segunda-feira, novembro 26, 2007

Cansa-Aço

É...
Todos, como humanos de ferro que somos
Liga de ferro e carbono que forma nossos gélidos corações
O anseio elétrico que compõe a nossa alma
Os versos bárbaros prosaicos que tecem apenas uma confissão
E o nada escrito mostrando mais do que um verso sem razão

Mesmo compostos de ferro, nos cansamos
Nos cansamos de acordar
Nos cansamos de dormir
Nos cansamos de respirar
De ir, de vir, de chegar, de esperar...
Nos cansamos até de nos cansarmos!

A eterna máquina humana que nem em sonho descansa
Mas nos sonhos mais se cansa do que fica resguardada
Como os longos versos de textos futuristas
Tão cultistas do metal que esqueceram
Do aço que corre por suas veias
Afinal, as hemácias não contêm o ferro e o carbono?

Nos cansamos! Nossa energia potencial transforma-se em calor
Mas não o calor humano que aquece nossos corações com sangue borbulhante
Mas o calor dissipado que torna exotérmica a nossa alma!
O champagne estoura mostrando o progresso!

O mundo veloz, atroz que persegue! Com seu aço, sua doutrinação e sua tecnologia...
Até onde?

Uma poesia para uma prostituta

Segue, abaixo, versos, pedaços de frases completas,
Das linhas diversas que percorrem o meu consciente
Produzindo impulsos líquidos, elétricos, fluídos em
Circuito, do sistema de contatos, do observador de
Mundos, do mudo processo de relato, contrato.

Um pedaço pautado, escrito e rabiscado
Relata meus sentimentos pessoais para você,
Intercalando racionalidade e abstração, estou absorto
Para lhe contar minhas leituras, a partitura
Que talvez te irrite, como todas as outras.

Você não é culpada por vender seu corpo,
Nem por aproveitar os divertimentos, celebrar
O descontentamento de meus companheiros,
A ausência de suas esposas,
Na verdade, acho que não é isso que você
Faz, acho que o que te retrai é a sua falta de
Profundidade, alguém que ame a promiscuidade
Seria mais feliz.

Você não é culpada por vender seu corpo
Em um mercado de moldes, em uma caixa
De brinquedo, um envelope de correio.
Você não é bastarda por abrigar parceiros
Sexuais por muito tempo, mas solta gemidos e choro
No relento do seu pequeno enterro.

O mercado, a venda de suas peças,
Não me comove e nem me escandaliza,
Eu não sou mais jogador moralista.

Não sou teu inimigo, talvez
Seja seu amigo, embora seja minha vez
De te colocar de castigo, punir seus paradoxos
Porque eles não são naturais, são ortodoxos.

Prostitutas, mulheres ou homens,
Não esperam o cliente na porta do cabaré,
Prostitutas não balançam bolsas, não são
Tão trouxas, nem chegam perto da Roxane
De Sting, a moça que suja, sem dar vexame.

Prostitutas habitam corações comuns
Que elevam o exibicionismo em níveis absurdos
E calam seus raciocínios mais astutos.
Se fecham em corpos, se viciam em alienações,
Devoram o cigarro da auto-corrução.

A prostituta desabrocha no seu coração, minha amiga,
Amarga suas relações, apodrece suas convicções, está sempre aliada
Nas mais contraditórias das paixões, o ódio que te torna inócua,
Evacua suas reservas, são resíduos das suas táticas perversas.

O verso tece os contornos de seu corpo
E ele não está se exibindo num desnudo encontro,
Está acuado em um quarto escuro, chorando todas as
Coisas que tua cabeça torta não confia.

quinta-feira, novembro 22, 2007

infofadiga e eletrosaturação



estou cansado
cansei dessa onda de informação
cansei do conhecimento ao alcance dos meus dedos
cansei de ver muito e notar pouco
cansei da distância entre as pessoas
cansei de palavras sem voz frases sem emoção e emoções sem expressão
cansei de informações sem sentimentos
agradecimentos por nada
sarcasmos invisiveis
questões sem resposta
e respostas sobre nada



quero mais vozes sem palavras
emoções sem frases
sentimentos sem informação
contato humano
silêncios confortáveis
calor
amor
pavor
e odor(seja qual for)

quinta-feira, novembro 08, 2007

Viuvez

Não me lembro do momento certo em que me apercebi sem a possibilidade da sua presença; me veio aos poucos, ou eu o soube e o bloqueei de mim: fiz de esperançosa, fiz-me desangústia. Mas esta me surgiu, na data incerta que o meu apagar não deixou ser súbita; eu não queria acontecimentos. O seu espaço está desocupado em meu ventre - é o agora e é só e enerva - como se a raiz empurrasse angústia e cimento para alcançar e continuar a ser. Aqui tem as representações suas, os números e as letras: provam que você houve e não servem de nada - rabiscos de um só na caverna, ficam no tempo futuro se o presente deles esquece. Eu não vejo as letras nem os números; apenas, quando os invoco, sinto seu joelho no meu e amo sorrindo a angúsita de não amá-lo de perto.

Quando eu morrer

Quando eu morrer, que me queimem
Ninguém vai ganhar dinheiro vendendo caixão
Ou pedaço de terra em cemitério.
Também não comprem velas
Ou gastem lágrimas
Pois nada me traz de volta.

Que doem meus pertences
Tudo aquilo que consegui trabalhando
Ou o que ganhei em meus aniversários.

Mas rasguem as fotos e queimem as roupas
Destruam os vídeos
Apaguem os registros
Que não sobre cheiro, nem gosto
Nem imagem, nem som
Do que um dia eu fui

Porque quando eu morrer
Eu quero ir decerto
Nada mas me ligará a este mundo.
Que não chorem os pais que se foram
Os amigos também já mortos
A mulher que não tive
E o filho que eu nunca criei

Quero apenas estar vagando junto ao vento
E cada pedaço voará para um canto
Tocará uma casa, uma árvore, uma pessoa
E eu estarei em todo lugar
Serei parte do mundo que me abrigou
E do qual eu fugi
Para sempre

domingo, novembro 04, 2007

Ir e voltar - A ressaca

O velho Machado relatou bem,
Capitu me fazia dar voltas em círculos,
O velho falou tanto, lembrou o quanto
Nossas ações são vagas, cúmulos.

As voltas dos olhos negros,
Das ondas lentas, do mar sem medo,
São como contrações do sexo, sem nexo.

O gozo derruba minha parceira,
Com ela sinto afeição, dou uma piscadela
Certeira, estou satisfeito. Alimentado?

Beijo-lhe os lábios e meus sentimentos vão, como lacaios,
Para a taverna dos meus falsos rostos, faço cara de quem
Fez amor e estava mais interessado em cem prazeres.

Ela acua, pensa que não me machuca
Com seu olhar amedrontado, acha que foi usada,
Colocada em venda, sem remenda.

Chora, meu amor agora chora, hora
Da minha mudança de atitude,
Falsos moralismos onde a culpa
Não foi minha, nem tinha como.

E acabamos de novo na cama, nas ondas
Que não sei dizer se é do mar ou rio, obras
Do engenhoso ou do manhoso
Dia que me aguarda, trabalho.

Acabamos mortos na cama, com a minha cara solúvel,
Molhada, substituída.

E ela volta a tremer de medo. É o indiferente.

Inconsistente é a ressaca,
Que sem sistema, caça
As feridas e as mordaças.

sábado, novembro 03, 2007

Piano, solidão e felicidade

Contarei uma estória simples, um trecho limpo,
De natureza ampla, num ponto efêmero.

As teclas desciam e subiam num ritmo apetitoso,
Notas subiam até a imagem do cérebro, vagarosas,
Era um menino com menos de dez, tocando
No âmago dos cinqüenta anos.

Essas teclas só subiram agora, ele passou as mãos no rosto esguio,
Em seus olhos verdes cor de água, em seu pensamento muito valente,
Potente em sua criatividade, delicado como sua intimidade, sua timidez
Exposta, procurava nem sair de casa, nem sair de sua própria cabeça.

Passou outras vezes a mão pelo seu companheiro enorme e negro,
Cujas cordas silenciosas povoavam seus sonhos, seu desejo
De se ver tocando num palco, sem medos ou desesperos.

No entanto, nunca passou do estado de tocar a si mesmo,
Tocar uma música para si e sentir, no bruto, as sensações etílicas,
Tocou a si e se tornou diferente de todos, num esforço a esmo.

Sentia-se sozinho,
Sentia-se abandonado até quando tocava o piano,
Sentia-se sozinho e abandonado com seu piano.

Teclas descendo, mas era feliz, era assim, como uma atriz
Que recita um canto melancólico, mas que se enriquece
Com o doente, com a arte entre a gente, sensível quis
Que o mundo inteiro chorasse como ele faz, todo dia.

Lágrimas e teclas,
Dos humanos, talvez um dos mais vividos deles,
Nunca teve uma garota, um orgasmo real, um reles prazer
Corporal,
Teve sua música, suas lições e emoções, encontrou
Seu próprio fazer analítico, metódico e poético.

Lágrimas e teclas,
Não sinta dó de quem chora,
Nem de quem parece eternamente só,
Que cora poucas vezes.

Lágrimas e teclas,
Não procure sentir tudo o que o pianista
Expressa, procura na tua alma
A tua melancolia secreta.

Lobos

À Carol

Canis lupus.
Animal. Mamífero, carnívoro
voraz. Vive em bandos. Macho
alfa domina alcatéia
(alcatéia!) uivando
muito! muito! muito!
Os mais fortes na Avant-garde.
Prole boa:
Macho forte Fêmea forte.
Bicho bravo.

(e caras-de-pau dizem que Homem é o bicho mais esperto)

25/08/2007

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Originalmente postado no deviantArt, aqui.

Comentários apreciados.

quinta-feira, novembro 01, 2007

a verdade


sou honesto, franco, e não faço eufemismos, porque eu vim para esse mundo para mostrar como, por mais que seja cruel e afiada, a verdade é maravilhosa por si só e como ela é, nua, crua, fria e pulsante.


(não sei se este é um texto que sirva pro blog, visto que ele é apenas uma frase, mas quando vi, já estava postando)

segunda-feira, outubro 29, 2007

Brincadeira de boneca

Era uma garota sempre atarefada,
Estava rodeada de pessoas, abafada
Pelo uníssono da multidão, abraçava
Muitas figuras, era sempre muito quista,
Muito mista, carregava muitas listras na bolsa.

Mostrava fotos de auto-promoção,
Fazia elogios para graduação em relacionamentos,
Era um tormento quando falava, ao som de fundo
Das bijuterias que chacoalhavam ritmadas, incômodo.

Tinha o melhor namorado,
A melhor morada de idéias
Junto com a melhor roupa,
Era uma imagem alheia,
Inerte, areia de um deserto.

Tinha os melhores momentos
Memorizados num relento
Impuro, num saudosismo fajuto.

Era dona do melhor beijo,
O eixo de sua comprovação barata,
Era uma caipira no sentimento, uma lorota
Em procedimentos mais profundos.

Adormecia pensando que a vida era uma fantasia,
Mas não esquecia suas doses diárias de cocaína,
Uma bituca no cigarro e um mergulho na caipirinha.

Adormecia pensando que a vida era uma fantasia,
Quando queria mais é tornar os fatos artificiais,
Os sentimentos anormais, necessidades mais canibais,
E devorar a virtude companheira sem mastigar.

