terça-feira, dezembro 25, 2007
domingo, dezembro 23, 2007
sábado, dezembro 22, 2007
O Grito do Confinado
O azul púrpura agora brilha vermelho
Tive palavras para serem ditas
Mas tuas más ações criaram feridas
Eu estaria melhor se o Sono Eterno me acordasse
Porém ainda me queimo neste inferno verbal
Que há de tão mau em falar mal
Brilha negro meu plácido lamento, vulgar.
Não há espaço para o azul quando todos gostam do vermelho
Sem opção eu ando a esmo, um pouco mais para baixo
Vagando nas margens dum rio, solitário de frio
Ávido, sacio minha sede com palavras importantes
Eu estaria melhor se a Morte me consolasse
Mas minha trajetória precisa estar nas alturas
Espalho meus pedaços por aí, após esquartejado
E quero que contemplem tais bravuras
Meu sorriso se assemelha a uma máscara vasta e vazia
Gostaria de arrebentar este riso que me deixa preso
Sobrepujar com mil socos este caráter jocoso
Que me sufoca, nauseabundo, dentro do meu próprio gozo!
Eu estaria melhor se esta foice me ceifasse
E com soberbos modos finalizo a aventura
E deixarei recados para amigos, saudades
A todo resto reservo um cauteloso silêncio.
quinta-feira, dezembro 20, 2007
Anjo de Antenas
Formado por circuitos integrados
Componentes de elétrons namorados
Anjo d'asas feitas de fina prata
Suas antenas são pontos de acesso
De emissão, de alta tecnologia,
Onda eletromagnética envia
O atual expoente do progresso!
Anjo de Antenas, milagre veraz
Capaz de processar o mundo inteiro
Capaz de reunir os mais distantes...
Bom anjo que me traz em um instante
Notícias de lugares derradeiros
Como nenhum outro pode eficaz!
quarta-feira, dezembro 19, 2007
Anjo de Atenas
Desciam os dedos deslizando ágeis, em sua lira
Compleição divina, mestre dos gracejos
Seus inimigos fulminava, caprichos de sua ira
Das tênebras pavorosas emergiu sátiro flautista
Ao ver o Anjo empoleirado na mais impávida pilastra
Satirizou a gabolice sádica do empolado lirista
"Atire-se daí, demônio louro de cabeleira basta!"
Quanto mais o flautista gingava, o Anjo tocava
Maldosas canções angélicas que emanavam graça
"Este sátiro ousado está pedindo reza brava"
O que é isso? Voe para o inferno, esterco de harpia!
terça-feira, dezembro 18, 2007
Teoria ou "ponto de vista"
Jovem é estuprada durante uma passeata pela paz, na Rua Brigadeiro Faria Lima, travessa da Avenida Paulista, no último dia 12. A depravação aterrorizou por ter sido cometida à luz do dia, sem nenhum conflito com a polícia e com diversas testemunhas. O criminoso permanece foragido.
Relato de um estudante do curso de Letras da Universidade de São Paulo:
Eram onze horas. Onze e poucos. Os ônibus vindos da Cidade Universitária estavam todos atrasados, meus olhos estavam bastante irritados, meu físico estava um caco, mas o propósito guiou minha motivação, meus passos.
Marchei algum tempo com as pessoas, em uma caminhada irregular, em algumas esperas. Vi o alvoroço nas ruas, as caras estáticas, as tábuas pálidas e os rostos indecifráveis. Via a moça berrar de dor, gemer por sua vida, enquanto ninguém fazia nada.
Gravação de uma senhora de setenta anos:
A passeata sempre foi um costume aqui em São Paulo, por isso sempre tentei ir quando pude, quando minha saúde permite. Últimamente tem sido perturbador. Andar na cidade é um filme de horrores, não é como meu tempo, ah, aqueles anos (...)...
Vi a pobrezinha pedir por ajuda, vi alguns senhores tentarem abrir passagem para fazer alguma coisa, mas o nojo, o asco de ver aquela situação constrangedora, aquele ato desumano, me fez apertar o passo, com medo que aquela aberração acontecesse também comigo. Temi por minha vida.
Diário de um psicanalista:
Estava colado com a garota que foi estuprada no dia 12 desse mês. Poderia ter feito algo, poderia ter impedido que ela tivesse sido violada pelo homem, mas, de alguma maneira, o criminoso era extremamente sedutor, com uma falta de pudor que paralizou todas as pessoas. A própria garota, embora gemesse por sua integridade moral, gemia por um certo prazer. O nosso próprio terror é um tipo de regozijo que, por mais que neguemos, está presente em nosso corpo.
Aqueles que estavam olhando nos olhos do assassino da ética, sem estar embolado na multidão, eram contagiados por sua malícia e sua precisão. Ele nos chocou, nos atraiu, violentando a moça e saindo sem nenhuma conseqüência para si. Fez isso tudo, isso poucos jornais noticiaram, portando uma faca do tamanho de um canivete. Um pedaço de ferro legitimou o ato sexual dele.
Gravação de um pai de família, por volta dos trinta anos:
O estuprador apareceu, sacou um revólver, deu três tiros para cima e raptou a moça. Meteu nela umas sete vezes, gemendo ameaças em seu ouvido. Pensei em proteger minhas filhas, já que a polícia estava à caminho.
Depoimento de um jornalista presente na rádio local:
Foi uma indignação presenciar aquela cena, onde o estuprador usava uma granada para afastar as pessoas. Violentou a moça, mas foi retirado à pontapés pela multidão. Como a Paulista é enorme, não foi difícil para ele fugir.
Pequeno texto embaixo de um desenho de Jonathas, 8 anos, em seu colégio:
Vi a moça e o moço se mexendo na parede, soltando barulhos esquisitos. Ao redor muita gente gritava, muita gente xingava, meu pai falava, minha mãe chorava. Os que tava mais perto arregalava os olhos, mas pareciam como na missa do padre, meio sérios.
segunda-feira, dezembro 17, 2007
Propaganda descarada sobre textos não tão sérios
Weblog que formei com um colega para falar sobre assuntos inúteis, pensamentos desconexos e várias citações de outros sites.
Uma idéia bonitinha para limpar o restante das merdas.
sábado, dezembro 15, 2007
Ainda estou
(...)
Fechada neste apartamento. Já não sei, porém, quem o escolheu; se eu, outros ou as circunstâncias. Já não sei se a escolha foi como o testemunho de um torturado: feito para que a dor cesse. Aqui a respiração às vezes me parece faltar e, então, quando sinto haver uma caixa apertada nos pulmões e nos olhos uma ardência, vou à janela, única aqui, ver as pessoas e ouvir o que diz o vento. Isso me excita e faz voltar o ar, como se o coração precisasse de saber existir outros para continuar bombeando. E o excitamento não ultrapassa o que poderia comprometer minha decisão de claustro, vem na dose certa, com a alegria calma do que é apenas necessário. Mas uma vez, ao ver um casal se enroscando por ali, na madrugada da rua, senti espasmos intensos de vontade e de medo da vontade. Quase abri a porta, vi-me fazendo-o, até; consegui me segurar fechando a janela, e fiz um bolo. Tenho por cá tudo de que necessito. A minha linha com a fome é o número de telefone do mercado. Geralmente uma voz fanha atende, eu lhe digo meu nome e os das compras. Ela mas manda pela mão que recebe o dinheiro por baixo da porta; deixa tudo ali, para que eu pegue depois; já devidamente instruída, a mão. E a casa fica sempre limpa, com cheiro do desinfetante que eu sempre compro o mesmo. Há o velho. Ele também está na minha janela, e vejo-o da janela de sua casa: passa a maior parte do tempo que está nela balançando-se na cadeira enquanto assiste a televisão; enquanto assisto a ele. Às vezes se masturba, sei apenas pelo braço frenético – não consigo vê-lo de frente quando se senta, nem a tevê denuncia: já fez vendo um programa de auditório . Gostaria de ver-lhe a expressão. Aposto que não sorri ao se masturbar. Durante os primeiros dias me impressionei com ele, senti pena, depois veio isso, misto de sentimento e aquilo que um animal sente ao ver outro da emsma espécie. Lembro-me de quando uma mulher e uma criança vieram visitá-lo. Ficaram muito pouco; a mulher sorria muito, como na propaganda daquela margarina ruim, que uma vez puseram ali na rua. Eu não conseguia ver o anúncio todo, mas a mulher sorridente estava lá, com pães e bolinhos no prato. Ela me fazia sentir mal, como se quisesse culpar com seu sorriso nossa falta de riso, apesar de parecer gostar dos bolinhos docemente; última coisa na vida dela, os bolinhos. Ela durou muito mais tempo ali do que a outra na casa do velho. Depois da visita, ele pegou a cesta de frutas dada pela mulher e pela criança – seus filha e neto, creio – e comeu uma maçã, enquanto na televisão um homem caía de um muro repetidas vezes a mesma queda.
Houve vezes que desconfiei dele me saber aqui, vendo-o, estando, lutando com estas paredes das quais necessito – elas são minha libertação porque me subtraem o vício. Ele ficou como eu tantas vezes estivera: plantado com os olhos tranquilos mas intensos, invaginando por aquele buraco lento de comunicação com o alheio, tomando aos poucos contato tangente com aqueles poros de ações expelidas como pus. Vez em quando meu vício parece retornar, emsmo sem aquele exterior todo que me ensinava eu ser louca. Aqui posso ser louca, mas não saberei disso, porque não verei minha loucura nos olhos dos outros. Aqui minha loucura é lei, sem outros se apropriarem dela como vício. Os olhos do velho, umas vezes, essas vezes, parecem mesmo tocar nos meus, como quando se põe o indicador na retina para senti-la, e fico brilhando e me esquentam as órbitas de choro morno. A partir daí, comecei a escrever, não sei se por descontrole da minha solidão ou se para assinar minhas próprias leis – porque é isso que ocorre agora; não é o seu mundo, nem o do velho ou o da mulher-manteiga, mas o de todos, que eu posso ter inventado e até nos inventado. Talvez nem haja este apartamento, nº 304, nem este próximo ponto final. Todods invenções da mão que me entrega sabonete ovos café em pó biscoitinhos peixe arroz desinfetante o mesmo sempre, viu, dona fanha? Mas não importa muito. Precisamos continuar, chegar a uma palavra final que fique e se vá e retorne, mas com a segurança de ter sido e de término – um Amém.
