfação melhor que essa.
Durma bem, Fran. Obrigado por me ouvir. Vou voltar para o escritório, beijos.
Cansa-Aço
Todos, como humanos de ferro que somos
Liga de ferro e carbono que forma nossos gélidos corações
O anseio elétrico que compõe a nossa alma
Os versos bárbaros prosaicos que tecem apenas uma confissão
E o nada escrito mostrando mais do que um verso sem razão
Mesmo compostos de ferro, nos cansamos
Nos cansamos de acordar
Nos cansamos de dormir
Nos cansamos de respirar
De ir, de vir, de chegar, de esperar...
Nos cansamos até de nos cansarmos!
A eterna máquina humana que nem em sonho descansa
Mas nos sonhos mais se cansa do que fica resguardada
Como os longos versos de textos futuristas
Tão cultistas do metal que esqueceram
Do aço que corre por suas veias
Afinal, as hemácias não contêm o ferro e o carbono?
Nos cansamos! Nossa energia potencial transforma-se em calor
Mas não o calor humano que aquece nossos corações com sangue borbulhante
Mas o calor dissipado que torna exotérmica a nossa alma!
O champagne estoura mostrando o progresso!
O mundo veloz, atroz que persegue! Com seu aço, sua doutrinação e sua tecnologia...
Até onde?
Uma poesia para uma prostituta
Das linhas diversas que percorrem o meu consciente
Produzindo impulsos líquidos, elétricos, fluídos em
Circuito, do sistema de contatos, do observador de
Mundos, do mudo processo de relato, contrato.
Um pedaço pautado, escrito e rabiscado
Relata meus sentimentos pessoais para você,
Intercalando racionalidade e abstração, estou absorto
Para lhe contar minhas leituras, a partitura
Que talvez te irrite, como todas as outras.
Você não é culpada por vender seu corpo,
Nem por aproveitar os divertimentos, celebrar
O descontentamento de meus companheiros,
A ausência de suas esposas,
Na verdade, acho que não é isso que você
Faz, acho que o que te retrai é a sua falta de
Profundidade, alguém que ame a promiscuidade
Seria mais feliz.
Você não é culpada por vender seu corpo
Em um mercado de moldes, em uma caixa
De brinquedo, um envelope de correio.
Você não é bastarda por abrigar parceiros
Sexuais por muito tempo, mas solta gemidos e choro
No relento do seu pequeno enterro.
O mercado, a venda de suas peças,
Não me comove e nem me escandaliza,
Eu não sou mais jogador moralista.
Não sou teu inimigo, talvez
Seja seu amigo, embora seja minha vez
De te colocar de castigo, punir seus paradoxos
Porque eles não são naturais, são ortodoxos.
Prostitutas, mulheres ou homens,
Não esperam o cliente na porta do cabaré,
Prostitutas não balançam bolsas, não são
Tão trouxas, nem chegam perto da Roxane
De Sting, a moça que suja, sem dar vexame.
Prostitutas habitam corações comuns
Que elevam o exibicionismo em níveis absurdos
E calam seus raciocínios mais astutos.
Se fecham em corpos, se viciam em alienações,
Devoram o cigarro da auto-corrução.
A prostituta desabrocha no seu coração, minha amiga,
Amarga suas relações, apodrece suas convicções, está sempre aliada
Nas mais contraditórias das paixões, o ódio que te torna inócua,
Evacua suas reservas, são resíduos das suas táticas perversas.
O verso tece os contornos de seu corpo
E ele não está se exibindo num desnudo encontro,
Está acuado em um quarto escuro, chorando todas as
Coisas que tua cabeça torta não confia.
quinta-feira, novembro 22, 2007
infofadiga e eletrosaturação
estou cansado
cansei dessa onda de informação
cansei do conhecimento ao alcance dos meus dedos
cansei de ver muito e notar pouco
cansei da distância entre as pessoas
cansei de palavras sem voz frases sem emoção e emoções sem expressão
cansei de informações sem sentimentos
agradecimentos por nada
sarcasmos invisiveis
questões sem resposta
e respostas sobre nada
quero mais vozes sem palavras
emoções sem frases
sentimentos sem informação
contato humano
silêncios confortáveis
calor
amor
pavor
e odor(seja qual for)
quinta-feira, novembro 08, 2007
Viuvez
Quando eu morrer
Ninguém vai ganhar dinheiro vendendo caixão
Ou pedaço de terra em cemitério.
Também não comprem velas
Ou gastem lágrimas
Pois nada me traz de volta.
Que doem meus pertences
Tudo aquilo que consegui trabalhando
Ou o que ganhei em meus aniversários.