Era um rostinho lindo, redondo e coberto por mechas loiras,
Talvez fosse uma morena esbelta, uma modelo dos açoites
Internos, que são gerados nesses regimes loucos.

Era um rostinho lindo e trágico,
Uma brincadeira de boneca
Com um projetor rolando cenas
De filme de princesa, hábito
De ditadora, perfume de moleca.

sexta-feira, outubro 26, 2007

Inutilia


Minha cabeça é um amontoado de amontoados.

Bagunça pessoal, interna. A pseudo-cultura me (nos) derrota;
versos queimados em fogueiras-imitação-de-cultura;
lampejos geniais tornados ridículos;
criação impedida por incapazes de idéias
efêmeras: invocadores cotidianos do luxo
mais-que-importante, necessário (imbecilidade
engarrafada), vendido. Mentido
tem aqueles banais consumidores do ócio:
ridicularização do conteúdo invulgar;
metafísica dos lançamentos,
porvorosas épocas inúteis:
natais! anos novos! páscoas!
Antínoos clonados, rebanho
midiático, rapsodos dos modismos!

Vinde a mim os fúteis, diz o Messias do Século XXI.

25/10/2007


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Originalmente criado para publicar-se na comunidade "poesiaPT" do deviantArt, cujo tema deste mês é "Vazio".

quinta-feira, outubro 25, 2007

Está Tudo Bem

Esta roupa, este ar, este tempo já não cabem em mim. Talvez tenha engordado, as narinas tenham se fechado, ou foi o tempo que passou. Ou uma angústia daquelas, da meia-idade, tenha finalmente aparecido pra me instigar arrependimentos, a pensar ‘se...’, ‘se não...’. É o típico momento de recapitulação, que acaba uma capitulação pela impossibilidade de voltar. Cada mulher, poucas, relembro, despedaçadas; a boca e os seios de Luciana, a cicatriz nas costas de Bruna, as pernas loucas de Letícia, o cérebro e o gosto de Julia, de quem ficou a amizade. Só não recorto Madalena, essa vejo toda, porque todo tempo a vejo. Aqui e ali, no quarto, levando o Murilinho pra escola, me beijando em selo a boca antes de saírmos e nos separarmos; depois, à noite, no reencontro. Vamos nos acostumando e criando rotinas com as pessoas, como foi conosco. Hoje eu não poderia olhá-la e gritar, gritar e abraçá-la bem forte como às vezes penso em fazer. São códigos. Fazemos, enfim, passam; está tudo bem, fizemos. Mas agora o desejo de quebrá-los todos me vem mais e mais forte. Chego a imaginar com ardor uma frase absurda em cima da cama, de pé, dita a ela num assomo de lucidez. Não poderia dizer depois: Amor, desculpa, foi loucura – tinha de ser a sério, como a vontade se me anuncia. De sopetão, quebrar a hora, o bom-dia. A cara de Madalena estampada no rosto , aquela de mulher que faz acontecer. Quantas vezes não penso em dizer, Puta!, Maldita!, Piranha!, aos berros, sacudi-la e ver o que sucede. Dizer palavras insensatas, impuras, e mordê-la na boca como nos inícios dos nossos namoros no banco de trás do carro. Mas é ela ali, a mulher que pariu, que escolheu o carpete e minhas camisas; que fez o jantar e se lavou depois do sexo; que me fez sentir dispensável, mas não completamente; que cuidou da casa, dos filhos, do trabalho e continuava se desvelando por nós, pela família! Família esta que era e é minha nova identidade. Como eu, em um egoísmo absurdo, poderia quebrar esse elo todo estável, de palavras e ações em rede, interdependentes e dosadas de certas emoções certas? Quando ela chegou ao quarto, eu deitado na cama com os olhos hipnotizados na imitação de um Dalí na parede:
-Oi, amor. – me beijou – Que foi? Tudo bem?
-Nada não. Tá tudo bem.

segunda-feira, outubro 22, 2007

Verbonominal Transgressão

Transgrido, transgressiono o algoz
Aquele que me pressiona me impressiona
Com sua altiva capacidade de convencer

Convencer-me a tentar corretamente escrever
O atroz idioma...
Que a verbos flexiona e me curva
Minha visão de criativez turva
E eu transgrido ele! Ah se ele transgrido sim!

Rompo! O desmantelo! Apresento-lhe seu descalabro!
Sua ruína!
Fascina até o facínora que escreve
Que se atreve a desafiar, desafinar
Toda a consonância léxica

Apegando-se aos valores semânticos de composições e derivações impróprias
Mas o que são derivadas senão meras funções?

Funções! Sintáticas, escalafobéticas, matemáticas!
Mate! Má! Ticar!

Escalofobia! Medo! De escalas, escadas, fobia, pavor...
Devaneios de uma alínea e linear linha de luci... dez?
Que luz nas trevas de pensamentos?
Que luz na escuridão do tormento de não saber?

Escrever? Não mais direitamente.
Para que penetrar surdamente se o silêncio estraga a diversão?...

Infrinjo! Gasto meu célebre cérebro, célere também!
Como uma onda, vai, vem...
Como na estação um trem. Outrém...

Para que não usar-se de digressões
Agressões à coesão! À coalizão, máfia do idioma
Indústria que julga a cultura; juga...

Para eles, o real
Idioma é cutura
CU tura
Cobretura
Cobertura
Fachada
Farsa
Falso
Fosso.

terça-feira, outubro 16, 2007

Apenas mais um

Sou um homem médio
De estatura média,
compleição média, classe média,
capacidade média, inteligência média
medida pela sociedade média padrão.

Vivo no meio do caminho,
sou um arauto do quase.
Tenho uma quase namorada, que quase me ama.
Tenho quase amigos que quase se importam comigo.
E quase sempre tento manter as coisas em ordem,
embora quase sempre não consiga.
Eu quase consigo amar.

Sou homem comum,
Daqueles que passam despercebidos na multidão,
às vezes até mesmo quando sozinho.
Minha família não me ama, gosta.
Meus conhecidos não me gostam, simpatizam.
Meus inimigos não me odeiam, desprezam.
Também não me arrisco em aventuras desenfreadas
nem desfruto da tranqüilidade dos pacatos.

Cristo, que vida inútil!
Vida que não é vida nem morte,
vida que não consegue sequer ser não-vida.
vida insensível, invariável,
vida matando vida, matando tempo,
apenas esperando seu enterro passar.

segunda-feira, outubro 15, 2007

Júlia

Ela é muito feminina. Júlia. Perfeita. Sublime. Uma musa.
Desperta os sentimentos mais profundos e sinceros de todo homem que a avista, sem falar dos desejos lascivos.

Lábios perfeitos. Só de imaginar seu beijo em minha face imberbe, tenra e quase imatura, surgem em mim efeitos fascinantes. Creio que já gastei incontáveis horas no banheiro por causa dessa mulher. Ah, Júlia, que mulher.

Um adjetivo? Tesuda. Antes vulgar do que insincero. Tais curvilineidades provocam cócegas de prazer. No íntimo das mentes masculinas (e lésbicas, bem provável).

Lábios perfeitos. Júlia. Quero adoçar minha boca com a sua. Exalto-a, tão perfeita quanto a sua pessoa. E que língua, deveras graciosa! Pedaço de paraíso. Sua língua, cuidadosamente comedida!

Julia II

Na poesia encontro a ti, Musa

Júlia, passional, destrói qualquer
Amor conjugal

Insinuante, que delícia humana.
Traz à tona escolhas aviltantes.

De baixa estatura, precisamente formosura
Delicada, incomparável deusa
Imoral, Dama do Mal
Faz de tudo para obter prazer

Lábios Perfeitos, Júlia
Mostre-nos suas pernas, nuas
Perfeitas para enterrar em jugulares.

domingo, outubro 14, 2007

Leitura preparatória para a redação

Sento e leio. Sou de um tempo efêmero. Sei sim que sou de um tempo curto, que não vou durar muito. Mas o costume matutino é um trabalho do Olimpo, um dever cívico. Sento e leio para conseguir viver.

Nas palavras que observo, recrio as minhas visões, meus conceitos durante o nascer do sol embriagado pelo meu bocejo vagaroso. As páginas vibram diante de minhas pupilas pacientes, incisivas, uma calmaria que rompe suas frases. Tomo a caneta tinteiro e redijo algumas frases soltas sobre a matéria do dia, o romance até seu término, a folha que não vai sair da minha frente até que a redação da Gazeta de Notícias comece a se mover.

A voz de minha esposa ecoa na minha mente, e a rosa que deixei na escrivaninha de nossa humilde casa acolhe ela como se fosse meu próprio carinho. O grande número de textos a escrever consome qualquer tempo que eu queira ter mais livre. Passo as mãos sobre a barba, ajusto o óculos, começa o expediente.

Escrevo minhas colunas, crônicas, matérias, tudo o que um informativo pode conter. E, enquanto componho, Quincas discursa em meus pensamentos, a velha católica e frígida lamenta na varanda, o menino Bentinho espera para pegar minhas mãos e proferir sua versão da história.

Escrevo minhas colunas, paro e repenso. O que estaria eu compondo?

Decido então escrever para o leitor, um expectador qualquer, para relatar minhas leituras preparatórias para uma simples redação como essa. Um texto sobre leituras, uma amostragem de um composto.

Vivi num século onde os escritores ruminavam suas próprias palavras, passavam horas se vangloriando do feito e compunham excessivamente, pois nada era suficiente. Ruminar uma idéia me fazia refletir se a repetição de pensamento valia a pena. Então mudei o foco, reescrevi o roteiro, repensei o método, o repertório.

Vivi num período onde ainda podia enxergar a palavra “Machado” lustrosa na minha mesa, nos meus documentos e na minha alma. Hoje, assim como Brás, não tenho certeza de qual tempo eu sou, em que espaço teço minhas construções.

sexta-feira, outubro 12, 2007

apartamento


primeira noite no meu novo apartamento velho. velho e usado, abandonado, ainda com meia duzia de móveis e pó, que ninguém quis comprar. a luz e a água ainda não foram ligadas, lâmpadas quebradas, privada entupida, marcas de chamas pelas paredes, forte cheiro de mofo e poeira velha. minha primeira noite morando sozinho.
o sol desce no horizonte, gigante e rublo como uma grande forja, tinge de laranja o seco e triste céu do planalto central. laranja-ferrugem, laranja-ferro, ferro do sangue dos corações e das almas desse povo.
na rua a poeira abandonada pela chuva que nunca vem. estendo meu lençol sobre o velho colchão sujo de suor e sangue velhos. me deito. fecho os olhos, não por cansaço, mas por tédio. amanhã acordarei cedo, procurarei emprego. mas, por hoje, o cansaço.
uma gota pinga da goteira do vizinho de cima, o prédio agoniza em silêncio. ao que parece, de todo o prédio, só dois ou três se mantém ocupados, e mesmo esses, por pessoas que não sabem sequer falar.
ninguém quer morar nessa desgraça, esse prédio abandonado, até os sem-teto recusaram. o que estou fazendo aqui ?
ouço as baratas andando pelo forro, ouço uma mosca ao meu ouvido, sei que perto da janela há uma aranha à sua espera; e no armário do banheiro, uma lagartixa parte em sua caçada. juro que ouço o surdo som dos cupins comendo os tacos, e das crianças na rua roendo as lixeiras.
o som dos carros na rua se abranda à um ou dois, eventualmente. um cão ladra sua solidão, um bêbado canta suas mágoas que do sétimo andar se ouvem, e sobre uma casa dois gatos urram seu prazer.
o sol já se foi, e uma anil luz brota do brigadeiro céu convalescente do nosso planalto.
ah planalto central. planalto central, inferno do mundo, planalto de desilusão, miséria e fome, terra onde nasci, onde muitos morreram, ou esqueceram quem são.
os barulhos da noite nascem surdos para tomar aos poucos meus ouvidos. a brisa venta, seca e quente como palavras enciumadas e enraivecidas. um grilo, uma cigarra e mil aleluias murmuram em coro sua canção pedindo água e respeito.
tarde da noite chega. a escuridão toma tudo por completo. e o silêncio vence por cansaço os inimigos que agora pisa.
seu antenor surge capisbaixo, indo de um lado à outro, arrastado as chinelas velhas e carcomidas. pára por um instante, me vê, e diz:
sabe meu filho, a vida é engraçada, você trabalha toda ela para construir alguam coisa, e um belo dia, descobre que isso num mudou nada.