(Certa vez tive um sonho. Quando acordei, não sabia se deveria continuar. Por que os sonhos não têm fim? Pois isso me angustiou. Fiquei em dúvida se a vida era vida ou se um onírico seguimento. Abri a cortina, era cedo e o gasto homem não estava do outro lado, só foi aparecer depois de meio-dia. Tentei me recordar bem do que sonhara: um bolo grande, suculento, interminável. Era terrível! Ele precisava da cobertura, mas não havia manteiga suficiente. Eu ia escalando aquele gigante, gritando, Manteiga!, Mais manteiga!, dona fanha! Então, acordei, acho. Último sonho do qual me lembro bem em anos. Ou pesadelo. Ou algo não-real apenas porque acordei?)
Quando cheguei por aqui, os primeiros dias foram limpos e obcecados. Passei a amior parte do tempo organizando o lugar. Depois, revivendo alguns momentos, falando com fantasmas daquele mundo do qual só me restaram memórias, ferimentos – o olhar delecom um largo horizonte de nãos pelo rosto, depois os histéricos “Louca! Louca!”, gritados para seres imaginários de grande sanidade, supus. – dores que me puseram aqui. Preciso me salvar. Vou levar o velho comigo. Sei que ele sabe. Entende. Criaremos um mundo sem filhas sorridentes e maridos tiranos. Iremos além dos pesadelos, criando finais e finais sem nunca faltar manteiga e frutas e masturbações e letras, até, sim, o fim poder chegar. Não vamos nos inacabar por faltas. Maridos, filhas, netos, namorados, mãos, fanhas, todos enrolando caminhos, dizendo para não se calarem, movendo-se por leis abstratas tão rígidas! Você quebrou, Elisa, a regra do infinito sem saída! Disse à senhora na festa: habitei os campos elíseos, sou elisão e alívio – porque queria dizê-lo. Disse verdades suas, findas ali, queridas no momento. Quiseram-na engolinda nos bons-dias, nas conversas de moscas, zumbidas todas. Não podia dizer como gosto de sangrar embaixo da água; a fonte de pêlo e carne fazendo uma aquarela nos ladrilhos amarelos, levando de mim o necessário para a linda visão existir por uns instantes. Ninguém pode saber disso. Ninguém pode dizer realmente. A não ser para si mesmo. Por isso eu me digo e sinto e vivo as minhas verdades a mim, aqui é lei e deve ser assim até eu esquecer que houve outra. Então, já não haverá escrúpulos, ordens, exteriores, porque o meu tudo estará em mim, o que me importa será o importante. Mas ainda não é assim; tenho o vício de me conter, de satisfazer os mesmos seres imaginários dele, com termômetros nas mãos a medir sãos e enfermos, martelos de juízes magnânimos onipresentes.
Respirei e me intoxiquei de toda ladainha daquele mundo.
(Acabei de tomar banho. Meu corpo nu permanece nu – ainda a vergonha deles me observando -, espero o dia em que seja só o corpo.)
Aqui é como um internato para fugir aos internos. Os internos estão lá fora. Só aqui poderei me libertar. Só.
Bebo bastante água. Acostumei-me a isso quando a vontade de comer, não a fome, vinha por tédio. Tomava copos e copos; depois, mijava-os. Uma boa sensação: corpo-cano, tubulação; assim sentia concretamente minha existência, sem intervalos, o que fazia mais difícil o próximo passo. A aprendizagem é lenta. Nem aprendizagem; tento esquecer-me como uma julgada, devo me ver sem ser pelos olhos dos outros. Hoje a água é ritual. Sem solenidades, porém. Solene o bastante sou eu viva bebendo o que me atravessará. Isso sim é excitante, mas não deixaria meu vizinho onanista de pau duro. Diferente dele, prefiro o interno ao me excitar. Antes de dormir, sinto o calor do corpo e encolho-me ao máximo pra retê-lo. Volto ao útero enroscando-me no meu próprio. Já o velho tem a tevê. Mas sei que ele não a percebe. Só abraça uma cena para engoli-la e fazê-la sua. Ele precisa da calma de fazer parte de uma cena. Assim como preciso do calor.
(Este papel me transtorna. Não sei bem o que dizer com isso. Ele me faz não perceber minha respiração, me vou abrindo nele como um origami se desfaz: perde a forma e o sentido, no fim, já não tem o mesmo nome; é outro. Sinto que sou, aos poucos, outra. Ou que deixo a outra para trás.)
Desenho na garrafa de água recém tirada da geladeira. Desfaço seu vestido de suores em gotículas que se vão ajuntando, crescendo, comendo-se até não aguentar o peso de serem muitas, e rolarem para baixo, amontoando-se no pequeno mar de gotas desistentes. Eu desisti de desistir. Sou agora como a gota na superfície do recipiente que lá permanece. Não me junto às outras. Irei secar aos poucos, sem perpetuar os sísifos carregadores de outros sísifos, e deixarei onde estive uma leve sombra com a minha forma. Talvez na tinta.
(...)
terça-feira, dezembro 11, 2007
História da Filosofia
Ou o nada passou para algo,
Talvez tudo fosse um grande lago,
Uma água, um reflexo sem traço.
Surgiram coisas,
Sumiu a sabedoria,
Nasceu o homem, na alegria,
Na triteza, na dor
De suas conseqüências.
Pesado em seus atos,
O homem se elevou aos autos
De sua comunicação invisível,
Criou a capacidade de pensar
Achando que Deus havia criado,
Sem sequer duvidar.
Pensou um homem,
Pensou as coisas que homem via,
Pensou os símbolos de cada dia,
Pensou nos símbolos de outrem,
Pensou em seu começo, amém.
Pensou, pensaram muitos,
E não pense você que foi sentado
Ou desocupado, pensaram sob ruído.
Pensaram vários tempos,
Pensaram alguns, ambiciosos,
Pensaram em sobreviver nos adversos,
Uns pensaram em se tornar perversos,
Outros pensaram em unir inversos.
Pensa-se hoje, pensa-se em não saber o que pensar,
Pensamos com muito pesar, pensamos em Deus,
Em Zeus, seguramos no raio e nos perdemos no mar.
Pensamos como templários, esquecemos do banho,
Juramos lealdade, nos rebaixamos à condição de rebanho.
Pensamos como nilistas, militaristas e até analistas,
Penso eu como artista, tento pensar.
Penso história, penso comunicador, penso em contas,
Penso dados desconexos e crio pontas, perco a conta.
Pensaram todos os homens uma filosofia,
Quando a filosofia era o veneno de sua história,
A realidade da sua trajetória.
A casa desarrumada e o cobertor
It's less dangerous
Here we are now
Entertain us
I feel stupid
and contagious
Here we are now
Entertain us
A mulatto
An albino
A mosquito
My libido"
quinta-feira, dezembro 06, 2007
Sobre Ignorantes - Conversa de MSN
Será que quanto mais você fala menos as pessoas te ouvem?
Pedro :: Videotape, Thom Yorke diz:
eu tenho certeza que é assim.
Pedro :: Videotape, Thom Yorke diz:
eu tenho a impressão que vou morrer e ninguém vai me entender.
Will "Foi-se." diz:
É incrível.
Pedro :: Videotape, Thom Yorke diz:
mas, essa impressão minha é a prova de que não entendo os outros.
Will "Foi-se." diz:
Faz 10 minutos que eu mando um link para um amigo meu e ele não se ligou que o que ele queria estava lá.
Pedro :: Videotape, Thom Yorke diz:
já deve ter acontecido entre eu e você, não?
Will "Foi-se." diz:
Não assim.
Will "Foi-se." diz:
Mas hoje foi o the best.
Will "Foi-se." diz:
Quanto mais eu falo, menos me entendem.
Will "Foi-se." diz:
Acho que eu devo parar de falar.
Pedro :: Videotape, Thom Yorke diz:
sim, pare. Mas não fique com a ilusão que a situação vai mudar por conta disso
Pedro :: Videotape, Thom Yorke diz:
e, não sei por quê, fiquei com vontade de postar essa conversa no TBW.
Will "Foi-se." diz:
Sinta-se livre.
Will "Foi-se." diz:
Arte é apenas a livre expressão.
Will "Foi-se." diz:
Nada além disso.
Pedro :: Videotape, Thom Yorke diz:
Não é que essa conversa seja arte, mas, dentro desse problema pessoal, está o problema da arte e das demais coisas, creio.
Pedro :: Videotape, Thom Yorke diz:
por mais que eu admita que eu vá morrer, que tudo é delicado e frágil, eu não consigo assumir isso.
Pedro :: Videotape, Thom Yorke diz:
Nem você. Mensagens nossas não são entendidas e, mesmo assim, nos indignamos, continuamos tentando nos afirmar.
Will "Foi-se." diz:
Como assim: "delicado e frágil"?
Will "Foi-se." diz:
E qual o problema com morrer?
Pedro :: Videotape, Thom Yorke diz:
se as coisas não fossem delicadas, não causariam emoções
Pedro :: Videotape, Thom Yorke diz:
morrer é deixar de entender, de certa forma.
Will "Foi-se." diz:
Ih, esqueceram de me enterrar. xD
Pedro :: Videotape, Thom Yorke diz:
hahahahaha XD
Pedro :: Videotape, Thom Yorke diz:
somos dois XD
A verdade é que essa conversa ocorre uma, duas, três, cem, duzentas, vezes que eu esqueço de contar. Sempre é mentira quando dizem que isso tem solução. Solucionar isso seria resolver talvez um dos maiores males da humanidade, descrito com exatidão no título.
E cá pego uma citação de Carlos Heitor Cony, no 1º Salão do Jornalista Escritor, mês passado: "Pessoas felizes não são escritores. O homem que está na felicidade completa não vê necessidade em escrever".
Sem mais. E sem fazer drama à toa.
Fila
A mulher entrou no carro outra vez, bateu com a mão na testa como quem acaba de lembrar qualquer coisa e saiu, de novo.