Mas rasguem as fotos e queimem as roupas
Destruam os vídeos
Apaguem os registros
Que não sobre cheiro, nem gosto
Nem imagem, nem som
Do que um dia eu fui
Porque quando eu morrer
Eu quero ir decerto
Nada mas me ligará a este mundo.
Que não chorem os pais que se foram
Os amigos também já mortos
A mulher que não tive
E o filho que eu nunca criei
Quero apenas estar vagando junto ao vento
E cada pedaço voará para um canto
Tocará uma casa, uma árvore, uma pessoa
E eu estarei em todo lugar
Serei parte do mundo que me abrigou
E do qual eu fugi
Para sempre
domingo, novembro 04, 2007
Ir e voltar - A ressaca
Capitu me fazia dar voltas em círculos,
O velho falou tanto, lembrou o quanto
Nossas ações são vagas, cúmulos.
As voltas dos olhos negros,
Das ondas lentas, do mar sem medo,
São como contrações do sexo, sem nexo.
O gozo derruba minha parceira,
Com ela sinto afeição, dou uma piscadela
Certeira, estou satisfeito. Alimentado?
Beijo-lhe os lábios e meus sentimentos vão, como lacaios,
Para a taverna dos meus falsos rostos, faço cara de quem
Fez amor e estava mais interessado em cem prazeres.
Ela acua, pensa que não me machuca
Com seu olhar amedrontado, acha que foi usada,
Colocada em venda, sem remenda.
Chora, meu amor agora chora, hora
Da minha mudança de atitude,
Falsos moralismos onde a culpa
Não foi minha, nem tinha como.
E acabamos de novo na cama, nas ondas
Que não sei dizer se é do mar ou rio, obras
Do engenhoso ou do manhoso
Dia que me aguarda, trabalho.
Acabamos mortos na cama, com a minha cara solúvel,
Molhada, substituída.
E ela volta a tremer de medo. É o indiferente.
Inconsistente é a ressaca,
Que sem sistema, caça
As feridas e as mordaças.
sábado, novembro 03, 2007
Piano, solidão e felicidade
De natureza ampla, num ponto efêmero.
As teclas desciam e subiam num ritmo apetitoso,
Notas subiam até a imagem do cérebro, vagarosas,
Era um menino com menos de dez, tocando
No âmago dos cinqüenta anos.
Essas teclas só subiram agora, ele passou as mãos no rosto esguio,
Em seus olhos verdes cor de água, em seu pensamento muito valente,
Potente em sua criatividade, delicado como sua intimidade, sua timidez
Exposta, procurava nem sair de casa, nem sair de sua própria cabeça.
Passou outras vezes a mão pelo seu companheiro enorme e negro,
Cujas cordas silenciosas povoavam seus sonhos, seu desejo
De se ver tocando num palco, sem medos ou desesperos.
No entanto, nunca passou do estado de tocar a si mesmo,
Tocar uma música para si e sentir, no bruto, as sensações etílicas,
Tocou a si e se tornou diferente de todos, num esforço a esmo.
Sentia-se sozinho,
Sentia-se abandonado até quando tocava o piano,
Sentia-se sozinho e abandonado com seu piano.
Teclas descendo, mas era feliz, era assim, como uma atriz
Que recita um canto melancólico, mas que se enriquece
Com o doente, com a arte entre a gente, sensível quis
Que o mundo inteiro chorasse como ele faz, todo dia.
Lágrimas e teclas,
Dos humanos, talvez um dos mais vividos deles,
Nunca teve uma garota, um orgasmo real, um reles prazer
Corporal,
Teve sua música, suas lições e emoções, encontrou
Seu próprio fazer analítico, metódico e poético.
Lágrimas e teclas,
Não sinta dó de quem chora,
Nem de quem parece eternamente só,
Que cora poucas vezes.
Lágrimas e teclas,
Não procure sentir tudo o que o pianista
Expressa, procura na tua alma
A tua melancolia secreta.
Lobos
Canis lupus.
Animal. Mamífero, carnívoro
voraz. Vive em bandos. Macho
alfa domina alcatéia
(alcatéia!) uivando
muito! muito! muito!
Os mais fortes na Avant-garde.
Prole boa:
Macho forte Fêmea forte.
Bicho bravo.
(e caras-de-pau dizem que Homem é o bicho mais esperto)
25/08/2007
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Originalmente postado no deviantArt, aqui.
Comentários apreciados.
quinta-feira, novembro 01, 2007
a verdade
sou honesto, franco, e não faço eufemismos, porque eu vim para esse mundo para mostrar como, por mais que seja cruel e afiada, a verdade é maravilhosa por si só e como ela é, nua, crua, fria e pulsante.
(não sei se este é um texto que sirva pro blog, visto que ele é apenas uma frase, mas quando vi, já estava postando)