(incompleto, prazo para término indeterminado. inspirado em: faroeste caboclo de renato russo, Confidência do Itabirano de carlos drummond de andrade, morte e vida severina de joão cabral de melo neto, e brasília, de juscelino kubitschek)

segunda-feira, outubro 08, 2007

A diva vazia

desperto

amortecido nesta cavidade

e esta entranha

toda exposta

maldisposta

recusa-se a cicatrizar


......
......

apresento-lhes

a Rainha das Meretrizes, Bocetrizes

Cuja lembrança resgatada

dos recônditos esquecidos

das dobras do ocaso

mais oca que um santo barroco

......

traga me o fim

o vácuo abismal

a escuridão perfeita

as pétalas da noite

que desenham verdades

acabou, por ora.

......

aquele grito

delicioso

delineia a noite

como maquiagem de pobre

um minuto depois

e já foi embora

hão de convir, sadismo autêntico

sobrou uma vã existência

vestida de negro

com seu mais estupendo

vaticínio - gracejante

......

A diva vazia, supérflua

de alma lânguida, álgida

aflige o escritor, chula

com puto poder de sedução

......

É o fim

Diva, traga me o fim

um abismo para eu cair

espadas para a mim trespassar

volto ao meu pó

o mais puro nada

este vazio?




...

domingo, outubro 07, 2007

Números, números, números

Trinta e dois, sessenta e quatro, noventa e seis,
Cento e vinte e oito, duzentos e cinqüenta
E seis; O número, capataz que atormenta
Que conta, que mostra, ferramenta de reis!

Quinhentos e doze, um mil e vinte e quatro
Simbolozinhos nos papéis protagonistas
Que matam, consomem cérebros em vãs listas
Exercícios pífios, temperam o teatro

Co'amaro sabor de necessidade plástica
Atualmente usado por matéria escolástica
Despido da real e verdadeira essência

Teatro da vida, onde fingimos ver
Que algo podemos com os números fazer...
Não calculamos! Por quê? Degenerescência!

O motor humano se esgotou mais uma vez...

sexta-feira, outubro 05, 2007

O gauche às avessas

"A felicidade é um estado de espírito, por conseguinte, não pode ser duradoura."
Oscar Wilde

"Tudo vale a pena, se a alma não é pequena."
Fernando Pessoa


Passam horas, passam dias; passam pessoas, passam vidas. O amigo de infância que morreu baleado, o outro que se atirou de um prédio, as situações caracterizadas por um desespero imenso que – simplesmente – sumiu. Não é só você (ou eu) que envelhece: as idéias também. Cada algarismo passado é uma Revolução tornada ridícula. O amor que desmoronou. Nosso tempo não é o nosso tempo; cada dia é passado para trás antes mesmo de terminar.

As pessoas são tristes quando consideradas sem ênfase. Igualmente os momentos, eles são únicos. Poucos deles realmente vivemos; pela grande maioria apenas passamos. A preguiça escusa que rouba a hora potencialmente divertida; a preguiça cruel, oportunista, desgraçada. Seguida do arrependimento. Delírio de inferioridade constante. Enfatizar tudo é uma mentira: temos menos amigos que colegas, menos felicidades que amarguras.

O dia-a-dia é sujo e chato e azedo. Desequilíbrio. Sentir-se pendurado em uma janela desde a hora que acorda. O mito de Sísifo: levantamos nossa pedra (para alguns, pedregulho) e somos obrigados a vê-la rolar novamente para onde começaram nossos esforços; para o zero. Mas não é o morro e sua encosta que nos derrota; o peso do fracasso só é evidente quando se concorda em erguê-lo. Lutar contra o Fantasma diário, que nos alimenta de medo e mais medo.

O Absurdo é a verdade? Viver é mesmo fugir das ilusões e das luzes, de toda a (pouquíssima) esperança que temos? Eu não quero essa realidade. Louco, paranóico, estranho; prefiro ser um sonhador maluco do que um realista suicida. A sociedade fede, a responsabilidade fede, o amor-escravista fede: hei de comprar muito perfume!

Mais deprimente do que viver triste procurando alegria é viver alegre – ou quase – procurando a tristeza; o primeiro ainda vive, o segundo já morreu.

05/10/2007

De perto acontece.

Não há nada muito peculiar nesses dias, só uma conclusão velha que não pára de se manifestar como uma epifania à medida que entro em contato com seres humanos, tão semelhantes e distintos de mim.

Temos sim a constante necessidade de generalizar. E não adianta fugir ou encobrir essa verdade. Resolvi, então, simplesmente, passar por cima das generalizações e me aproximar das pessoas. Aproximar-me não emocionalmente ou psicologicamente, alegorias normalmente usadas nessas palavras, mas simplesmente de chegar perto, observar, abrir esses dois glóbulos que tenho e tentar construir algo produtivo nessa atividade.

Sumiram de mim as concepções de feio ou bonito, restou apenas uma noção básica de estética ligada à sensibilidade. Fiquei observando essas pessoas há horas e continuo com impulso de olhar, quase numa atração voyeur.

As monstruosidades ficam amostras. Mas não é para apavorar, uma vez que você tem sua própria criatura de estimação em ti. O monstro se prostra para você ingerir seus conhecimentos, suas dores. Doer é fazer contato.

Beleza então fica duradoura. Beleza então fica paradoxal. Eu fico com vontade de observar de diversas maneiras. Gosto de ser percebido ou de passar como um fantasma pelos outros. Mas o objetivo principal é ver, compreender suas limitações e seguir para a próxima pessoa. Se algum detalhe faltou, volte e reavalie.


Não quis, com essas palavras, parecer íntimo de todos. Quis apenas expressar assim como eu gosto de ver. Joguei as palavras no relento e descobri que, mais do que os significados, está a capacidade de significar. Mais do que a generalização, do que chamar a mina X de patty e o rapaz Y de intelectual, está a capacidade de chegar nesse veredicto. Acabei entendendo que o tesão da vida não é o julgamento, mas seu processo.

Está acontecendo agora. Vai morrer a qualquer momento.




Pedro Z, 05/10/2007.

Linhas inscritas em uma taça feita de um crânio

Não fuja – nem julgue a fuga de meu espírito:
em mim vejo o único crânio
do qual, diferente de uma cabeça viva,
tudo o que flui nunca é estúpido.

Vivi; amei; bebi – como tu;
morri: deixe à terra meus ossos resignarem-se;
complete-me! – tu não podes ferir-me;
o verme tem lábios mais nojentos que os teus.

Antes manter meu legado vivo
à acalentar a viscosa ninhada do verme;
e circular em torno da taça
a bebida dos deuses à comida dos répteis.

Onde uma vez brilhou meu pensamento,
em benefício de outros deixe, de novo, mostrar-se;
e quando, infelizmente, nossos cérebros forem-se,
qual mais nobre substituto que o vinho?

Beba enquanto pode; outra ossada,
quando tu e os teus forem como eu,
podes salvar-te do abraço da terra,
para rimarem e deleitarem-se com morte.

Por que não – já que durante a curta vida
nossas cabeças tão tristes efeitos produzem?
Redimidos dos vermes e da infértil terra,
essa chance é a delas serem úteis.

31/10/2006.

.

Esta tradução é de um poema escrito por Lord Byron - Lines Inscribed Uppon a Cup Made of Skull - do qual gosto muito. É uma sátira sobre um crânio encontrado na Abadia herdada por ele onde foi esculpida uma taça. Falta muita coisa nesta tradução: rimas e métricas. Perdão, mas ainda não tive paciência para remontá-la. Obrigado.

.

Pois é... faz tempo que não falo a respeito dele, mas o quase-blog que criei - O Monólogo de uma Sombra - foi atualizado. Postei alguns textos que gosto bastante. Não me perguntem porque diabos resolvi colocar coisas lá, não fechá-lo: não sei. Simplesmente quis. Além do deviantART, queria ter algum outro meio de publicar minhas coisas (sem desmerecer o BlueWriters, mas desejava algo meu).

A url está ao lado, nos sites relacionados deste mesmo blog. Quem quiser visitar, agradeço.

quinta-feira, outubro 04, 2007

Peleja

Os pássaros que caem do céu
Sobre seu sangue eu caminhei
Os gritos das mães, as asas contorcidas
Perdido entre penas e mártires

O vôo de algum dia, meu retornar
Ao que eu nunca fora
Expulso, jogado para o lado de fora
Esperando apenas por esperar

Nuvem negra descende em cascatas
A chuva tem gosto de vingança
E assim, feito um rasgo na comodidade
Aspirantes a deuses surgem da sujeira.

Ao amanhã as armas serão carregadas
Mais e mais casualidades ocorrerão
Não mais o cantar de vidas fugazes
Não mais o trair de vilões atrozes