Andou depressa de volta à loja, aquela loja enorme. Entrou de cabeça baixa, como quem se esconde; desnecessário: certamente ninguém a observaria.
Espremeu-se por entre o povo, o estabelecimento lotado dos que deixaram o presente para a véspera. Andou um pouco por entre as prateleiras, ansiosa. Pegou qualquer coisinha pequena, só para disfarçar. Dirigiu-se apressada em direção aos caixas e meteu-se na maior das filas. Apreciou por um momento a distância a ser percorrida, deleitou-se com a espera enfadonha que teria, era certo.
A excitação era absurda, tamanha a lentidão com que se deslocava, tamanha a zanga dos que estavam atrás. Passados quinze minutos, meia-hora, ainda era enorme.
Tentava conter-se, permitiu-se apenas alguns sorrisinhos disfarçados. A intervalos regulares, moldava uma carranca e resmungava a lentidão, amaldiçoava o gerente, só para se misturar ao coro da multidão.
Passada uma hora, talvez, o calor já insuportável pareceu piorar. Alguém ali atrás disse que o aparelho de ar condicionado parara. Rugiram palavrões gerais. O suor fedia, a umidade somava-se à pressão dos corpos. Era demais; a mulher precisou dar uns pulinhos de satisfação, que não arranjou desculpa para camuflar; indiferentes, ninguém reparou.
O aroma denunciou um pum. Os mais próximos amarraram a cara, pediram uma gota de respeito. A mulher entrou em êxtase; esta, sem dúvida, estava sendo a melhor espera do dia.
À medida que se aproximava mais e mais do caixa, a agitação se moldava em ansiedade. Ela procurava ocultar seus tremores, rangeu um tanto os dentes. A mulher do caixa a chamou, ela fingiu uma surdez muito mal. Chamou outra vez, mais alto. As pessoas atrás já a empurravam, não era mais possível postergar. Deixou que passasse o produto na máquina, pagou no cartão e saiu, a cabeça baixa.
Abriu a porta do carro e entrou, jogou o produto de qualquer jeito no banco de trás, junto aos outros treze. Agarrou o volante com as duas mãos e tamborilou, tentando se convencer de uma calma que não tinha. Mirou a loja, fechou os olhos com força. “Só mais uma vez, só mais uma”, pensou. Olhou para os lados, bateu com a mão na testa como quem acaba de lembrar qualquer coisa e saiu, de novo.
quarta-feira, dezembro 05, 2007
Palavras da Condenação (Glória a vós Senhor)
uma palavra é tragédia.
O carrasco é a língua
pedaço de carne nojento.
As vibrações agourentas
sons mais letais que cicuta.
Músculo da perfídia
dono de um belo filho da puta.
Está na escuta
sentencia a pena deste dia.
A arma mais arguta
não há necessidade de mais esguia.
Líquido
Devo ter engolido um pouco deste ungüento.
É,
Derramei um xarope que derretia mãos
Esburacando o chão com gotas gordas, disformes
Parecia uma super-diarréia, vazando por falsos buracos
Era produto tóxico de uma mente ofegante, fumegante
Os pés mesclavam-se àquele solo lunar, cheio de crateras
Convoco esfregão augusto para limpar a textura desta meleca
Aproveite e venha saborear estes restos de moela, crua
Eu prometi matar, no entanto
Você precisa beber este líquido, amaro conteúdo
Perfunctório xorume escorregando por esta torneira
Líquido hediondo originário do mais sublime morgue
Concretize nosso pacto infecto, mãos de acetato
Sorva meu destilado lixívio
É,
um alívio.
a mentira
nada do que te dizem é verdade. nada do que você vê é verdade. nada do que você sente é de verdade. nada é mais verdade do que uma mentira.
(inspirado num textículo que fiz no fotolog e em um texto do Ladislau, que não por acaso se chama "a verdade". Obrigado pelo incentivo bem simples)
Confissão
É uma reticência que sussurra na minha circulação, trava minhas ações.
Ele abusa da tinta, serra caules de selvas, macha minhas olheiras,
Definha meu rosto, embora cause um sorriso repentino, quase doentio.
É, não adianta. Eu não descanso nunca mais.
Ele me atirou numa sopa de letrinhas, me sepultou numa imprensa,
Me crucificou num texto, é vago como maresia
E se chama poesia.
terça-feira, dezembro 04, 2007
Meu Mundo Vaidoso
Sou antipático, mais um lunático
Ser maléfico, clorídrico, acético
Tive abraços para dar, mas não os dei - vendi
Chorei; perdi
Por favor, onde guardo meu pudor?
Ressentido de pavor,
Eu, cínico, vergonha venceu o amor
Mas, deixo meu coração executar
Um passo magnífico, jocoso atípico
Todo enfático, lírico
Neste mundo tão frio, eu divido meu pão
Um pedaço de chão, um estender de mão
Salutar é tão, o precioso cifrão.
http://guilan.deviantart.com/art/Meu-mundo-Vaidoso-71311496
domingo, dezembro 02, 2007
Vida ácida
Em álbuns amarelados, em pedaços
Entregues aos vermes que marcham
Contra a vontade de sobreviver,
Passo a mão no toco do charuto
Cubano que asfixia o escritório.
Pela lente ocular externa,
Vejo meus próprios atos,
Pela minha mente em caminhada
Lenta, vejo meu significado,
Meu exercício filosófico, minha vigilância
Constante, a tentativa em vão de colocar
Sementes na estufa.
Uma estufa de maconha, as idéias estocadas,
Arquivadas, a lua que não mais consola,
Os sóis sem nenhuma escola,
Não acordo mais para aprender.
Digressão, ondulação das estatísticas,
E a vida vive a ser observada,
O calor queima suas folhas, suas amostras,
Estamos nos consumindo sem
Nem nos entorpecer.
Ondulação, ascensão, locutores expressam
Seus roteiros, acho que agora entendo,
Estou deslocado do meu corpo,
Estou retorcendo minha alma, minha ama
Escrava, estou embaçando meu vidro.
A plantação derrete sobre o ácido de minhas indefinições.
Vivo de escrever, vivo de criar textos e guias para perdidos,
Sendo que os mais desorientados são meus olhos escritos à caneta.
terça-feira, novembro 27, 2007
Voz
Atraiu as atenções insones,
Os olhos insossos de uma geração
Sem nenhum rosto, sem nenhuma
Frase de efeito, só robôs sem nome.
Cantou uma canção que não era nem
Apocalíptica, nem angelical ou ideal
Para festas daquele tipo, era um réquiem
Ateu para seu próprio espírito,
Era um suspiro, um soluço
Dos traumas que o circunscreveram
Por toda sua vida.
Um homem pegou um microfone,
Tinha a voz metálica de um distúrbio
Avançado, de um martírio acuado.
Sua voz de máquina estava recitando
Poesia aberta, tal como o sangue
Respingando em sua saliva,
O excitante sofrimento interno.
Não se ouviu guitarra
E nem piano, naquela noite,
Só uma voz rasgada
De quem perdeu sua própria
Morte.
O muro
Surgiu sem alvoroço
sem ser requisitado
sem sequer avisar.
Foi construído à noite,
soturno, sem testemunhas.
No dia seguinte
ninguém notou.
Para todos
o muro sempre esteve lá.
II
“Não pule o muro” diz a placa.
“O muro é para sua segurança” diz a lei.
O muro é só mais uma barreira,
nos diz o espírito.
Separando, dicotomizando,
privatizando o que devia
ser de nós todos.
III
Separa-se o corpo,
talvez até a mente,
mas a alma, a alma é superior.
O que é um muro
frente aos leões do dia,
aos venenos da noite?
O que é um muro
para alguém com
asfalto debaixo das unhas,
fuligem correndo nas veias?
Para quem aprendeu
a contar com os centavos
e a ler com os cartazes?
O muro é só argamassa,
a alma é algo mais.
segunda-feira, novembro 26, 2007
Ritmas do Artista
Um tanto escrachado ajeitei minha postura
Para debilmente aspirar aos poetas de cima
Magnetizei o monitor com tão pungente candura.
Minha rima pode ser áspera
Contudo carrega consigo a riqueza
Com tamanha beleza que acode na véspera
Da ocasião que sempre mantive a poesia acesa.
Meu ritmo também pode ser de pobre
Sendo escuro e bruto, puro chumbo
Aos meus olhos porém, será como cobre
Material travesso que ilumina o mundo.
Minha poesia é tal qual Grande Águia
Austero símbolo de liberdade
Para mim, madame,
A métrica não é toda verdade.
Contato amoroso ou O surto
Francine, diga para minha namorada que, mesmo ocupado com toda essa papelada, com a minha mente insaciável, com minhas mãos trêmulas e distantes, que meu espírito está sempre com ela. Estamos juntos não por causa das metades das laranjas, mas por conta dos grãos de nossos seres, das migalhas que nos deixam malucos. Não desligue, Francine. Não, eu ainda não acabei. Diga a ela, desculpe ser chato, que eu não penso nela todas às vezes, mas toda a vez que eu movo minhas inspirações, até quando estou na companhia de outras mulheres, sinto a voz dela na minha, integralmente. Não somos um, somos mais do que isso. Somos compartilhados, somos simbiontes, somos o microcosmo de um macrocosmo que todo mundo esquece, que todo mundo apazigua. Nunca fui defensor de monogamia, mas com ela vale a pena. Valeria a pena ser celibatário só pelo sorriso dela, mesmo cuidando de mim, mesmo pensando no meu próprio ego. Valeria viver cinco mil vidas porque vi uma que é especial. Descobriria outras especiais com ela, pode falar isso. Eu não morreria por ela, mas ela encanta minha vida. Com o amor dela, vejo até simpatia nas suas palavras, Francine. Mesmo que você se emburre com meus devaneios, quero que saiba que te amo também. Fale para ela que, além de amá-la, eu tenho vontade de me alojar nos atos dela, de transmitir a herança que filho nenhum pode me dar. Não há satisfação melhor que essa.
Durma bem, Fran. Obrigado por me ouvir. Vou voltar para o escritório, beijos.
Cansa-Aço
Todos, como humanos de ferro que somos
Liga de ferro e carbono que forma nossos gélidos corações
O anseio elétrico que compõe a nossa alma
Os versos bárbaros prosaicos que tecem apenas uma confissão
E o nada escrito mostrando mais do que um verso sem razão
Mesmo compostos de ferro, nos cansamos
Nos cansamos de acordar
Nos cansamos de dormir
Nos cansamos de respirar
De ir, de vir, de chegar, de esperar...
Nos cansamos até de nos cansarmos!
A eterna máquina humana que nem em sonho descansa
Mas nos sonhos mais se cansa do que fica resguardada
Como os longos versos de textos futuristas
Tão cultistas do metal que esqueceram
Do aço que corre por suas veias
Afinal, as hemácias não contêm o ferro e o carbono?
Nos cansamos! Nossa energia potencial transforma-se em calor
Mas não o calor humano que aquece nossos corações com sangue borbulhante
Mas o calor dissipado que torna exotérmica a nossa alma!
O champagne estoura mostrando o progresso!
O mundo veloz, atroz que persegue! Com seu aço, sua doutrinação e sua tecnologia...
Até onde?
Uma poesia para uma prostituta
Das linhas diversas que percorrem o meu consciente
Produzindo impulsos líquidos, elétricos, fluídos em
Circuito, do sistema de contatos, do observador de
Mundos, do mudo processo de relato, contrato.
Um pedaço pautado, escrito e rabiscado
Relata meus sentimentos pessoais para você,
Intercalando racionalidade e abstração, estou absorto
Para lhe contar minhas leituras, a partitura
Que talvez te irrite, como todas as outras.
Você não é culpada por vender seu corpo,
Nem por aproveitar os divertimentos, celebrar
O descontentamento de meus companheiros,
A ausência de suas esposas,
Na verdade, acho que não é isso que você
Faz, acho que o que te retrai é a sua falta de
Profundidade, alguém que ame a promiscuidade
Seria mais feliz.
Você não é culpada por vender seu corpo
Em um mercado de moldes, em uma caixa
De brinquedo, um envelope de correio.
Você não é bastarda por abrigar parceiros
Sexuais por muito tempo, mas solta gemidos e choro
No relento do seu pequeno enterro.
O mercado, a venda de suas peças,
Não me comove e nem me escandaliza,
Eu não sou mais jogador moralista.
Não sou teu inimigo, talvez
Seja seu amigo, embora seja minha vez
De te colocar de castigo, punir seus paradoxos
Porque eles não são naturais, são ortodoxos.
Prostitutas, mulheres ou homens,
Não esperam o cliente na porta do cabaré,
Prostitutas não balançam bolsas, não são
Tão trouxas, nem chegam perto da Roxane
De Sting, a moça que suja, sem dar vexame.
Prostitutas habitam corações comuns
Que elevam o exibicionismo em níveis absurdos
E calam seus raciocínios mais astutos.
Se fecham em corpos, se viciam em alienações,
Devoram o cigarro da auto-corrução.
A prostituta desabrocha no seu coração, minha amiga,
Amarga suas relações, apodrece suas convicções, está sempre aliada
Nas mais contraditórias das paixões, o ódio que te torna inócua,
Evacua suas reservas, são resíduos das suas táticas perversas.
O verso tece os contornos de seu corpo
E ele não está se exibindo num desnudo encontro,
Está acuado em um quarto escuro, chorando todas as
Coisas que tua cabeça torta não confia.
quinta-feira, novembro 22, 2007
infofadiga e eletrosaturação
estou cansado
cansei dessa onda de informação
cansei do conhecimento ao alcance dos meus dedos
cansei de ver muito e notar pouco
cansei da distância entre as pessoas
cansei de palavras sem voz frases sem emoção e emoções sem expressão
cansei de informações sem sentimentos
agradecimentos por nada
sarcasmos invisiveis
questões sem resposta
e respostas sobre nada
quero mais vozes sem palavras
emoções sem frases
sentimentos sem informação
contato humano
silêncios confortáveis
calor
amor
pavor
e odor(seja qual for)
quinta-feira, novembro 08, 2007
Viuvez
Quando eu morrer
Ninguém vai ganhar dinheiro vendendo caixão
Ou pedaço de terra em cemitério.
Também não comprem velas
Ou gastem lágrimas
Pois nada me traz de volta.
Que doem meus pertences
Tudo aquilo que consegui trabalhando
Ou o que ganhei em meus aniversários.
Mas rasguem as fotos e queimem as roupas
Destruam os vídeos
Apaguem os registros
Que não sobre cheiro, nem gosto
Nem imagem, nem som
Do que um dia eu fui
Porque quando eu morrer
Eu quero ir decerto
Nada mas me ligará a este mundo.
Que não chorem os pais que se foram
Os amigos também já mortos
A mulher que não tive
E o filho que eu nunca criei
Quero apenas estar vagando junto ao vento
E cada pedaço voará para um canto
Tocará uma casa, uma árvore, uma pessoa
E eu estarei em todo lugar
Serei parte do mundo que me abrigou
E do qual eu fugi
Para sempre
domingo, novembro 04, 2007
Ir e voltar - A ressaca
Capitu me fazia dar voltas em círculos,
O velho falou tanto, lembrou o quanto
Nossas ações são vagas, cúmulos.
As voltas dos olhos negros,
Das ondas lentas, do mar sem medo,
São como contrações do sexo, sem nexo.
O gozo derruba minha parceira,
Com ela sinto afeição, dou uma piscadela
Certeira, estou satisfeito. Alimentado?
Beijo-lhe os lábios e meus sentimentos vão, como lacaios,
Para a taverna dos meus falsos rostos, faço cara de quem
Fez amor e estava mais interessado em cem prazeres.
Ela acua, pensa que não me machuca
Com seu olhar amedrontado, acha que foi usada,
Colocada em venda, sem remenda.
Chora, meu amor agora chora, hora
Da minha mudança de atitude,
Falsos moralismos onde a culpa
Não foi minha, nem tinha como.
E acabamos de novo na cama, nas ondas
Que não sei dizer se é do mar ou rio, obras
Do engenhoso ou do manhoso
Dia que me aguarda, trabalho.
Acabamos mortos na cama, com a minha cara solúvel,
Molhada, substituída.
E ela volta a tremer de medo. É o indiferente.
Inconsistente é a ressaca,
Que sem sistema, caça
As feridas e as mordaças.
sábado, novembro 03, 2007
Piano, solidão e felicidade
De natureza ampla, num ponto efêmero.
As teclas desciam e subiam num ritmo apetitoso,
Notas subiam até a imagem do cérebro, vagarosas,
Era um menino com menos de dez, tocando
No âmago dos cinqüenta anos.
Essas teclas só subiram agora, ele passou as mãos no rosto esguio,
Em seus olhos verdes cor de água, em seu pensamento muito valente,
Potente em sua criatividade, delicado como sua intimidade, sua timidez
Exposta, procurava nem sair de casa, nem sair de sua própria cabeça.
Passou outras vezes a mão pelo seu companheiro enorme e negro,
Cujas cordas silenciosas povoavam seus sonhos, seu desejo
De se ver tocando num palco, sem medos ou desesperos.
No entanto, nunca passou do estado de tocar a si mesmo,
Tocar uma música para si e sentir, no bruto, as sensações etílicas,
Tocou a si e se tornou diferente de todos, num esforço a esmo.
Sentia-se sozinho,
Sentia-se abandonado até quando tocava o piano,
Sentia-se sozinho e abandonado com seu piano.
Teclas descendo, mas era feliz, era assim, como uma atriz
Que recita um canto melancólico, mas que se enriquece
Com o doente, com a arte entre a gente, sensível quis
Que o mundo inteiro chorasse como ele faz, todo dia.
Lágrimas e teclas,
Dos humanos, talvez um dos mais vividos deles,
Nunca teve uma garota, um orgasmo real, um reles prazer
Corporal,
Teve sua música, suas lições e emoções, encontrou
Seu próprio fazer analítico, metódico e poético.
Lágrimas e teclas,
Não sinta dó de quem chora,
Nem de quem parece eternamente só,
Que cora poucas vezes.
Lágrimas e teclas,
Não procure sentir tudo o que o pianista
Expressa, procura na tua alma
A tua melancolia secreta.
Lobos
Canis lupus.
Animal. Mamífero, carnívoro
voraz. Vive em bandos. Macho
alfa domina alcatéia
(alcatéia!) uivando
muito! muito! muito!
Os mais fortes na Avant-garde.
Prole boa:
Macho forte Fêmea forte.
Bicho bravo.
(e caras-de-pau dizem que Homem é o bicho mais esperto)
25/08/2007
.
Originalmente postado no deviantArt, aqui.
Comentários apreciados.
quinta-feira, novembro 01, 2007
a verdade
sou honesto, franco, e não faço eufemismos, porque eu vim para esse mundo para mostrar como, por mais que seja cruel e afiada, a verdade é maravilhosa por si só e como ela é, nua, crua, fria e pulsante.
(não sei se este é um texto que sirva pro blog, visto que ele é apenas uma frase, mas quando vi, já estava postando)
segunda-feira, outubro 29, 2007
Brincadeira de boneca
Estava rodeada de pessoas, abafada
Pelo uníssono da multidão, abraçava
Muitas figuras, era sempre muito quista,
Muito mista, carregava muitas listras na bolsa.
Mostrava fotos de auto-promoção,
Fazia elogios para graduação em relacionamentos,
Era um tormento quando falava, ao som de fundo
Das bijuterias que chacoalhavam ritmadas, incômodo.
Tinha o melhor namorado,
A melhor morada de idéias
Junto com a melhor roupa,
Era uma imagem alheia,
Inerte, areia de um deserto.
Tinha os melhores momentos
Memorizados num relento
Impuro, num saudosismo fajuto.
Era dona do melhor beijo,
O eixo de sua comprovação barata,
Era uma caipira no sentimento, uma lorota
Em procedimentos mais profundos.
Adormecia pensando que a vida era uma fantasia,
Mas não esquecia suas doses diárias de cocaína,
Uma bituca no cigarro e um mergulho na caipirinha.