The Dawn

Act 1- The Dawn

A menina sabia o que viria a seguir. Faziam anos que a tradição não era quebrada, mas seu teste vocacional acabara de confirmar o que ela já sabia. Não tinha vontade de ser espadachim. Dobrou o papel da resposta calmamente enquanto dizia ao homem a sua frente que queria seguir o caminho descrito na folha. Enqüanto o homem entregava-lhe itens imprescindíveis para um bom começo na sua profissão, ela pensava em como esconderia, pelo menos no começo, tal disparate à sua linhagem.
Tinha sangue da família Hopkins, antiga descendência de excelentes lordes. Toda a criança nascida em seu berço era imediatamente levada a um treino na arte de manusear espadas, que perduraria por anos, até que este atingisse a maioridade. Tornavam-se espadachins muito cedo, e a corrida de irmãos para mostrar mais talento era um espetáculo tenebroso apreciado pelo chefe da linhagem. Atualmente tal posto era ocupado por Werther Hopkins, seu pai. Ele teria o desgosto de não ver sua filha chegando em Izlude, e mal saberia que agora ela pisava em Alberta.
Andou pelas ruas empedradas da metrópole comercial até avistar o que parecia ser a guilda dos mercadores. Haviam alguns outros na mesma situação -ao menos aparentemente- que ela. Entrou na fila e dirigiu-se ao homem atrás de um balcão para candidatar-se a profissão.
-A inscrição custa mil zenys, mas se quiser pode parcelar em duas vezes. Uma agora e outra quando acabar o teste.
-Prefiro pagar numa vez só.
Talvez fosse sorte da menina que sua família fosse rica, mas certamente preferiria liberdade de futuro a condições monetárias. Desembolsou mil zenys, permitindo ao homem que desse-lhe um código e dissesse:
-Vá até o chefe do almoxarifado. Ele entregará uma caixa correspondente ao código. O destino é a Ilha Byalan, com a Kafra responsável pelo local. A ilha é acessível pegando um barco na cidade de Izlude, o marujo não cobra tão caro.
-Sem problemas. Voltarei o mais cedo possível.
-Ah! Se não for um incômodo, poderia levar essa carta a ela?
Surpresa com o pedido do homem, aceitou o pedido. Dirigiu-se ao chefe de almoxarifado, dise-lhe o código e o destinatário da encomenda e recebeu uma caixa do mesmo. De posse da caixa, seguiu até o norte de Alberta, onde uma funcionária Kafra atendia seus clientes. Mais uma vez a vantagem de ter dinheiro bateu-lhe na porta.
-Com licença, senhora, gostaria de um teleporte para a cidade de Izlude.
-Com prazer.
Sem delongas encontrou-se na cidade de Izlude. Faria de tudo para não precisar pisar naquela cidade, porque algum servo dos Hopkins poderia estar espionando a saída da guilda dos Espadachins, ou até mesmo toda a cidade, a procura dela. Espremeu-se por vãos entre as casas, fazendo o máximo para não ser vista. Olhou para o outro lado da praça central, e para seu horror avistou um dos capangas de seu pai. Virou o rosto e acelerou o passo. Uma mão a segurou. Sobressaltada, virou-se para ver quem era.
Um espadachim, menino, pela face infantil; desproporcionalmente alto para a idade que aparentava, olhava inocentemente para sua face.
-Desculpe pelo susto. De quem está fugindo?
Ela não conseguiu evitar olhar para o servo, e o menino, percebendo para quem os olhos dela apontavam, posicionou-se num modo que impossibilitava ao homem vê-la.
-Por que está fazendo isso?
-Eu... sei o que é fugir de alguém. Vai até onde na cidade?
-Não sei se posso confiar em você...
-O que você tem a perder?
Os olhos dos dois se encontraram. Era possível ver que ele não mentia, nem era ameaça.
-Para o porto. Preciso ir até Byalan.
-Certo, siga-me.
Os dois chegaram até o barco, onde o capitão da balsa os recepcionou.
-A passagem para Izlude custa cento e cinqüenta zenys, senhores.- Olhou para o espadachim.- Por pessoa.
-Você vem? - Disse a menina para o espadachim.
-Sim, Byalan é um lugar interessante para treinar...
-Eu pago a sua então. Como gratidão por ter me salvo.
Embarcaram os dois na balsa. A maré estava calma, e uma brisa refrescante soprava em seus rostos. Ela olhou para o menino.
-Qual o seu nome?
-Eu... não tenho nome. Me chamam de Iron Knuckle, pelo tamanho...
-Certo, Iron. O meu é Sarah Hopkins.
Chegaram em Byalan em menos de vinte minutos. Sarah falou com a Kafra, entregou a encomenda, a carta, e recebeu uma nota fiscal.
-Preciso voltar à Alberta agora. Obrigada pela ajuda.
-Nada...
O tom depressivo com o qual ele falava despertou uma curiosidade estranha na menina. Um menino sem nome, de proporções gigantescas, abandonado no mundo. Prometeu a si mesma voltar a Byalan assim que possível, a fim de procurá-lo. Pegou uma asa de borboleta e voltou a Alberta. Entrou novamente na guilda dos mercadores.
-Aqui está o recibo.
-Deixe-me checar... tudo certo! Parabéns, Sarah, agora você tem permissão para circular o mundo como mercadora. Boa sorte em sua jornada.
Sarah pegou o uniforme de mercadora e saiu rapidamente da guilda, decidida a encontrar aquele curioso espadachim que a ajudara.


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Fanfic de Ragnarök Online, feita há muito tempo. Primeiro capítulo. Como não tenho texto melhor pra postar e não quero abandonar esse blog, botei ela logo. Se puderem, avaliem, talvez isso me faça completá-la.

Até!

Acontece sempre.

Minha própria borboleta bate asas, faz os modos de uma águia, devora vermes como um falcão. Minha própria borboleta me encanta, me embaraça, me toma a taça e derrama seu sangue. Minha própria borboleta bate asas, faz as pazes para começar os embates, os empates, os contrastes.

Enquanto as pequenas rajadas de vento circulam, o furacão absorve, comove, amedronta. Não há equilíbrio de John Nash, nenhuma conta matemática exata. Paira o caos, o contraste, o barroco, sem sobrar qualquer toco. O pouco que peço é que as borboletas da minha vida não sejam vistas como avatares delicados, mas sim como prelúdios inusitados.


Pedro Z, 04/10/2007.

quarta-feira, outubro 03, 2007

Palavras Acerbas

Da perfídia és filha
Enigmática e sombria
És vazia, pálida Maria
És um mito, recontado por mero escrito

Dona beneplácita, doravante ficarás sabendo
Nego toda razão a ti atribuída
Não há porque aprofundar-se
Na sua história rasa, malcontada

És mesmo uma velha fenecida
Derramo lágrimas de deleite
Pois creio que ao expô-la ao ridículo
Escarneço também toda sua estirpe

Depósitos de lixo abruptos e bestializados
Servem só pra ocupar espaço
Vez por outra, alguém vislumbra
Algo estranho por detrás da penumbra...

Ritual Funeral

Austeras palavras decoram esta arenga
Uma vez entoada à guisa de ode fúnebre
Celebrando as exéquias, a rotura destas penúrias
Veredas obscuras por onde andava enredado.

Carrego esta vestidura que me leva ao cadafalso
Simboliza parte mundana que reservar-se-á

ao oblívio.

Suave mortalha que, aceita de boa vontade
Separadas são, as duas metades.

Hostil cerimônia cingida em penitências
Abstenções pontuadas por reveses
Decisões profundas apoiadas em desprezo
Culminam na Extrema Unção.

Morro, conquanto prezo
Sem desdém
A metade desta agora destinada ao limbo.
Na que me resta, espero apenas
Certeza de fruição.

terça-feira, outubro 02, 2007

Não aconteceu.

Dureza maior do que a dor é o que não é dito. Voltei da faculdade hoje, poderia ter voltado de qualquer lugar que a sensação é a mesma, maldito. Uma frase me escapa, uma farpa de algo que não houve. Há minutos e minutos. Muitas conclusões. No entanto o processo escoa, escapa, espelha e espera. Muitas coisas que poucas pessoas usam.

Em verdade, não existe a "não-palavra", existe significados que não são explicitados. Para esses, a vida nos reserva conforto e magia em seu mistério ou confusão e revolta por sua omissão.


Pedro Z, 02/10/2007.

Revisitando o Universo

Em homenagem ao meu amigo William Gnann.
Por um simples trocadilho com a palavra me fez voltar nesse assunto.

--

Os olhos traiçoeiros dormem, dobrem
A vigilância, recobrem a tolerância,
Olhos traiçoeiros não podem ter ganância.

Olhos traiçoeiros despertam
Lamentos, inconformados
Andam os homens, desinformados
Seguem seus sistemas.

Planetas revelam arenas
De batalhas sem temas,
De propósitos sem lemas,
Planetas revelam armas
Sem qualquer dilema.

Não há tempo pra pensar,
Não há luz para imaginar.

Unir verso é desunir o avesso,
Aceite os olhares traiçoeiros,
Universo é aversão ao único texto,
Aceite os olhares traiçoeiros,
Verso unificado não é solitário,
É arbitrário, é dúbio,
Sempre causa dúvida.

O tecido, a malha, envolve o relógio,
Meu horário não espera refúgio,
Unir avesso, unir desalinhados,
Meu cosmo vibra uma luz sem alvos.

O cosmo vibra uma luz sem laços,
Ficam soltos os abraços amargos
Que não recebo, fica a idéia que não concebo.

O cosmo vibra uma união de versos,
Versículos de uma oração sem pontos,
Desatadas estão nossas estrelas,
Me perdi em minhas próprias
Maneiras.

Unir verso.
Universo.
Unir inversos.
Universos.
Unir invernos.
Unir infernos.
Universo.

O cosmo vibra a união
Da desunião com o embrião.

O cosmo vibra desilusão
Da interpretação sem visão.

Vermelho

Eu respiro forte e caricaturalmente, ainda assim o ar parece não entrar. Na lembrança tenho o vidro quebrado do perfume, o cheiro que me ficou à náusea, tudo entrecortado, justaposto, como num filme de baixo orçamento e grande pretensão. Ela não estava lá, de novo na rua quando cheguei, me perguntando com a resposta pronta se ela viria me receber. A água do chuveiro me molha o corpo, gradativamente me afunda nas lembranças daquele dia. Chovia. Madalena costumava me olhar fundo nos olhos de embriaguez, e eu passei a chamar aquilo de ‘o meu fim-do-mundo’. Mais tarde, ela veio morar comigo, entrou no meu apartamento e na minha vida do mesmo jeito, como se sempre estivera lá, tão óbvia e natural, Madalena era o abajur da sala, iluminava sutilmente meu mundo. Subia minhas calças pelas manhãs, se mostrava aguardente melíflua nessas horas, nos antes e depois. Toda noite saía, enquanto eu me afundava nas páginas de mil romances-naufrágios, para trabalhar em um bar, atendendo bêbados, casais, grupos. Mas ela se estendia, acabando em outro bar mais decrépito, Bêbada, talvez por vingança, pra se ver como a servida, trocar de papel. Ela tinha disso, era dualista. Já eu, era múltiplo, e éramos um só. Nos confundíamos de tal maneira que cheguei a querer engoli-la, me enfiar todo nela, vê-la por dentro, dissecá-la. Pedi-lhe, insisti, supliquei-lhe; eu precisava daquilo pra escrever, finalmente o romance estava deslanchando, mas os arranhões, as mordidas não eram mais motor suficiente. Madalena cedeu, de início excitada, depois estranhou, resignou-se, entristeceu. Cada jorro de líquido vermelho dos ombros, das coxas dela era um tesão frenético em mim. Naqueles dias escrevi como um insano, tinha a impressão de ver a tinta no papel vermelha. Não. Serei honesto; cheguei a vê-la, sim, rubra. Eu escrevia o sangue de Madalena, suas veias, seus intestinos. Ela, mais marcada, tremia ao voltar, quando voltava. Em mim, então, na centésima oitava página, veio o desespero, uma ânsia de uma certeza terrível subiu à garganta. Vomitei. Parei de escrever, desesperado. Por que cada letra para viver no papel tinha de sugar a vida da mulher que eu amava? Tornei-me sombrio, pálido, quase-morto, jogando-me exaustivamente ao trabalho naquele escritoriozinho de merda, ao qual nunca antes dedicara esforço. Esforço sem ganas, porém; apenas maquinal. Não amava mais, mal comia, dormitava sem sonhos, acordava sem mordidas em Madalena. Ela se desesperou, parou de beber, voltava em ponto para casa, implorou para que eu fosse como antes, para isso se cortava!, se cortou nas coxas, fez sangue verter pelo tapete. Berrou, louca. Foi o dia: ela quebrou o frasco do perfume histérico, o som da quebra e dos gritos, dizendo eu-te-amos enraivecidos, pedindo dó e se enfiando na carne um caco adocicado. Bebo na água do chuveiro o amargo do amor de Madalena. Peguei-lhe os pulsos, sacudi-a, incendiado de medo. Não poderia pedir a ela, contar tudo! A verdade da humanidade na minha mão: Contei-lhe. Ficou mais pálida, mais, era gesso, cal, a morenice esvaiu-se da pele, o tapete era vermelho e moreno sob seus pés. Súbito, vi um lampejo nela, pareceu-me descobrir o sentido da vida, o fim absoluto, um fim-do-mundo que já não era o meu. Entendemo-nos no silêncio; nunca a vira tão mulher. Pegou a faca afiada na cozinha, beijou minha boca e disse, Faz. Das três punhaladas saíram nascentes infinitas, toda a vida Madalena me havia dado para perpetuar nas palavras. Deu por si, senti-a dizê-lo no último som. Seus olhos abertos, fitando a janela, não tive coragem, ou tempo, para fechar. No mesmo dia terminei o último capítulo, sentindo até o último ponto final que a caneta era sua veia pulsante.

domingo, setembro 30, 2007

Universo

A poesia que define meu jeito de pensar.