Adormecia pensando que a vida era uma fantasia,
Quando queria mais é tornar os fatos artificiais,
Os sentimentos anormais, necessidades mais canibais,
E devorar a virtude companheira sem mastigar.
Era um rostinho lindo, redondo e coberto por mechas loiras,
Talvez fosse uma morena esbelta, uma modelo dos açoites
Internos, que são gerados nesses regimes loucos.
Era um rostinho lindo e trágico,
Uma brincadeira de boneca
Com um projetor rolando cenas
De filme de princesa, hábito
De ditadora, perfume de moleca.
sexta-feira, outubro 26, 2007
Inutilia
Minha cabeça é um amontoado de amontoados.
versos queimados em fogueiras-imitação-de-cultura;
lampejos geniais tornados ridículos;
criação impedida por incapazes de idéias
efêmeras: invocadores cotidianos do luxo
mais-que-importante, necessário (imbecilidade
engarrafada), vendido. Mentido
tem aqueles banais consumidores do ócio:
ridicularização do conteúdo invulgar;
metafísica dos lançamentos,
porvorosas épocas inúteis:
natais! anos novos! páscoas!
Antínoos clonados, rebanho
midiático, rapsodos dos modismos!
25/10/2007
.
Originalmente criado para publicar-se na comunidade "poesiaPT" do deviantArt, cujo tema deste mês é "Vazio".
quinta-feira, outubro 25, 2007
Está Tudo Bem
-Oi, amor. – me beijou – Que foi? Tudo bem?
-Nada não. Tá tudo bem.
segunda-feira, outubro 22, 2007
Verbonominal Transgressão
Aquele que me pressiona me impressiona
Com sua altiva capacidade de convencer
Convencer-me a tentar corretamente escrever
O atroz idioma...
Que a verbos flexiona e me curva
Minha visão de criativez turva
E eu transgrido ele! Ah se ele transgrido sim!
Rompo! O desmantelo! Apresento-lhe seu descalabro!
Sua ruína!
Fascina até o facínora que escreve
Que se atreve a desafiar, desafinar
Toda a consonância léxica
Apegando-se aos valores semânticos de composições e derivações impróprias
Mas o que são derivadas senão meras funções?
Funções! Sintáticas, escalafobéticas, matemáticas!
Mate! Má! Ticar!
Escalofobia! Medo! De escalas, escadas, fobia, pavor...
Devaneios de uma alínea e linear linha de luci... dez?
Que luz nas trevas de pensamentos?
Que luz na escuridão do tormento de não saber?
Escrever? Não mais direitamente.
Para que penetrar surdamente se o silêncio estraga a diversão?...
Infrinjo! Gasto meu célebre cérebro, célere também!
Como uma onda, vai, vem...
Como na estação um trem. Outrém...
Para que não usar-se de digressões
Agressões à coesão! À coalizão, máfia do idioma
Indústria que julga a cultura; juga...
Para eles, o real
Idioma é cutura
CU tura
Cobretura
Cobertura
Fachada
Farsa
Falso
Fosso.
terça-feira, outubro 16, 2007
Apenas mais um
Sou um homem médio
De estatura média,
compleição média, classe média,
capacidade média, inteligência média
medida pela sociedade média padrão.
Vivo no meio do caminho,
sou um arauto do quase.
Tenho uma quase namorada, que quase me ama.
Tenho quase amigos que quase se importam comigo.
E quase sempre tento manter as coisas em ordem,
embora quase sempre não consiga.
Eu quase consigo amar.
Sou homem comum,
Daqueles que passam despercebidos na multidão,
às vezes até mesmo quando sozinho.
Minha família não me ama, gosta.
Meus conhecidos não me gostam, simpatizam.
Meus inimigos não me odeiam, desprezam.
Também não me arrisco em aventuras desenfreadas
nem desfruto da tranqüilidade dos pacatos.
Cristo, que vida inútil!
Vida que não é vida nem morte,
vida que não consegue sequer ser não-vida.
vida insensível, invariável,
vida matando vida, matando tempo,
apenas esperando seu enterro passar.
segunda-feira, outubro 15, 2007
Júlia
Desperta os sentimentos mais profundos e sinceros de todo homem que a avista, sem falar dos desejos lascivos.
Lábios perfeitos. Só de imaginar seu beijo em minha face imberbe, tenra e quase imatura, surgem em mim efeitos fascinantes. Creio que já gastei incontáveis horas no banheiro por causa dessa mulher. Ah, Júlia, que mulher.
Um adjetivo? Tesuda. Antes vulgar do que insincero. Tais curvilineidades provocam cócegas de prazer. No íntimo das mentes masculinas (e lésbicas, bem provável).
Lábios perfeitos. Júlia. Quero adoçar minha boca com a sua. Exalto-a, tão perfeita quanto a sua pessoa. E que língua, deveras graciosa! Pedaço de paraíso. Sua língua, cuidadosamente comedida!
Julia II
Júlia, passional, destrói qualquer
Amor conjugal
Insinuante, que delícia humana.
Traz à tona escolhas aviltantes.
De baixa estatura, precisamente formosura
Delicada, incomparável deusa
Imoral, Dama do Mal
Faz de tudo para obter prazer
Lábios Perfeitos, Júlia
Mostre-nos suas pernas, nuas
Perfeitas para enterrar em jugulares.
domingo, outubro 14, 2007
Leitura preparatória para a redação
Nas palavras que observo, recrio as minhas visões, meus conceitos durante o nascer do sol embriagado pelo meu bocejo vagaroso. As páginas vibram diante de minhas pupilas pacientes, incisivas, uma calmaria que rompe suas frases. Tomo a caneta tinteiro e redijo algumas frases soltas sobre a matéria do dia, o romance até seu término, a folha que não vai sair da minha frente até que a redação da Gazeta de Notícias comece a se mover.
A voz de minha esposa ecoa na minha mente, e a rosa que deixei na escrivaninha de nossa humilde casa acolhe ela como se fosse meu próprio carinho. O grande número de textos a escrever consome qualquer tempo que eu queira ter mais livre. Passo as mãos sobre a barba, ajusto o óculos, começa o expediente.
Escrevo minhas colunas, crônicas, matérias, tudo o que um informativo pode conter. E, enquanto componho, Quincas discursa em meus pensamentos, a velha católica e frígida lamenta na varanda, o menino Bentinho espera para pegar minhas mãos e proferir sua versão da história.
Escrevo minhas colunas, paro e repenso. O que estaria eu compondo?
Decido então escrever para o leitor, um expectador qualquer, para relatar minhas leituras preparatórias para uma simples redação como essa. Um texto sobre leituras, uma amostragem de um composto.
Vivi num século onde os escritores ruminavam suas próprias palavras, passavam horas se vangloriando do feito e compunham excessivamente, pois nada era suficiente. Ruminar uma idéia me fazia refletir se a repetição de pensamento valia a pena. Então mudei o foco, reescrevi o roteiro, repensei o método, o repertório.
Vivi num período onde ainda podia enxergar a palavra “Machado” lustrosa na minha mesa, nos meus documentos e na minha alma. Hoje, assim como Brás, não tenho certeza de qual tempo eu sou, em que espaço teço minhas construções.
sexta-feira, outubro 12, 2007
apartamento
primeira noite no meu novo apartamento velho. velho e usado, abandonado, ainda com meia duzia de móveis e pó, que ninguém quis comprar. a luz e a água ainda não foram ligadas, lâmpadas quebradas, privada entupida, marcas de chamas pelas paredes, forte cheiro de mofo e poeira velha. minha primeira noite morando sozinho.
o sol desce no horizonte, gigante e rublo como uma grande forja, tinge de laranja o seco e triste céu do planalto central. laranja-ferrugem, laranja-ferro, ferro do sangue dos corações e das almas desse povo.
na rua a poeira abandonada pela chuva que nunca vem. estendo meu lençol sobre o velho colchão sujo de suor e sangue velhos. me deito. fecho os olhos, não por cansaço, mas por tédio. amanhã acordarei cedo, procurarei emprego. mas, por hoje, o cansaço.
uma gota pinga da goteira do vizinho de cima, o prédio agoniza em silêncio. ao que parece, de todo o prédio, só dois ou três se mantém ocupados, e mesmo esses, por pessoas que não sabem sequer falar.
ninguém quer morar nessa desgraça, esse prédio abandonado, até os sem-teto recusaram. o que estou fazendo aqui ?
ouço as baratas andando pelo forro, ouço uma mosca ao meu ouvido, sei que perto da janela há uma aranha à sua espera; e no armário do banheiro, uma lagartixa parte em sua caçada. juro que ouço o surdo som dos cupins comendo os tacos, e das crianças na rua roendo as lixeiras.
o som dos carros na rua se abranda à um ou dois, eventualmente. um cão ladra sua solidão, um bêbado canta suas mágoas que do sétimo andar se ouvem, e sobre uma casa dois gatos urram seu prazer.
o sol já se foi, e uma anil luz brota do brigadeiro céu convalescente do nosso planalto.
ah planalto central. planalto central, inferno do mundo, planalto de desilusão, miséria e fome, terra onde nasci, onde muitos morreram, ou esqueceram quem são.
os barulhos da noite nascem surdos para tomar aos poucos meus ouvidos. a brisa venta, seca e quente como palavras enciumadas e enraivecidas. um grilo, uma cigarra e mil aleluias murmuram em coro sua canção pedindo água e respeito.
tarde da noite chega. a escuridão toma tudo por completo. e o silêncio vence por cansaço os inimigos que agora pisa.
seu antenor surge capisbaixo, indo de um lado à outro, arrastado as chinelas velhas e carcomidas. pára por um instante, me vê, e diz:
sabe meu filho, a vida é engraçada, você trabalha toda ela para construir alguam coisa, e um belo dia, descobre que isso num mudou nada.
(incompleto, prazo para término indeterminado. inspirado em: faroeste caboclo de renato russo, Confidência do Itabirano de carlos drummond de andrade, morte e vida severina de joão cabral de melo neto, e brasília, de juscelino kubitschek)
segunda-feira, outubro 08, 2007
A diva vazia
amortecido nesta cavidade
e esta entranha
toda exposta
maldisposta
recusa-se a cicatrizar
......
......
apresento-lhes
a Rainha das Meretrizes, Bocetrizes
Cuja lembrança resgatada
dos recônditos esquecidos
das dobras do ocaso
mais oca que um santo barroco
......
traga me o fim
o vácuo abismal
a escuridão perfeita
as pétalas da noite
que desenham verdades
acabou, por ora.
......
aquele grito
delicioso
delineia a noite
como maquiagem de pobre
um minuto depois
e já foi embora
hão de convir, sadismo autêntico
sobrou uma vã existência
vestida de negro
com seu mais estupendo
vaticínio - gracejante
......
A diva vazia, supérflua
de alma lânguida, álgida
aflige o escritor, chula
com puto poder de sedução
......
É o fim
Diva, traga me o fim
um abismo para eu cair
espadas para a mim trespassar
volto ao meu pó
o mais puro nada
este vazio?
...
domingo, outubro 07, 2007
Números, números, números
Cento e vinte e oito, duzentos e cinqüenta
E seis; O número, capataz que atormenta
Que conta, que mostra, ferramenta de reis!
Quinhentos e doze, um mil e vinte e quatro
Simbolozinhos nos papéis protagonistas
Que matam, consomem cérebros em vãs listas
Exercícios pífios, temperam o teatro
Co'amaro sabor de necessidade plástica
Atualmente usado por matéria escolástica
Despido da real e verdadeira essência
Teatro da vida, onde fingimos ver
Que algo podemos com os números fazer...
Não calculamos! Por quê? Degenerescência!
O motor humano se esgotou mais uma vez...
sexta-feira, outubro 05, 2007
O gauche às avessas
"A felicidade é um estado de espírito, por conseguinte, não pode ser duradoura."
Oscar Wilde
"Tudo vale a pena, se a alma não é pequena."
Fernando Pessoa
Passam horas, passam dias; passam pessoas, passam vidas. O amigo de infância que morreu baleado, o outro que se atirou de um prédio, as situações caracterizadas por um desespero imenso que – simplesmente – sumiu. Não é só você (ou eu) que envelhece: as idéias também. Cada algarismo passado é uma Revolução tornada ridícula. O amor que desmoronou. Nosso tempo não é o nosso tempo; cada dia é passado para trás antes mesmo de terminar.
As pessoas são tristes quando consideradas sem ênfase. Igualmente os momentos, eles são únicos. Poucos deles realmente vivemos; pela grande maioria apenas passamos. A preguiça escusa que rouba a hora potencialmente divertida; a preguiça cruel, oportunista, desgraçada. Seguida do arrependimento. Delírio de inferioridade constante. Enfatizar tudo é uma mentira: temos menos amigos que colegas, menos felicidades que amarguras.
O dia-a-dia é sujo e chato e azedo. Desequilíbrio. Sentir-se pendurado em uma janela desde a hora que acorda. O mito de Sísifo: levantamos nossa pedra (para alguns, pedregulho) e somos obrigados a vê-la rolar novamente para onde começaram nossos esforços; para o zero. Mas não é o morro e sua encosta que nos derrota; o peso do fracasso só é evidente quando se concorda em erguê-lo. Lutar contra o Fantasma diário, que nos alimenta de medo e mais medo.
O Absurdo é a verdade? Viver é mesmo fugir das ilusões e das luzes, de toda a (pouquíssima) esperança que temos? Eu não quero essa realidade. Louco, paranóico, estranho; prefiro ser um sonhador maluco do que um realista suicida. A sociedade fede, a responsabilidade fede, o amor-escravista fede: hei de comprar muito perfume!
Mais deprimente do que viver triste procurando alegria é viver alegre – ou quase – procurando a tristeza; o primeiro ainda vive, o segundo já morreu.
05/10/2007
De perto acontece.
Temos sim a constante necessidade de generalizar. E não adianta fugir ou encobrir essa verdade. Resolvi, então, simplesmente, passar por cima das generalizações e me aproximar das pessoas. Aproximar-me não emocionalmente ou psicologicamente, alegorias normalmente usadas nessas palavras, mas simplesmente de chegar perto, observar, abrir esses dois glóbulos que tenho e tentar construir algo produtivo nessa atividade.
Sumiram de mim as concepções de feio ou bonito, restou apenas uma noção básica de estética ligada à sensibilidade. Fiquei observando essas pessoas há horas e continuo com impulso de olhar, quase numa atração voyeur.
As monstruosidades ficam amostras. Mas não é para apavorar, uma vez que você tem sua própria criatura de estimação em ti. O monstro se prostra para você ingerir seus conhecimentos, suas dores. Doer é fazer contato.
Beleza então fica duradoura. Beleza então fica paradoxal. Eu fico com vontade de observar de diversas maneiras. Gosto de ser percebido ou de passar como um fantasma pelos outros. Mas o objetivo principal é ver, compreender suas limitações e seguir para a próxima pessoa. Se algum detalhe faltou, volte e reavalie.
Está acontecendo agora. Vai morrer a qualquer momento.
Linhas inscritas em uma taça feita de um crânio
Não fuja – nem julgue a fuga de meu espírito:
em mim vejo o único crânio
do qual, diferente de uma cabeça viva,
tudo o que flui nunca é estúpido.
Vivi; amei; bebi – como tu;
morri: deixe à terra meus ossos resignarem-se;
complete-me! – tu não podes ferir-me;
o verme tem lábios mais nojentos que os teus.
Antes manter meu legado vivo
à acalentar a viscosa ninhada do verme;
e circular em torno da taça
a bebida dos deuses à comida dos répteis.
Onde uma vez brilhou meu pensamento,
em benefício de outros deixe, de novo, mostrar-se;
e quando, infelizmente, nossos cérebros forem-se,
qual mais nobre substituto que o vinho?
Beba enquanto pode; outra ossada,
quando tu e os teus forem como eu,
podes salvar-te do abraço da terra,
para rimarem e deleitarem-se com morte.
Por que não – já que durante a curta vida
nossas cabeças tão tristes efeitos produzem?
Redimidos dos vermes e da infértil terra,
31/10/2006.
.
Esta tradução é de um poema escrito por Lord Byron - Lines Inscribed Uppon a Cup Made of Skull - do qual gosto muito. É uma sátira sobre um crânio encontrado na Abadia herdada por ele onde foi esculpida uma taça. Falta muita coisa nesta tradução: rimas e métricas. Perdão, mas ainda não tive paciência para remontá-la. Obrigado.
.
Pois é... faz tempo que não falo a respeito dele, mas o quase-blog que criei - O Monólogo de uma Sombra - foi atualizado. Postei alguns textos que gosto bastante. Não me perguntem porque diabos resolvi colocar coisas lá, não fechá-lo: não sei. Simplesmente quis. Além do deviantART, queria ter algum outro meio de publicar minhas coisas (sem desmerecer o BlueWriters, mas desejava algo meu).
quinta-feira, outubro 04, 2007
Peleja
Sobre seu sangue eu caminhei
Os gritos das mães, as asas contorcidas
Perdido entre penas e mártires
O vôo de algum dia, meu retornar
Ao que eu nunca fora
Expulso, jogado para o lado de fora
Esperando apenas por esperar
Nuvem negra descende em cascatas
A chuva tem gosto de vingança
E assim, feito um rasgo na comodidade
Aspirantes a deuses surgem da sujeira.
Ao amanhã as armas serão carregadas
Mais e mais casualidades ocorrerão
Não mais o cantar de vidas fugazes
Não mais o trair de vilões atrozes
The Dawn
A menina sabia o que viria a seguir. Faziam anos que a tradição não era quebrada, mas seu teste vocacional acabara de confirmar o que ela já sabia. Não tinha vontade de ser espadachim. Dobrou o papel da resposta calmamente enquanto dizia ao homem a sua frente que queria seguir o caminho descrito na folha. Enqüanto o homem entregava-lhe itens imprescindíveis para um bom começo na sua profissão, ela pensava em como esconderia, pelo menos no começo, tal disparate à sua linhagem.
Tinha sangue da família Hopkins, antiga descendência de excelentes lordes. Toda a criança nascida em seu berço era imediatamente levada a um treino na arte de manusear espadas, que perduraria por anos, até que este atingisse a maioridade. Tornavam-se espadachins muito cedo, e a corrida de irmãos para mostrar mais talento era um espetáculo tenebroso apreciado pelo chefe da linhagem. Atualmente tal posto era ocupado por Werther Hopkins, seu pai. Ele teria o desgosto de não ver sua filha chegando em Izlude, e mal saberia que agora ela pisava em Alberta.
Andou pelas ruas empedradas da metrópole comercial até avistar o que parecia ser a guilda dos mercadores. Haviam alguns outros na mesma situação -ao menos aparentemente- que ela. Entrou na fila e dirigiu-se ao homem atrás de um balcão para candidatar-se a profissão.
-A inscrição custa mil zenys, mas se quiser pode parcelar em duas vezes. Uma agora e outra quando acabar o teste.
-Prefiro pagar numa vez só.
Talvez fosse sorte da menina que sua família fosse rica, mas certamente preferiria liberdade de futuro a condições monetárias. Desembolsou mil zenys, permitindo ao homem que desse-lhe um código e dissesse:
-Vá até o chefe do almoxarifado. Ele entregará uma caixa correspondente ao código. O destino é a Ilha Byalan, com a Kafra responsável pelo local. A ilha é acessível pegando um barco na cidade de Izlude, o marujo não cobra tão caro.
-Sem problemas. Voltarei o mais cedo possível.
-Ah! Se não for um incômodo, poderia levar essa carta a ela?
Surpresa com o pedido do homem, aceitou o pedido. Dirigiu-se ao chefe de almoxarifado, dise-lhe o código e o destinatário da encomenda e recebeu uma caixa do mesmo. De posse da caixa, seguiu até o norte de Alberta, onde uma funcionária Kafra atendia seus clientes. Mais uma vez a vantagem de ter dinheiro bateu-lhe na porta.
-Com licença, senhora, gostaria de um teleporte para a cidade de Izlude.
-Com prazer.