Uma explosão luminosa
Que gera astros e a imensidão
Do vazio que alivia,
É a energia concentrada num grão
Que gira a vida.

Os buracos do nada
São a vontade entristecida
Do obscurecer.

Mesmo assim, esse espaço é um vasto de luzes,
São encontros de brilhos, das lentes
Que adquirem foco,
Das luas que ganham o brilho
Ao refletir seu raio.

Seus planetas, são corpos
Que carregam o desejo dos pólos
Magnéticos, estar unindo,
E que repele por ser um meio
Diverso.

A atração de todos juntos,
Que impede a completa junção,
Consiste na gravitação
De várias idéias em comunhão,
Esclarecidas pela luz da estrela, unidos.

Uma explosão luminosa
Foi o que vi dentro de seus olhos,
Demonstração clara, sem velhos
Jeitos de explicar a complexa
Máquina humana, um universo
Que eu sinto.

Homem Universo,
Diverso limitado.

domingo, setembro 23, 2007

Projeção

Sou um poeta triste;
um homem doente;
débil, mal-amado e carente:
um indeciso frustrado,

de uma frustração soberba
e vã que desperta
a Hidra psicológica.

Liberto minhas personalidades
E misturo-as.

19/08/2007

sábado, setembro 22, 2007

Memória

Gotas da história
Pingam nos seixos da memória
É rio caudaloso que entorta
E reconta estórias tão longas
De um passado distante
Onde Deus adormeceu

De fatos recheada
Saboreia o vinho nesta enseada


Onde foi mesmo que Deus morreu?

quinta-feira, setembro 20, 2007

cena



Uma praça como qualquer outra, dentro de uma cidade qualquer, um banco, uma calçada e uma moita.
E na calçada há um homem, jovem, não mais do que 26 anos.À sua frente duzias de pombas de amontoam. Em sua mão, um embrulho, um saco de pães frescos.
O homem pega o pão, o rasga em pedaços. Atira às pombas, e elas ficam felizes.

(texto antigo)

política



eu nego e renego minha pátria
eu nego a terra onde nasci
eu renego ao meu rei
e não, não é só isso, eu renego à tua pátria
e à de teu irmão
renego também à pátria daquele homem, que você nunca conheceu e que nunca o fará
eu renego o poder
renego o dinheiro
renego à lei
sobretudo eu renego o estado
isso porque eu acredito
eu acredito em ti, e em teu irmão
eu acredito no palhaço qe faz as crinças rirem
eu acredito no homem que dá seu suor e seu sangue para que seu filho seja mais feliz e acredite nas pessoas
eu que acredito no homem que planta a terra
eu acredito no homem que faz o teatro, seja onde for, e alegra o povo
em suma, eu acredito no homem


(texto antigo)

joão



tu que foste meu irmão, de nascença, de sangue, e de alma
tu que foste um homem honesto, integro e reto
tu que nunca pecaste, mentisse ou sonegasse, ou censurasse à ninguém
tu que tinhas um bom coração
tão puro quanto o de jesus, mas não tão brilhante
tu que foste meu melhor amigo
que estivessete comigo na saúde e na doença
tu que me apresentaste à minha esposa, e o meu filho ao mundo
tu que viveste em graça
tu que és um merda
tu que viveste de olhos fechados
tu que nada fizeste
tu que nada mudasse
tu que à tudo aceitaste
estás morto
e eu apenas digo
ainda bem

(continuando a linha de textos antigos)

domingo, setembro 02, 2007

Homenagem ao ato consumado

Ao fazer nada no ato de fazer nada
Centenas de espécies diferentes de insetos
Zumbem em açodamento no canal auricular
Farei mais nada enquanto tudo me espera

Nego até a morte, que por acaso me alegra
Que me engana sob vieses infectos
Este pedaço de graça irá pagar o que me deve
Disfarçado de olhar vago ao contemplar o não-feito

Olhos recolhem-se até o céu da boca
E portanto poderei cuspir-lhe o que vi
Mirando através das órbitas vazias recobertas
Enxertos de pele com tatuagens orgíacas

Quando o último estalar de meu pescoço
Perfurou o último silêncio gozado pelos tímpanos
Como címbalos atroantes provocando loucuras
Sentimentos cadavéricos perpassando nadas

Ardilosa fui ao enjaular-me nestes destroços
Digerindo vorazmente estas vozes, em letargia
Metaforizando frases de inestimável revelia
Quadrada através das barras estes olhos me fitam
Me desenformem deste estojo com coriza

Eu despenco desta pequena escuridão inserida
No conhecido mundo de possibilidades nulas
Perenemente amada doravante esquecida
Exibindo doze retalhos com requintes porfíricos

Isto é fantástico, ver o edema plástico
Da pessoa que julga tudo sem conhecer a nada
E quantas perguntas ao nada uma tolice crítica
Quando recebe respostas que contradizem sua lúcida

Eu me pergunto, como que estes olhares
Insistentes através desta gaiola
Me deixam excitada dez vezes eufórica
E na penumbra deixei-te escrever teu nome em meu cálice

segunda-feira, agosto 20, 2007

O Caos

Jocoso flutuei à beira do passado
Em momento negro e pertinaz, me vi parado
Admirando formas que nada revelarão
Desenhos retilíneos num atro padrão

Era um aquilo como nunca visto antes
Fogo sombrio que consumiu um garoto
E regurgitou após inebriantes instantes
Transitoriedades prazerosas antes do arroto

Detalhe inerte de concupiscência metafórica
Eu, um líquido amniótico fora da placenta
Alheio neste mundo de essência caótica
Cenários de privilégios que a mente sedimenta

Vago e atenuado em milésimo de segundo
O fulgor da lembrança do colorido periférico
Despertou neste eu infinitésimo meditabundo
Uma desagradável sensação de anestésico...

sábado, agosto 18, 2007

história teleológica completa da humanidade


houve primavera
houve luz
houve terra
houve ar
houve chuva
houveram plantas
houveram animais
houveram florestas
houve o homem

houve verão
houve amor
houve familia
houve fartura
houve ouro
houve cobiça
houveram impérios

houve outono
houve invasão
houve queda
houve deus
houveram homens
houveram reis

houve inverno
houve cobiça
houve guerra
houve fome
houveram idéias
houve guerra
houve preconceito
houveram homens
houve guerra
houve tempestade
houve medo
houve frio
e não ouve mais nada

(correção: depois de 22 dias eu notei q eu escrevi ouvido no ultimo verso(eu havia lido os comentários, mas achei q eram pura brincadeira literária, e não notei a digitação incorreta). na acepção original do poema era pra ter sido houve mesmo, mas não nego a utilidade do verbo ouvir sendo utilizado nesse verso, por isso deixo 3 opções de final, à escolha do leitor:
1. a acima
2.:"e não se ouve mais nada"(erro de concordância intencional)
3.:"e não houve mais nada")

Gelo na Córnea

Gelo na córnea
Não acorde - não vai doer
Pelo na cóclea
Não acorde - não vai doer

Cedo vi Eu cego pregando
Pregos em sua sepultura
Passou o dia inteiro
Numa noite em claro

Dissequem meus miolos
Não acorde - não vai doer
Percevejos na narina
Não acorde - não vai doer

Deposito transtornos neste agosto
Decepções etílicas mágoas esféricas
A meio que contragosto e muito desgosto
Coloco na sopa para combinar com a lagosta

Beba veneno
Não acorde - não vai doer
Uma pílula de naftalina
Não acorde - não vai doer

Um vândalo prostrado em mesa de acupuntura
Queria sobremaneira resguardar a cultura
Sonhar com um incessante pula-pula
E um palhaço vestido de demônio

Gargarejo de bílis
Não acorde - não vai doer
Extrato de acetona
Não acorde - não vai doer

Engravatados na lápide estão os pregos
Do meu epitáfio que previamente discutido
O arremesso, a martelada e o rombo
O sangue e o perfil atípico do ferido

sexta-feira, agosto 17, 2007


o vento levou a folha
carregou o pólen
apagou o fogo
destruiu a casa.

nunca deixou de ser vento.
nem por um momento.

(por rezende(se todos concordarem, eu o convidarei pra fzer parte do nosos blog))

Vento


o vento me trouxe poeira
chuva
insetos
pragas
o vento destelhou minha casa
derrubou minha floresta
queimou meu gado
derreteu meu ouro
matou minha familia
levou minha felicidade



...pra lugar nenhum

quarta-feira, agosto 15, 2007

Sagrado Manto

Sim senhores, doravante
Ainda que muito a contragosto
Não cutucarei mais Sagrado Traseiro
Tampouco profanarei blasfêmias

O nome D'Ele não macularei
Enquanto meus dias durarem
Espanto-me, no entanto
Se ao tomar Sagrado Manto
A minha memória atrofiar-se-á

E se não mais puder cantar
Como apaixonadamente cantei
E se porventura esquecer de usar
A consciência que Deus me deu
Livremente, por Ele?

Mas cadê o livre-arbítrio, meu Deus
Eu te rogo e imploro
Não deixes cair meu coração
Pois se tu livras-me do mal
Morrerei por ti, numa encenação.

homicídio


um coração
que pulsa
que crê
que já sofreu
que espera
que acredita
que teme
que suspira

que provavelmente já perdeu alguém que amava
eu atravessei um desses com meu primeiro tiro
e ele cessou de existir

e quem disse que não há poesia no assassínio ?

sulfite


contemplo aqui a vastidão alva
de uma floresta cruelmente estuprada e assassinada
poderia eu ouvir de suas fibras seus gritos horriveis de dor e desespero ?
poderia eu ouvir os animais morrendo de fome ?
poderia eu ouvir o grito angustiante do solo em sua hemorragia estéril ?
obviamente que não
por isso ainda assim escrevo
para preencher os espaços vazios
eu podeira dobrar o fruto deste brutal homicidio e fazer um belo pássaro
mas de que adiantaria ?
afinal seu coração nunca bateria
sua garganta não cantaria
suas asas não bateriam
e ele não voaria


(texto antigo, achei no fichário, escrevi indo para a cptm, inspirado em caieiro, ney matogrosso, e pink floyd)

domingo, agosto 12, 2007

newlogismvs

saudemvs os newlogismvs commo maniphestação origignal dê nossa cvltvra

sábado, agosto 04, 2007

A Dádiva da Prole

Uma peça poética sobre a relação de pais e filhos
Pedro Zambarda de Araújo

Dedicado ao meu pai, José Roberto de Araújo

I

Esta é uma lição sobre descendentes
De um pai que não foi austero, sequer severo,
Mas humano e líder, caro
E honrado em seus dizeres.