Sem delongas encontrou-se na cidade de Izlude. Faria de tudo para não precisar pisar naquela cidade, porque algum servo dos Hopkins poderia estar espionando a saída da guilda dos Espadachins, ou até mesmo toda a cidade, a procura dela. Espremeu-se por vãos entre as casas, fazendo o máximo para não ser vista. Olhou para o outro lado da praça central, e para seu horror avistou um dos capangas de seu pai. Virou o rosto e acelerou o passo. Uma mão a segurou. Sobressaltada, virou-se para ver quem era.
Um espadachim, menino, pela face infantil; desproporcionalmente alto para a idade que aparentava, olhava inocentemente para sua face.
-Desculpe pelo susto. De quem está fugindo?
Ela não conseguiu evitar olhar para o servo, e o menino, percebendo para quem os olhos dela apontavam, posicionou-se num modo que impossibilitava ao homem vê-la.
-Por que está fazendo isso?
-Eu... sei o que é fugir de alguém. Vai até onde na cidade?
-Não sei se posso confiar em você...
-O que você tem a perder?
Os olhos dos dois se encontraram. Era possível ver que ele não mentia, nem era ameaça.
-Para o porto. Preciso ir até Byalan.
-Certo, siga-me.
Os dois chegaram até o barco, onde o capitão da balsa os recepcionou.
-A passagem para Izlude custa cento e cinqüenta zenys, senhores.- Olhou para o espadachim.- Por pessoa.
-Você vem? - Disse a menina para o espadachim.
-Sim, Byalan é um lugar interessante para treinar...
-Eu pago a sua então. Como gratidão por ter me salvo.
Embarcaram os dois na balsa. A maré estava calma, e uma brisa refrescante soprava em seus rostos. Ela olhou para o menino.
-Qual o seu nome?
-Eu... não tenho nome. Me chamam de Iron Knuckle, pelo tamanho...
-Certo, Iron. O meu é Sarah Hopkins.
Chegaram em Byalan em menos de vinte minutos. Sarah falou com a Kafra, entregou a encomenda, a carta, e recebeu uma nota fiscal.
-Preciso voltar à Alberta agora. Obrigada pela ajuda.
-Nada...
O tom depressivo com o qual ele falava despertou uma curiosidade estranha na menina. Um menino sem nome, de proporções gigantescas, abandonado no mundo. Prometeu a si mesma voltar a Byalan assim que possível, a fim de procurá-lo. Pegou uma asa de borboleta e voltou a Alberta. Entrou novamente na guilda dos mercadores.
-Aqui está o recibo.
-Deixe-me checar... tudo certo! Parabéns, Sarah, agora você tem permissão para circular o mundo como mercadora. Boa sorte em sua jornada.
Sarah pegou o uniforme de mercadora e saiu rapidamente da guilda, decidida a encontrar aquele curioso espadachim que a ajudara.
------------------
Fanfic de Ragnarök Online, feita há muito tempo. Primeiro capítulo. Como não tenho texto melhor pra postar e não quero abandonar esse blog, botei ela logo. Se puderem, avaliem, talvez isso me faça completá-la.
Até!
Acontece sempre.
quarta-feira, outubro 03, 2007
Palavras Acerbas
Enigmática e sombria
És vazia, pálida Maria
És um mito, recontado por mero escrito
Dona beneplácita, doravante ficarás sabendo
Nego toda razão a ti atribuída
Não há porque aprofundar-se
Na sua história rasa, malcontada
És mesmo uma velha fenecida
Derramo lágrimas de deleite
Pois creio que ao expô-la ao ridículo
Escarneço também toda sua estirpe
Depósitos de lixo abruptos e bestializados
Servem só pra ocupar espaço
Vez por outra, alguém vislumbra
Algo estranho por detrás da penumbra...
Ritual Funeral
Uma vez entoada à guisa de ode fúnebre
Celebrando as exéquias, a rotura destas penúrias
Veredas obscuras por onde andava enredado.
Carrego esta vestidura que me leva ao cadafalso
Simboliza parte mundana que reservar-se-á
ao oblívio.
Suave mortalha que, aceita de boa vontade
Separadas são, as duas metades.
Hostil cerimônia cingida em penitências
Abstenções pontuadas por reveses
Decisões profundas apoiadas em desprezo
Culminam na Extrema Unção.
Morro, conquanto prezo
Sem desdém
A metade desta agora destinada ao limbo.
Na que me resta, espero apenas
Certeza de fruição.
terça-feira, outubro 02, 2007
Não aconteceu.
Revisitando o Universo
Por um simples trocadilho com a palavra me fez voltar nesse assunto.
--
Os olhos traiçoeiros dormem, dobrem
A vigilância, recobrem a tolerância,
Olhos traiçoeiros não podem ter ganância.
Olhos traiçoeiros despertam
Lamentos, inconformados
Andam os homens, desinformados
Seguem seus sistemas.
Planetas revelam arenas
De batalhas sem temas,
De propósitos sem lemas,
Planetas revelam armas
Sem qualquer dilema.
Não há tempo pra pensar,
Não há luz para imaginar.
Unir verso é desunir o avesso,
Aceite os olhares traiçoeiros,
Universo é aversão ao único texto,
Aceite os olhares traiçoeiros,
Verso unificado não é solitário,
É arbitrário, é dúbio,
Sempre causa dúvida.
O tecido, a malha, envolve o relógio,
Meu horário não espera refúgio,
Unir avesso, unir desalinhados,
Meu cosmo vibra uma luz sem alvos.
O cosmo vibra uma luz sem laços,
Ficam soltos os abraços amargos
Que não recebo, fica a idéia que não concebo.
O cosmo vibra uma união de versos,
Versículos de uma oração sem pontos,
Desatadas estão nossas estrelas,
Me perdi em minhas próprias
Maneiras.
Unir verso.
Universo.
Unir inversos.
Universos.
Unir invernos.
Unir infernos.
Universo.
O cosmo vibra a união
Da desunião com o embrião.
O cosmo vibra desilusão
Da interpretação sem visão.
Vermelho
domingo, setembro 30, 2007
Universo
Uma explosão luminosa
Que gera astros e a imensidão
Do vazio que alivia,
É a energia concentrada num grão
Que gira a vida.
Os buracos do nada
São a vontade entristecida
Do obscurecer.
Mesmo assim, esse espaço é um vasto de luzes,
São encontros de brilhos, das lentes
Que adquirem foco,
Das luas que ganham o brilho
Ao refletir seu raio.
Seus planetas, são corpos
Que carregam o desejo dos pólos
Magnéticos, estar unindo,
E que repele por ser um meio
Diverso.
A atração de todos juntos,
Que impede a completa junção,
Consiste na gravitação
De várias idéias em comunhão,
Esclarecidas pela luz da estrela, unidos.
Uma explosão luminosa
Foi o que vi dentro de seus olhos,
Demonstração clara, sem velhos
Jeitos de explicar a complexa
Máquina humana, um universo
Que eu sinto.
Homem Universo,
Diverso limitado.
domingo, setembro 23, 2007
Projeção
um homem doente;
débil, mal-amado e carente:
um indeciso frustrado,
de uma frustração soberba
e vã que desperta
a Hidra psicológica.
Liberto minhas personalidades
E misturo-as.
19/08/2007
sábado, setembro 22, 2007
Memória
Pingam nos seixos da memória
É rio caudaloso que entorta
E reconta estórias tão longas
De um passado distante
Onde Deus adormeceu
De fatos recheada
Saboreia o vinho nesta enseada
Onde foi mesmo que Deus morreu?
quinta-feira, setembro 20, 2007
cena
Uma praça como qualquer outra, dentro de uma cidade qualquer, um banco, uma calçada e uma moita.
E na calçada há um homem, jovem, não mais do que 26 anos.À sua frente duzias de pombas de amontoam. Em sua mão, um embrulho, um saco de pães frescos.
O homem pega o pão, o rasga em pedaços. Atira às pombas, e elas ficam felizes.
(texto antigo)
política
eu nego e renego minha pátria
eu nego a terra onde nasci
eu renego ao meu rei
e não, não é só isso, eu renego à tua pátria
e à de teu irmão
renego também à pátria daquele homem, que você nunca conheceu e que nunca o fará
eu renego o poder
renego o dinheiro
renego à lei
sobretudo eu renego o estado
isso porque eu acredito
eu acredito em ti, e em teu irmão
eu acredito no palhaço qe faz as crinças rirem
eu acredito no homem que dá seu suor e seu sangue para que seu filho seja mais feliz e acredite nas pessoas
eu que acredito no homem que planta a terra
eu acredito no homem que faz o teatro, seja onde for, e alegra o povo
em suma, eu acredito no homem
(texto antigo)
joão
tu que foste meu irmão, de nascença, de sangue, e de alma
tu que foste um homem honesto, integro e reto
tu que nunca pecaste, mentisse ou sonegasse, ou censurasse à ninguém
tu que tinhas um bom coração
tão puro quanto o de jesus, mas não tão brilhante
tu que foste meu melhor amigo
que estivessete comigo na saúde e na doença
tu que me apresentaste à minha esposa, e o meu filho ao mundo
tu que viveste em graça
tu que és um merda
tu que viveste de olhos fechados
tu que nada fizeste
tu que nada mudasse
tu que à tudo aceitaste
estás morto
e eu apenas digo
ainda bem
(continuando a linha de textos antigos)
domingo, setembro 02, 2007
Homenagem ao ato consumado
Centenas de espécies diferentes de insetos
Zumbem em açodamento no canal auricular
Farei mais nada enquanto tudo me espera
Nego até a morte, que por acaso me alegra
Que me engana sob vieses infectos
Este pedaço de graça irá pagar o que me deve
Disfarçado de olhar vago ao contemplar o não-feito
Olhos recolhem-se até o céu da boca
E portanto poderei cuspir-lhe o que vi
Mirando através das órbitas vazias recobertas
Enxertos de pele com tatuagens orgíacas
Quando o último estalar de meu pescoço
Perfurou o último silêncio gozado pelos tímpanos
Como címbalos atroantes provocando loucuras
Sentimentos cadavéricos perpassando nadas
Ardilosa fui ao enjaular-me nestes destroços
Digerindo vorazmente estas vozes, em letargia
Metaforizando frases de inestimável revelia
Quadrada através das barras estes olhos me fitam
Me desenformem deste estojo com coriza
Eu despenco desta pequena escuridão inserida
No conhecido mundo de possibilidades nulas
Perenemente amada doravante esquecida
Exibindo doze retalhos com requintes porfíricos
Isto é fantástico, ver o edema plástico
Da pessoa que julga tudo sem conhecer a nada
E quantas perguntas ao nada uma tolice crítica
Quando recebe respostas que contradizem sua lúcida
Eu me pergunto, como que estes olhares
Insistentes através desta gaiola
Me deixam excitada dez vezes eufórica
E na penumbra deixei-te escrever teu nome em meu cálice
segunda-feira, agosto 20, 2007
O Caos
Em momento negro e pertinaz, me vi parado
Admirando formas que nada revelarão
Desenhos retilíneos num atro padrão
Era um aquilo como nunca visto antes
Fogo sombrio que consumiu um garoto
E regurgitou após inebriantes instantes
Transitoriedades prazerosas antes do arroto
Detalhe inerte de concupiscência metafórica
Eu, um líquido amniótico fora da placenta
Alheio neste mundo de essência caótica
Cenários de privilégios que a mente sedimenta
Vago e atenuado em milésimo de segundo
O fulgor da lembrança do colorido periférico
Despertou neste eu infinitésimo meditabundo
Uma desagradável sensação de anestésico...
sábado, agosto 18, 2007
história teleológica completa da humanidade
houve primavera
houve luz
houve terra
houve ar
houve chuva
houveram plantas
houveram animais
houveram florestas
houve o homem
houve verão
houve amor
houve familia
houve fartura
houve ouro
houve cobiça
houveram impérios
houve outono
houve invasão
houve queda
houve deus
houveram homens
houveram reis
houve inverno
houve cobiça
houve guerra
houve fome
houveram idéias
houve guerra
houve preconceito
houveram homens
houve guerra
houve tempestade
houve medo
houve frio
e não ouve mais nada
(correção: depois de 22 dias eu notei q eu escrevi ouvido no ultimo verso(eu havia lido os comentários, mas achei q eram pura brincadeira literária, e não notei a digitação incorreta). na acepção original do poema era pra ter sido houve mesmo, mas não nego a utilidade do verbo ouvir sendo utilizado nesse verso, por isso deixo 3 opções de final, à escolha do leitor:
1. a acima
2.:"e não se ouve mais nada"(erro de concordância intencional)
3.:"e não houve mais nada")
Gelo na Córnea
Não acorde - não vai doer
Pelo na cóclea
Não acorde - não vai doer
Cedo vi Eu cego pregando
Pregos em sua sepultura
Passou o dia inteiro
Numa noite em claro
Dissequem meus miolos
Não acorde - não vai doer
Percevejos na narina
Não acorde - não vai doer
Deposito transtornos neste agosto
Decepções etílicas mágoas esféricas
A meio que contragosto e muito desgosto
Coloco na sopa para combinar com a lagosta
Beba veneno
Não acorde - não vai doer
Uma pílula de naftalina
Não acorde - não vai doer
Um vândalo prostrado em mesa de acupuntura
Queria sobremaneira resguardar a cultura
Sonhar com um incessante pula-pula
E um palhaço vestido de demônio
Gargarejo de bílis
Não acorde - não vai doer
Extrato de acetona
Não acorde - não vai doer
Engravatados na lápide estão os pregos
Do meu epitáfio que previamente discutido
O arremesso, a martelada e o rombo
O sangue e o perfil atípico do ferido
sexta-feira, agosto 17, 2007
Vento
o vento me trouxe poeira
chuva
insetos
pragas
o vento destelhou minha casa
derrubou minha floresta
queimou meu gado
derreteu meu ouro
matou minha familia
levou minha felicidade
...pra lugar nenhum
quarta-feira, agosto 15, 2007
Sagrado Manto
Ainda que muito a contragosto
Não cutucarei mais Sagrado Traseiro
Tampouco profanarei blasfêmias
O nome D'Ele não macularei
Enquanto meus dias durarem
Espanto-me, no entanto
Se ao tomar Sagrado Manto
A minha memória atrofiar-se-á
E se não mais puder cantar
Como apaixonadamente cantei
E se porventura esquecer de usar
A consciência que Deus me deu
Livremente, por Ele?
Mas cadê o livre-arbítrio, meu Deus
Eu te rogo e imploro
Não deixes cair meu coração
Pois se tu livras-me do mal
Morrerei por ti, numa encenação.
homicídio
um coração
que pulsa
que crê
que já sofreu
que espera
que acredita
que teme
que suspira
que provavelmente já perdeu alguém que amava
eu atravessei um desses com meu primeiro tiro
e ele cessou de existir
e quem disse que não há poesia no assassínio ?
sulfite
contemplo aqui a vastidão alva
de uma floresta cruelmente estuprada e assassinada
poderia eu ouvir de suas fibras seus gritos horriveis de dor e desespero ?
poderia eu ouvir os animais morrendo de fome ?
poderia eu ouvir o grito angustiante do solo em sua hemorragia estéril ?
obviamente que não
por isso ainda assim escrevo
para preencher os espaços vazios
eu podeira dobrar o fruto deste brutal homicidio e fazer um belo pássaro
mas de que adiantaria ?
afinal seu coração nunca bateria
sua garganta não cantaria
suas asas não bateriam
e ele não voaria
(texto antigo, achei no fichário, escrevi indo para a cptm, inspirado em caieiro, ney matogrosso, e pink floyd)
domingo, agosto 12, 2007
sábado, agosto 04, 2007
A Dádiva da Prole
Pedro Zambarda de Araújo
Dedicado ao meu pai, José Roberto de Araújo
I
Esta é uma lição sobre descendentes
De um pai que não foi austero, sequer severo,
Mas humano e líder, caro
E honrado em seus dizeres.
II
Baltazar repousava em seu trono,
Adormecido, sem nenhum adorno,
Somente a espada em guarda, a prata sagrada
Entre os ferros ensangüentados, mal-cheirosos.
Era um pai que sincero, com muito esmero,
Um caro rei, um imperador de tradicionais leis,
E preocupado com seu escudo, seu agudo senso.
III
O grande lorde tinha cinco filhos,
Todos meninos, todos grã-finos,
Sentados num banquete,
Armados com seus mosquetes,
Artefatos bélicos paternos.
O primeiro era chamado de Valentim,
Era um exímio espadachim, de olhos vorazes
E respiração curta, características audazes.
O primeiro, às vezes, ia ao ministério
Discutir política com os conselheiros do rei,
Tomando as honras do pai para exibir o mistério
De ser nobreza, expor muito mal sua autoridade,
Uma das várias fraquezas.
Discursava como um Pompeu no senado,
Falando dos amores e das glórias do parceiro,
Enquanto a faca ficava à espreita, na surdina,
Ouvindo atentamente a exaltação alheia.
A lâmina escondida clamou por aliados,
Que surgiram como diabos irados,
Sede de sangue, o inferno de Dante
Trouxe a covardia que estava latente
Em suas lâminas ardentes.
Valentim, nada valente,
Guiou o exército durante o sono
Moroso do pai, momento
Sereno, calmo, quieto.
Valentim, bem covarde,
Ergueu um atentado contra o monarca,
Sem qualquer ressalva, ou retaguarda,
E foi morto pelas costas, pela irmandade
Unida na espada do segundo filho,
Prodígio.
Era um tradicional filho, um irracional ninho
De maldições sem fundo, sem nenhum profundo sentimento
E preocupado com seu interesse, que falta de senso inteligente.
IV
Chamava-se Barbarossa a segunda prole,
Era de medíocre formação, inerente opinião,
Só ganhou importância aos olhos do pai pela morte
Do irmão, uma traição bem aceita, pura vingança.
Tal como algo inócuo e oco,
Barbarossa só se revestiu de admiradores,
Esquecera da própria gratidão paterna, horrores
Percorreram o saguão do palácio,
Eliminaram seu corpo, restou o mistério.
Era um filho perdido,
Um machucado sem sentido
E inserido numa felicidade escassa.
V
Lázaro era o quarto herdeiro,
Tal como o nome, era moribundo eleito,
Sofreu cento e oito mortes, e passou por tudo
Para continuar respirando.
VI
Lázaro se isolou numa ilha,
Mal sabia que caíra na armadilha
De seu gênero de indivíduo.
Estava morto por cansaço,
O trabalho árduo de sobrevida
Virou ferida, sem cicatrizar.
Era um masoquista vivo,
Um machucado sem sentido,
Era um imerso numa tragédia total.
VII
Amadeu era o terceiro irmão,
Sofredor das dores de Lázaro,
Era um emotivo muito avaro.
Sua avareza constituiu uma rotina de repetições
Entre as repartições monárquicas,
Foi preso por inúmeras corrupções
Entre os serviçais.
Os soluços e choros escondiam outro Valentim,
Mas meio retraído, meio serafim.
Era um resto de refeição andante,
Um indivíduo pedante,
Um filho que sempre se esconde.
VIII
O pai Baltazar então, depois de tantas decepções,
Foi dar cabo do último filho, o humilde Luís,
Estava feliz brincando com suas imaginações,
Um sublime inventor.
IX
A espada foi apontada ao pequeno Lu
E ele reagiu atônito, quando um trovão caiu,
Eram as lágrimas vertentes do velho desconsolado,
De um sentimento atordoado.
O rei desatou de vergonha,
Por que ferir o último herdeiro, o último cavaleiro?
Por que se martirizar por não terem eles o seu destino?
O rei cedeu à sua própria água
Que desfilava em sua valentia,
Em sua face brava.
X
Grande, Luís tornou-se
E jamais se esqueceu das dores do pai,
Mas foi revoltoso como os irmãos, cansou-se
De criar novas leis, integrar-se com outros reis, ser seu
Próprio mestre e aprendiz, superou-se.
O grande Luís, hoje, observa
As rosas depositadas no jazigo do velho Baltazar
E lembra, sem pestanejar, dos irmãos odiados, o rejeitar
Do respeito paternal, do sentimento que realmente ama.