II

Baltazar repousava em seu trono,
Adormecido, sem nenhum adorno,
Somente a espada em guarda, a prata sagrada
Entre os ferros ensangüentados, mal-cheirosos.

Era um pai que sincero, com muito esmero,
Um caro rei, um imperador de tradicionais leis,
E preocupado com seu escudo, seu agudo senso.

III

O grande lorde tinha cinco filhos,
Todos meninos, todos grã-finos,
Sentados num banquete,
Armados com seus mosquetes,
Artefatos bélicos paternos.

O primeiro era chamado de Valentim,
Era um exímio espadachim, de olhos vorazes
E respiração curta, características audazes.

O primeiro, às vezes, ia ao ministério
Discutir política com os conselheiros do rei,
Tomando as honras do pai para exibir o mistério
De ser nobreza, expor muito mal sua autoridade,
Uma das várias fraquezas.

Discursava como um Pompeu no senado,
Falando dos amores e das glórias do parceiro,
Enquanto a faca ficava à espreita, na surdina,
Ouvindo atentamente a exaltação alheia.

A lâmina escondida clamou por aliados,
Que surgiram como diabos irados,
Sede de sangue, o inferno de Dante
Trouxe a covardia que estava latente
Em suas lâminas ardentes.

Valentim, nada valente,
Guiou o exército durante o sono
Moroso do pai, momento
Sereno, calmo, quieto.

Valentim, bem covarde,
Ergueu um atentado contra o monarca,
Sem qualquer ressalva, ou retaguarda,
E foi morto pelas costas, pela irmandade
Unida na espada do segundo filho,
Prodígio.

Era um tradicional filho, um irracional ninho
De maldições sem fundo, sem nenhum profundo sentimento
E preocupado com seu interesse, que falta de senso inteligente.

IV

Chamava-se Barbarossa a segunda prole,
Era de medíocre formação, inerente opinião,
Só ganhou importância aos olhos do pai pela morte
Do irmão, uma traição bem aceita, pura vingança.

Tal como algo inócuo e oco,
Barbarossa só se revestiu de admiradores,
Esquecera da própria gratidão paterna, horrores
Percorreram o saguão do palácio,
Eliminaram seu corpo, restou o mistério.

Era um filho perdido,
Um machucado sem sentido
E inserido numa felicidade escassa.

V

Lázaro era o quarto herdeiro,
Tal como o nome, era moribundo eleito,
Sofreu cento e oito mortes, e passou por tudo
Para continuar respirando.

VI

Lázaro se isolou numa ilha,
Mal sabia que caíra na armadilha
De seu gênero de indivíduo.

Estava morto por cansaço,
O trabalho árduo de sobrevida
Virou ferida, sem cicatrizar.

Era um masoquista vivo,
Um machucado sem sentido,
Era um imerso numa tragédia total.


VII

Amadeu era o terceiro irmão,
Sofredor das dores de Lázaro,
Era um emotivo muito avaro.

Sua avareza constituiu uma rotina de repetições
Entre as repartições monárquicas,
Foi preso por inúmeras corrupções
Entre os serviçais.

Os soluços e choros escondiam outro Valentim,
Mas meio retraído, meio serafim.

Era um resto de refeição andante,
Um indivíduo pedante,
Um filho que sempre se esconde.

VIII

O pai Baltazar então, depois de tantas decepções,
Foi dar cabo do último filho, o humilde Luís,
Estava feliz brincando com suas imaginações,
Um sublime inventor.

IX

A espada foi apontada ao pequeno Lu
E ele reagiu atônito, quando um trovão caiu,
Eram as lágrimas vertentes do velho desconsolado,
De um sentimento atordoado.

O rei desatou de vergonha,
Por que ferir o último herdeiro, o último cavaleiro?
Por que se martirizar por não terem eles o seu destino?
O rei cedeu à sua própria água
Que desfilava em sua valentia,
Em sua face brava.

X

Grande, Luís tornou-se
E jamais se esqueceu das dores do pai,
Mas foi revoltoso como os irmãos, cansou-se
De criar novas leis, integrar-se com outros reis, ser seu
Próprio mestre e aprendiz, superou-se.

O grande Luís, hoje, observa
As rosas depositadas no jazigo do velho Baltazar
E lembra, sem pestanejar, dos irmãos odiados, o rejeitar
Do respeito paternal, do sentimento que realmente ama.

domingo, julho 29, 2007

O Poeta do Carrasco

Quando te vi no desespero e na agonia
Este poeta estendeu a mão
E nos mais profundos sentimentos
Decapitou o taciturno em questão
E a cada dia tento esquecer
Algum medo não esquecido

Não permita que eu vá
Onde o desconhecido me aguardar
Não quero saber
Onde me esconder
Permaneço nesta ilusão salutar
Ainda que todos me ultrapassem

Frustrante é a impossibilidade de lutar
A letargia de um não saber, de um calar
Espero inquieto em um tempo que não pára
Aterrorizado a cada momento

Não quero ir, covarde do jeito que sou
Vejo uma velha velando um relógio de bolso
Uma menina brincando sobre os destroços de um corpo

Perante o relance de uma vida despedaçada
Agarro uma mão que me lograva
Abraço meu algoz que brincava com versos
Com júbilo e cabeça arrancada

Relevo o que não espero

Relevo, que não é montanha,
Mas a senha de um verbo, reconsidero
É o tema desse poema, desse texto,
Desse ataque mal-feito.

Relevo as crenças religiosas,
Porque tolero ignorantes e os interessantes
Crentes que beneficiam toda gente,
Relevo ateus, dos mais ignorantes
Até os discursivos, os incisivos.

Relevo guerras, relevo pazes,
Porque os ases das cartas não são algozes,
São apenas jogatina, serotonina
Ativa como uma corrida.

Relevo céus e terras,
Júbilos e Rubis
Que são adornos dos vis
E irreparáveis cafajestes.

Relevo as palavras que tremulam os atos,
Desfazem abraços,
Relevo os tapas tanto quanto os amassos,
Pois não menosprezo contato.

Relevo porque sou Afonso,
Alguém que já foi rico, sonso,
E agora se recolhe atônito, meio morto.

O que pode-se fazer?

O que pode-se fazer?
Nada... Não pode-se fazer...
O que pode-se não fazer?
Nada... não pode-se.
Nada pode-se fazer?
Não pode-se o que fazer.
Fazer o que pode-se?
Pode-se fazer nada.
Pode-se nada fazer?
Não. Pode-se nada o que fazer...
O que pode-se fazer, pode-se fazer?
Não.
O que não pode-se fazer?
Nada.

(Poesia de Marcus Tiso com minha coautoria)

quinta-feira, julho 26, 2007

é como se alguém já tivesse escrito este antes



eu quero fazer um poema
não quero uma trova
tampouco procuro um soneto
não quero ser o cancioneiro
não procuro igualar alexandre
nem mesmo sei fazer um haicai
quero apenas um poema singelo
que seja belo em sua simplicidade
e tocante na originalidade
não mais como uma rosa nascendo no esfalto
mas agora, uma pérola no lixo

Falha na Lógica

Mães sofrendo de câncer na próstata
Filhas horríveis vendendo cebolas na feira
Velhas decrépitas fazendo cocô e jogando bingo

Ah
Posso eu ser a razão
De uma inversão humana
Porque eu posso
Eu mudo
Assim.

Queiram atirar alguns versos em mim
Assim como pedras vararam prostitutas
E tomates junto aos apupos
Para artistas desvairados

Posso eu ser a razão
Da infância maculada
Adolescência libertina
Peladas engaioladas
Grávidas esfoladas
Vida indecente
Velhice inútil

Não somente palavras moças estiradas em mesas
E estrofes adultas inteiras sob jugo celeste
Incendiaram junto com velhas tradições
As medidas desmedidas asiladas

Violar sepulturas como requinte
Tão saudável como piquenique
Feminilidade retratada num boquete

Posso eu ser a razão
Da razão humana
Encerrada nesta
Sobremaneira
Impávida

Dançando valsa com marionetes
Nos crepúsculos artificialmente delineados
A vida humana mantém um segredo
Fechado numa caixa guardada pela Branca-de-Neve

Posso eu ser a razão
Das mentiras selecionadas
Contagiosas, ervas daninhas
Trepadeiras maliciosas
Inescrupulosas

Deliciadas as ninfetas enxugam seus lencinhos
Roupinhas de griffe compradas em uma loja podre
Precisam adquirir mais artigos de luxo
Nos sex-shops científicos

Rezem para aquele que se esconde através dos fractais
Ele que passa a eternidade ouvindo música alta
Flertando com o caos em meio à fumaça
De uma rave profana

Sexo nas alturas
A humanidade se engana
Sexo nas alturas
A humanidade se engana

quarta-feira, julho 25, 2007

Estanho

Estanho, estranho, frio metal
Que bronze forma com o cobre.

Metal frouxo, metal nobre,
Nunca que vai ser
Pelo hidrogênio perecer!
Dita a fila de reatividade.

Metal mole, é verdade
Maleável, condutor
Prendedor de circuitos
Componentes mui bonitos
Que formam até computador.

Sua quentura?
Traz-me dor
Sua energia, seu calor

Formaram em minha mão
Bolhas, não de sabão
Mas de queimadura
Liga pérfida, impura!
Que possui também chumbo...

Quarenta por cento!
Que ultraje! Desalento!
Como poderia essa liga suja
Trazer-me assim tão grão contento?

segunda-feira, julho 23, 2007

Um fenômeno literário chamado Harry Potter.

"Já foram vendidos 8,3 milhões de Relíquias da Morte nos EUA
Só nas primeiras 24 horas de vendas, a Scholastic (editora americana dos livros do Harry Potter) já tinha vendido 8,3 milhões de cópias do livro Harry Potter e as Relíquias da Morte nos EUA. Nesse mesmo período, no lançamento do livro Harry Potter e o Enigma do Príncipe (lançamento mundial em 16 de Julho de 2005) foram vendidos 6,9 milhões de cópias."

Fonte: Site da Hogsmeade

Por mais que os escritores mais conservadores reclamem, o fenômeno Potter exporta a cultura anglo-saxônica pelo mundo. Por mais que os pais enlouqueçam com os filhos, as vendas revelam que isso tá longe de ser coisa de criança.

Saudações a senhora Joanne Kathleen Rowling, responsável pela história que cativa gerações por seu obscurantismo, misticismo, arquétipos e épicas batalhas entre iguais, sejam puros ou mestiços com trouxas.

segunda-feira, julho 09, 2007

Mal de Balzac #1 - Desentitulado


Eis que no dia nove, nove postagens formaram
Aquilo que posteriormente chamaram de poema
Mas o título? Um dilema
Um problema que deveria ser resolvido
Qual foi deliberado? Qual foi escolhido?
Veio-me à cabeça, mas está agora perdido...


Mal de Balzac #1 - por Pedro, Carlos Antonechen e Sir Varios

Não era noite, nem dia manso,
Talvez fosse tarde, talvez fosse
Meio, meio-dia, meia-noite,
Meia vida, meia morte,
Meia sorte, naquele fosso.

Deitado, em tempo.
Transcorria, lento.
Sem ode nem mote.
Balbuciando dizeres de morte.

Deitado, absorto,
Encontrava-se a trovar
Quase morto
Inebriado pela dor do despencar

Moribundo, estava jogando búzios,
Num dado sem futuro, vultos
De um presente atento, tentado.

Moribundo estava quase em pé,
Estava de frente com a ralé, quase
Com quarto reservado num cabaré.

Moribundo não era metade, era divisa,
Era ausência de conquista.

Era a treva numa vida mal quista
A essência que o nunca realiza

A demência, a loucura!
A mente insana, impura!
Do devanear livremente
Aquela que contente
Contém a continência
Contínua em continuar

Navegando absorto,
Em terra de Vigília.
Tragado abruptamente.
Pelos primeiros raios de dia.

Tinha uma vida a tocar.
Uma fuga planejada.
Insolente com o corpo.
Adormece enquanto labuta.

As ferramentas estão enferrujadas,
As engrenagens estão remoídas,
Não há fumaça, não há comida,
Só há trilhas, pegadas abandonadas.

Mórbido andarilho se contorce,
Enquanto o brilho se reverte,
Reflete.

Reflete ele como um espelho
Reflete outrora como um velho
Objeto que oxidado joga fora
Abjeto que para respirar demora

Escolheu embora ir apenas
Procurar águas mais amenas

Encontrou tempestades e sereias,
Confusões das mais terrenas,
Largado na mortalidade
De um medíocre derrotado,
De um nada abarrotado.

Borrado, em seus traços,
Estava entregue, sem seu mastro
De navio desgovernado.

Não era menos,
Era mais dos poucos,
Um completo porco
No chiqueiro para o
Matadouro.

Estava leve,
De tanto pesar,
De tanto largar
Essa mente, lugar.

Moribundo não era centro,
Era dentro, dentro ao avesso,
Avesso ao consentimento
De estar à margem, chantagem.

Chantagista dos fracos,
Embaraçado nos laços
De sua frígida coberta,
Da sua cama desperta,
Despida.

sexta-feira, julho 06, 2007

Reza da Marmita

Abençoada marmita,
Seja recheada com batata
Frita, carne refogada, esfiha,
O que sobrar da minha janta
Ida.

Abençoada marmita,
Traga sua energia,
Não se deixe cair no garfo
Dos demais, assim no almoço,
Como no jantar.

Marmita, não derrame seus restos,
Enquanto estiver esmagada no meus braços,
Nem nos braços inimigos,
Porque comida desperdiçada
É muita mancada.

Amém.

--

Porque eu não poderia deixar de fazer poesia em homenagem ao nosso amigo Leandro.
Conhecido como Jazom no Blue Steel Castle (BSC).

Assumiu sem medo que carrega marmita embaixo do braço XD

quinta-feira, julho 05, 2007

Você no Outro Mundo com Os Aqueles

Você é uma combinação de indivíduos
Misturado a talentos visionários
Moldado pela pragmática misteriosa
Um ponto de equilíbrio
Austero, inefável.

Separação em um percalço - um passo em falso
Em tom conclusivo
Nada desvia do seu objetivo
É ferrenho como o ferro
Dotado de grande capacidade
Pavoroso.

Não hesita - abusa
De força, por meios
Obscuros, desafiadores.

Você esta só, sei que está
E ouve murmúrios
Contextos e vozes intermitentes
Completam uma lacuna grotesca
Algo apenumbrado, indefinido
Por trás da palavra
Você não me escapa.

Você, está.

Sinta seu ser
Em verbo e em
Nome de Deus
Sua última vítima
Que eclipsou, outrora
Uma profusão de seres

Aqui, nesta clausura
Estou pronto para mostrar-lhe
Um outro mundo
Resplandescente.

sábado, junho 30, 2007

Entre césares e cíceros

Uma grande discussão invadia os corredores,
Invadia os ouvidos credores, devedores
De conhecimento, sofredores.

As vozes bradavam apaixonadas,
Num descaso claro
Com a crítica e a sinceridade revoltadas.

Naquele teatro cego,
Minha voz revirava aberta,
Numa febre alerta
De permanecer bela.

Naquele teatro liberto,
Estava aprisionado em meu discurso,
Naquele espetáculo repleto
De idiotas, reprimi rápido
O vagabundo.

Discurso prolongado
Propositadamente, literalmente
Abandonado aos fluxos da retórica,
Aos repuxos da história.

Um pouco de Marco Túlio Cícero,
Sinceridade envolvente, discurso inteiro
Baixando a guarda frente ao despotismo.

Um pouco de Caio Júlio César,
Deturpando várias eras
Pela artilharia, sem cessar.

Cesariamente imperioso,
Ciceramente persuasivo,
Meu discurso, recurso
Romano e momentâneo.

terça-feira, junho 05, 2007

Defesa da Poesia - Final

Todas as calúnias contra a lírica,
Contra a métrica e a ira
Formaram o rosto doce de menina,
Rosto macabro da anestesia.

Dorme André,
Ronca, seu mané,
Deixe seu corpo aglutinar
Com o asfalto, com o descalço
Mendigo, perdido.

Dorme, adormece, desencane,
Sua poesia vai agora para o lance
Perdido da metrópole, engole,
Cospe seu protesto, enche
Seu derrame.

André podia ser José,
Podia ser seu pé
Pra essa trilha,
Essa sina, garota.

André podia ser seu amado
Paterno, seu vínculo materno,
Seu amor eterno.

Decerto, poesia é seu encanto
Perpétuo, seu inimigo
Didático, vingativo.

domingo, junho 03, 2007

Pardon me pela propaganda, mas...

... preciso mostrá-lo aqui, para começar!

http://sombra-paranoica.blogspot.com/

Montei-o para publicar o que escrevo de cunho mais pessoal e voltado ao público brasileiro em especial. Aqui, no thebluewriters, vou tentar postar somente os trabalhos mais elaborados.

Sem mais para o momento, e pedindo desculpas novamente pela propaganda, vou-me.

quarta-feira, abril 25, 2007

Momentum

"Então dois ossos roídos me assombraram...
- 'Por ventura haverá quem queira roer-nos?!
Os vermes já não querem mais comer-nos
e os formigueiros já nos desprezaram'."

Augusto dos Anjos



Condensarei agora, num instante,
cada frase, pensamento ou teorema
que, na alternância entre insânia e razão,
tenha sumido ou se calado.

Ó heliogabálico homem!
vê a vida num momento,
num momento vê a vida:
sibilante, cruel, irreal e real.

Vida? Momento?
Instante? Desespero?
Sofreste? Acabou seu namoro,
sangrou seu nariz, quebrou seu braço:

Sofreste? Saiba que não:
quão terrível é a dor daqueles
que entendem que a vida é uma aranha
a fiar seus destinos com fios negros?

Pior os fadados
a afundarem em estudos
e entenderem que a homogênea massa de carbono
é sua melhor amiga...

Homo sapiens? Homo infimus!
Saco de matéria orgânica!
Imponente conjunto de células
que perante o primeiro vírus se ajoelha.

E os doentes? Pobres e esquecidos enfermos!
No velho a tremedeira incontrolável
graças ao Alzheimer que o assiste; a angustiante
orbe ocular de uma criança morta de fome!...

Alucinógeno ou sonho? Real ou irreal?
Estou em uma cama – e dopado! –
ou sonho estar em uma cama;
também dopado?!

(Quanto mais desejo o absurdo, mais ele se afasta;
seja o suicídio...
seja a garota pequena e suja que come chocolates
e não faz idéia de nada – e nem quer fazer.)

A assombração deste momento
se reflete na pergunta:
por que me deste, minha Mãe, consciência
para ela pesar durante minha vida inteira?

24/04/2007

sexta-feira, abril 20, 2007

Arte fato.

Artefato.
Fato da arte.
Ao artífice.
Arte, fez
Feto de arte.

Faz da arte feito.
Feito da arte.
Faz a arte por arte.
Farto da arte,
Desfaz.

Fitando o feito.
Vazio no peito.
Faz.
O artífice farto:
Arte sem afeto.
Arte de feto.

(Inspirada numa exposição que vi de relance na cidade, chamada "arte fato".)

segunda-feira, abril 16, 2007

Argonautas Contemporâneos

Aqui, direto do Peloponeso
Dirijo teus companheiros
Navegando por águas
Desconhecidas e conhecidas
Somos heróis de todas as eras
Manifestamos nossos destinos
Manipulamos nossos augúrios
Na busca do Velocino de Ouro
Partimos agora em busca do

Velocino de Deus.

Além de todas as montanhas e ilhas
Que pudemos encontrar
Até mesmo a ilha das Amazonas
Que almejaram nos soçobrar
Atravessando monstros de diversas culturas
Com nossas flechas abençoadas e impuras
Procuramos Deus mas este não quis ser encontrado
Deixamos somente um recado
Em sua caixa postal




Ele nos respondeu, em uma carta ao nosso navio:

"Assim que sair da lavanderia
Mandarei registrado
Para evitar qualquer extravio."

terça-feira, abril 03, 2007

Tristeza do Outono

Gentem.

Abismado como estou com esse radical início de mudanças climáticas, deixo aqui meu protesto para com o clima e nós mesmos. Gostaria de pedir à própria atmosfera para parar de se auto-aquecer, mas um singelo poeta tem poder apenas de observar os fatos, e contar a seu bel-prazer o que lhe convém ou o que seu Eu Lírico trama.



Tristeza do Outono

Sob a laranjeira penso
Divago na sombra fresca
O sol lá em cima arde
E a gente aqui embaixo, sede

Do sul os ventos álgidos
Dão lugar a um mormaço diáfano
Para dar o sabor outonal
E as folhas ainda verdes
Não douram - calor infernal

Na minha rede estirado
Sob a fresca sombra enfado
Suspiro - mais carbono
Para tristeza do outono.

quinta-feira, março 29, 2007

I - Magdalene

Mordi-a com amor
Coloquei todo o sentimento ali.
Ignorei sua dor,
Inimaginável prazer senti.

Ela olhou para mim
Enquanto sorvia sua vida.
Seria ali o seu fim
Ou ainda havia saída?

Ah! Meu amor, como a amo!
Se a mato nao me consolo,
Por tua presença eu clamo!

Soltei-a lentamente
Para seu maior conforto.
A mim seu corpo tem serventia
Somente vivo, não morto.

---------

Poesia feita meio que sendo narrada por um personagem meu (Sim, ele é um vampiro.). Magdalene é o maior "brinquedo" dele. Tava a fim de brincar com rimas nesse dia XD.

quarta-feira, março 28, 2007

Defesa da Poesia - 2

Lamentoso solo
Onde o lamentado
André permanecia
Fixo,
Pensante na vida.

Seguia, sem despertar atenção,
Nem desviar sua má ação,
O espírito da cidade,
A ópera da eternidade
Inanimada, da habilidade
Sufocada, inerte.

Semelhante aos aparecimentos do Diabo à Cristo,
Como os sustos da menina adormecida e seu grito,
Tomou a forma de todas as vozes
E de todas as engenhocas, disfarces
Dos desejos humanos, são as cidades.

"Ousas tu, defendes tu
Essa frágil poesia, abstração?
Queres tu, ofendes tu
Com tal inútil insatisfação?
Não podes ser diferente,
Nem pode estar distante
Do universo que ilimitado
E incorruptível, é o muro
Do material, o chão
Sujo com tua traição."

segunda-feira, março 12, 2007

A Queda da Rosa

A Queda da Rosa

"Clara manhã, obrigado
o essencial é viver!"
- Carlos Drummond de Andrade

I

A Rosa.
Certezas
diferentes
e iguais às minhas.

Repousa na terra: para
ela migrou a vida; nela
se deita a morte.
Uma rosa que nasce
e da terra suga a vida,
diverte-se enquanto
um cadáver abaixo dela se esconde...

A Rosa se enrola como um caracol...
"Olhem! Ali nasce outra!"

II

A semente enterrada; o óvulo, imaturo.
Na Terra
germinando...
Uma prostituta, um padre, um coveiro.

Uma criança no ventre,
luta, espera.
Seu caule, interno
à terra, ao calor, à placenta
da mãe; pré-funestos.

Nasceu a Rosa!
Livrou-se da prisão da terra
úmida e fértil.
Forma – simplicidade.
Tanta vida em tão pouca matéria!...

O tempo corre. Tanto
para quem vaga quanto para quem fica.

III

Uma Rosa não é uma rosa.
Atenção à vida.
Cor, perfume.
Mijo, sutileza.
Morte.

Uma rosa não é mais nem menos
que um carneiro uma pomba
uma garota que come chocolates.

Rosa-flor.
Rosa-cor.
Rosa-vida.
Rosa-náusea.
Rosa-virilha.
Rosa-mortalha.

Os sentidos não à todos confundem igualmente.
Eu falo – mas muitos não ouvem-me.
(ou escutam-me)
A Rosa fala – e não a entendemos.

Passado futuro fundem-se
no Interminável.

Colha uma flor
em seu jardim, olha-a
como quem olha toda
a vida de um mundo de vida
passageira e instantânea.

Uma janela se fecha
um pêndulo pára
a moça suspira:
algo ocorreu.

O tempo parou. A vida parou.
Tantas mil coisas
padecem e nascem
num mísero instante. Um mísero instante
de suspiros,
partições
de idéias, de homens,
um instante como todos
os outros.

IV

A noite que chega, afasta
os outros, o outro, some
com a luz, e fica o reflexo
da vida, da morte fria
e pálida... pálida
como um corpo abandonado à beira da estrada,
a manta com que a mãe
envolve o filho à noite,
uma noite gelada.

O caule se quebra, a flor murcha,
o câncer se instala, a mente perece;
e tudo volta à aspereza do túmulo!
Húmus, alimento, no solo – saturado.
(o mais adubado solo é o do cemitério)

Nos olhos, uma vez brilharam sonhos
agora: raízes
de uma roseira...
E as vértebras de uma cobra morta.

Carne podre serve de alimento:
A COMISERAÇÃO DOS ARTRÓPODES!
Sarcófagos que guardam só poeira,
ossos, lembranças – mais nada.

Sob um poço fechado pelo triste coveiro,
nasce uma flor...! Uma única flor...!
Aquela que se alimenta
do que à terra o Morto legou.

V

Uma Rosa está caindo
esperando alcançar o chão...
Tendo sua imagem vista e admirada,
mesmo estando seca
e esmagada.

27/12/2006.

.

Foi montado durante meses, quase um ano de trabalho. Representa mais que a vida; diferente do outro, representa a minha vida e forma de encará-la e de como eu penso: entender este poema é entender a mim.

Agradeço todos que lerem e comentarem.

quarta-feira, março 07, 2007

Defesa da Poesia - 1

André ele se denominava,
Andava de madrugada
Com uma bituca do cigarro, amargura.

Gosto azedo em sua boca
Das carícias pouco entendidas,
De deslizes desenrolados, desandadas
Aventuras, uma louca
Amante, serva, moça.

Agora estava sentado na borda da calçada,
Numa lua nublada, numa avenida conturbada,
Tomando ar para o discurso, palavra não gritada.

"Poeto para mim,
Para uma aceitação, um sim
Animado, sem fim.

Discurso, abuso
Do direito incluso
De manifestar luto
Pelo verbo abandonado.

Defendo a poesia desse concreto frio
Nessa calçada, mausoléu e rio
De correnteza das palavras humanas,
Defendo a poesia de televisão,
A prosa das causas artísticas
Enterrada num cotidiano são."

terça-feira, março 06, 2007

Necropedofilia

Dois pequenos olho, um tímido nariz, uma pequeníssima boca; tudo na face
daquele anjinho que seduzira-me: tornou-se amada
apesar de morta, triste e infantil;
mas, em breve, meu amor será substituído pelo do verme...
não deixarei! Hei de mantê-la a meu lado;
em minha casa ficará! Mesmo estando fria...

Empalhada como um animal; uma boneca fria
e eterna; constituir-se-á isso – e apenas isso: boneca de inexpressível face;
tornar-se-á um ornamento com outras assim ao seu lado!
Afrodisíacos!... Enfeites!... Minha amada
provocará o libido meu e dos Criados; e o verme
invejará a orgia bacanesca em torno do minúsculo cadáver infantil...

Desejo-te: teu semblante erógeno e infantil
provocas-me; e, embora incomum, minha paixão por tua fria
carne é real. Não há verme...
Sequer um... que ganhará sua face
além de mim! – pela eternidade será minha Lolita, querida, amada,
e ficará comigo, sempre a meu lado.

Sortudo daquele que adentrar minha tumba: lado a lado,
milhares de corpos – empalhados – posicionados em uma orgia – eterna e infantil –
de proporções sádicas; não haverá mais pessoa querida ou amada:
só um museu cadavérico. E fria,
triste e aterrorizada manter-se-á a face
de nosso visitante; tornar-se-á o almoço do grande coveiro-mestre: o verme.

(almoço ou jantar? tanto faz...) E como me esqueço dele! Do verme –
que responsável é pelo sumiço da carne, e ao lado
da ossada, tem sua sesta. E perante à face
angelical e pálida – nem mesmo a infantil... –
não sucumbe! Nem imagina, pensa ou comove-se com a razão da fria
temperatura do corpo de quem só foi, depois de morta, desvirginada e amada...

Desculpe-me, pequeno entalho sem vida: o verme tem a mesma inocência infantil
que você. Não conhece a morte, mesmo morando a seu lado; nem sabe que sua fria
refeição teve outrora na face o olhar meigo de uma criança amada...

15/11/2006

.

Uma sestina: poema criado com base em 6 palavras dispostas no final de cada verso, alternando-se em cada uma das 6 estrofes e terminando em um terceto em que cada verso possua duas dessas palavras, sem repetição.

Um desejo antigo e forte meu. >"<

terça-feira, fevereiro 27, 2007

Iniciando

Sou o último a postar no blog, mesmo tendo meu convite confirmado a algum tempo. Estou em período improdutivo, como todo começo de ano é. Começarei com uma autobiográfica deste ano, que título não carrega. Dou meus votos que participarei com frequência e com coisas mais interessantes.

Deixei de ser quem era
Esqueci antigos paradigmas
Agi diferente.
Da reação esperada.

Consegui a iluminação
Aquela simples e destoante
Que vem sem aviso prévio
Mudando a mente velha
Acostumada e estática.

Hoje minhas procuras são diferentes
Não almejo aquilo que desejei
Anseio o que rejeitei
Sou mais Carlos
E menos Antonechen.

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Exegeses

Andei até encontrar

(eu não sabia o que era, mas conheci minutos depois)

Um dicionário ambulante pra conversar

(no nosso mundo real, dicionários ambulantes não existem, mas considerem alguém fantasiado, ou um dicionário de verdade encarapitado em cima de um carrinho de rolimã, ou sobre patins - movimentando-se de alguma forma - ou simplesmente possa ser uma expressão que o autor encontrou para expressar uma escolha vã)

Sobre Deus, filosofia, paz, escargots, abridores de latas e liquidificadores

(atos de alguém desesperado por diálogos)

Assuntos que eram discutidos minuciosamente

(pormenorizadamente, afinal, estamos tratando de dicionários)

Deus.

(O aquele, triângulo, universal, paradoxal e espectral e ainda mais etéreo)

cansamos de deus - filosofamos

(ou fingimos que filosofamos, porque aniquilamos o ato pensar)

A Paz

(eu vi uma pomba branca ser atropelada por uma ambulância num pátio de hospital)

Escargots

(chiques, nuas e cruas, lesmas antagonistas que invadiram um espaço considerado de bom valor para discussões)

Enfim, peguei uma lata de sardinha e fiz um rolmops.

(com vitamina de abacate)

Poemínimos

I

pinto
com
tanta
tinta
tanto
tempo
rodo
tonto

II

com
amor
amei
anoitece
ria
o meu dia.

sábado, fevereiro 24, 2007

Crônica #1

Já eram vinte e três horas, e nenhum deles havia chegado no lugar que marcamos. Foram pegos. Com o coração batendo num ritmo anormal, peguei minha bolsa e saí do recinto, olhando de forma quase paranóica para os lados. Um ônibus vinha na rua, e quase imediatamente fiz sinal. Entrei.

Tentando desviar meu pensamento das torturas que certamente já estariam sendo aplicadas nos meus companheiros, olhei para trás. Havia um homem ali, com roupas tipicamente vestidas por mafiosos e me olhando como se me avaliasse. Tendo certeza de que sua intenção não era dirigir-se a mim como um partido em potencial, levantei-me e desci no primeiro ponto possível.

Como suspeitava, o sombrio homem desceu também. Eu não sabia onde eu me encontrava, e seria inútil tentar achar conhecidos por ali. Apressei o passo e puxei minha pistola; a última coisa que queria era usá-la, mas o homem estava pedindo isso.

Ele era mais rápido do que eu, com certeza vou "cair" dessa vez. Como Domenic e Estela. Como todos os homens que admiro. O sujeito me alcançou. Era o fim. Pegou meu ombro. Tentei atirar. Não podia. Não sou assasina. Calmamente, ele disse:
-Moça, deixou seu relógio cair.

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Colocado com linhas separando os parágrafos porque eu não lembro como coloca (/incompetente). Ficou bem menor que o original, no papel. E sim, tá simples.

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Pormenoremas

Um poema
leve dilema
pra descrever
o que sonhar

quais letras cerzir
entremeando temas...
assuntos...
o torpor...

cada página
quando torço
verte rios de sangue
e lágrimas
que secam ao sol

desejo...
tudo rápido
descompassado -
em tempo
emprestei um compasso.
perdi um metrônomo.

sem tempo para patíbulos
na escolha entre cáftens
vejo pormenores
contidos em detalhes
nos cartazes
de adolescentes
nuas
despidas na calçadas
as exibidas.

álgido hálito que perpassa
inebriantes cartilagens e tendões
do meu dilema
encarcerado sabe aonde?

não neste poema, mas sim

na minha pena.

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Pensamento do Escritor Medíocre

Nada,
Não disserto nem sobre
Fracasso
Ou Descaso,
Não discuto, sou pobre,
De palavra abalada.

Nada que vejo é maduro
E toda a circunstância
Se torna peso duro,
É a falta de constância.

Nenhuma inspiração, nenhum desejo,
Nenhuma inquietação, nenhum despejo,
Toda a libertação, todo o desespero,
Pilha dos papéis, do fracasso.

Montanhas e montanhas de palavras,
Abismos e abismos de culpas,
Mas um aprendizado,
Um laço delicado.

Minha loucura está somente,
Tão decididamente,
Dormente.

A frustração e o incomodo
São seu duradouro
Ronco.